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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sexta-feira, abril 29, 2016

# Para uma nova ética do trabalho - José Tolentino Mendonça

Não faz qualquer sentido separar, em nós, o ser humano que pensa ou
sente do ser humano que trabalha. Fazer, fazer coisas, produzir
ativamente, trabalhar com dedicação, é uma maneira de edificar o mundo
e de realizar criativamente o encontro com os outros e connosco
próprios. Mesmo o trabalho aparentemente mais simples oferece a quem o
faz, além do mero aspeto material, uma possibilidade de sentido. Mas
isto um "workaholic" não o sabe.

Pode parecer fina a linha que separa um "workaholic" de um trabalhador
altamente motivado e com prestações excecionais. Não nos enganemos,
porém: a distinção é bem real. O "workaholic" tornou-se
patologicamente dependente do trabalho. A ele sacrifica tudo e todos.
E uma dependência considerada "respeitável" enquanto ainda não é vista
socialmente como uma perturbação nem está associada ao sofrimento e a
pesados custos humanos. Mas é disso que se trata. Tende-se a tomar por
normal uma patologia que está a tornar-se estatisticamente frequente.
É uma realidade que nos deve fazer pensar.

Para um "workaholic", o trabalho começou por representar a realidade
mais importante da vida, e rapidamente passou a ser a vida. Na sua
narrativa "A metamorfose", Franz Kafka traça um quadro impressionante
da questão, que é lida inclusivamente do ponto de vista psicológico:
«… o pai [de Gregor] não queria tirar o uniforme nem sequer em casa; o
pijama permanecia pendurado no armário e ele dormia, cuidadosamente
vestido, na poltrona, como se estivesse sempre em serviço e também ali
esperasse a voz de um superior». Muitos pais são assim. Evasivos no
dia a dia, tendencialmente abstratos, prontos a fazer promessas para o
primeiro fim de semana possível (a não ser que depois estejam
demasiadamente cansados ou ocupados). Exibem uma ambição desmesurada e
inflexível que mortifica todo a situação que tenha a ver com a
gratuidade das relações e com uma efetiva partilha da vida dos outros.

Os dias do "workaholic" são cada vez maiores, mas sempre
demasiadamente breves, e esgotam-se numa interminável sucessão de
tarefas, muitas das quais autoimpostas, sem uma finalidade visível,
que reclamam uma atividade frenética e uma velocidade obsessiva, de
modo que tudo o resto passa para segundo plano. Os elevados níveis de
adrenalina requeridos por esse exercício amplificam uma certa ilusão
de omnipotência. A encenação é protegida pela ocupação obsessiva de
todos os buracos na agenda. A isto se chama substituição, armadura,
escudo protetor, compensação, olvido, pretexto: tudo nomes
efetivamente coerentes com esse modo de vinculação.

Quando a atividade profissional se torna o eixo em torno do qual tudo,
literalmente, gira, encontramo-nos na presença de uma fuga, um medo,
um vazio de outra natureza que se resiste a confrontar. O
hiperativismo, o perfeccionismo e o narcisismo ligados à dependência
do trabalho são sintomas fulgurantes, mesmo quando não os queremos
ver. Naturalmente, tudo isto, mais cedo ou mais tarde, produz
consequências: a rutura com o mundo social e a autoexclusão. Estar
presente diante de outros revela-se, inicialmente, uma coisa difícil a
organizar, e bem depressa se torna impossível só de o pensar. O
horizonte da vida pessoal e familiar reduz-se cada vez mais, até se
tornar insignificante. A dimensão afetiva fica capturada pela ideia do
sucesso profissional, perseguido de maneira compulsiva, e do aparato
exterior de poder que dele resulta.

Como recorda Luigi Ballerini, esta é uma patologia que pode ferir
todos, homens e mulheres, em qualquer tipo de profissão: gestores de
topo e domésticas, profissionais liberais e administradores,
professores ou comerciante. A ninguém está garantida a imunidade. Com
um problema acrescido: nos dias de hoje é o próprio sistema de
trabalho que se tornou "workaholic". Nas suas expetativas, no que
incentiva ou no que premeia. Uma das coisas que devemos rever, como
sociedade, é a ética do trabalho.

José Tolentino Mendonça
In "Avvenire"

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segunda-feira, abril 11, 2016

# A irresponsabilidade familiar das empresas

Pedro Afonso Observador 9/4/2016
http://o-povo.blogspot.pt/2016/04/a-irresponsabilidade-familiar-das.html

Trabalhamos cada vez mais horas, passámos a levar trabalho para casa e
um dos problemas é consideramos que é "normal" trabalhar diariamente
10-12 horas, ideia com raízes em várias áreas de atividade.

Perante as acusações de capitalismo predatório e desumanizado,
alimentado pela obsessão do lucro, muitas empresas responderam com
algumas medidas, adotando voluntariamente comportamentos e ações
destinadas a promover o bem-estar da coletividade. Estas medidas são
conhecidas como "políticas de responsabilidade social". Todos
recordamos alguns exemplos de campanhas de solidariedade e de
angariação de verbas para instituições de solidariedade social,
promovidas por empresas, principalmente em períodos como o Natal.
Mas existem outros problemas muito mais graves (porque nos afetam a
todos) que surgem atualmente em muitas empresas, e que estão a
transformar-se num verdadeiro desastre social. Refiro-me ao excesso de
carga horária semanal e à invasão predatória da vida profissional na
vida pessoal. Trabalhamos cada vez mais horas, e passou a ser um
hábito levarmos trabalho para casa. Por outro lado, os meios de
comunicação proporcionados pelas novas tecnologias, como o e-mail, o
telemóvel, as mensagens escritas, etc., contribuem para que a vida
profissional subjugue a nossa vida pessoal e familiar.
A falta de pudor e sentido ético tomou conta de muitas empresas, e já
não se hesita marcar uma reunião para as 19 horas. Tornou-se um hábito
telefonar, enviar e-mails ou mensagens escritas fora do horário de
trabalho. Além disso, é cada vez mais frequente que o jantar familiar
seja interrompido por um contato profissional. O serão, após o dia de
trabalho, é muitas vezes utilizado para responder aos e-mails que
ficaram pendentes durante o dia. As férias são frequentemente
invadidas com contatos profissionais, porque se criou a ideia de que
se tem de estar sempre contatável e disponível. Este servilismo
profissional, transformou-se numa nova escravatura, que afeta todos os
níveis de responsabilidade dentro das empresas.
A pressão é enorme e aquele que procura resistir, colocando barreiras
a esta autêntica invasão da sua vida pessoal e familiar, é criticado
pelos colegas e pelas chefias. Existe uma coação moral para que todos
estejam sempre disponíveis para a empresa.
Atualmente, um dos grandes problemas é considerar que é "normal"
trabalhar diariamente 10-12 horas. Esta ideia tem criado raízes em
várias áreas de atividade profissional. Uma jovem mãe advogada que
acompanhei, contrariando a regra do tempo de permanência no local de
trabalho, procurava sair o mais tardar até às 19 horas do escritório
para passar algum tempo com o filho mais pequeno, cuja hora de deitar
era habitualmente pelas 21h30 horas. A jovem advogada era dedicada e
competente, mas ousou quebrar com o status quo do horário das 12 horas
diárias do grande escritório de advocacia onde trabalhava. Um dia foi
chamada ao gabinete de um dos sócios. Foi-lhe dito que as saídas do
trabalho àquela hora haviam sido notadas e estavam a gerar algum
incómodo junto dos outros colegas. Ela replicou, alegando que tinha a
mesma produtividade do que eles e que desejava, para além de
trabalhar, de ver o seu filho crescer e desfrutar da sua presença.
Reconhecendo a competência da sua jovem colaboradora, o sócio
respondeu: "Tem razão, mas, para acabar com os falatórios, envie de
vez em quando um e-mail aqui para o escritório, por volta das 10-11
horas; assim pelo menos dá a ideia de que continua a trabalhar a
partir de casa".
A conciliação entre o trabalho e a família é uma das tarefas mais
difíceis de alcançar para qualquer casal com filhos. A pressão da
sociedade está cada vez mais do lado do trabalho, pois a nossa cultura
valoriza muito mais o sucesso profissional do que o investimento feito
na família. Embora sejam realidades diferentes o trabalho e a família
não são incompatíveis; pelo contrário, são complementares. Uma boa
satisfação no trabalho enriquece a vida familiar e vice-versa.
É tempo de pedir às empresas que contribuam para o bem-estar coletivo,
contrariando este ambiente de pressão que conduz a um autêntico
sequestro profissional. É tempo de todos começarmos a exigir que as
empresas adotem normas éticas de responsabilidade familiar.
Médico Psiquiatra

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sexta-feira, abril 01, 2016

# 70 mil clérigos muçulmanos da Índia declaram que Estado Islâmico e outros grupos não são muçulmanos

http://observador.pt/2016/03/31/70-mil-clerigos-muculmanos-da-india-declaram-fatwa-ao-estado-islamico-outros-extremistas/

Um total de 70 mil clérigos de todo o mundo assinou umafatwa
coordenada pelo culto de Dargah Aala Hazrat, na Índia, onde declara
que organizações terroristas — entre elas o Estado Islâmico, a
al-Qaeda e os talibã — não fazem parte do Islão. Associada a esta
iniciativa está uma petição que foi assinada por 1,5 milhões de fiéis
daquele culto, com centro na cidade indiana de Bareilly, no norte da
Índia.

"Desde domingo, quando começou o Urs [ritual anual que assinala a
morte de um santo sufi], os membros da Dargah Aala Hazrat têm feito
circular um abaixo-assinado entre os fiéis, para estes assinarem e
demonstrarem que estão contra o terrorismo. Cerca de 1,5 milhões de
muçulmanos demonstraram o seu repúdio. Cerca de 70 mil clérigos de
todo o mundo, que participaram no evento, aprovaram a fatwa", disse
Mufti Mohammed Saleem Noori, um dos clérigos que é responsável por
esta fatwa.

Noori pediu ainda aos jornalistas que parassem de dizer que os grupos
terroristas são "organizações islâmicas".

"Está escrito no Corão que matar uma pessoa inocente é igual a matar a
humanidade inteira", sublinhou Mohammed Ehsan Raza Khan, o número dois
daquele culto na Índia.

De igual forma, os clérigos declararam a sua oposição aos
bombardeamentos feitos na Síria e disseram que as nações ocidentais
têm de saber parar os terroristas sem provocar a morte a inocentes.

Uma fatwa é um decreto religioso que só pode ser declarado por
clérigos, que tomam essa decisão tendo como base os princípios
islâmicos. Ainda assim, uma fatwa não tem valor vinculatório, dada a
ausência de uma autoridade ou personalidade comum entre os muçulmanos
— uma figura como, por exemplo, os católicos têm no Vaticano e no
Papa. Assim, em teoria, cabe a cada fiel decidir se adere ou não
àfatwa.

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