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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quinta-feira, novembro 20, 2008

# "(...) E era Dezembro que floria (...) de Manuel Alegre

Natal
 
Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
 
Na boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu rítmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
 
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
 
Natal Natal (diziam). E acontecia.
como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
 
Manuel Alegre, "Coisa Amar (Coisas do mar)", 1976.
Sent By: Mónica Claro

quarta-feira, novembro 19, 2008

# Um quinto da riqueza mundial está concentrada num milionésimo das famílias

Um quinto da riqueza mundial está concentrada num milionésimo das famílias
Brasil é um dos países em que o número de milionários mais cresceu em 2007
Redacção / Lusa/SPP 9/9/2008
Um quinto de toda a riqueza mundial está concentrada num milionésimo (0,001%) das famílias e a tendência aponta para uma cada vez maior concentração, indica um estudo do Boston Consulting Group.

Este, analisou 62 mercados que representam mais de 98 por cento de toda a riqueza produzida no Mundo, indica que a riqueza global cresceu em 2007 quase 5% para os 77,2 milhões de milhões de euros, avança a «Lusa».

Trata-se do sexto ano consecutivo em que a riqueza cresce, apesar de o ritmo de crescimento ter diminuído (dos cerca de 8% em 2006 para cerca de 5% no ano passado). Uma consequência, nota o relatório, da crise financeira: com epicentro nos Estados Unidos, cujo impacto variou de mercado para mercado.

Entre os agregados familiares, a centésima parte mais rica (1%) detém 35% (mais de um terço) de toda a riqueza mundial e a milionésima parte, constituída pelos ultra-ricos (com mais de 3,5 milhões de euros em activos sob gestão), um quinto de toda a riqueza mundial, 14,8 biliões de euros.

Ou seja, os agregados familiares considerados ricos (com pelo menos 70,5 mil euros em activos sob gestão) representam cerca de 18% de todos os agregados, mas detêm 88 por cento da riqueza mundial.

EUA lidera

Os activos detidos pelos agregados ricos cresceram a uma média anual de 13% entre 2002 e 2007.

No mesmo período de tempo, a riqueza detida pelos agregados familiares ultra-ricos (com mais de 3,5 milhões de euros em activos) cresceu em média 15,7%, dos 7,1 biliões de euros em 2002 para 14,7 biliões em 2007.

No ano passado, o número de agregados milionários, com pelo menos 705 mil euros (1 milhão de dólares) cresceu 11,2%, até alcançar os 7,5 biliões de euros.

Tal como em 2006, no ano passado os Estados Unidos tinham, de longe, o maior número de agregados familiares milionários (4,9 milhões de pessoas), seguindo-se o Japão, o Reino Unido, a Alemanha e a China.

Pequenos mercados dominam

Quanto à concentração de milionários, os pequenos mercados continuam a dominar. Em Singapura, por exemplo, em cada dez agregados familiares um deles detém pelo menos 705 mil euros em activos.

Três das cinco mais densas populações de milionários do mundo estão em países do Médio Oriente: Qatar, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Na Europa é a Suíça quem detém a maior concentração de agregados familiares milionários.

O estudo do Boston Consulting Group nota que apesar de os ricos estarem cada vez mais ricos, esta faixa tem vindo a ajustar os seus investimentos devido à crise financeira originada nos Estados Unidos (crise no mercado imobiliário que provocou falta de liquidez nos mercados financeiros).

«A crise financeira continua a lançar uma sombra sobre os mercados ricos», declarou Victor Aerni, co-autor do estudo. Para este ano, o Boston Consulting Group prevê que os activos sob gestão cresçam menos de 1%.

Europa ocupa 2º lugar

Quanto à riqueza por regiões, a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) continua a ser a mais rica, com 27,6 biliões de euros em activos sob gestão, com a Europa num segundo lugar próximo, com 27 biliões de euros.

Nos mercados emergentes da Ásia/Pacífico e da América Latina, a riqueza cresceu 14%, alimentada principalmente pelo crescimento industrial na Ásia e o preço das matérias-primas, o que traz benefícios ao Médio oriente e à América Latina. A (relativa) estabilidade política e económica destas regiões também contribuiu para estes valores.

O relatório prevê para os próximos anos um crescimento da riqueza global em pelo menos 3% ao ano, ainda assim muito abaixo da média anual de 8,5% verificada entre 2002 e 2007.

Por outro lado, o Brasil é um dos países em que o número de milionários mais cresceu em 2007. Cerca de 220 mil brasileiros detêm juntos 847 mil milhões de euros aplicados no mercado financeiro.

terça-feira, novembro 18, 2008

# E se Obama fosse africano? Por Mia Couto

E se Obama fosse africano?
Por Mia Couto

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
 
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
 
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
 
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
 
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
 
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
 
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
 
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
 
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
 
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
 
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
 
Inconclusivas conclusões
 
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
 
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
 
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
 
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
 
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
 
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
 
Jornal "SAVANA" - 14 de Novembro de 2008

terça-feira, novembro 11, 2008

# Bomba nuclear dos Estados Unidos perdida na Gronelândia

Avião despenhou-se há 40 anos com quatro armas e uma nunca foi recuperada
11.11.2008 - 14h54 PÚBLICO
Os Estados Unidos perderam uma bomba nuclear numa zona de gelo no norte da Gronelândia na sequência do despenhamento de um dos seus bombardeiros. O incidente deu-se há 40 anos mas só agora foi revelado pela BBC.
De acordo com documentos encontrados pela cadeia de televisão, obtidos graças ao "Freedom Information Act", uma lei americana que permite que os agentes federais possam disponibilizar os seus documentos, a bomba nunca foi localizada, apesar das investigações levadas a cabo nas imediações da base aérea de Thulé, onde se despenhou em 1968 um bombardeiro estratégico B-52 com quatro bombas nucleares a bordo, segundo John Haug e Joe D'Amario, pilotos na altura.
A base de Thulé é a mais setentrional e tinha uma grande importância estratégica para o país. Construída em plena Guerra Fria, no início dos anos 50, tinha como objectivo detectar qualquer lançamento de mísseis por parte da Rússia através dos radares Norad, um sistema de vigilância do espaço aéreo norte-americano.
O acidente em questão aconteceu a 21 de Janeiro de 1968, mas três das quatro bombas perdidas foram recuperadas. Em Abril do mesmo ano foram feitas algumas procuras submarinas mas mesmo assim não se conseguiu localizar a quarta bomba nuclear e a procura acabou por ser abandonada com a aproximação do Inverno que congelou as águas, impedindo as buscas.
Ainda de acordo com a BBC, os norte-americanos garantem que a bomba – que teria urânio e plutónio – já não representa qualquer perigo pois a radioactividade ter-se-á dissolvido na água. A presença de armas nucleares na Gronelândia, território autónomo da Dinamarca, foi sempre mantida em segredo e, mesmo depois de estas informações terem vindo a público, o departamento de Estado norte-americano recusou-se a comentar a informação. Anteriormente o Pentágono tinha indicado que as quatro bombas tinham sido destruídas, em resposta às preocupações sobre a segurança na zona e o impacto ambiental da perda.