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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

terça-feira, outubro 31, 2006

# Cirurgiões britânicos autorizados a fazer transplante total de cara

27.10.2006 - 10h56 PÚBLICO

O primeiro transplante de cara total pode vir a ser feito pelos médicos britânicos que obtiveram luz verde do comité de ética do Royal Free Hospital de Londres para fazer a operação. Ainda não há data para o tentar - tudo depende de encontrar um doente adequado.

"Agora podemos começar a avaliar pacientes para fazer uma lista de quatro pessoas dispostas a fazer a cirurgia. Mas podem passar-se muitos meses antes até nos considerarmos prontos", disse à Reuters Peter Butler, o líder da equipa. Pessoas cujas caras ficaram destruídas em resultado de incêndios, acidentes e infecções podem ser tratadas desta forma. No Reino Unido foi criada uma organização sem fins lucrativos, chamada Face Trust, com o objectivo de arranjar dinheiro para custear as operações de transplante de cara, que se estima que custem cerca de 25.000 libras (cerca de 37.000 euros).O primeiro transplante de cara parcial foi feito no ano passado, em França.

segunda-feira, outubro 30, 2006

# 1 e 2 de Novembro: a visita dos mortos

Para perceber uma sociedade, talvez mais importante do que saber como é que nela se vive é saber como é que nela se morre e se tratam os mortos.

O antropólogo L.-V. Thomas, especialista nestas questões, apresentou esquematicamente as diferenças entre a civilização negro-africana tradicional e a civilização ocidental no que se refere à morte.

Essa diferença assenta no tipo de sociedade ou civilização. Enquanto na sociedade negro-africana predominam a acumulação dos homens, uma economia de subsistência com o primado do valor de uso, a riqueza de sinais e símbolos, a preocupação com as relações pessoais, o espírito comunitário, o papel do mito e do tempo repetitivo, na sociedade ocidental o que predomina é a acumulação dos bens, a riqueza em objectos e técnicas, uma economia com o primado do valor de troca e da sociedade de consumo, a tanatocracia burocrática ou tecnocrática, a exaltação do individualismo, o papel da ciência, da técnica, do tempo explosivo.

Nesta visão, compreende-se que o significado do Homem também será distinto. Se, na sociedade negro-africana, o Homem se encontra no centro, sendo altamente socializado, e os velhos são valorizados, até porque representam a tradição e a sabedoria, na sociedade ocidental, o Homem aparece sobretudo como produto, mercadoria, inserido no círculo da produção-consumo, altamente individualizado e alienado, e os velhos são desvalorizados e abandonados.

Como consequência, também se entende que sejam profundas as diferenças quanto às atitudes face à vida, ao corpo, à morte, aos moribundos, aos defuntos.

Se a sociedade africana tradicional promove a vida em todas as suas formas (biológica, sexual, espiritual) e tem respeito pelo corpo, a sociedade ocidental, por paradoxal que pareça, menospreza a vida, pois é uma sociedade mortífera e tem uma atitude equívoca quanto ao corpo.

Na sociedade africana há uma atitude de aceitação e transcendência frente à morte, que é integrada como elemento natural e necessário no circuito vital, e o que constitui a morte ideal é a "boa morte". Para com o moribundo, a atitude é de pacificação maternal, até porque há forte integração na natureza e no grupo. Frente aos mortos, sublinha-se a importância do luto e dos rituais funerários e dos tabus. Os mortos estão omnipresentes e os antepassados ocupam um lugar decisivo na hierarquia do ser e do grupo.

Em contraposição, na sociedade ocidental predomina a angústia mais ou menos recalcada frente à morte, que é negada e considerada um acidente que um dia a ciência talvez possa superar. A morte ideal é a "morte bela". Morre-se só, a maior parte das vezes no hospital, sem a ajuda de uma palavra e de uma mão amiga. O luto foi abandonado e, por paradoxal que pareça, a morte, rejeitada, pode tornar-se obsessiva.

L.-V. Thomas conclui: na sociedade negro-africana tradicional, a pedagogia da morte é permanente, desde a infância. Na sociedade ocidental, não há qualquer pedagogia oficial. Aliás, quando alguém da família morre, a primeira preocupação é ocultar a morte às crianças.

As sociedades tecnocientíficas, industriais, de consumo e bem-estar fizeram da morte um tabu, o último tabu. Pode mesmo dizer-se que assentam no tabu da morte. Disso pura e simplesmente não se fala. É de mau tom e mau gosto deixar aflorar esse tema. Paradoxalmente, congressos, debates e obras importantes de História, Medicina, Psicologia e outras disciplinas sobre a morte apenas confirmam o tabu - de facto, é da morte em geral que falam e não da minha morte, da única morte que há.

E não se pense que a morte se tornou tabu, de tal modo que se não permite que se fale dela, porque ela já não é problema. O que se passa é exactamente o contrário: de tal modo é problema, o único problema para o qual uma sociedade poderosíssima nos meios não tem solução que a solução tem de ser essa: disso não se fala. É uma sociedade poderosíssima nos meios, mas paupérrima nos fins: uma sociedade dominada pela racionalidade instrumental - Max Weber chamou-lhe Zweckrationalität, a racionalidade dos meios para outros meios, sem fim. Mas uma sociedade que precisa de ocultar a morte o que tem ainda a dizer sobre a vida? Não arrasta consigo um dos riscos maiores: a não consciência dos limites?

Numa sociedade para a qual a morte é tabu permite-se que os mortos visitem os vivos dois dias no ano: 1 e 2 de Novembro. Os cemitérios enchem-se e a morte e os mortos abrem à transcendência, porque obrigam a pensar.

Anselmo Borges
Professor de Filosofia

sexta-feira, outubro 27, 2006

# Revistas para mulheres

"Algumas conclusões

Os conteúdos das revistas femininas parecem querer ficar alheios aos verdadeiros temas de interesse e preocupações das mulheres, transmitindo-nos uma imagem da Mulher que não corresponde à realidade do século XXI. Muitas vezes, vendem a ilusão de outras vidas, fomentando a fuga da realidade do quotidiano. Os problemas políticos, sociais, culturais e económicos estão praticamente ausentes dos seus índices, e quando incluídos são em pequenos «breves» onde se informa do livro do momento, do filme mais visto. A política e a economia constituem conteúdos raros, como se não se quisesse preocupar as leitoras com notícias que os meios de informação geral já informaram evitando-se assim uma perspectiva e análise feminina da actualidade. Parece que não se tem confiança na opinião e capacidade de reflexão das mulheres.

Umberto Eco comentava, já há alguns anos, que aquilo que não aparece nos meios de comunicação não existe. Afirmava, ainda, que os media passaram de veículos a produtores de factos, a realidade social passa a ser como os meios querem que seja, não só seriam testemunhas da realidade, mas construtores e intérpretes da mesma. Não podemos pretender que a imprensa feminina resolva todos os problemas da sociedade, mas conviria um pouco mais de seriedade em vez de gastar páginas e páginas com matérias de moda, beleza e comportamento. Pode-se pensar que para a informação geral já existem outros meios e que a imprensa feminina não têm esta função, mas então seria mais correcto denominá-la imprensa de beleza. O incremento da qualidade gráfica parece ir ao encontro da expressão «folhear uma revista», agradável à vista mas sem muito interesse nos seus conteúdos. Não quereria que esta minha análise resultasse muito crítica, nem tudo é negativo nas revistas femininas, encontrei artigos e entrevistas interessantes (ainda que preferisse encontrar mais personalidades portuguesas), mas estes ficam como que diluídos na «confusão» publicitária.

O crescimento das revistas femininas, no seu conjunto, foi moderado. Seria de nos questionar se o mercado português suporta este número de títulos. Os novos lançamentos declaram que vão marcar pela diferença, mas é sempre «mais do mesmo» e dentro dos mesmos esquemas. Por outro lado, é de ressaltar a crescente proximidade com outras revistas especializadas, como é o caso das de sociedade que incluem também conteúdos típicos das revistas femininas: moda, saúde, beleza, cozinha, comportamento e dossiers sobre diferentes temas; ou o caso de revistas de saúde como por exemplo, «Saber Viver».

O mundo construído pelas revistas femininas faz lembrar um tipo de mulher que, como o príncipe Shidarta Buda, vive num luxuoso palácio sem maus odores, fealdade, dores e injustiças. Quando o Príncipe Shidarta sai do palácio repara que tem vivido num mundo irreal, um mundo tão irreal como o construído pelas revistas que querem mulheres sem preocupações, que não pensem muito e que não reajam. Um mundo de papel que quer mulheres activas para consumir, educadas para seduzir, passivas e bonitas para mostrar. "

Maria Pia Sanchez-Ostiz - Associação Mulheres em Acção
Extracto de :
http://www.mulheresemaccao.org/default.asp?go=3&cat=3&c=4

# Imigrantes já produzem 7% do PIB português

Segundo uma notícia, do Semanário Económico, de hoje, "o contributo dos imigrantes para a economia portuguesa passou dos 5% calculados em 2004 para cerca de 7% do PIB. As estimativas são de Eduardo de Sousa Ferreira, co-autor do livro "Viagens de Ulisses - Efeitos da Imigração na Economia Portuguesa", no qual afirma que o contributo para a riqueza nacional "tem aumentado mais que proporcionalmente" à sua entrada no País."

"Dois anos depois, Portugal abriu completamente as suas fronteiras aos cidadãos dos 10 países que fizeram parte do último alargamento. Nesta altura, apenas sete Estados-Membros dos Quinze admitem a livre circulação de trabalhadores dos países do alargamento enquanto os restantes têm restrições totais ou parciais à circulação (ver caixa "Fronteiras dos Quinze demasiado fechadas" ).

Os trabalhadores do Leste europeu representam actualmente cerca de um terço da população imigrante activa em Portugal. No final de 2004, segundo os últimos dados disponibilizados pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) com base nas estatísticas do ministério do Trabalho e Solidariedade Social, existiam cerca de 140 mil inscritos estrangeiros da Europa de Leste na Segurança Social. Um valor que representava quase dez vezes os 14905 registados em 2000. Os cidadãos dos países de Leste passaram mesmo a ser, num espaço de cinco anos, um dos maiores grupos imigrantes em Portugal. Ao todo, esta população deverá contribuir com cerca de 1,5% do produto interno bruto (PIB) para a economia portuguesa. Isto porque, as últimas estimativas conhecidas apontavam para um peso de 5% da imigração na actividade económica nacional.

A construção civil continua a ser, em muitos casos, o sector de destino da maioria dos trabalhadores imigrantes em Portugal. Existem hoje cerca de 500 mil imigrantes contabilizados (ver texto das páginas 10 e 11). Estas estimativas, avançadas pelo Serviço de Fronteiras (SEF) com base nas autorizações de permanência e nas autorições de residência, correm sempre o risco, no entanto, de errar o alvo. A economia informal e os fluxos migratórios clandestinos ajudam a esconder o fenómeno e qualquer dado que se avance neste domínio será somente um valor indicativo. Segundo os últimos números disponíveis do ACIME, publicados no final de Dezembro, existiam em 2004 - as últimas estatísticas compiladas maisde 440 mil estrangeiros em Portugal com autorização de permanência ou residência.

Migrações de Leste inalteradas com abertura

Apesar da abertura do mercado de trabalho português aos dez países do alargamento, Eduardo Sousa Ferreira, professor do ISEG e investigador nesta área, não espera que cresça substancialmente o número de trabalhadores oriundos desses países a trabalhar em Portugal, mantendo também inalterados os fluxos migratórios a partir de estados exteriores à União. "O processo de imigração é relativamente autónomo do ritmo de integração", sublinha o especialista. Além disso, acredita que, no espaço de uma década, é provável que o fluxo migratório de países não-membros se redireccione para os estados recém-chegados à União Europeia, geograficamente mais próximos, à medida que o seu nível de desenvolvimento for aumentando.

Desde 2004 houve um enorme crescimento da entrada de cidadãos destes países apesar das fronteiras estarem ainda fechadas. As remessas dos imigrantes para os seus países de origem continuam a crescer e Portugal é cada vez mais um destino das migrações. Ainda assim, nota-se um crescimento mais rápido dos fluxos provenientes de países como o Brasil ou da Ucrânia que, segundo os últimos dados do Banco de Portugal, continuaram a liderar o ranking das remessas no ano passado.

Mais jovens e mais produtivos

Uma das grandes vantagens para qualquer economia de entrada de fluxos migratórios é a diminuição da idade média da população residente. Em geral, as pessoas que emigram por razões económicas fazem-no quando são jovens - à excepção de casos específicos relacionados com conflitos armados ou outro tipo de problemas políticos - e o país de destino acaba por beneficiar em vários domínios.

Segundo as estatísticas do ACIME, a idade média dos estrangeiros em Portugal está ligeiramente acima dos 30 ano. É, por isso, natural que a sua taxa de actividade seja bastante mais elevada que a dos portugueses e que ronde os 90%. Isto porque, muitos casais de imigrantes não têm filhos ou, em muitos casos, não os têm consigo.

Este factor juventude alia-se ao nível de formação que, no caso dos países do Leste Europeu que fizeram parte do último Alargamento da União Europeia é particularmente acentuado. Os imigrantes destes países, que agora passam a ter livre acesso a Portugal, têm formação superior em cerca de 30% dos casos. Ainda que desempenhem, na grande maioria dos casos, profissões que não apresenta uma grande exigência de qualificações.

Além de trazerem um novo fôlego para a produtividade em sectores onde os trabalhadores portugueses muitas vezes preferem não trabalhar - em particular na construção civil - são ainda um balão de oxigénio para as contas públicas, em particular para a segurança social (ver caixa "Imigrantes recebem metade do que pagam ao Estado").

No caso do Leste europeu, são mais de 150 mil trabalhadores inscritos na Segurança Social a ajudar as contas públicas através das contribuições sobre os salários e do pagamento de impostos, ao passo que do lado da despesa não representam um encargo significativo. O total de pensionistas imigrantes representa apenas uma percentagem entre 2,5% e 3% dos mais de 2,5 milhões de pensionistas em Portugal.

A decisão de abrir as fronteiras nacionais aos cidadãos dez novos países da União Europeia, que entrou em vigor no passado dia 1 de Maio, deverá acabar por não ter um impacto significativo na atracção de imigrantes desta região da Europa. Mas, caso venha a acontecer um crescimento inesperado, a economia portuguesa agradece.

Abertura a Leste deixa "tudo na mesma"

A abertura das fronteiras laborais da União Europeia aos dez estados-membros do Alargamento terá um efeito nulo para Portugal. A convicção é partilhada pelos parceiros sociais contactados pelo "Semanário Económico", da direita à esquerda, Para Francisco van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), a medida "não muda nada", até porque, Justifica, "o mercado de trabalho para os imigrantes está praticamente fechado de há dois ou três anos para cá. Já não é tão fácil encontrar emprego como nos anos anteriores". Além disso, o presidente da CIP não espera que ocorram alterações ao nível do fluxo migratório extra-comunitário, sobretudo do Leste da Europa. Para João Proença, secretário-geral da UGT, a medida é "positiva, já tinha sido garantida pelo Governo" mas não terá grandes consequências para o País. "A haver livre circulação, as pessoas não vêm para Portugal, vão para os países que lhes estão mais próximos", refere o líder sindical, Luís Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda, defende a abertura verificada, ressalvando que se trata de uma solução "defensiva", mas também não prevê grandes alterações ao nível dos volumes migratórios já existentes.

Reino Unido, Irlanda e Suécia beneficiaram com a abertura em 2004

As economias do Reino Unido, Suécia e Irlanda estão já a beneficiar da abertura das suas fronteiras aos trabalhadores dos países do Alargamento. Os três países foram os primeiros a admitir a livre circulação no seu território, logo em Maio de 2004, embora pudessem ter gozado de um regime transitório.

Dois anos depois, o balanço é claramente favorável. Um relatório aprovado recentemente pelo Parlamento Europeu, da autoria de Csaba Öry. conclui que estas economias beneficiaram significativamente da entrada de imigrantes do Leste europeu. No Reino Unido, contabilizaram-se 60 mil candidaturas a empregos de cidadãos provenientes dos novos Estados-Membros, essencialmente para os sectores da agricultura e pescas. Neste dois casos, segundo o documento, devido ao enorme número de vagas disponíveis, a entrada de imigrantes não teve qualquer impacto no desemprego de trabalhadores britânicos. Ao mesmo tempo, os novos trabalhadores permitiram à economia do Reino Unido tirar partido em termos de competitividade e de crescimento económico. No saldo final, as consequências foram um aumento do dinamismo económico, da produção, da criação de emprego e uma redução do número de trabalhadores ilegais. Em termos orçamentais, os ganhos para estes países foram também evidentes pois os novos trabalhadores contribuem para o orçamento do estado com os impostos cobrados sobre os seus rendimentos e despesa.

Fronteiras dos Quinze demasiado fechadas

Em 2004, a União Europeia realizou o maior alargamento de sempre com a entrada de 10 novos países. A grande maioria, com excepção de Malta e Chipre, vinham do antigo bloco de leste soviético e tinham um nível de desenvolvimento económico inferior à média europeia. Para evitar que houvesse um elevado fluxo migratório destes países para os "velhos" Estados-Membros foi dada a possibilidade dos países adoptarem um período transitório até 2006 e, depois, poderem prolongá-lo por mais três anos se assim o entendessem. Na altura apenas três países - Reino Unido, Suécia e Irlanda - abriram totalmente as suas fronteiras à circulação de trabalhadores dos países do Alargamento. Agora juntaram-se ao grupo mais quatro estados: Portugal, Grécia, Espanha e Finlândia. Mas continuam ainda restrições totais ou parciais em mais de metade dos Quinze.

Alemanha, Áustria e Dinamarca mantém as suas fronteiras completamente fechadas enquanto os restantes países estão a adoptar medidas menos restritivas. Bélgica, França e Luxemburgo estão a levantar as barreiras por sector de forma progressiva. Em Itália aumentou a quota para trabalhadores provenientes destes países e, na Holanda, a decisão foi adiada para o final do ano."

João Silvestre
Semanário Económico
Publicado em 05-05-2006 Tema: Notícias
http://www.acime.gov.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=1337

terça-feira, outubro 24, 2006

# Cada português deve 2,6 hectares à Terra

Cada português deve 2,6 hectares à Terra
24.10.2006 - 09h45 Ricardo Garcia (PÚBLICO)

Cada habitante de Portugal precisa de pelo menos 4,2 hectares de terras e de superfície de água para si. Mas o país só tem 1,6 hectares produtivos per capita. Resultado: vive além das suas possibilidades e tem um défice ambiental de 2,6 hectares por pessoa.

Em poucas palavras, este é o resumo dos cálculos mais recentes da "pegada ecológica" de Portugal, segundo um relatório divulgado hoje pela organização ambientalista WWF. Na óptica do WWF, porém, o país está em condições de mostrar como é possível viver sustentavelmente - através de um projecto imobiliário que a organização internacional considera único, mas que ambientalistas nacionais criticam.

A pegada ecológica contabiliza tudo de renovável que o ser humano consome, expresso num hectare global com produtividade média. Nessa escala, cada português necessita de 0,73 hectares de zonas de cultivo, 0,24 hectares de pasto, 0,32 hectares de florestas e 0,91 hectares de zonas de pesca. Apenas nas florestas Portugal tem mais capacidade de regeneração do que de consumo.

Além disso, para absorver o dióxido de carbono lançado pela queima de petróleo, carvão e gás natural, seriam precisos 1,96 hectares de floresta por habitante.

A urbanização - apontada por muitos como o maior cancro ambiental do país - não influi senão marginalmente na pegada: 0,04 hectares.

Os números do relatório do WWF são estimados a cada dois anos pela Rede Global da Pegada Ecológica. Em 2002, Portugal tinha a mesma situação de hoje, com uma pegada de 4,2 hectares. Em 2004, saltou para 5,2 hectares e agora caiu novamente para os 4,2.

O relatório "Planeta Vivo" do WWF apresenta também um índice do estado da biodiversidade na Terra, com base num conjunto de animais e plantas. "Entre 1970 e 2003, o índice perdeu cerca de 30 por cento", conclui o relatório.

O polémico projecto imobiliário da Mata de Sesimbra - um empreendimento para 25 mil pessoas, com casas, hotéis e zonas comerciais - é apresentado pelo WWF como a bandeira do programa One Planet Living, destinado a mostrar que é possível viver com um saldo ecológico equilibrado. O WWF associou-se à empresa promotora Pelicano, que está à frente do projecto.

Organizações ambientalistas portuguesas têm, no entanto, criticado o projecto, sobretudo pelo excesso de construção.

segunda-feira, outubro 16, 2006

# A mentira e o estado do mundo

1. Embora de forma muito linear, pode dizer-se que a mentira consiste em afirmar algo, que sabemos que é falso, com a intenção de enganar, confundir ou manipular. Mas há mentiras e mentiras. Não existe só uma hierarquia de verdades, como reconheceu, até para as verdades da fé cristã, o Vaticano II. Também há hierarquia nas mentiras. As que dizem respeito à paz e à guerra são as mais perigosas. Podem envenenar a própria concepção da dignidade humana.
Desde Março de 2003, segundo um estudo publicado pela prestigiosa revista médica inglesa, The Lancet, já morreram mais de 650 mil civis devido à violência desencadeada no Iraque. Como observou, há dias, Luís Bassets, em el país, estes números equivalem a quatro "hiroshimas". George W. Bush tentou desvalorizar o relatório, mas pertence-lhe, directa e indirectamente, a responsabilidade desta interminável matança.
Sabia-se que havia tensões entre a Administração Bush e as agências de espionagem. Agora, parece que explodiram. Bush teima em repetir que os EUA estão a ganhar a guerra contra o terrorismo. No entanto, 16 organismos de espionagem concluíram que a guerra no Iraque, longe de fazer recuar o terrorismo, serviu para o exacerbar e propagar. O radicalismo islâmico difundiu-se por toda a parte. Para Bruce Hoffman, catedrático de estudos de segurança da Universidade Georgetown, a conclusão geral que brota dos documentos é esta: «não dispomos de balas suficientes para todos os inimigos que criamos».
No próximo dia 7 de Novembro, haverá eleições intercalares. Não se sabe ainda quais serão as consequências, no eleitorado, das novas informações que começam a saltar para o debate público. Já se conhece a capacidade da Administração Bush para fazer passar a mentira por verdade. Os cínicos dirão que, no mundo em que vivemos, já não faz sentido ter preocupações desse género. Há dois mil anos, Pilatos era da mesma opinião: ao Império não interessa a verdade, mas a manutenção e a expansão do seu poder.
2. Ian Buruma, professor de Democracia, Direitos Humanos e Jornalismo, no comentário a um livro recente ? The greatest story ever sold ("A maior história alguma vez vendida") ? de Frank Rich, toca directamente nessa questão. A realidade já não interessa para a forma como o mundo funciona hoje. O império cria a sua própria realidade. E o mais inquietante, insiste Buruma, é que esta arrogância vai no mesmo sentido de muitos outros fenómenos: «a destruição pós-moderna da verdade objectiva, os bloguistas e os fala-baratos das «talk radios» (rádios de opinião), que apontam o caminho aos meios de comunicação, as empresas jornalistas compradas por grupos de entretenimento, os meios cada vez mais numerosos e aperfeiçoados de manipulação da realidade» (1).
O tema da obra de Frank Rich é, precisamente, sobre a criação de uma realidade falsificada. Não é, em primeiro lugar, uma obra de análise política ou geopolítica. Não se detém sobre os argumentos a favor ou contra a deposição de Saddam Hussein, sobre as consequências da intervenção militar dos EUA no Médio Oriente, nem sobre a ameaça do extremismo islamita. Mas sabe que George W. Bush e o seu conselheiro político jogaram com os medos e o patriotismo para ganhar as eleições. O vice-presidente, Dick Cheney e os seus apoiantes neo-conservadores, eram partidários de uma guerra no Iraque muito antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001, a fim de mudar o xadrez do Médio Oriente. Se acreditavam numa redistribuição das cartas, nessa zona, para lutar contra o terrorismo, enganaram-se redondamente.
A documentada tese de Frank Rich é muito clara: a Administração Bush mentiu sobre as causas da guerra, sobre a forma como foi conduzida e sobre as suas terríveis consequências, arranjando maneira de fazer com que a informação e os factos se ajustassem à decisão de entrar em guerra.
No final de 2001, Dick Cheney assegurou que a ligação entre o Iraque e Mohamed Atta, um dos terroristas do 11 de Setembro, era absolutamente verídica. No Verão de 2002, declarou que Saddam Hussein persistia em querer dotar-se de armas nucleares e não havia qualquer dúvida de que possuía armas de destruição maciça. Referiu-se, ainda, a tubos de alumínio que Saddam Hussein tencionava utilizar, para enriquecer urânio, a fim de fabricar uma arma nuclear. Os iraquianos, disse ele, tinham obtido esse urânio no Níger. Em Outubro de 2002, o Presidente Bush declarou: «Perante a escalada do perigo, não podemos permitir-nos esperar pela prova definitiva, que poderá apresentar-se sob a forma de um cogumelo atómico».
Hoje, sabemos que não havia nada de verdade nessas afirmações. Serviram, no entanto, para justificar a entrada na guerra.
Segundo Rich, os jornais mais sérios publicaram as afirmações da Casa Branca na primeira página, relegando as interrogações para a última. Não faltará quem diga que mexer nessa pouca vergonha serve, apenas, para desprestigiar os jornais mais reputados, mais sérios, do mundo anglófono e, finalmente, para oferecer munições aos inimigos dos EUA e fortalecer o anti-americanismo.
É precisamente o contrário. É urgente obrigar os meios de comunicação e, em particular, os jornais de grande prestígio a verem-se ao espelho das mentiras que são capazes de difundir e apoiar.
Note-se que é um antigo crítico de teatro, Frank Rich, que está a analisar a montagem dessa encenação criminosa, «a maior história alguma vez vendida». Conhecido o seu desfecho trágico, custa acreditar que os EUA deixem a Administração Bush continuar com a loucura do combate ao "eixo do mal" formado, não só pelo Iraque, mas também pelo Irão e pela Coreia do Norte. É por isso que Pyongyang se atreveu a exercitar a sua própria loucura. O Irão também continua a escrever, de forma bastante surrealista, a sua peça teatral. Este país não acredita que os EUA queiram reeditar o que está a acontecer no Iraque.
Diante disto, que fazer? Acabar com a ideia de que as mentiras do terrorismo podem ser vencidas com as paranóias anti-terroristas baseadas na mentira.
João Paulo II opôs-se, com todos os meios ao seu alcance, à invasão do Iraque. Para ele, como já tinha escrito numa mensagem em 1980, «a verdade é a força da paz». A mentira é a força da guerra.
Bento Domingues, o.p.

(1) Ian Buruma, Intoxicação, maquilhagem e encenação. A realidade ditada pela Casa Branca, in "Courrier Internacional", nº 79 (6-12 de Outubro de 2006).

sexta-feira, outubro 13, 2006

# Portugal vale a pena

Portugal vale a pena

Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos
do mundo, melhor que a média da União Europeia.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores.
Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados.
E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais.
E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia
os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.
Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis.
E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para
telemóveis.
E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.

O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal.

Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses. Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.

E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).

É este o País em que também vivemos.

É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia. Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.

Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?

Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso
In Revista Exportar

terça-feira, outubro 10, 2006

# Terra está em saldo negativo ecológico desde ontem

Humanos estão a explorar mais recursos naturais do que aqueles que podem ser renovados num ano
10.10.2006 - 09h04 PÚBLICO

Se é um consumista inato ou simplesmente gosta do conforto ocidental, preste atenção a este dado: desde ontem, a conta ecológica da Terra entrou em saldo negativo. Por outras palavras, a partir de agora e até ao fim de 2006, os seres humanos estarão a explorar mais recursos naturais do que aqueles que podem ser renovados num ano civil.

O cálculo exacto do dia do ano em que a Terra passa a estar em débito ecológico é uma derivação da "pegada ecológica", que estima qual a área do planeta que cada pessoa precisa para suportar o seu estilo de vida. Outro conceito é o da biocapacidade de renovar os recursos - de uma cidade, uma região, um país ou da Terra como um todo.

Segundo os últimos cálculos da organização não-governamental Global Footprint Network, cada português precisava, em 2002, de 4,2 hectares de recursos do planeta. Mas o país só tinha capacidade para suprir 1,7 hectares por pessoa. Por habitante, havia então um débito de 2,5 hectares.

Com base neste tipo de dados, a New Economics Foundation (NEF), outra organização não-governamental, passou a determinar o dia exacto em que o salário ecológico anual da Terra termina.

E "o dia em que a humanidade começa a comer a Terra", como define um comunicado da NEF, ocorre cada vez mais cedo. Em 1987, o "dinheiro" acabou em 19 de Dezembro. Em 1995, a data estava já em 21 de Novembro. E este ano a conta entrou no vermelho ontem, 9 de Outubro.

"A humanidade está a viver do cartão de crédito ecológico e só o pode fazer liquidando os recursos naturais do planeta", resume Mathis Wackernagel, director executivo do Global Footprint Network.

quarta-feira, outubro 04, 2006

# Em Portugal 60% dos clientes da prostituição são homens casados

Sexo pago, mesmo com companheira
cmendes@destak.pt http://www.destak.pt/actual/pdia.pdf

Em Portugal, estudo revela que 60% dos clientes do mundo da prostituição são homens casados

Estão envolvidos numa relação, mas não é isso que os impede de pagarem para ter sexo. É assim na Escócia, revela um inquérito daquele país, que confirmaque quase 50% dos clientes da prostituição têm uma companheira em casa.
Mas é assim também, a julgar por outros estudos, um pouco por todo o mundo.
Em Portugal, segundo dados do trabalho Prostituição em regiões transfronteiriças do Norte de Portugal - Galiza e Castela-León, «todos os homens são potenciais clientes» das prostitutas, devendo
a procura ser «interpretada à luz de ideais de masculinidade». De acordo com esta análise, da autoria de investigadores da Universidade do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro, mais de 60%dos clientes são homens casados.

Aumentam doenças sexuais
Na Escócia, um em cada dez homens, dos 2500 questionados numa sondagem realizada em Glasgow, admitiu ter pago por sexo recentemente, enquanto 27% confirmaram ser clientes assíduos das mulheres que praticam a que é considerada a mais antiga profissão do mundo. Revela ainda o
mesmo estudo que, apesar de muitos dos homens usarem preservativo, o sexo desprotegido era mais comum entre aqueles que pagavam para ter relações sexuais fora do seu país, quando viajavam. O que justifica que um em cada cinco sofresse de doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia, clamídia ou sífilis. Números aos quais se junta outro:
56% dos homens que admitiam ter sexo sem protecção com prostitutas tinham companheira.

DIFERENTES TIPOS DE CLIENTES DO SEXO
Há, segundo o estudo nacional, três tipos de clientes do sexo pago: o sexualmente indigente, que sofre de limitações e dificuldade em seduzir as mulheres; o que quer mais sexualmente e o emocionalmente implicado, com necessidade de desabafar.


# Como seria se houvesse apenas um país onde se falasse português?

Alguém, com noção estratégica de longo prazo já pensou o que significa a CPLP (não a organização que tem esta sigla, mas a comunidade propriamente dita)?

- Seria o quinto ?país? mais populoso do mundo com 233 milhões de habitantes depois da China, da Índia, dos EUA e da Indonésia.

- Seria o segundo ?país? em área com 10 642 605 quilómetros quadrados depois da Rússia.

- O seu índice de desenvolvimento humano calculado pela ONU vai do 27º lugar ocupado por Portugal, seguido do Brasil (63º), Cabo Verde (105º), São Tomé e Príncipe (126º), Timor-Leste (140º), Angola (160º), Moçambique (168º) e Guiné-Bissau (172º).

- O PIB per capita mais baixo pertence à Guiné Bissau. Portugal lidera com 18105 dólares, seguido do Brasil, com 6771. Todos os outros estados estão abaixo dos 2500 dólares.

- Dos seus membros, quatro são produtores ou futuros produtores de Petróleo. O próximo poderá ser a Guiné-Bissau.

Fonte:http://www.timor-online.blogspot.com/

segunda-feira, outubro 02, 2006

# EUA aprovam construção de muro na fronteira com o México (1100km)

Extensão superior a 1100 quilómetros
EUA aprovam construção de muro na fronteira com o México

01.10.2006 - 09h55 PÚBLICO, Agências

Depois de a Câmara dos Representantes ter dado o seu aval, o Senado norte-americano aprovou sexta-feira a construção de um muro duplo com uma extensão superior a 1100 quilómetros na fronteira com o México, de forma a evitar a entrada de imigrantes ilegais no país. A decisão final está agora nas mãos do Presidente George W. Bush.

A iniciativa foi aprovada por 80 votos a favor e apenas 19 contra. A 14 de Setembro passado, a Câmara dos Representantes já tinha dado luz verde à construção do enorme muro com duas cercas, por 283 votos contra 138.

Horas antes da decisão do Senado, a Câmara Baixa aprovara a disponibilização de um montante de 950 milhões de euros para o arranque da construção do muro, no âmbito dos programas de segurança nacional para o ano fiscal de 2007, que começa hoje.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do México, Luís Ernesto Derbez, condenou veementemente a iniciativa e garantiu que o seu Governo vai tentar dissuadir Bush de a promulgar, admitindo até a hipótese de "uma queixa". "Uma medida parcial, exclusivamente centrada na segurança, representa uma resposta política mais do que uma solução viável" para o problema da imigração ilegal, comentou.

Onze milhões de mexicanos nos EUA


Para a oposição democrata, esta iniciativa não passa, porém, de um "truque político" dos republicanos - que elegeram a imigração ilegal como um dos temas centrais da campanha das próximas eleições legislativas, marcadas para 7 de Novembro. A eventual construção do muro, que ocupará cerca de um terço da fronteira entre os dois países, foi também criticada por grupos de defesa dos direitos humanos.

Um segmento de um pequeno muro (com cerca de 23 quilómetros) está em construção na fronteira com o México na zona sul de São Diego, na Califórnia.

Além do enorme e polémico muro, o Senado aprovou o reforço com uma barreira "virtual", na qual serão utilizados aviões, helicópteros, lanchas, cães treinados, luzes de alta potência e uma panóplia de outros equipamentos sofisticados. Será ainda reforçada a vigilância nas zonas de fronteira da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas. Foi também aprovada uma verba para a contratação de mais 1500 agentes da patrulha fronteiriça e a construção de centros de detenção com capacidade para acolher mais 6700 imigrantes ilegais até poderem ser deportados.

Estima-se que cerca de 11 milhões de mexicanos vivam nos Estados Unidos, metade dos quais em situação ilegal. Todos os anos, mais de um milhão de imigrantes sem documentos tentam entrar nos Estados Unidos através dos rios e dos desertos espalhados pelos 3200 quilómetros da fronteira.