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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sexta-feira, abril 29, 2005

Estudo: China lidera censura na Internet

A China lidera a censura na Internet a nível mundial, filtrando sítios,
blogues, correio electrónico e fóruns que contenham conteúdos políticos
sensíveis, de acordo com um estudo divulgado ontem.

Segundo a OpenNet Initiative (ONI), a China emprega centenas de pessoas
para
construir um sistema de censura ?persuasivo, sofisticado e efectivo?, na
Internet.

?A ONI procurou determinar o grau de filtragem por parte da China de
sítios
com temas que o Governo chinês considera sensíveis e descobriu que o
Estado
o faz extensivamente?, revela o estudo publicado em
www.opennetinitiative.net/china.

?Os cidadãos chineses que procuram aceder a páginas na Internet com
conteúdos relativos à independência taiwanesa e tibetana, à Falun Gong, ao
Dalai Lama, aos incidentes da Praça Tiananmen, a partidos políticos da
oposição, ou a uma variedade de movimentos anti-comunistas são
frequentemente bloqueados [no seu acesso]?, acrescenta o relatório.

O estudo foi conduzido em conjunto pela Universidade de Harvard, a
Universidade de Cambridge e a Universidade de Toronto, recorrendo a
diferentes testes para investigar a censura na Internet, dentro e fora da
China, afirmou John Palfrey, líder o projecto.

Vários voluntários no interior da China utilizaram programas especialmente
desenhados para testar que tipo de conteúdos são bloqueados no país,
enquanto investigadores da ONI testaram os acessos desde o exterior,
enviando mensagens com conteúdos sensíveis.

?A China possui os sistemas legais e tecnológicos mais extensivos e
efectivos para a censura na Internet e vigilância no mundo?, acrescentou
Palfrey, numa audiência realizada em Washington.

O responsável pelo projecto afirmou ainda que a China não admite
oficialmente a sua política de controlo de conteúdos e de utilização da
Internet, considerando que os voluntários que colaboraram no estudo no
interior do país correm um ?risco substancial?.

Sent by: Maria Rita Correia

quinta-feira, abril 28, 2005

OS SAPATOS DE MIA COUTO

O escritor moçambicano, também licenciado em Medicina e Biologia, fez
uma oração de sapiência, em 7 de Março, na abertura do ano lectivo do
Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Excertos
desta oração foram publicados no Courrier Internacional, nº. 0, de 2
de Abril.

Destacamos, Os Sete Sapatos Sujos:

"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos.
À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete
Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos
novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número
mágico:

- Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros;

- Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;

- Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo;

- Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;

- Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;

- Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça;

- Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de
imitar os outros.

quarta-feira, abril 27, 2005

# A Queda (do terceiro Reich)

Amigos,

ontem fui ver o filme alemão "A Queda" que recomendo vivamente, considero-o
dos melhores filmes que vi este ano e que faz qualquer um pensar em muitas
e diferentes coisas... Vão ver que é tempo ganho...

escrevo ainda para vos dizer que o blog do pensante se encontra actualizado
instantâneamente (ou seja quando receberem este mail ele já estará no blog)
e que a partir de agora os mails do pensante não terão o antetítulo
[Pensante] pois a inserção no blog é automática e esse título seria
repetido em todos os posts do blog. A forma de os distinguir dos restantes
passa a ser # antes do título.

Um abraço e bons pensamentos
Jorge Mayer
www.opensante.blogspot.com

sábado, abril 23, 2005

Pensante humorístico

DITADO ARABE

"Nunca se justifique. Os amigos não precisam, e os inimigos não acreditam."

Ditado árabe

Sent By: Bruno Martinho

PUBLICO - Unicef avisa que 4000 crianças morrem diariamente por falta de água

Dia Mundial da Água cumpre-se hoje
Unicef avisa que 4000 crianças morrem diariamente por falta de água
22.03.2005 - 09h04 Lusa
http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1218757&idCanal=98

Mais de quatro mil crianças morrem todos os dias por falta de água potável
ou saneamento, denuncia a Unicef num relatório divulgado por ocasião do Dia
Mundial da Água, que se assinala hoje.

Em todo o mundo existem ainda de 400 milhões de crianças, um quinto da
população infantil mundial, que não dispõem do mínimo de água potável
necessário para viver, avisa a agência das Nações Unidas para a Infância.

O relatório "Situação Mundial da Infância 2005" indica que cada criança
necessita de um mínimo diário de 20 litros de água (cerca de dois baldes),
para beber, lavar as mãos da sujidade portadora de micróbios e preparar um
refeição simples.

Mas, de acordo com o levantamento, mais de 20 por cento das crianças dos
países em desenvolvimento sofrem "graves" privações de água e vivem em
locais onde para chegar à fonte de água potável mais próxima é preciso
caminhar mais de 15 minutos.

Estas privações são responsáveis por 1,6 milhões dos 11 milhões de mortes
de crianças todos os anos, ou seja 4.381 crianças por dia.

O ano de 2005 marca o início da Década Internacional da acção "Água para a
Vida", uma iniciativa internacional para fazer chegar água potável e
saneamento às casas e escolas de todo o mundo.

Fw: BBC - The battle over Uganda's Aids campaign

> The battle over Uganda's Aids campaign
> By Will Ross
> BBC News, Kampala
> http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/4433069.stm
>
> On the billboard is a photo of two crested cranes - Uganda's national
> bird.
> "The Crested Crane sticks faithfully to one partner until death.
> Abstinence
> and faithfulness - 100% guaranteed," reads the caption below the entangled
> lovebirds.
>
> (Embedded image moved to file: pic17035.jpg)
>
>
> Has the C for Condom been dropped from Uganda's Aids information campaign?
> Read on and you learn that the poster has been put up by the office of
> first lady Janet Museveni. The first lady's office is one of the major
> recipients of US funding to combat HIV/Aids.
>
> On the other side of the billboard is a picture of a truck driver passing
> "Safari Hotel" as two women try to flag him down. "Thank GOD I said NO to
> Aids - driving home to my wife," it states, before asking: "Abstinence -
> why not?"
>
> (Embedded image moved to file: pic09894.jpg)
>
>
> This is a "condomless" billboard. There is no mention of the word "condom"
> or "safe sex".
>
> This push for abstinence and faithfulness in the fight against HIV/Aids
> has
> been welcomed by some sections of society, especially religious groups.
>
> 'Life-threatening'
>
> Pastor Martin Ssempa says donor funding has for years been heavily biased
> towards condom promotion, and he claims this has lead to an escalation in
> casual sex and infidelity.
>
> The outspoken pastor says it is time for that to change.
>
> "Until recently, all HIV-related billboards were about condoms. Those of
> us
> calling for abstinence and faithfulness need billboards too," he says.
>
> However, others consider it dangerous to push the "A" for "Abstinence" and
> the "B" for "Be Faithful" if the "C" for "Condom" message is lost or
> diluted.
>
> After all, it was the ABC approach and a policy of openness inspired by
> President Yoweri Museveni which helped Uganda perform well in the fight
> against HIV/Aids compared to other countries.
>
> Many African governments have fared miserably in attempting to counter the
> HIV pandemic, with devastating consequences.
>
> By comparison, Uganda has performed well in bringing down the HIV
> prevalence to around 6%. In many parts of the country, it was at least
> three times as high during the early 1990s.
>
> The New York-based group Human Rights Watch (HRW) has strongly criticized
> the Ugandan government, accusing it of pushing the abstinence line while
> downplaying the safe sex message.
>
> A "life-threatening" shift which HRW says is orchestrated and funded by
> the
> US.
>
> It says the funding for abstinence is due to President George W Bush's
> conservative Christian views, which are similar to those of Uganda's first
> lady.
>
> The US says it plans to spend more than $100m combating HIV/Aids in Uganda
> this year - of which more than $8m will be on the abstinence and
> faithfulness programme. Some of that money will be focused on the young.
>
> 'Wacky ideas'
>
> On a wall in Kitante Hill secondary school in Kampala is a poster
> advertising an abstinence march.
>
> "Please wear your 'True Love Waits' T-Shirt if you have one," the
> organisers advise.
>
> "Abstinence is the best method. It is 100% safe against early pregnancies,
> STDs [Sexually Transmitted Diseases] and the common one, HIV, which is
> very
> deadly as it has no cure at the moment," says Linda, 19.
>
> Alex, 19, tells me he has a girlfriend. "We are in love but we are not
> going to have sex before marriage."
> Sandra, 16, says of her boyfriend: "His friends sometimes give him wacky
> ideas, but we sit down and talk it out as we both decided not to have sex
> before marriage."
>
> Sandra says she was inspired by Linda and Alex. "If these guys can
> abstain,
> then I can also do the same no matter what pressure I get."
>
> I ask if there are many people at the school who do not take on this
> abstinence message.
>
> "Oh yes," replies Alex. He leaves the room for two minutes and returns
> with
> Dan and Usher, aged 20 and 19.
>
> "I've tried abstinence but it is quite hard," says Dan. "I always walk
> with
> condoms in my pocket. But I don't think there is enough education in
> schools about safe sex."
>
> Usher believes abstinence is a good idea but says it is not realistic: "I
> think most people get tempted too much and I think condoms are a good
> alternative."
>
> 'No change'
>
> Despite the funding for abstinence based programmes, the Ugandan
> government
> is keen to deny that there has been any shift of emphasis.
>
> "I would like to assure the world that we have continued to maintain
> abstinence, being faithful and the use of condoms as the principal
> strategy
> in the fight against HIV/Aids," says Uganda's Minister for Health, Mike
> Mukula.
>
> But while US cash has seen the canoodling crested cranes flying onto
> Uganda's billboards, it seems the birds are somewhat territorial and may
> have chased other messengers away.
>
> Until a few months ago, a free magazine promoting safe sex was distributed
> to secondary schools by a non-profit organisation.
>
> But this recently became controversial and faith-based organisations were
> concerned the magazine was encouraging sex.
>
> As a result, the magazine has been ditched, and that avenue for getting
> the
> safe sex message to the students has now gone.
>
> The head of guidance and counselling at Kitante Hill school, Samuel Along,
> is concerned that the safe sex message is not getting through.
>
> "I have seen students at the school pairing up. They come and talk to me
> and I begin realising they have sexually transmitted diseases. And if we
> have been insisting on abstinence, don't you think there is a very good
> possibility they have not used a condom?"
>
> Free will
>
> This is a respectable secondary school in the Ugandan capital where there
> is good access to information.
>
> But the majority of young Ugandans do not make it beyond primary school
> and
> in a country where most people live on less than $1 a day, the link
> between
> poverty and sex is strong.
>
> Rogers Kasirye works in the slums of Kampala with street children and
> teenage prostitutes. Poverty has forced many of them into taking risks.
>
> "It is an economic problem. Many of the young people we are working with
> are surviving on sex, and the only option or barrier they have is the
> condom."
>
> The Ugandan health ministry has been giving out about 80 million condoms a
> year, free of charge.
>
> But after recent concern about the quality of the condoms, the ministry is
> now giving out far less and is sending condoms abroad for testing as it
> tries to acquire machines for checking condom quality locally.
>
> Whilst churches are pushing the abstinence message, not all religious
> leaders are happy with President Bush.
>
> Reverend Gideon Byamugisha is HIV-positive and he hopes the US will
> carefully assess the way in which it influences policy in Uganda.
>
> "We are still hopeful that America, being a strong and well-meaning
> country, will not go down in history as a country which exported ideas at
> the expense of people's free will to choose."

O tolo

Conta-se que numa pequena cidade do interior, um grupo de pessoas
divertia-se com o idiota da aldeia. Um pobre coitado de pouca inteligência,
que vivia de pequenos biscates e sobretudo de esmolas.
Diariamente, eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam-lhe a
escolha entre duas moedas - uma grande de 50 cêntimos e outra menor, de
1euro. Ele escolhia sempre a maior e menos valiosa, o que era motivo de
risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e perguntou-lhe se ainda não
tinha percebido que a moeda maior valia menos. "Eu sei" - respondeu o não
tão tolo assim - "ela vale metade do valor, mas no dia que eu escolher a
outra, a brincadeira acaba e não vou ganhar mais nenhuma moeda."
Podem tirar-se várias conclusões dessa pequena narrativa:
A primeira: quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: quais eram os verdadeiros tolos da história?
A terceira: se você for demasiado ganancioso, acaba por estragar sua fonte
de rendimentos.
Mas a conclusão mais interessante é a seguinte:
A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma
boa opinião a nosso respeito.

Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas o que realmente
somos.
"O maior prazer de um homem inteligente é fazer de idiota diante de um
idiota que faz de inteligente"

Sent By: Bruno Martinho

Ter razão ou ser feliz

Oito da noite numa avenida movimentada.

O casal já esta atrasado para jantar na casa de alguns amigos. O endereço é
novo, assim como o caminho, que ela conferiu no mapa antes de sair.
Ele dirige o carro. Ela o orienta e pede para que vire na próxima rua à
esquerda. Ele tem certeza de que é à direita. Discutem. Percebendo que além
de atrasados, poderão ficar mal humorados, ela deixa que ele decida.
Ele vira a direita e percebe que estava errado. Ainda com dificuldade, ele
admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno.
Ela sorri e diz que não há problema algum em chegar alguns minutos mais
tarde. Mas ele ainda quer saber: "Se você tinha tanta certeza de que eu
estava tomando o caminho errado, deveria insistir um pouco mais".
E ela diz: "Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos a
beira de uma briga, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite".

MORAL DA HISTÓRIA

Essa pequena historia foi contada por uma empresária durante uma palestra
sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar
quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão,
independente de tê-la ou não. Desde que ouvi esta história, tenho me
perguntado com mais frequência: "Quero ser feliz ou ter razão?" Pense nisso
e seja feliz.

Sent by: Alexandre Silva

A linha da vida, Editorial do Expresso, 050403

A TERRÍVEL batalha jurídica que se desenrolou nos Estados Unidos, com os
tribunais a legislarem sobre o corte ou não corte do fio que ligava uma
mulher à vida, e a luta que decorre em Portugal a propósito da marcação da
data do referendo do aborto, trouxeram de novo à actualidade o debate sobre
a vida humana.
A questão coloca-se de forma muito simples: uns defendem que não é legítimo
intervir sobre a vida de um ser humano, desde o momento da concepção até ao
momento da morte, outros consideram que essa intervenção é legítima.
Os primeiros condenam, por exemplo, o aborto e a eutanásia.
Os segundos aceitam-nos.
O EXPRESSO, não sendo um jornal confessional, como é sabido, tem-se mantido
intransigentemente contrário à manipulação da vida.
Para nós, é necessário que haja uma linha clara, nítida, que separe a vida
da morte - e que na transposição dessa linha não exista intervenção de
ninguém.
Ora os que defendem a eutanásia e o aborto estão a admitir que a linha que
protege a vida não é nítida, que o início da vida e o momento da morte são
discutíveis, que um ser com menos de 12 semanas não pode ser considerado um
ser humano e que um homem ainda vivo pode já «merecer» estar morto - sendo
admissível, por isso, o golpe de misericórdia.
ESTA aceitação da ideia de que à volta da vida não deve haver uma linha
inviolável mas uma nebulosa, e que são legítimas as intervenções nessa zona
no sentido de interromper a vida ou apressar a morte, é um passo
terrivelmente perigoso.
Porque, além da eutanásia e do aborto, abre o campo a outras enormidades
como a pena de morte.
Ou a pensamentos ainda mais tenebrosos como este: se uma pessoa deixou de
trabalhar e de ser produtiva, se se tornou um estorvo para os seus
familiares, porquê mantê-la viva?
Se a eutanásia é permitida, por que não alargar esse conceito aos velhos
que só representam encargos para a sociedade e um peso insuportável para os
parentes?
ACEITAR a manipulação da vida é um risco tremendo.
Aqueles que, por razões ideológicas ou porque consideram que isso é
«moderno», defendem «causas» como a eutanásia e o aborto, deveriam pensar
um pouco mais a fundo até onde isso nos poderá levar.

Sent By: Povo

PUBLICO - Portugal mais igual no conforto e mais desequilibrado na riqueza

Estudo divulgado pelo Ministério das Finanças
Portugal mais igual no conforto e mais desequilibrado na riqueza
17.03.2005 - 09h35 Lurdes Ferreira
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1218381&idCanal=57

Portugal tornou-se na última década um país mais desenvolvido e coeso nas
condições sociais que oferece, mas ao mesmo tempo mais desigual na
capacidade de as suas regiões gerarem riqueza.

Esta é uma das grandes conclusões do estudo sobre os índices de
desenvolvimento das regiões portuguesas entre 1991 e 2001, realizado pelo
Departamento de Prospectiva e Planeamento (DPP) do Ministério das Finanças.

O estudo aplica ao caso português a metodologia das Nações Unidas para o
cálculo do índice de desenvolvimento humano, e utiliza pela primeira vez
como balizas de análise os resultados dos censos de 1991 e 2001, para além
das Contas Nacionais. Constata, desta forma, que em matéria de condições
sociais (saúde, educação, conforto da habitação), traduzidas no Índice de
desenvolvimento social (IDS), o país avançou 4,2 por cento, de 0,878 para
0,915. No índice de desenvolvimento económico e social (IDES), que entra já
em conta com o rendimento disponível, através do índice per capita do PIB,
o acréscimo foi de 7,7 por cento, de 0,764 para 0,823.

Esta evolução indica, por um lado, que o défice global de desenvolvimento
do país reduziu-se "acentuadamente" entre 1991 e 2001, mas também que o
défice das condições sociais dos portugueses desceu mais depressa (menos 30
por cento) do que o das condições económicas (menos 25 por cento).

O retrato mais favorável do país, sobretudo na área social, é em grande
parte associado à política de investimento público, nacional e comunitário,
em infra-estruturas de saneamento básico, abastecimento de água e
acessibilidades.

Para a avaliação do desenvolvimento social, o DPP fez contas ao nível de
conforto, variável relativa às condições de habitação que melhorou 5,5 por
cento no período; à esperança de vida, que aumentou 4,2 por cento; e à
alfabetização, que subiu apenas 2,7 por cento. Esta "lentidão" reflecte, de
acordo com o estudo, "a pesada inércia associada à evolução da qualificação
do conjunto da população com mais de 15 anos, não evidenciando os
progressos verificados nos estratos etários mais baixos".

As diferentes velocidades entre o desenvolvimento social e económico do
país não preocupam "excessivamente" António Barreto, investigador e autor
da Situação Social em Portugal. Em declarações ao PÚBLICO, considerou
positiva a "convergência social" para que aponta o estudo, porque
significará que a população tem acesso ao "Estado social". Tem, por
exemplo, "direito de ir à escola e vai, tem acesso aos serviços de saúde",
entre outros.

Mesmo com grande homogeneidade, as condições sociais denotam alterações. Em
1991, o índice de esperança de vida apresentava a menor disparidade
regional, mas uma década depois o maior equilíbrio regional encontrava-se
nas condições de conforto da habitação, apresentando também os níveis mais
elevados de satisfação.

Mais assimétricos

A avaliação do desenvolvimento das regiões portuguesas através do
rendimento usa como referência o PIB per capita do concelho mais
"produtivo", o que fez, por exemplo, que a região de Alto Trás-os-Montes
neste período se tenha situado em 79 por cento do nível da Grande Lisboa.
Já quanto às condições sociais, a distância entre as mesmas duas regiões
era apenas de 5,5 pontos (contra 21 pontos no caso anterior).

Apesar da tendência global de convergência do país, as disparidades
regionais especificamente relacionadas com a criação de riqueza
agravaram-se na década em estudo. O desvio-padrão das assimetrias regionais
passou de 0,092 para 0,115, o que indica um agravamento de 25 por cento e
uma crescente concentração da produção de riqueza em algumas regiões.

O sociólogo confessa que "não se sente muito escandalizado" com o facto de
a geração de riqueza se concentrar em algumas regiões do país, desde que as
regiões despovoadas e desertificadas sejam incentivadas a tirar partido dos
seus recursos naturais, nomeadamente florestais, defendendo que esta tem
sido uma área negligenciada pelo Estado. "A solução não é tentar criar
indústria em Bragança ou Almeida, mas, pelo contrário criar riqueza
florestal." Considera, por isso, que a riqueza que a Escócia gera
actualmente através dos serviços ligados ao seu património florestal é um
caso exemplar e que também "Portugal tem condições ecológicas e
geo-agrárias excelentes para a floresta".

PORTUGAL:Lejos de Europa

Inter Press Service News Agency

DESARROLLO-PORTUGAL:Lejos de Europa
por Mario de Queiroz on 21/09/2004 20:06:18 GMT

http://domino.ips.org/ips/esp.NSF/vwWEBMainView?SearchView&Query=%28portug
al%29++and+Y%2E2004x+and+M%2E09x+and+D%2E21x&SearchMax=100&SearchOrder=3

LISBOA, 21 sep (IPS) - Indicadores económicos y sociales periódicamente
divulgados por la Unión Europea (UE) colocan a Portugal en niveles de
pobreza e injusticia social inadmisibles para un país que integra desde
1986 el "club de los ricos" del continente.

Pero el golpe de gracia lo dio la evaluación de la Organización para la
Cooperación y el Desarrollo Económicos (OCDE): en los próximos años
Portugal se distanciará aún más de los países avanzados.

La productividad más baja de la UE, la escasa innovación y vitalidad del
sector empresarial, educación y formación profesional deficientes, mal uso
de fondos públicos, con gastos excesivos y resultados magros son los datos
señalados por el informe anual sobre Portugal de la OCDE, que reúne a 30
países industriales.

A diferencia de España, Grecia e Irlanda (que hicieron también parte del
"grupo de los pobres" de la UE), Portugal no supo aprovechar para su
desarrollo los cuantiosos fondos comunitarios que fluyeron sin cesar desde
Bruselas durante casi dos décadas, coinciden analistas políticos y
económicos.

En 1986, Madrid y Lisboa ingresaron a la entonces Comunidad Económica
Europea con índices similares de desarrollo relativo, y sólo una década
atrás, Portugal ocupaba un lugar superior al de Grecia e Irlanda en el
ranking de la UE. Pero en 2001, fue cómodamente superado por esos dos
países, mientras España ya se ubica a poca distancia del promedio del
bloque.

"La convergencia de la economía portuguesa con las más avanzadas de la OCE
pareció detenerse en los últimos años, dejando una brecha significativa en
los ingresos por persona", afirma la organización.

En el sector privado, "los bienes de capital no siempre se utilizan o se
ubican con eficacia y las nuevas tecnologías no son rápidamente
adoptadas", afirma la OCDE.

"La fuerza laboral portuguesa cuenta con menos educación formal que los
trabajadores de otros países de la UE, inclusive los de los nuevos
miembros de Europa central y oriental", señala el documento.

Todos los análisis sobre las cifras invertidas coinciden en que el
problema central no está en los montos, sino en los métodos para
distribuirlos.

Portugal gasta más que la gran mayoría de los países de la UE en
remuneración de empleados públicos respecto de su producto interno bruto,
pero no logra mejorar significativamente la calidad y eficiencia de los
servicios.

Con más profesores por cantidad de alumnos que la mayor parte de los
miembros de la OCDE, tampoco consigue dar una educación y formación
profesional competitivas con el resto de los países industrializados.

En los últimos 18 años, Portugal fue el país que recibió más beneficios
por habitante en asistencia comunitaria. Sin embargo, tras nueve años de
acercarse a los niveles de la UE, en 1995 comenzó a caer y las
perspectivas hoy indican mayor distancia.

¿Dónde fueron a parar los fondos comunitarios?, es la pregunta insistente
en debates televisados y en columnas de opinión de los principales
periódicos del país. La respuesta más frecuente es que el dinero engordó
la billetera de quienes ya tenían más.

Los números indican que Portugal es el país de la UE con mayor desigualdad
social y con los salarios mínimos y medios más bajos del bloque, al menos
hasta el 1 de mayo, cuando éste se amplió de 15 a 25 naciones.

También es el país del bloque en el que los administradores de empresas
públicas tienen los sueldos más altos.

El argumento más frecuente de los ejecutivos indica que "el mercado decide
los salarios". Consultado por IPS, el ex ministro de Obras Públicas
(1995-2002) y actual diputado socialista João Cravinho desmintió esta
teoría. "Son los propios administradores quienes fijan sus salarios,
cargando las culpas al mercado", dijo.

En las empresas privadas con participación estatal o en las estatales con
accionistas minoritarios privados, "los ejecutivos fijan sus sueldos
astronómicos (algunos llegan a los 90.000 dólares mensuales, incluyendo
bonos y regalías) con la complicidad de los accionistas de referencia",
explicó Cravinho.

Estos mismos grandes accionistas, "son a la vez altos ejecutivos, y todo
este sistema, en el fondo, es en desmedro del pequeño accionista, que ve
como una gruesa tajada de los lucros va a parar a cuentas bancarias de los
directivos", lamentó el ex ministro.

La crisis económica que estancó el crecimiento portugués en los últimos
dos años "está siendo pagada por las clases menos favorecidas", dijo.

Esta situación de desigualdad aflora cada día con los ejemplos más
variados. El último es el de la crisis del sector automotriz.

Los comerciantes se quejan de una caída de casi 20 por ciento en las
ventas de automóviles de baja cilindrada, con precios de entre 15.000 y
20.000 dólares.

Pero los representantes de marcas de lujo como Ferrari, Porsche,
Lamborghini, Maserati y Lotus (vehículos que valen más de 200.000
dólares), lamentan no dar abasto a todos los pedidos, ante un aumento de
36 por ciento en la demanda.

Estudios sobre la tradicional industria textil lusa, que fue una de las
más modernas y de más calidad del mundo, demuestran su estancamiento, pues
sus empresarios no realizaron los necesarios ajustes para actualizarla.
Pero la zona norte donde se concentra el sector textil, tiene más autos
Ferrari por metro cuadrado que Italia.

Un ejecutivo español de la informática, Javier Felipe, dijo a IPS que
según su experiencia con empresarios portugueses, éstos "están más
interesados en la imagen que proyectan que en el resultado de su trabajo".

Para muchos "es más importante el automóvil que conducen, el tipo de
tarjeta de crédito que pueden lucir al pagar una cuenta o el modelo del
teléfono celular, que la eficiencia de su gestión", dijo Felipe, aclarando
que hay excepciones.

"Todo esto va modelando una mentalidad que, a fin de cuentas, afecta al
desarrollo de un país", opinó.

La evasión fiscal impune es otro aspecto que ha castrado inversiones del
sector público con potenciales efectos positivos en la superación de la
crisis económica y el desempleo, que este año llegó a 7,3 por ciento de la
población económicamente activa.

Los únicos contribuyentes a cabalidad de las arcas del Estado son los
trabajadores contratados, que descuentan en la fuente laboral. En los
últimos dos años, el gobierno decidió cargar la mano fiscal sobre esas
cabezas, manteniendo situaciones "obscenas" y "escandalosas", según el
economista y comentarista de televisión Antonio Pérez Metello.

"En lugar de anunciar progresos en la recuperación de los impuestos de
aquellos que continúan riéndose en la cara del fisco, el gobierno
(conservador) decide sacar una tajada aun mayor de esos que ya pagan lo
que es debido, y deja incólume la nebulosa de los fugitivos fiscales, sin
coherencia ideológica, sin visión de futuro", criticó Metello.

La prueba está explicada en una columna de opinión de José Vitor
Malheiros, aparecida este martes en el diario Público de Lisboa, que
fustiga la falta de honestidad en la declaración de impuestos de los
llamados profesionales liberales.

Según esos documentos entregados al fisco, médicos y dentistas declararon
ingresos anuales promedio de 17.680 euros (21.750 dólares), los abogados
de 10.864 (13.365 dólares), los arquitectos de 9.277 (11.410 dólares) y
los ingenieros de 8.382 (10.310 dólares).

Estos números indican que por cada seis euros que pagan al fisco, "le
roban nueve a la comunidad", pues estos profesionales no dependientes
deberían contribuir con 15 por ciento del total del impuesto al ingreso
por trabajo singular y sólo tributan seis por ciento, dijo Malheiros.

Con la devolución de impuestos al cerrar un ejercicio fiscal, éstos "roban
más de lo que pagan, como si un carnicero nos vendiese 400 gramos de bife
y nos hiciese pagar un kilogramo, y existen 180.000 de estos profesionales
liberales que, en promedio, nos roban 600 gramos por kilo", comentó con
sarcasmo.

Si un país "permite que un profesional liberal con dos casas y dos
automóviles de lujo declare ingresos de 600 euros (738 dólares) por mes,
año tras año, sin ser cuestionado en lo más mínimo por el fisco, y encima
recibe un subsidio del Estado para ayudar a pagar el colegio privado de
sus hijos, significa que el sistema no tiene ninguna moralidad",
sentenció. (FIN/2004)

Manoel de Oliveira: «Já soube o que era cinema. Agora, tenho mais dúvidas.» (texto longo)

> http://www.seleccoes.pt/revista/detalhe.asp?tipo=detalhe&area=16&ID=4235&Grupo=61
>
> Anabela Mota Ribeiro
>
> Manoel de Oliveira: «Já soube o que era cinema. Agora, tenho mais
> dúvidas.»
> «Um artista nunca atinge o absoluto, nem sabe o que é. A única coisa que
> sabemos ao certo é: ninguém nasce senão para morrer.» Isto diz Manoel de
> Oliveira, numa entrevista que tem como mote o fascínio por D.Sebastião e o
> filme que lhe deu corpo: ? O Quinto Império - Ontem como Hoje?, que
> estreou
> recentemente. O sentido, a glória, a santidade e a mundanidade, a
> identidade. E a poesia, a filosofia, a vida.
>
> --------------------------------------------------------------------------------------------------
>
>
> Manoel de Oliveira termina o café antes de iniciarmos a entrevista. Há uma
> luz fria de Inverno que invade a sala, e a memória recente dos almoços de
> domingo. Como é sabido, este é um caso excepcional de longevidade:
> Oliveira
> tem 96 anos, faz filmes desde o mudo.
>
> Selecções do Reader`s Digest ?Partamos do seu último filme, «O Quinto
> Império». Há uma personagem que diz: «Viver, morrer, que importa a vida
> sem
> um empreendimento que a torne maior, pelo qual se morra?» Qual é a sua
> maior empresa, o que é que o segura à vida?
> Manoel de Oliveira ? Estive agora no México e vi escrito nas paredes de um
> museu um pensamento dos Maias, muito simples, muito correcto, mas ao mesmo
> tempo perfeito, profundo. Dizia: «Semeia para colheres, colhe para
> comeres,
> come para viveres.» É um fundamento da vida. A gente vive no sentido
> inverso: vive para comer, come para colher e colhe porque semeia. Aqui
> põe-se o problema do que transcende isso.
>
> SRD ? E que é?
> MO ? Sempre pensei que a identidade é o fundamental. Voltando aos índios
> da
> América, estive a filmar no Brasil. A tribo que veio para filmar estava
> muito inquieta, não queriam demorar com medo que lhes ocupassem as terras.
> Não podiam ser mais do que um certo número, não podiam ser superiores ao
> que a terra fornecia. Afogavam os filhos, logo que nasciam, quando se
> sobrepunham à quantidade necessária. Mas, se estivesse baptizado o menino,
> já não podiam [fazê-lo], já tinha identidade. Sem identidade não se é. E a
> gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois
> à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há
> identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de
> começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da
> própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade.
>
> SRD ? Houve um momento, há muitos anos, em que pensou que não iria filmar
> mais. Disse que era preferível pôr um fim, cometer uma morte em relação
> àquele projecto, o cinema, do que viver com o sofrimento da insatisfação,
> da impossibilidade.
> MO ? Sem esperança não é possível. A esperança é o bordão da vida. Há uma
> coisa do Padre Vieira, muito bonita, em que ele fala do Non: «Terrível
> palavra é o non, de qualquer lado por onde se pegue, é sempre Non» ? isto
> aparece no meu filme «Non ou a vã glória de mandar», dito por esse grande
> actor, o Ruy de Carvalho. A última palavra do Vieira sobre Non é: «O Non
> tira a esperança, que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.»
> Sem
> esperança não se pode viver.
>
> SRD ? A esperança e o desejo são o que nos impele a fazer, a prosseguir.
> Mas não é supremamente difícil mantê-los vivos?
> MO ? O desejo não nos impele para existir. O desejo impele para a
> continuidade da espécie. O que nos impele à existência é o que diz o maia,
> «come para viveres», e isso é a fome. A fome é o que nos garante a
> subsistência. Se não tivéssemos fome, não comíamos, não comendo, não
> sobrevivíamos. Se não tivéssemos o desejo, não teríamos a relação sexual,
> e
> a relação sexual é que garante a continuidade da espécie. O desejo é uma
> coisa, a fome é outra. São os dois para a continuidade: um para a
> continuidade do indivíduo, o outro para a continuidade da espécie.
>
> SRD ? Devemos fazer uma leitura literal disso que diz ou extrapolar e
> fazer
> numa leitura metafórica? Se penso na sua longevidade, penso que o segredo
> é
> ter um fito, um sentido, ter uma coisa que o motiva e o faz sair de si
> para
> existir exteriormente, e fazer. Percebe o que estou a dizer?
> MO ? Percebo, mas acho que isso não há. Nada é verdadeiramente
> satisfatório. Mesmo a arte a que um artista é vocacionado, e sobre a qual
> e
> para a qual vive, está sempre aquém do seu desejo. Nunca atinge aquele
> nível, aquele andar que desejaria. Está sempre a tentar, a aproximar-se do
> limite das possibilidades. No fundo, do absoluto. Um absoluto que se não
> atinge, [que se] ignora mesmo. A única coisa que sabemos ao certo é:
> ninguém nasce senão para morrer. Morrer mais cedo ou morrer mais tarde.
> Tem
> esse privilégio: acabar com a vida antes do fim natural dela. Se estiver
> desesperado, acontece. Justamente quando perde a esperança. Quando perde a
> esperança, perdeu tudo, e então liquida-se.
>
> SRD ? Pensou alguma vez? Houve algum momento na sua vida tão
> desesperançado? Teve tantos reveses...
> MO - Não. Suponho que ninguém deixa de pensar na morte. E quando se chega
> à
> minha idade, está-se mais consciente de que se aproxima o fim. Portanto,
> ele tem que se preparar para esse final. Há muita gente que conheci que se
> suicidou por isto ou por aquilo. E há o problema da eutanásia, quando o
> sofrimento é muito grande, a experiência é nula e as pessoas não podem
> sequer matar-se, têm que pedir que alguém as mate. O sofrimento é uma
> coisa
> terrível. Eu não tenho medo da morte, mas temo o sofrimento. A gente
> medita
> sobre a morte, prepara-se para ela, quer deixar tudo em condições, para
> poder morrer descansado. Hoje tenho essa preocupação.
>
> SRD ? Porque é que D. Sebastião é tão fascinante para si? Tive ao longo do
> filme a sensação de que podia transpôr para si e para a sua vida algumas
> daquelas equações.
> MO ? Acho que não. D. Sebastião é uma figura mítica. Já o Sampaio Bruno, o
> filósofo, tinha essa ideia do encoberto que esconde a salvação. O
> encoberto
> e o desejado, mais desejado depois de morto do que antes de nascer.
> Trata-se do problema da salvação, da nação ou da humanidade. A ideia de
> encoberto também está no mundo dos árabes. O décimo segundo irmão que
> sucede a Maomé nasceu e foi escondido, encoberto; só virá no Apocalipse,
> com Cristo, curiosamente, para combater o mal e criar a harmonia na
> humanidade. É a ideia de Quinto Império do Padre Vieira: um só rei, um só
> papa. Que é o que se pretende agora com a União Europeia. Por isso é que
> digo: «Quinto Império, ontem como hoje».
>
> SRD ? Essa era outra questão, o título do filme.
> MO ? Isto não está propriamente no livro do José Régio. Mas é histórico, e
> é histórico no Pessoa. É curioso que o décimo segundo, pelas minhas
> contas,
> coincide com D. Sebastião. Não sei se é o Sebastião que gera esta ideia
> muçulmana, se é o muçulmano que gera a ideia sebastiânica. Ora, o desejado
> era Cristo e ele veio com Cristo para combater o mal e criar a harmonia. É
> o que se pretende hoje. É o que Bush acaba de dizer: vai combater o mal e
> criar a liberdade e a democracia. É claro que naquele tempo não se falava
> em democracia.
>
> SRD ? Falava-se em harmonia.
> MO ? Era a harmonia. Embora a democracia já existisse na Grécia,
> anteriormente. É um desejo utópico, é um desejo profundo no homem: um
> bem-estar, e não esta inquietude permanente de guerras.
>
> SRD ? Quem faz este filme é o mais inquieto dos homens.
> MO ? Não sou, não sou. Sou um sobrevivente como qualquer outro. A arte é
> um
> ofício, uma paixão que as pessoas têm. O usurário tem uma paixão pelo
> dinheiro e junta o dinheiro para nada ? é triste. O artista tende ao
> absoluto; pode também estar numa situação de revolta. Não é exactamente o
> meu caso, embora muitas vezes me revolte. É claro que o Portugal depois de
> Alcácer-Quibir é um Portugal devastado; toda a grande nobreza, os
> guerreiros, pediram aos judeus dinheiro emprestado para pagar o regresso
> dos que sobreviviam. Não pagaram tudo porque não conseguiram juntar o que
> lhes pediam, e houve um português que se ofereceu para ficar como refém
> até
> que pagassem o resto. Nunca mais veio. O que aconteceu com ele, não se
> sabe, ou o mataram, ou tiveram piedade... Mas, aí está, «vale mais
> morrer»,
> há uma coisa superior à própria vida.
>
> SRD ? Que é a dignidade.
> MO ? Ele ficou satisfeito porque salvou milhares de pessoas,
> sacrificando-se a esse gesto.
>
> SRD ? Impressionou-me no D. Sebastião a noção de legado; ele tinha «o
> desejo de não degenerar os meus antepassados, parecer-me com os meus
> maiores». É um desejo de glória, é uma ambição.
> MO ? Veja que os reis eram determinados pelo destino dos deuses, ou de
> Deus. A batalha de Alcácer-Quibir é a última batalha pelas cruzadas, e ele
> diz: «Eu sou capitão de Deus». Há um fundo religioso. Como nos santos, não
> importa a morte, importa é a salvação da alma. Esse é o feito maior:
> salvar
> a alma. A alma que se tem por eterna, o corpo é precário. O sentido
> religioso não pode estar desligado desta ideia de alma e de eternidade, e
> do retorno ao paraíso, à tranquilidade.
>
> SRD ? Tudo isso parece tão pouco mundano...
> MO ? Pois, isso é que torna a atitude do Sebastião um pouco estranha,
> justamente fora do contexto mundano. No contexto mundano ele é imprudente,
> um mau rei. Sacrifica a sua própria alma. A ideia é a de que isso fica
> como
> herança para o povo português.
>
> SRD ? A ideia do sacrifício?
> MO ? A da salvação da alma.
>
> SRD ? Ou da tentativa da salvação da alma.
> MO ? Há um esforço nesse sentido, não há garantia disso, não pode haver.
> São coisas que nos transcendem, de que é difícil falar. Para quem crê é
> natural, é simples. Para quem não crê, é mais difícil. Porque é que vimos
> ao Mundo? Ninguém nasceu por vontade própria. Somos lançados ao Mundo,
> temos que gramar isto quer queiramos quer não. Estamos submetidos às
> forças
> enigmáticas da Natureza, ligados umbilicalmente com a Natureza, somos do
> mesmo processo. Dentro de nós há o mesmo que aconteceu no sudoeste da
> Ásia:
> quando estamos irados, é uma tempestade. A Natureza é extremamente
> caprichosa, dá a uns o que tira a outros. E a gente não sabe porquê. Eu
> mereço mais? Não mereço mais nem menos, sou como os outros, peco como os
> outros, gozo como os outros, vivo como os outros.
>
> SRD ? Porque é que dá a uns e não dá a outros, porque é que este processo
> é
> tão aleatório?
> MO ? Isso está para além da nossa inteligência e da nossa capacidade. O
> homem tem um tecto (que os gregos atingiram); para além disso, já não
> percebemos nada. Somos joguetes do destino. O Espinosa dizia: «Supomos que
> somos livres porque ignoramos as forças obscuras que nos manipulam.» E S.
> Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, a nossa crença é vã.» Não sabemos:
> nenhum dos nossos mortos disse qualquer coisa.
>
> SRD ? Fala-se muito de amor neste filme como sendo uma coisa terrena. «O
> amor conduz a excessos e erros». D. Sebastião despreza D. Pedro: «Nada a
> aprender com ele, porque se perdeu por amor». Há um desprezo pelas coisas
> terrenas?
> MO ? O desprezo do rei Sebastião é um desprezo dele. Eu pus até uns versos
> que foram escritos por mim, sobre a Vénus... A paixão é uma perturbação, o
> amor é real, é absoluto, é uma coisa estranha. A paixão dá sempre força a
> um lado, ou é da mulher ou é do homem. O desejo é fazer dos dois, um. O
> amor a Deus, por exemplo, há uma lenda (ou uma realidade, não sei) em que
> um santo se ajoelha e está a rezar, e de tal modo se embebe do amor a Deus
> que acaba terminando: «Meu Deus, come-me!» A vontade é comer o outro,
> fazer-se um, voltar ao andros... Depois há almas gémeas ? que é a parte
> separada do que era um. São coisas complexas, a gente entra nesse terreno
> e
> não sabe trabalhá-lo porque nos ultrapassa. É o lado poético da vida.
>
> SRD ? Ao mesmo tempo, há lá coisa mais terrena do que a paixão e o amor?
> MO ? Pois, mas a santidade inverte essa posição. A santidade está ligada
> ao
> sentido verdadeiro de liberdade, é o desprendimento total das coisas
> terrenas. Agora, se está preso pelo dinheiro, por uma paixão, pelo desejo
> de uma mulher, por isto, por aquilo, anda sempre agarrado a esta porcaria
> que é o campo terreno.
>
> SRD ? As mulheres são profundamente diferentes dos homens?
> MO ? São profundamente diferentes, felizmente. Até o cérebro tem uma outra
> organização. A mulher é extraordinária... Gosto muito da estátua da Vénus
> de Milo, aí é que está o sentido. Não há nada dela que eu tire para o
> sexo.
> O sexo é um prazer, um vício, como fumar, tomar café, beber uma droga. A
> Vénus de Milo... a gente não sabe a posição das mãos, mas o seio é muito
> bonito, nada provocativo, nem a cara, que é muito serena, muito feminina;
> mas o ventre é o que sobressai mais. E é o ventre onde se gera a
> humanidade. A Agustina Bessa-Luís diz mesmo que Cristo, Deus, nasceu do
> ventre da mulher. Veja a importância que tem e que se não dá à mulher: a
> de
> criar humanidade. E essa estátua, por coincidência, é a mais conhecida de
> todas as do mundo ocidental.
>
> SRD ? Há pouco falava da complexidade, de não termos as coisas na mão. Mas
> quais são as coisas de todos os dias de que podemos falar?
> MO ? Falámos nisso, nos poetas. Para mim os poetas chegam mais longe do
> que
> os filósofos. As suas poesias contêm segredos que vão para além. A nossa
> inteligência não é capaz de os desvendar, a gente sente mas não desvenda.
>
> SRD ? Os seus filmes têm alguma coisa de cifrado?
> MO ? Têm muito de cifrado. Têm muito para decifrar, até por mim próprio. O
> homem é um bocado como o gato, fica preso às casas porque nelas se
> passaram
> histórias, e a casa é o guardião de todas essas histórias, problemas,
> alegrias, etc.
>
> SRD ? A sua casa é a sua memória?
> MO ? É. Fiz um filme que se chama «Memórias e confissões.»
>
> SRD ? Aquele que só pode ser visto depois da sua morte?
> MO ? Sim. Não tem nada de extraordinário, mas tenho um bocado de pudor de
> estar a falar de mim próprio. É uma recordação de certas coisas da vida e
> da casa que foi o meu barco durante quarenta anos. Ali vivi com a minha
> mulher, ali criei os meus filhos, ali ajudei a criar os meus netos. Esse
> filme está guardado na Itália, está guardado mais não sei onde.
>
> SRD ? É como se fosse um tesouro, uma conta na Suíça?
> MO ? O filme é muito simples. É a minha vida, eu ponho alguns pontos, dou
> uma ideia do que eram os meus pais.
>
> SRD ? Mas se não tem nada de extraordinário por que é que não deixa que se
> veja o filme?
> MO ? Acho que tem mais interesse quando não estiver vivo. Mas já mostrei a
> algumas pessoas.
>
> SRD ? Numa entrevista a João Bénard da Costa fala do cinema como arte e
> como fixação da memória. Decidiu fazer esse filme antes de passar a uma
> fase diferente, antes de mudar de habitáculo, para registar e guardar o
> momento anterior?
> MO ? Ainda há bocado a minha mulher disse que se não adaptou [a esta casa
> nova], tão vinculada estava à casa da Vilarinha. Casa essa, por acaso,
> arquitectonicamente de muito interesse, passa em revistas de arquitectura
> e
> sempre com o meu nome. Até porque o proprietário não deu o nome dele, tem
> medo que lhe aumentem os impostos. Eu fico contente, porque aquela era a
> minha casa.
>
> SRD ? Quando rememora o passado, há algum período mais recorrente?
> MO ? Sabe que a memória é muito caprichosa, fixa umas coisas e não fixa
> outras. Fixa uma coisa que aparentemente não vale nada e esquece uma coisa
> que é muito forte. O que retemos na memória é aquilo que o capricho dela
> reteve, não aquilo que a gente quis reter. Outras vezes há passagens de
> que
> a gente não gostaria de falar. Há sempre um segredo, cada um tem um
> segredo, qualquer coisa que não gosta de ver revelado. Já não pode
> emendar,
> de maneira que cala.
>
> SRD ? Aspiramos à espiritualidade, mas não prescindimos da perversidade
> terrestre. Uma vez disse-me que os seus realizadores preferidos são o
> Dreyer e o Buñuel.
> MO ? Tenho que o Buñuel era uma pessoa profundamente religiosa. Mas contra
> a Igreja. O sentimento religioso é uma coisa muito particular, de cada um.
> A Igreja é uma norma pela qual toda a gente se guia. Ele tem esse
> sentimento do Deus perverso, que faz o homem dentro de um sofrimento
> terrível ? é isso que ele não suporta, esse mal-estar. O Buñuel dizia:
> «Enquanto pude, às seis horas da manhã...» fazia o sexo com a mulher dele.
> «E depois levanto-me, tomo o café, pego no jornal, e para ler tenho que
> pôr
> uma lente; depois cansa-me, desisto; a caminhar sou trôpego, ando mal. De
> maneira que é horrível suportar essa coisa toda. Por fim, aborreço-me até
> à
> hora do almoço.» É uma vida triste.
>
> SRD ? O que é que o mantém tão entusiasmado? Tem um ar cada vez mais bem
> disposto.
> MO ? Acha? Se estou bem, estou bem-disposto, se estou mal, estou
> mal-disposto, é um estado físico que não controlo.
>
> [Isabel, a mulher, que entretanto apareceu: «A criatividade que tu tens é
> que te põe bem-disposto, porque quando não estás a trabalhar, és
> insuportável».]
>
> SRD ? Mudou muito?
> MO ? Mudei muitíssimo. Fui ganhando outra segurança, outra confiança. Eu
> era muito tímido, reservado, tinha medo daquilo que dizia, medo que aquilo
> não fosse certo. Mas sobre o que era cinema, sabia muito bem o que queria
> e
> o que não queria, muito mais do que agora! Agora tenho mais dúvidas. O
> Mundo mudou, as coisas mudaram e eu também mudei.
>
> SRD ? Até já se permite duvidar...
> MO ? Ah, pois. É claro que tenho a minhas convicções, mas tenho sempre
> medo
> que essas convicções pareçam demasiado particulares, quando eu queria ter
> uma visão genérica do que é o cinema.
>
> SRD ? O reconhecimento e os prémios foram fundamentais para essa confiança
> que ganhou?
> MO ? Não. Estou habituado a que recebam mal os meus filmes e isso não me
> altera, nem altera nada do que penso sobre o cinema. Eu reprovo o prémio
> da
> competição. Os óscares, por exemplo, até porque são dados a filmes de
> sucesso. Gosto mais dos prémios que são dados ao filme como coisa
> artística. Esse prémio de competição está bem no futebol, que um mete mais
> golos que o outro. Mas já dizia o Rembrandt quando apresentou o seu quadro
> «A Ronda da Noite» à sociedade ? fizeram muita troça, ele veio
> desconsoladíssimo: «O militar conhece a sua glória na vitória, o
> comerciante reconhece a sua glória nos lucros do comércio, mas o pintor, o
> artista, onde é que ele a vai reconhecer?» Não há nada que determine
> exactamente. A arte é especial. Há uma só lei: o tempo. O tempo é o grande
> juiz, é o grande juiz de tudo.
>
> SRD ? A pergunta é, no fundo, o que é que fez de si um homem menos inibido
> e mais seguro de si?
> MO ? Estou mais convicto. Há uma coisa que gostei de ouvir do Fellini:
> tinha uma grande admiração pelas pessoas que falham e persistem. Persistem
> com a mesma vontade ou mais forte, com a ideia de alcançarem a finalidade
> última. Considero-me um pouco dentro dessa classe. Continuo a ser um
> aprendiz do cinema, continuo a aprender muito e até com os artistas novos.
> No cinema cada realizador põe uma nova folha numa frondosa árvore, mas o
> que sustenta a folha não são os ramos, não é o tronco, são as raízes. É
> por
> isso que estimo a história e a memória. É fundamental para a nossa vida,
> para os nossos juízos.
>
> SRD ? E para a identidade.
> MO ? E para a identidade.

Amor está cheio de apelos a razao, Miguel Poiares Maduro, DN050316

> Não há amor sem emoção mas também não há amor sem razão
>
> No amor, a pergunta mais difícil é aquela feita por Jack Nicholson num
> filme de Mike Nichols "Se pudesses escolher, preferias amar uma mulher ou
> ser amado por ela?". Esta pergunta pressupõe que não há escolha no amor.
> Não há escolha porque essa escolha não é feita por nós. Está escrito no
> destino, determinado por algo que escapa ao nosso controlo. Sendo
> incompreensível e incontrolável, o amor está assim mais próximo do divino
> (se de Deus ou do Diabo depende de quem amamos?).
> O amor está acima da razão. Mas será a razão totalmente ausente dos
> assuntos do coração? No amor não intervém a razão? Nas próximas linhas o
> leitor pensará que terei perdido a razão ao defender que no amor há muito
> mais espaço para a razão do que as razões do amor por vezes nos querem
> convencer?
> Recentemente duas leitoras acusaram-me de fazer frequentes referências ao
> amor viciadas por um excesso de razão e pouca emoção na sua compreensão.
> Esta perspectiva é comum a essência do amor é precisamente a sua ausência
> de razão (ama-se independentemente da razão e, por vezes, com muito pouca
> razão?). Confirmando a separação entre amor e a razão estaria o facto de,
> como notou Schopenhauer, sendo a faceta mais importante da vida, o amor
> ter
> sido geralmente ignorado pela ciência. A ciência pode interessar-se pelo
> sexo ou pelo desejo, mas quanto ao amor (aquilo que existe para lá do - e
> esperemos, também com - o desejo) a única relação com a ciência parece ser
> a conclusão de que é tudo uma questão de química. O problema é que isso de
> pouco serve quando não se conhece a fórmula certa?
> E, no entanto, contrariamente à suposição usual o discurso do amor está
> cheio de apelos à razão. Usamos a razão para procurar descobrir se existe
> amor (quantas horas passadas a ponderar se a pergunta sobre o que fazemos
> amanhã quer dizer que quer fazer algo connosco ou se quer é evitar a todo
> o
> custo ir fazer o mesmo que nós?).Usamos a razão para explicar a falta de
> amor "Vê se compreendes, não és tu, sou eu" (ao que dá seguramente vontade
> de responder: "Não te preocupes, eu gosto de ti mesmo assim como és!"); ou
> "Eu amo-te, mas o momento não é o certo" (porque será então que não dá
> para
> adiar e marcarmos já uma data?). Usamos a razão para nos libertar do amor:
> ou idealizando-o ao ponto de o tornar platónico ou transformando o amor em
> ódio (quão ténue é a fronteira). Usamos a razão para evitar os
> compromissos
> do amor: "Amas--me? Como pode alguém não te amar?" E o que são afinal as
> estratégias do amor, se não colocar a razão ao serviço do amor? A promoção
> do amor através de estratégias de conquista ou rejeição é um usar da razão
> para provocar a emoção.
> No entanto, se a razão é usada no amor, a convicção generalizada é que ela
> não determina o amor. Ninguém crê num amor justificado pela razão e
> ninguém
> se atreve a exigir ser amado em nome da razão. Em Camille, de George
> Cukor,
> Robert Taylor professa o seu amor por Greta Garbo, dizendo "Nunca ninguém
> te amou como eu". Ela responde "Isso pode ser verdade, mas o que posso eu
> fazer a esse respeito?". A única conclusão racional resultante da
> irracionalidade (e, logo, incontrolabilidade) do amor seria que ele não é
> fruto de uma decisão livre e autónoma e, em consequência, não somos por
> ele
> responsáveis.
> No amor, a razão tem até, frequentemente, conotações negativas "Casou por
> interesse ou porque não tinha alternativa" (ambas implicam o uso da
> razão).
> E o pior mesmo é quando alguém começa a elencar as razões para gostar de
> nós: os elogios raramente são acompanhados de declarações de amor. Não há
> nada mais doloroso que ver o amor substituído pela admiração.
> No entanto, se a razão fosse estranha ao amor jamais o amor poderia ser
> eterno. O amor como desejo existe, desaparece e reaparece sempre com a
> mesma certeza. Num momento amamo-la, um dia mais tarde quem sabe? Na
> semana
> seguinte lamentamos o amor perdido! O amor sem razão não nos deixa
> dúvidas.
> Apenas a razão nos ensina a ter dúvidas sobre as certezas do amor. Se o
> nosso amor fosse apenas guiado pela emoção não amaríamos ninguém. Teríamos
> apenas desejo. A emoção e o desejo são como a espuma e as ondas do mar é o
> que torna navegar excitante mas não decide a direcção do navio. Para o
> amor
> ser eterno (e o amor só faz sentido pensado e vivido como eterno) é
> necessária a razão para superar as inconstâncias do desejo. E é também a
> razão que alimenta e é capaz de reavivar o desejo: as dúvidas que planta,
> a
> sedução que promove, a imaginação que desperta.
> O amor verdadeiro só existe suportado pela razão. Mas não é uma razão
> qualquer. Não é uma razão de mercearia em que o amor se transforma numa
> lista de compras pela qual verificamos se ela tem ou não os itens a
> adquirir (importa passar mais tempo a procurar razões para amar do que a
> elencar as razões para não amar). E também não é a chamada razão do bom
> senso em que subordinamos o amor a uma certa razão social. Não é a razão
> dos outros mas a nossa razão. É uma racionalidade vinculada à emoção. O
> amor encontra-se quando a emoção nos diz para seguir a razão. É importante
> não cair no erro de achar que apenas existe amor quando ele vai contra a
> razão? Não há amor sem emoção mas também não há verdadeiramente amor sem
> razão. Porque o amor tem necessariamente uma razão de ser.
> O amor é o que sobrevive para lá das dúvidas, suportado pela razão. Como
> dizia um outro personagem cinematográfico "Só quero que me ames, com
> dúvidas e tudo." Fácil é evocar o coração para não ouvir a sua razão.
> Fácil
> também é escudar-se na razão para fugir ao coração. Difícil e
> verdadeiramente romântico é decidir do amor com o verdadeiro uso da razão.
> Só assim se encontram as razões do coração. As razões que dita o coração e
> pelas quais alguém nos faz perder a razão.
>
> Miguel Poiares Maduro Miguel.Maduro@curia.eu.int

Cientistas britânicos conseguiram adormecer células cancerosas

> Instituto de Investigação Marie Curie
> Cientistas britânicos conseguiram adormecer células cancerosas
> 15.03.2005 - 18h20 Reuters
> http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1218234&idCanal=13
>
>
> Investigadores do Instituto de Investigação Marie Curie, no Reino Unido,
> conseguiram adormecer células afectadas com cancro da pele, impedindo que
> se dividam e cresçam. De acordo com os cientistas, o processo anunciado
> hoje reactiva um mecanismo natural de auto-defesa que é desactivado em
> células afectadas pela doença, obrigando-as a permanecer inactivas, como
> se
> estivessem em coma.
>
> ?[O processo] oferece uma esperança real de que iremos conseguir lidar com
> o cancro, induzindo as células a um estado de coma?, afirmou Thomas
> Hughes-Hallett, chefe executivo do Centro de Tratamento de Cancro Marie
> Curie.
>
> A equipa liderada pelo dr. Colin Goding está a estudar o gene Tbx2, que se
> torna hiperactivo no caso do melanoma, o mais grave dos tipos de cancros
> da
> pele. De acordo com as investigações, o gene está ligado ao mecanismo que
> inibe o envelhecimento das células.
>
> ?O que nos surpreendeu realmente foi quando inibimos o Tbx2 em células com
> melanoma, elas envelheceram e pararam de se dividir. Isto significa que
> temos potencialmente uma nova foram de parar a divisão das células
> cancerosas?, afirmou Goding.
>
> O cancro desenvolve-se quando certos genes sofrem mutações e as células se
> dividem de forma descontrolada ? um processo que Goding comparou a um
> acelerador encravado.
>
> Normalmente, as células saudáveis reconhecem quando algo não está bem e
> travam a actividade anormal ou envelhecem, mas nas células cancerosas essa
> capacidade desaparece.
>
> Os cientistas, que conseguiram inibir a actividade do Tbx2, descobriram
> agora que o mecanismo de envelhecimento das células continua presente, mas
> é desligado pelo gene.
>
> Colin Goding explicou que o que a sua equipa fez foi reactivar o sistema
> de
> envelhecimento das células e espera agora descobrir em que proporção de
> células de um melanoma e de outros cancros o processo de envelhecimento
> pode ser reactivado e se poderá ser desenvolvido um medicamento eficaz.
>
> No entanto, o investigador afirmou que o recurso a tratamentos baseados
> nas
> descobertas da sua equipa poderá demorar mais de dez anos a surgir.
>
> ?Ser capaz de conceber medicamentos que reactivem o envelhecimento seria
> uma grande ajuda. A beleza disto é que este mecanismo natural teria
> automaticamente como alvo as células cancerosas, mas não as células
> normais?, acrescentou Goding.
>
> Cerca de 133 mil novos casos de melanoma maligno são diagnosticados todos
> os anos a nível mundial.

Não há uma cruzada do Vaticano contra «O Código Da Vinci» - Gênova, Zenit, 050317

> Como é devido o direito de resposta, não querendo importunar com o mesmo
> assunto, aqui vai.
> Jorge Mayer
>
> ---------------------------------------------------------------------------------------------------------
> Código: ZP05031607
> Data de publicação: 2005-03-16
> Não há uma cruzada do Vaticano contra «O Código Da Vinci»
> Declarações sobre um debate organizado esta quarta-feira pela arquidiocese
> de Gênova
> CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 16 de março de 2005 (ZENIT.org).-
> Jornais
> e agências de todo o mundo nestes dois últimos dias anunciaram o
> lançamento
> por parte do Vaticano de uma «cruzada» contra «O Código Da Vinci», o
> best-seller de Dan Brown.
>
> Na realidade, a Santa Sé não deu nenhuma indicação nem tomou nenhuma
> iniciativa excepcional. Simplesmente o Departamento para a Cultura e a
> Universidade da arquidiocese de Gênova, cujo arcebispo é Tasicio Bertone,
> organizou na noite desta quarta-feira um debate sobre o livro «O Código Da
> Vinci... histórias sem história», ao que convidou a participar Massimo
> Introvigne, fundador e diretor do Centro de Estudos sobre as Novas
> Religiões (CESNUR).
>
> Ante o eco suscitado por esta iniciativa, o cardeal Bertone concedeu uma
> entrevista a «Rádio Vaticano», emitida esta terça-feira, na qual constata
> que «não se pode ser um jovem moderno sem ter lido ?O Código Da Vinci?».
>
> «Converteu-se em um esteriótipo e circula nas escolas de tal maneira que
> há
> quem chega a crer que deve ler o livro para entender a dinâmica da
> história
> e todas as manipulações que, segundo o autor, a Igreja teria realizado no
> curso de sua história», afirma.
>
> «Este é um fato verdadeiramente doloroso e terrível --confessa--. Demo-nos
> conta da difusão deste livro nas escolas e, pelo mesmo, tomamos medidas de
> reflexão e de confrontação pública também, aberta e decidida».
>
> As teses de fundo do livro de Brown não são novas. Algumas se remontam aos
> Evangelhos gnósticos.
>
> Segundo o arcebispo de Gênova, que no passado foi secretário da
> Congregação
> para a Doutrina da Fé, um dos erros mais evidentes do livro «é a chamada
> ?obliteração? do aspecto feminino na narração evangélica e na vida da
> Igreja».
>
> «Não há nada mais falso. Nos Evangelhos, como sabemos, tem um lugar
> predominante Nossa Senhora, a figura feminina por excelência, a Mãe de
> Jesus», constata.
>
> «Também, o grupo das mulheres, na história do Novo Testamento, e,
> portanto,
> nos Evangelhos, tem uma visibilidade quase igual à do grupo dos Apóstolos.
> Fala-se inclusive da presença de ?diaconisas? na Igreja primitiva».
>
> «Portanto, afirma, não há nada mais falso que a necessidade de inventar
> uma
> Maria Madalena ?amazona?, ou algo assim, na história da Igreja primitiva,
> como se as mulheres não estivessem já presentes?».
>
> «Outro elemento, e o mais mistificado, é a negação da morte e Ressurreição
> de Jesus --acrescenta o cardeal Bertone--. As narrações evangélicas sobre
> a
> Paixão de Cristo são as mais precisas e determinadas, com um realismo que
> algum jornalista qualificou de ?horror fundamentalista?, no caso do relato
> cinematográfico sobre ?A Paixão? de Mel Gibson».
>
> Não é assim, indica o purpurado, é uma «descrição verdadeira que se
> corresponde com os Evangelhos. Portanto, a morte de Jesus está provada de
> maneira incontestável, e o mesmo a Ressurreição. Este livro está cheio de
> mentiras fabricadas!».
>
> O purpurado salesiano atribui o êxito de vendas de Brown a uma estratégia
> visível em particular após o grande Jubileu do ano 2000.
>
> «A Igreja, com nosso Papa João Paulo II, causou um impacto de maneira
> excepcional à atual humanidade, e isto molestou muitos. A estratégia de
> distribuição responde a um ?marketing? absolutamente excepcional,
> inclusive
> nas livrarias católicas».
>
> «Queixei-me ante as livrarias católicas que, por motivos de lucro, exibam
> pilhas deste livro», revela.
>
> «E, logo, está a estratégia da persuasão: não és cristão adulto se não lês
> este livro», acrescenta.
>
> O cardeal Bertone cita o sociólogo americano Philip Jenkins, segundo o
> qual
> o êxito do livro é só outra prova de que o anticatolicismo é a última
> discriminação aceitável.
>
> «Há uma grande discriminação anticatólica --constata--. Pergunto-me que
> passaria se tivesse escrito um livro assim, cheio de mentiras, sobre Buda
> e
> Maomé, ou inclusive, por exemplo, se tivesse publicado uma novela que
> tivesse manipulado a história do Holocausto ou da Shoá».
>
> «Não se pode fazer uma novela mistificando os dados históricos, ou
> maldizendo ou difamando uma pessoa histórica que tem seu prestígio e sua
> fama justamente na história da Igreja, na história da humanidade»,
> conclui.
>
> Sent by: Povo

" Código Da Vinci" na lista dos livros proibidos pelo Vaticano

Fiéis não devem ler ou adquirir a obra de Dan Brown
"Código Da Vinci" na lista dos livros proibidos pelo Vaticano
15.03.2005 - 18h10 AFP
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1218232&idCanal=14

O Vaticano incluiu hoje o "best-seller" mundial "Código Da Vinci", do
escritor Dan Brown, na lista das obras literárias a "não ler nem comprar",
acusando-a de ser um "castelo de mentiras".

"Não leiam e não adquiram o 'Código Da Vinci'", afirmou o cardeal Tarcisio
Bertone aos microfones da Rádio Vaticano, considerando que não se faz um
romance "mistificando factos históricos, dizendo mal ou difamando uma
personagem histórica que tem o seu prestígio e a sua reputação na história
da Igreja e da humanidade".

Bertone, um dos possíveis sucessores de João Paulo II, falava à margem de
uma conferência sobre o livro de Dan Brown prevista para amanhã à noite no
seu arcebispado em Génova, no norte de Itália.

Para o cardeal, a divulgação do romance entre os jovens é "um facto
verdadeiramente doloroso e terrível", lamentando a existência da ideia de
que o "livro deve ser lido para compreender toda a dinâmica da história e
todas as manipulações que a Igreja cometeu".

Bertone explica que o Vaticano, ao dar-se conta da divulgação do "Código Da
Vinci" nas escolas, tomou medidas "para abrir uma reflexão pública" sobre a
obra, denunciando, desde já, a operação de "marketing" que envolve o livro
e ajuda à divulgação de "um castelo de mentiras".

O livro, que está a ser adaptado para cinema, está nas livrarias desde
2003, tendo sido vendidos pelo menos 20 milhões de exemplares em todo o
mundo.

No centro da polémica da obra está a filha de Jesus, que terá nascido de
uma união com Maria Madalena, e a sua descendência. Segundo a obra de Dan
Brown, a Igreja Católica tentou por todos os meios, ao longo da História,
esconder essa verdade, no sentido de preservar o carácter divino de Jesus.

No romance, a Opus Dei é apresentada como uma das personagens perversas da
intriga.

As referências ao Santo Graal e aos símbolos escondidos nas principais
obras de Leonardo da Vinci valeram a Dan Brown a acusação, não apenas da
Igreja Católica, de ter deformado a realidade hsitórica.

No seu sítio online, o escritor sublinha que a sua obra "é um romance e por
essência um livro de ficção". Dan Brown defende-se de ter escrito um livro
anti-cristão e sustenta que se esforçou "para fazer uma descrição o mais
equilibrada possível da Opus Dei".

A Congregação para a Doutrina da Fé, da qual o cardeal Bertone foi
secretário durante vários anos, ficou responsável pela actualização regular
do "index de livros interditos" (Index librorum prohibitorum) da Igreja
Católica. Um dos últimos escritores a entrar na lista foi o italiano
Alberto Moravia.

Metade dos europeus contra entrada de imigrantes

Estudo sobre racismo e xenofobia
16.03.2005 - 08h00 Ricardo Dias Felner
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1218263&idCanal=90

Os resultados do maior estudo já feito na União Europeia (UE) sobre racismo
e xenofobia não permitem conclusões unívocas sobre o grau de discriminação
dos migrantes. Mas deixam claro uma tendência: metade dos europeus,
sobretudo os menos instruídos e com empregos precários, embora aceite
conviver com outras etnias, é contra a entrada de mais estrangeiros.

Feito com base em dois inquéritos diferentes, o relatório apresentado ontem
pelo Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos - intitulado
Atitudes das maiorias perante as minorias - revela que 50 por cento da
população está contra a entrada de mais imigrantes.

Resulta também das estatísticas que as classes com qualificações mais
baixas, residentes em meio rural e com salários inferiores, mostram
atitudes mais agressivas contra os imigrantes, receando a sua concorrência
no mercado de trabalho.

De resto, as respostas dos inquiridos parecem indicar que os europeus estão
dispostos a conviver com a diferença, dentro de certos de limites.

Sustentando as suas análises nas bases de dados do Eurobarómetro e do
Inquérito Social Europeu, os investigadores responsáveis pelo estudo - da
Universidade de Nijmegen, na Holanda - concluíram que, ao mesmo tempo que
existe abertura face a uma sociedade multicultural (só um quarto se opõe a
uma sociedade multicultural), cada vez mais cidadãos europeus (duas em cada
três pessoas) insistem na necessidade dos comportamentos dos migrantes
serem conformes às leis nacionais.

Estas sínteses têm, contudo, variações importantes quando se desagregam os
resultados por países. A Grécia aparece destacada como o país da União
Europeia mais temeroso dos imigrantes e das minorias étnicas (ver texto na
coluna).

De destacar ainda o facto de os números atestarem a vontade, já avançada
por outras sondagens, dos britânicos e dos belgas em restringir a entrada e
os direitos dos requerentes de asilo. Outrora países com forte tradição no
acolhimento de refugiados, metade das suas populações são actualmente
contra a entrada de mais requerentes de asilo, segundo os dados do
Inquérito Social Europeu.

Portugal (ver texto ao lado) posiciona-se de forma dúbia, destacando-se
negativamente pela "resistência aos imigrantes" e à "diversidade".

Os países nórdicos fazem justiça à fama, posicionando-se consistentemente
na base do ranking dos países mais fechados. Há, ainda assim, diferenças
entre eles, com a Finlândia mais resistente à imigração, a Dinamarca mais
moderada e a Suécia a colocar-se de forma evidente como o país mais
tolerante e cooperante da União Europeia (surge como o menos "resistente
aos imigrantes", menos "resistente aos requerentes de asilo", menos
"favorável a uma distância étnica" e que menos sente "uma ameaça étnica").

Padrões socioculturais

Relativamente aos dez países que aderiram mais recentemente à União
Europeia, os números também não são lineares. De acordo com o
Eurobarómetro, verifica-se contudo uma significativa diferença face à
questão dos "limites a uma sociedade multicultural (60 por cento dos
europeus dos Quinze eram a favor, contra 42 por cento entre a população dos
ex-candidatos à EU).

Transversais a todos os Estados e regiões são alguns padrões
socioculturais. As pessoas mais jovens "expressam uma maior abertura
relativamente à diversidade". Também aqueles que têm um maior contacto com
os migrantes e as minorias, ou seja, as populações urbanas são mais
empenhados numa sociedade multicultural do que quem vive em zonas rurais.

O Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos, fundado em 1997
e sediado em Viena, Áustria, é uma agência da União Europeia destinada a
recolher informação sobre a discriminação na União Europeia.

Os inquéritos do Eurobarómetro foram realizados, em média, a mil pessoas de
cada um dos Estados-membros, entre 1997 e 2003. No que respeita ao
Inquérito Social Europeu, fizeram-se entre 1500 a 2500 entrevistas na maior
parte dos países, em 2002 e 2003.

Gulbenkian apoia integração de 120 médicos imigrantes

Actualmente, 85 profissionais já exercem nos hospitais, depois de passarem
no exame de equivalência Fundação patrocina o processo que é moroso e
dispendioso

http://jn.sapo.pt/2005/03/11/sociedade/gulbenkian_apoia_integracao_120_medi.html
Virgínia Alves

AFundação Gulbenkian decidiu desenvolver um projecto com o objectivo de
integrar os imigrantes mais qualificados na sociedade portuguesa. A aposta
foi direccionada para a Medicina e, depois de dois anos e meio de trabalho,
85 médicos estão já integrados no Sistema Nacional de Saúde. Em estágio
para a preparação do exame de equivalência estão 25 e dez vão repetir o
exame. São, na sua maioria, da Ucrânia e da Moldávia.

"Portugal precisa dos imigrantes e é necessário encontrar fórmulas para se
convidar os mais capazes a ficarem no país", afirmou Luísa Vale, uma das
responsáveis pelo projecto, acrescentando que a escolha recaiu sobre a
Medicina "porque é uma área inquestionavelmente carenciada" .

Para avançar com o programa, a Fundação estabeleceu parceria com uma
organização internacional não governamental (ONG), o serviço dos jesuítas
aos Refugiados.

Em conjunto, abriram vagas para 120 imigrantes licenciados em Medicina e
que necessitavam de obter equivalência dos cursos para exercer em Portugal.

O apoio era prestado em termos financeiros e logísticos. "O processo de
pedido de equivalência é moroso, implica tradução de documentos,
reconhecimento dessas traduções, envolve consulados e tudo isso exige
quantias avultadas de dinheiro, cerca de 700 a 900 euros", salientou Luísa
Vale.

Por outro lado, "não se pode despedir do trabalho que têm para fazer o
estágio de seis meses para preparação do exame de equivalência. Não teriam
meios de subsistência e também perderiam o direito do visto de residência,
porque deixariam de ter um contrato de trabalho", acrescentou.

Ao abrigo do projecto, que deverá estar concluído no início do Verão, foi
possível a esses 120 imigrantes pedirem a equivalência do curso e
reiniciarem as suas carreiras interrompidas. Dos que já estão a trabalhar,
cerca de dois terços estão a fazer o internato geral em hospitais de todo o
país, e a um terço foi dada autonomia, estando a exercer em centros de
Saúde.

A actual aposta da Fundação é, agora, na enfermagem. Iniciaram um
projecto-piloto, em parceria com o Serviço Jesuíta, a Santa Casa da
Misericórdia e a Escola de Enfermagem Francisco Gentil, para dez
enfermeiros imigrantes, que já estão a trabalhar.

Agora, vão avançar com o projecto, para apoiar 60 enfermeiros imigrantes,
mantendo a parceria com a ONG e Escola de Enfermagem, alargando-a ao
Hospital Amadora -Sintra, que conta com apoio comunitário.

Halyna Rudysh Uc RÂnia, 34 anos

A fazer o internato médico em Portalegre, pensa na especialidade de
pediatria, que exercia no seu país, tal como o seu marido que está a fazer
o internato em Évora. Em Portugal desde 2001, contou, desde sempre, com o
apoio do primeiro patrão, mas, para o casal obter a equivalência, em muito
contribuiu a Gulbenkian. "Não seria possível os dois ao mesmo tempo, não
havia disponibilidades financeiras. Como é que podíamos ter ido fazer o
estágio de seis meses a Lisboa?"

Mihail Hodorogea Moldávia, 35 anos

"Desde que cheguei a Portugal, em 1998, tinha o objectivo de conseguir a
equivalência do meu curso. Sabia que era difícil, mas ia conseguir. Por
isso, o apoio da Gulbenkian facilitou esse projecto, adiado por
dificuldades financeiras". Actualmente, está a fazer o internato geral no
Hospital de Santarém. Começou o percurso do pedido de equivalência nos
Hospitais Universitários de Coimbra, depois de ter sido servente e de ter
trabalhado num armazém da construção civil.

Matar por amor? Pedro Vaz Patto, Marco 2005

> Dois filmes actualmente em cartaz (Million Dollar
> Baby e Mar Adentro), ambos premiados com os óscares, trazem o tema da
> eutanásia para a ordem do dia. Não o fazem de modo imparcial. Em qualquer
> deles se descobre uma nítida intenção apologética em relação à eutanásia,
> com recurso à manipulação sentimental. É difícil encontrar hoje outros
> filmes tão ideologicamente marcados. Não é abusivo pensar numa verdadeira
> campanha que pretende preparar a mentalidade comum para a aceitação
> pacífica da legalização de mais um atentado à vida, escondido atrás da
> aparência de causas nobres. Parece que se quer convencer as pessoas de que
> a solidariedade e a compaixão podem levar a matar alguém, ou a ajudar
> alguém a morrer. Aquelas mesmas pessoas que sempre pensaram que o amor
> deve, antes, levar a ajudar as pessoas a viver, e a procurar, por exemplo,
> que quem manifesta o desejo de se suicidar desista da ideia, ou a
> impedido-lo até de a concretizar.
> Apresenta-se a aceitação do pedido de eutanásia como uma
> manifestação de respeito pela autonomia individual, valor que hoje se
> quer
> colocar acima de todos os outros. Mas não tem sentido invocar a
> liberdade
> contra a vida. A liberdade supõe a vida e, ao suprimir a vida, suprime-se
> a
> raiz da liberdade. Há, por outro lado, bens indisponíveis. A vida, como
> o
> núcleo essencial da dignidade da pessoa humana, é um bem indisponível.
> O
> consentimento do ofendido, tal como não justifica o homicídio a pedido e
> a
> eutanásia, não justifica a escravatura, a prostituição ou formas
> extremas
> de exploração económica. Os direitos humanos têm por objecto bens
> que
> conduzem à realização e aperfeiçoamento da pessoa humana enquanto tal.
> Por
> isso, como não tem sentido falar em direito à escravatura e em direito
> à
> doença, não tem sentido falar em direito à morte, à supressão da pessoa.
> Em quase todos estes casos, não pode sequer falar-se do exercício livre
> e
> esclarecido da liberdade. Sabe-se com o pedido de eutanásia é,
> com
> frequência, um sinal de um estado depressivo mais ou menos transitório,
> ou
> uma manifestação de desespero que oscila com manifestações
> contraditórias
> de apego à vida. De qualquer modo, nunca é possível saber se o
> pedido,
> ainda que insistente, se manteria no futuro, ou se a pessoa que o
> formula
> não viria a arrepender-se. E as consequências da satisfação desse
> pedido
> são em absoluto irreversíveis. Também o mais comum é que quem tenta
> o
> suicídio venha depois a agradecer a quem, desrespeitando a sua
> pretensa
> ?autonomia?, o tenha impedido de consumar os seus intentos. Há quem
> tenha
> contactado Ramon Sampredo, o protagonista do filme Mar Adentro, e duvide
> da
> sua perfeita integridade psíquica, ou esteja convencido de ele que
> poderia
> vir a mudar de ideias.
> Pretende-se, com a eutanásia, eliminar os sofrimentos. Mas não se trata
> de
> eliminar os sofrimentos, trata-se de eliminar a pessoa. Não se trata
> de
> proporcionar a vida em melhores condições e sem sofrimento, trata-se
> de
> suprimir a vida. Amar a pessoa que sofre é ajudá-la a viver, não ajudá-la
> a
> morrer. É eliminar o sofrimento na medida do possível e ajudá-la
> a
> encontrar um sentido para o sofrimento inevitável (aquele que
> acompanha
> sempre a vida, não só na sua fase terminal).
> Satisfazer o pedido de eutanásia, com o beneplácito do
> ordenamento
> jurídico, não é ser neutro diante das opções de cada um, é confirmar
> que,
> na verdade, em determinadas situações, a vida ?perde dignidade?, a vida
> é
> ?indigna de ser vivida?. Mas a dignidade da vida humana é-lhe
> intrínseca,
> nunca se perde com a doença. Por isso, mesmo quando não se propugna
> a
> eutanásia involuntária, a legalização da eutanásia traduz sempre
> uma
> mensagem cultural de desvalorização da vida dos doentes, dos deficientes
> ou
> dos idosos. Foi isso que, com veemência, quiseram dizer os
> tetraplégicos
> espanhóis que, através da sua associação, protestaram contra o apoio
> de
> responsáveis governamentais à mensagem do filme Mar Adentro: não queremos
> a
> eutanásia, queremos apoios que nos ajudem a viver. Do mesmo modo,
> várias
> associações americanas de deficientes têm protestado contra a mensagem
> do
> filme Million Dollar Baby, a difusão da ideia de que vale mais morrer
> do
> que ser doente ou deficiente. Pelo contrário, a associação italiana
> dos
> doentes de Parkinson manifestou recentemente o seu apreço pelo
> testemunho
> de João Paulo II nesta fase da sua vida, que tem ajudado a enaltecer
> a
> imagem de dignidade e valor das pessoas com esta doença.
> Neste, como noutros âmbitos onde se questiona a inviolabilidade da
> vida
> humana, evoca-se com frequência a imagem da rampa deslizante: quando
> se
> quebra essa princípio, começamos a descer e não sabemos onde iremos
> parar.
> A história recente da legalização da eutanásia demonstra-o bem. Começou
> por
> se admitir, na Holanda, a eutanásia de doentes terminais. A
> legislação
> belga admite já a eutanásia de doentes incuráveis, ainda que não
> terminais.
> Na Holanda, onde a lei já permitia a eutanásia de jovens menores,
> um
> protocolo recente entre um hospital e o Ministério Público veio admitir
> a
> eutanásia de crianças. Em declarações recentes, a baronesa Warnock
> (uma
> autoridade em matéria de bioética no Reino Unido) invocou a eutanásia
> já
> não como um simples direito, mas como um dever, em determinadas
> situações.
> Estamos, pois, já fora do âmbito da eutanásia voluntária e do respeito
> pelo
> ?sacrossanto? valor da autonomia individual. Estamos em plena
> rampa
> deslizante...
>
> Pedro
> Vaz Patto
> Sent by: POVO

Ano de 2070

Um exercício de imaginação, que está para além da ficção.
Preocupante por vermos que diariamente se desperdiça um recurso tão
importante e que não é inesgotável.
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Ano 2070. Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém com
85.
Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me
resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores
nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia disfrutar de um
banho de chuveiro com cerca de uma hora.

Agora usamos toalhas de azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as
mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, devemos rapar a
cabeça para a manter limpa sem água. Antes, o meu pai lavava o carro com a
água que saía de uma mangueira. Hoje, os meninos não acreditam que a água
se utilizava dessa forma. Recordo que havia muitos anuncios que diziam
CUIDA DA ÁGUA, só que ninguém lhes ligava - pensávamos que a água jamais
podia acabar.

Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos acuíferos estão
irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes, a quantidade de água
indicada como ideal para beber eram oito copos por dia por pessoa adulta.
Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta
grandemente a quantidade de lixo e tivémos que voltar a usar os poços
sépticos (fossas) como no século passado já que as redes de esgotos não se
usam por falta de àgua.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela
desidratação, cheios de chagas na pele provocadas pelos raios ultravioletas
que já não tem a capa de ozono que os filtrava na atmosfera. Imensos
desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As
infecções gastrointestinais, as enfermidades da pele e das vias urinárias
são as principais causas de morte.

A industria está paralizada e o desemprego é dramático. As fábricas
dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-nos em agua
potável o salário.

Os assaltos por um bidão de agua são comuns nas ruas desertas. A comida é
80% sintética. Pela ressequidade da pele, uma jovem de 20 anos está como se
tivesse 40. Os cientistas investigam, mas não parece haver solução
possivel. Não se pode fabricar agua, o oxigénio também está degradado por
falta de arvores e isso ajuda a diminuir o coeficiente intelectual das
novas gerações.

Alterou-se também a morfologia dos espermatozoides de muitos individuos e
como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e
deformações.

O governo cobra-nos pelo ar que respiramos (137 m3 por dia por habitante
adulto).
As pessoas que não podem pagar são retiradas das "zonas ventiladas". Estas
estão dotadas de gigantescos pulmões mecanicos que funcionam a energia
solar. Embora não sendo de boa qualidade, pode-se respirar. A idade média é
de 35 anos.

Em alguns países existem manchas de vegetação normalmente perto de um rio,
que é fortemente vigiado pelo exercito. A água tornou-se num tesouro muito
cobiçado - mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui não há arvores, porque
quase nunca chove e quando se regista precipitação, é de chuva ácida. As
estações do ano tem sido severamente alteradas pelos testes atómicos.

Advertiam-nos que deviamos cuidar do meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o
bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que
era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a agua que
quisesse, o saudável que era a gente, ela pergunta-me:
- Papá! Porque se acabou a agua?
Então, sinto um nó na garganta; não deixo de me sentir culpado, porque
pertenço à geração que foi destruindo o meio ambiente ou simplesmente não
levámos em conta tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto
e sinceramente creio que a vida na terra já não será possivel dentro de
muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto
irreversivel.

Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse
isto, quando ainda podiamos fazer algo para salvar ao nosso planeta terra !

Documento extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos" de Abril
de 2002.

Pensamento para o fim de semana

"O que se paga é barato."

Anónimo, sobre a educação dos filhos.
Aquilo que compramos é o mais fácil de dar (ou o mais "barato" para nós), o
que é mais difícil (caro) é o nosso tempo, paciência e dedicação.

"Eles têm tudo e falta-lhes o essencial."
Anónimo

História verdadeira

O sr. Silva trabalhava na empresa, onde pertencia aos quadros.
Um dia a empresa X decidiu que tinha de reduzir o pessoal na área do Sr.
Silva, como ele tinha sido o último a entrar para o quadro proposeram-lhe a
saída. Este aceitou desde que lhe pagassem uma indemnização e lhe dessem o
carro com que trabalhava. A empresa X acedeu.

O Sr. Silva aproveitou a sua vida e arranjou outro emprego.

Tudo mais ou menos normal.

Passados muitos meses da saída da empresa X, o sr. Silva recebe um
telefonema da empresa X a dizer que realmente não conseguiam trabalhar com
menos pessoal e que estavam a pensar em contratar alguém e com ele já
conhecia a casa era obviamente a melhor pessoa.

O Sr. Silva pensado que para melhor muda-se sempre, aceitou desde que o
emprego fosse atractivo.

Deram-lhe uma carro melhor (do que o que já tem desde a sua saída) e está
agora a ganhar bem mais que anteriormente. A fazer a mesma coisa.

As empresas têm razões que a razão desconhece...

Os nomes foram alterados para proteger os visados, mas eu (Jorge Mayer)
garanto a veracidade.

Timor Leste: Meia ilha de "humanidade supérflua"

O pesadelo continua
Timor Leste: Meia ilha de "humanidade supérflua"
por Ben Moxham[*]

Segunda-feira passada, 7 de Fevereiro, o jornal de Timor Leste Suara Timor
Loro Sa'e informou que pelo menos 53 pessoas morreram de fome na aldeia de
Hatabuiliko
desde Outubro de 2004. "Não há absolutamente nada para comer", informou
Domingo de Araújo, o secretário do sub-distrito, e "aqueles ainda vivos
estão à
procura de batatas selvagens na floresta". Relatos dos diferentes distritos
continuam a chegar: 10 mil pessoas estão a morrer de fome em Cova Lima; 10
mil famílias estão famintas em Suai; e os distritos de Los Palos, Baucau e
Manufahi estão todos a informar de crises alimentares.

O Gabinete de Administração de Desastres Nacionais, do governo, rapidamente
aconselhou a não super-reagir porque isto não é "inanição e fome como na
Somália, Etiópia, Sudão e em outras partes". Ao invés disso, o que está a
acontecer
"é conhecido como FALTA DE COMIDA" (são suas as maiúsculas) e isto
"acontece
todo o ano".

E aqui reside a tragédia mais profunda: isto não é uma novidade
extraordinária. Sem considerar qual seja a definição que o governo está a
adoptar quanto ao assunto, a fome é tão comum em Timor Leste que o período
entre Novembro e
Março é mencionado como a "estação da fome". No ano passado, foi
distribuída
ajuda alimentar a 110 mil pessoas em onze dos 13 distritos do país e num
inquérito de 2001, 80 por cento das aldeias informaram terem estado sem
comida em quantidade adequada em algum momento durante o ano.

Se bem que uma seca intensa partilhe algo da culpa, a questão que clama ser
perguntada é porque uma nação de apenas pouco menos de um milhão de
pessoas,
que é suposta ter recebido mais doações de fundos per capita nos últimos
cinco anos do que qualquer outra, tem fome?

QUANTO MAIS AS COISAS MUDAM...

Desde o referendo da independência de 1999, uma ajuda monetária estimada em
US$ 3 mil milhões tem estado a redemoinhar em torno de gabinetes
administrativos,
dispendiosos restaurantes estrangeiros de Dili e em contas bancárias em
dólares americanos de consultores internacionais. Raramente este dinheiro
faz a viagem desesperadoramente necessária para além dos limites da cidade
que é a
capital do país. Num departamento governamental, um único consultor
internacional ganha em um mês tanto quanto 20 dos seus colegas timorenses
ganham juntos
num ano inteiro. Um outro consultor cobrou ao PNUD US$ 8000 pelo seu
bilhete
aéreo em primeira classe a partir do paraíso fiscal onde reside. E estas
estórias seguem-se umas às outras. Uma recente avaliação da Comissão
Europeia do Trust Fund for East Timor, administrado pelo Banco Mundial,
observava que
um terço dos fundos concedidos foram comidos pelas remunerações dos
consultores, sem falar nos custos indirectos e nas aquisições obrigatórias.
Mas o
problema é muito mais profundo do que o desperdício financeiro da indústria
da ajuda.

As elites em desenvolvimento em Dili não têm dúvidas em culpar o passado.
Não há dúvida, os militares indonésios que partiram destruíram 70 por cento
da infraestrutura e deslocaram dois terços da população durante a sua saída
sangrenta em 1999. Na verdade, desde que os portugueses aportaram pela
primeira vez àquela pequena ilha quase 500 anos atrás, a luta timorense
para
ultrapassar a fome e controlar os seus sistemas de produção de alimentos
tem
estado intimamente ligada à sua luta contra a ocupação estrangeira.

Para os agricultores de Hatabuiliko e umas 40 mil famílias nas províncias
montanhosas, a café é o símbolo desta luta. Os portugueses expandiram a
produção no século XIX com a habitual fórmula colonial da expulsão da
terra, trabalho
forçado e cultivo. Os militares indonésios assumiram o comando do sector em
1976 com tão ruinosa exploração que os agricultores do café foram
efectivamente forçados a financiar o seu próprio genocídio. Isto deixou o
sector num estado que a Comissão de Planeamento de Timor descreveu em 2002
como "não
viável".

A partir da votação da independência, em 1999, os doadores prescreveram o
desmantelamento dos apoios estatais para o sector, o que, combinado com um
excesso de produção no mercado global desregulado do café, conduziu os
agricultores
à miséria. O café, a principal exportação do país, rendeu uns fúnebres US$
5 milhões em 2003 (o total das exportações foi apenas de US$ 6 milhões), o
resultado de preços que são uns meros 19% do seu nível de 1980 e em 2002
foi
o mais baixo de sempre em termos reais.

TIMOR LIVRE, MERCADO LIVRE

Sob os planos dos grandes doadores para a reconstrução de Timor, o mercado
foi liberalizado radicalmente, todo o apoio estatal foi reduzido, e o
governo cortado pela metade, restrito à equipe de 17 mil sob as
condicionalidades
macro-económicas impostas pelo Banco Mundial-FMI e com miserável orçamento
nacional de US$ 75 milhões. Não há necessidade de muito governo, segundo a
elite em
desenvolvimento, quando o Estado deveria limitar-se a ser o estimulador de
um "dinâmico sector privado" voltado para uma economia conduzida para a
exportação e alimentada pelo investimento directo estrangeiro.

No ano passado conversei com um grupo de agricultores do arroz no distrito
de Bobonaro sobre como estavam a desvencilhar-se neste bravo mundo
globalizado.
Eles lamentaram que o arroz importado da Tailândia e do Vietnam agora
representem até 55% do consumo interno -- prejudicando tudo o que podem
produzir.
Enquanto os antigos ocupantes indonésios investiam pesadamente em
infraestrutura, mercadorias básicas subsidiadas e insumos agrícolas, e
proporcionavam
um preço base garantido aos agricultores, os novos ocupantes sucatearam
tudo
isto. Nestes dias, os agricultores visitam o privatizado Centro de Apoio
Agrícola concebido pelo Banco Mundial para comprar factores de produção
agrícola a
preços tão elevados que empurram os seus custos de produção acima do preço
de venda do arroz.

Com a vida rural em dificuldade, os timorenses afluíram a Dili à procura de
empregos. Em Julho passado visitei Domingos Frietas, um velho amigo que
cria
uma família de cinco pessoas numa casa arruinada em Dili. Procurando em
torno por mais trabalho, o seu salário mensal de US$ 50 como professor a
tempo parcial não é suficiente. Uma economia dolarizada e liberalizada,
combinada
com os gastos inflacionários da invasão da ajuda, puxaram os preços para um
nível bem acima do salário do timorense médio. Só o arroz está a US$15 por
saco do que no mês passado. Os níveis de desnutrição na capital estão entre
os mais elevados do país.

"A electricidade é tão cara, cerca de US$15 por mês, que não podemos
pagar",
diz Domingos. É um aumento maciço do par de dólares que era cobrado sob os
indonésios. A maior parte não pode pagar e nem pagará a tarifa sob o novo
sistema de pagamento pelo utilizador, parcialmente privatizado.

O primeiro-ministro Alkatiri está a pedir ao povo para não "politizar" a
crise alimentar, conselho corajosamente ignorado por Abílio dos Santos,
responsável governamental pela gestão de desastres, o qual aponta o dedo ao
seu patrão:
"O governo de Timor-Leste menosprezou a fome". Ele está correcto, de certa
forma. Para este ano financeiro, o governo da Fretilin orçamentou apenas
US$1,5 milhão para o Ministério da Agricultura, uma quantia patética
considerando que 85% da nação depende em grande medida da agricultura como
seu meio de
vida.

Isto constitui uma despedida da postura de 1975, quando o mesmo partido
protestou contra a fome juntamente com o seu desafio anti-colonial: "Somos
uma nação de agricultores mas mesmo assim o nosso povo passa fome?" Trinta
anos
depois, a pergunta ainda é formulada mas ao invés de canções
revolucionárias
a Fretilin é forçada a cantar a melodia dos doadores. E se não o fizesse?
"Colocando
directamente", opina um memorando do Congresso americano sobre as
actividades em Timor, "parece provável que os níveis de assistência
declinariam se o
governo de Timor Leste insistisse em políticas económicas ou orçamentais
que
fossem inaceitáveis para os doadores".

Tal como os indonésios, e antes deles os portugueses, os doadores de Timor
Leste ditam a política na agricultura. "A maior parte da assistência é
focada sobre o sector do arroz", diz Ego Lemos, porta-voz da organização
para a
agricultura sustentável HASATIL.
Exemplo: fundos doados estimados em US$18 milhões terão de ser gastos em
esquemas de reabilitação da irrigação entre 1999 e 2006. Mas os aumentos na
produção de arroz têm sido modestos. Poucos
agricultores estão a plantar uma segunda colheita numa terra que é seca,
com inundações
intensas que provocam uma irrigação que destroi a camada de sedimentos. De
facto o arroz nunca foi um artigo importante em Timor e só sob a ocupação
indonésia é que se expandiu a produção. "Durante estes 24 anos tivemos de
comer arroz",
diz Ego, a lamentar que os doadores internacionais tenham continuado esta
tendência, descuidando culturas mais apropriadas como o milho.

E o que se passa quanto à chegada de investimento directo estrangeiro e o
sector privado, profetizados pelos doadores?

"(Com) custos de arranque 30% mais elevados e custos operacionais 50% mais
elevados do que o resto da região, não há muitas áreas para investimento
neste país", disse um conselheiro de investimento do governo que eu
interroguei.
Uma fábrica local de galinhas próxima a Dili foi forçada a encerrar porque
as galinhas importadas custavam a metade do preço do produto local.

Enquanto isso, a economia está a contrair-se constantemente e o desemprego
está a disparar com 15 mil pessoas por ano a entrarem na força de trabalho.
Mesmo o FMI reconheceu na última reunião de doadores que esta pressões
estão "a
reforçar a difusão da pobreza e desemprego sério". O aprofundamento da
crise
do país mais pobre da Ásia deveria ser evidente para todos. Na verdade, os
doadores têm estado a admirar-se da razão porque os agricultores e
trabalhadores timorenses não estão a florescer como micro-capitalistas
produtivos, tal
como lhes dizem os manuais.

Os salários locais são demasiado elevados, diz o FMI no seu último
relatório, louvando o governo por resistir à "introdução de medidas
populistas" como um salário-mínimo. (O Banco Mundial, levado por este
exemplo, forçou a Chubb
Security a cortar o salários dos guardas de segurança do banco de US$ 134
para US$88).

Eles não são suficientemente ambiciosos, diz um doador encarregado de
relações comerciais, recomendando a contratação de um instituto para
ensinar
os "jovens empresários de baixo rendimento" de Timor.

Eles deveriam esquecer do arroz e das galinhas e diversificar para
"mercadorias com dinâmica de mercado", aconselha a USAID e o Banco Mundial.
Mas para Ego, esta lógica afasta-se da realidade.

"Todo agricultor tem de plantar culturas para dinheiro, como a baunilha, o
café e assim por diante, sob esta política, mas isto não responde à
questão:
'têm as pessoas o suficiente para comer?' ", diz Ego. Mesmo que um punhado
de agricultores possam produzir para nichos de mercadorias destinadas aos
instáveis consumidores ocidentais, o resto do país continuará a sofrer ou
simplesmente
desaparecer tal como os 53 homens, mulheres e crianças de Hatabuiliko. Sob
o mercado livre, Timor é apenas uma diminuta meia ilha de humanidade
supérflua.

Será tão ofensivo para uma nação tão pobre como Timor que seja permitido,
ao
contrário, adoptar políticas que apoiem e protejam 85% da população? Para
curar as profundas cicatrizes coloniais de Timor, "o governo deveria
subsidiar os
pobres rurais investindo em infraestrutura básica", afirma Maria "Lita"
Sarmento da organização local de reforma agrária e resolução de conflitos
Instituto
Kdadalak Sulimutuk (significa "a correnteza reúne-se"). "Nós não precisamos
de tecnologia cara, precisamos apenas de apoio para os nossos sistemas
tradicionais", afirma ela.

Ego vibra com ideias alternativas para a agricultura, muitas delas
inspiradas pela feira anual de agricultura "Expo Popular".

"Precisamos bloquear importações de alimentos que podemos produzir aqui",
argumenta Ego. Mas o seu povo não vai passar fome? "Este argumento não tem
sentido", responde. "Temos os meios de nos alimentarmos mas precisamos das
políticas
correctas e a assistência certa. Em tempos de crise, as pessoas contam com
inhame, taioba, banana, jaca e muito mais. Precisamos desenvolver as nossas
fontes
naturais de alimentos, não de desenvolver uma dependência em ajuda
alimentar, e nem das sementes híbridas e os fertilizantes químicos que eles
despejam
sobre nós".

A tragédia da fome em Timor é que a vontade de proporcionar a humilde
assistência de que falam Ego e Lita nada tem a ver com os anos de luta e
solidariedade internacional - foi degradada dentro da política arquitectada
pelo Banco
Mundial. A outra barreira é o governo australiano o qual está a lançar a
reivindicação de US$ 30 dos US$ 38 mil milhões de recursos de gás e
petróleo no Mar de
Timor. Esta fome impede a recepção de rendimentos que pertencem a Timor
Leste de acordo com o Direito Internacional.

Mas o trabalho de timorenses como Lita e Ego mostra que o movimento de
independência está a principiar a pintar novos slogans sobre as suas
antigas
bandeiras:
lutar pela ideia da soberania para fora dos edifícios do parlamento e para
dentro dos campos e florestas, pois os timorenses tentam recuperar o
controle sobre os seus sistemas de produção de alimentos.

Hatabuiliko está empoleirado na cimeira do Monte Ramelau, a montanha mais
alta de Timor Leste. Do seu topo pode-se ver quase tudo desta pequena e
belha
ilha; uma cadeia de montanhas com cerca de 90 km de largura, a dividir o
oceano tal como uma cunha. Desde Outubro o povo tem estado a morrer nesta
aldeia,
a cerca de 100 km da capital por estradas serpenteantes. Desde Outubro,
dúzias de membros de elite da indústria da ajuda passaram pela aldeia na
sua
peregrinação turística antes de parquearem as suas viaturas com tracção nas
quatro rodas
do outro lado e principiarem a ascenção. Muitos teriam contratado um guia
de
Hatabuiliko. Então, por que é que nenhum deles percebeu? Será a desconexão
entre os doadores e a realidade timorense tão completa que aqueles que
estão
a morrer de fome tornam-se uma parte da paisagem que é indigna de reparo?

No ano passado passei uma noite fria na igreja de Hatabuiliko. Não sei quem
das pessoas com que partilhei uma refeição e umas poucas horas felizes
morreram.
Aquelas que sobrevivem devem estar a perguntar porque o pesadelo continua.

[*] Ben Moxham trabalha como investigador para a
Focus on the Global South .
O seu email é
HYPERLINK "mailto:ben@focusweb.org"ben@focusweb.org .

O original encontra-se em HYPERLINK
"http://www.counterpunch.org/moxham02182005.html"

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19/Fev/05