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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sexta-feira, março 31, 2006

Conversas deCafé - Emprego

- Coitados destes em França. Todos temos direito ao emprego!
- Se todos temos direito ao emprego, quem fica, para ser empregador?
- Mas os empregadores têm o seu emprego.
- Que é qual?
- A sua actividade e a sua produção.
- Ah, pensei que o emprego dele era dar emprego aos outros.
- Claro que não.
- Então se o emprego dele é a sua actividade e a sua produção, faz sentido que ele só empregue quem pode, quando pode e por quanto pode. Ou não?
- Não, porque todos temos direito ao emprego.
- E que emprego é esse?
- Trabalhar, ter actividade, produzir.
- Mas se o empregador de repente atravessar uma crise e só tiver actividade para 10 empregados, por que razões tem de manter os 20 empregados?
- Porque todos temos direito ao emprego. Não se pode despedir assim.
- Mas se o emprego é produzir e ter actividade, e o empregador não tiver trabalho para dar, o direito ao emprego transforma-se não no direito a produzir, mas no direito a receber um salário, aconteça o que acontecer. Ao mesmo tempo, o emprego do empregador não é produzir e ter actividade, mas sim e apenas pagar salários aos seus empregados.
- Não me parece é justo que ele possa despedir, assim, dessa forma.

- Claro, mas se o sistema funcionar dessa maneira, há cada vez menos gente a querer ser empregador. E a ser apenas empregado. Por isso volto ao início: se todos temos direito ao emprego, quem fica, para ser empregador?"

por AMN

segunda-feira, março 27, 2006

#Bush informou Blair em 2003 que atacaria o Iraque mesmo sem armas dedestruição maciça

Segundo revela o "New York Times"
Bush informou Blair em 2003 que atacaria o Iraque mesmo sem armas de destruição maciça
27.03.2006 - 11h14 Lusa
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1251994&idCanal=15


O Presidente norte-americano, George W. Bush, informou o primeiro-ministro britânico em 2003 que estava decidido a invadir o Iraque mesmo sem uma resolução da ONU e sem que alguma arma de destruição maciça tivesse sido encontrada, noticiou o "New York Times".

Citando um memorando secreto britânico, o jornal refere que o Presidente norte-americano estava certo da inevitabilidade da guerra e deu a conhecer o seu ponto de vista a Tony Blair num encontro entre os dois políticos, na Sala Oval da Casa Branca, a 31 de Janeiro de 2003.

Informações sobre este encontro estão contidas no relatório redigido pelo principal conselheiro de Tony Blair para a política externa, David Manning, adianta o "New York Times".

"A nossa estratégia diplomática teve de ser feita em torno de planeamentos militares", refere David Manning, no documento.

"O início da campanha militar estava então prevista para o dia 10 de Março", escreve o conselheiro parafraseando o Presidente George W.Bush.

Cinco dias depois do encontro Bush-Blair, o secretário de Estado, Colin Powell, deveria comparecer perante a ONU para apresentar as provas de que o Iraque constituía um perigo para o mundo, por ocultar armas não-convencionais.

O memorando, de cinco páginas, revela ainda que Bush e Blair constataram durante o encontro que nenhuma arma de destruição maciça tinha sido encontrada no Iraque pelos inspectores da ONU.

George W.Bush referiu, consequentemente, a possibilidade de provocar um confronto, sacrificando, por exemplo um avião de vigilância norte-americano, pintado com as cores da ONU, na esperança de provocar a guerra.

Os dois dirigentes previram uma vitória rápida no Iraque, seguida de uma transição política complicada mas possível de gerir, refere o "New York Times".

A guerra contra o Iraque não começou a 10 mas a 20 de Março de 2003 depois de terminado o ultimato norte-americano (de 48 horas) para que o Presidente iraquiano, Saddam Hussein, abdicasse e abandonasse o país. As tropas internacionais atacaram Bagdad, tendo como objectivo os alvos onde se encontrariam, alegadamente, líderes iraquianos.

sexta-feira, março 24, 2006

#Paradoxo da actualidade

Porque é que o homem moderno vê o futuro de forma tão negra? Este é sem dúvida um dos maiores paradoxos da actualidade.

Desde a revolução industrial o mundo ocidental conhece um grande desenvolvimento e subida do nível de vida. Vivemos de forma que os nossos avós nem conseguiam imaginar e que todo o mundo quer copiar. Mas, apesar dos grandes ganhos obtidos na liberdade, saúde, bem-estar e cultura, quando olha
para o futuro a sociedade vê o pior dos horrores. As nossas gerações, apesar de viverem no conforto e progresso têm, se possível, uma visão ainda mais negra do amanhã que as eras antigas.
A antevisão das linhas de evolução institucionalizou-se no género da "ficção científica". E praticamente todos esses prognósticos, feitos com seriedade e argúcia, são assustadores, catastróficos, deprimentes. Desde os mais antigos, Frankenstein (1818) de Mary Shelley e The War of the Worlds (1898) de H.G.Wells, até aos mais recentes, como Star Wars (1977-2005) de George Lucas, todos são unânimes em prever um mundo seguinte pior que o actual. As causas dessa previsão são muito diferentes. Nuns casos é o ataque de monstros horríveis, como em Starship Troopers (1959) de Robert A. Heinlein,
noutros o poder destrutivo da tecnologia, como em Le Secret de l'Espadon (1947) de Edgar P. Jacobs; da revolta das máquinas de 2001 - A Space Odyssey (1968) de Arthur C. Clarke até à manipulação global em The Foundation Trilogy (1951-53) de Isaac Asimov. Normalmente, o resultado é uma sociedade desumana e mecânica, como a de Metropolis (1927) de Fritz Lang.

No meio da miríade de antevisões, duas destacam-se pela sua horrível plausibilidade. A primeira é Nineteen Eighty-Four (1949) de George Orwell, que se pode tomar como a clássica representação de um estado totalitário e sufocante, o protótipo dos sistemas opressivos, do nazismo às teocracias
recentes. Um dos elementos mais ameaçadores dessa obra é a sua datação concreta. Ao contrário da maioria destas histórias, a acção não se situa num futuro remoto, mas uns meros 35 anos depois da sua publicação. Só que a previsão falhou. Inspirado na URSS, o livro é curiosamente localizado no ano
anterior à subida ao poder de Mikhail Gorbachev, que decretaria o fim do estalinismo.

Se a obra de Orwell permanece como a ameaça dos sistemas alternativos, o outro volume, anterior, é muito pior, pois define a simples evolução do nosso. Brave New World (1932) de Aldous Huxley mantém-se como a mais severa acusação ao sistema ocidental, mostrando como uma sociedade apostada no prazer e na técnica pode deixar de ser humana. Aqui não há ditadores, como o Big Brother de Orwell, cientistas perigosos, como o dr. Frankenstein e o psico-historiador Hari Seldon de Asimov, ou monstros, como os Bugs de Heinlein.

Existe só uma comunidade que apodrece no conforto.

Como pode acontecer isto?
Com tanto progresso sem precedentes, somos mais felizes do que os que nos procederam? Somos uma comunidade mais feliz? Penso que não. O que corre mal?

Será a perda de valores fundamentais como o valor da vida humana? A dignidade do outro?
Serão o sofrimento e as adversidades antagónicos à felicidade? Como águas que apagam a chama que é a vida?

Será que o medo atrofia a nossa capacidade de ser feliz? Seguramente que sim. Ele nunca desaparecerá, apenas precisamos da coragem para o tirar da frente dos nossos passos, colocá-lo ao lado esquerdo ou direito e trazê-lo connosco onde queremos chegar.

Há quem diga que vivemos numa era de medo e insegurança. Não estaremos a viver antes uma era de falta de coragem?

Ou será a procura da liberdade como valor máximo, em que esquecemos que esta apenas interessa para sermos felizes?
A felicidade é o nosso fim, a liberdade é um meio.
A verificá-lo está o facto de nunca como agora houve tanta liberdade e no entanto os sorrisos e a realização de cada um não transparecem assim tão facilmente nas nossas ruas.

Será erramos na nossa escolha (não assumida) de valores como sociedade? Tantas vezes descambam as melhores intenções, em nome dos valores erradamente mais elevados.
Basta recordar a pior ficção alguma vez tornada realidade. Nos anos 30 os alemães viam bem as vantagens da ordem que Hitler garantia. É assim que o progresso destrói o futuro.

Anónimo

quinta-feira, março 23, 2006

#Afegão convertido ao cristianismo arrisca pena de morte

Ocidente pressiona Cabul a respeitar liberdade de culto
22.03.2006 - 20h49 AFP, PUBLICO.PT
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1251547

As autoridades de Cabul estão sob pressão internacional para respeitar a liberdade de culto, depois de um afegão ter sido preso por se ter convertido ao cristianismo, um falta passível no país com a pena de morte.

Abdul Rahman, de 41 anos, converteu-se há 16 anos, quando trabalhava para uma organização não-governamental cristã activa junto de refugiados afegãos em Peshawar, no Paquistão. O afegão emigrou mais tarde para a Alemanha, tendo regressado ao seu país de origem apenas em 2005.

Segundo fontes judiciais, Abdul manteria relações difíceis com a família, que tem a guarda das suas duas filhas, e que acabou por denunciá-lo à polícia de Cabul.

Na primeira sessão do processo ? o primeiro do género desde a queda do regime taliban ? Abdul admitiu a conversão e afirmou que não sentia ?qualquer remorso? por ter abandonado a fé muçulmana. Os juízes deram-lhe dois meses para apresentar a sua defesa, mas avisaram que ?se não regressar ao Irão será condenado à morte, como prevê a lei?. ?Se regressar ao Islão o tribunal tem duas opções: ou perdoá-lo ou condená-lo a castigos menores?, revelou o juiz-presidente.

A denúncia do caso gerou uma onda de indignação no Ocidente, com alguns dos principais contribuintes internacionais para os cofres afegãos a manifestarem a sua ?preocupação? com o caso. EUA, Itália, Alemanha, foram alguns dos países que exigiram o respeito pela liberdade de culto no Afeganistão, apelos a que se juntaram entidades como a ONU, a NATO ou a Amnistia Internacional.

Face aos protestos, o Presidente pró-ocidental afegão, Hamid Karzai, anunciou que não pretendia intervir no processo, por considerar que deveria ?ser tratado apenas pelo poder judicial?, apesar de garantir que o Afeganistão ?permanece comprometido com o respeito pelos direitos humanos?.

Contudo, horas depois, o porta-voz do Supremo Tribunal afegão anunciou que Abdul Rahman poderá não ser julgado, devido a ?problemas mentais?. ?O seu caso vai ser estudado pelas autoridades médicas. Se se provar que há um problema psicológico, ele poderá não ser julgado?, afirmou Wakil Omari.

A nova Constituição do Afeganistão, adoptada em Janeiro de 2004, estipula que ?nenhuma lei pode ser contrária aos princípios da Sharia?, a lei islâmica, segundo a qual nenhum muçulmano pode converter-se a outra religião, sob pena de ser condenado à morte.

No entanto, a Lei Fundamental cita igualmente no seu preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do Homem, à qual o Afeganistão aderiu enquanto membro da ONU, e que garante o direito ao culto.

quarta-feira, março 22, 2006

#Quando vier a Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

Sent by: Flora Cousso

#Em Espanha: ontem foi dia do progenitor A ou B?

"Agustín García-Gasco, qualifica na sua carta desta semana de «ridículo» ter-se substituído no registo civil os termos «pai» e «mãe» por «progenitor A» e «progenitor B», respectivamente.
Segundo informou Aván, este adverte que «quem se dedica a anular a identidade familiar, quem está fazendo desaparecer o significado jurídico e social de "ser pai" e de "ser mãe" está pondo sua mensagem ideológica para destruir a sociedade familiar e, com ela, a própria sociedade».
Como consequência da lei que permite as uniões entre pessoas do mesmo sexo, incluindo a adopção de crianças, o Boletim Oficial do Estado estabelece com uma ordem do Ministério de Justiça a criação de um novo formulário de livro de família, no qual se utilizarão os termos «progenitor A» e «progenitor B» em lugar de «pai» e «mãe».
Para García-Gasco, «a legislação espanhola em matéria de matrimónio e família é cada dia mais mentirosa, sectária e radical» e, também, «falta à verdade do ser humano e à própria natureza» e convida as famílias a «romper silêncios absurdos», porque «queixar-nos ou rirmos dos escândalos políticos anti-familiares não basta», e anima a considerar o V Encontro Mundial das Famílias como «uma ocasião privilegiada para que as famílias de todo o mundo manifestem sua iniciativa e sua solidariedade»."

Sent by: Povo
[O objectivo do envio de textos é que estes nos façam pensar e não implica que se concorde ou não com o seu conteúdo, muitas vez os textos que nos parecem mais "adversos" ou contrários são os que mais nos enriquecem.]

segunda-feira, março 20, 2006

#ADeturpação do Holocausto

pelo Rabi Daniel Lapin

Em Dezembro de 2005, o Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, declarou várias vezes que o Holocausto era um mito. Com um personagem oficial de tão alto nível na comunidade internacional a fazer semelhante afirmação, é imperativo que a verdade seja mostrada com mais rigor. O texto do Rabi Daniel Lapin, publicado pela primeira vez em Maio de 1999, dá conta da deturpação do holocausto, até mesmo nos Estados Unidos. Ele critica a associação estabelecida entre Adolf Hitler e o cristianismo e examina o sentimento anti-cristão retratado no Museu do Holocausto em Washington.
Em Fevereiro de 99, o Presidente Clinton disse ao Pequeno-almoço Nacional de Oração, em Washington, D.C., que "Adolf Hitler pregava uma forma prevertida de cristianismo". Isso é declaradamente falso. Hitler era de facto um inimigo do cristianismo, e um pagão. Consideremos a sua declaração de 1933 que ?É através dos camponeses que realmente conseguiremos destruir o cristianismo porque há neles uma verdadeira religião enraizada na sua natureza e no seu sangue?.
Se Hitler era na verdade um anti-Cristão, então onde foi o Presidente Clinton buscar esta caracterização do Führer como uma espécie de vingador crente? Tenho pena de dizer que talvez tenha sido por causa de deturpações actualmente promovidas em museus sobre o Holocausto e programas sobre o Holocausto de todo o país.
Estando eu na posição desconfortável de rever as lembranças actuais do Holocausto, uma pergunta óbvia é se elas desencorajam animosidades entre os povos, como era sua intenção. Outra pergunta que acho importante como rabi, é se os seus ensinamentos ajudam ou prejudicam o povo judeu. E para mim a resposta às duas questões está longe de ser óbvia.
A maioria das exposições sobre o Holocausto que hoje existem recebeu apoios financeiros dos contribuintes americanos. Mas alguns cidadãos que inicialmente as apoiaram com sincera generosidade, consideram agora que elas promovem o ódio ao cristianismo. Estou preocupado, por exemplo, com as apresentações no Museu do Holocausto em Washington, D. C. Este museu é um dos maiores gritos contra o preconceito, a nível mundial, e simultâneamente um lugar que promove propaganda anti-cristã. Embora tenha sido construído com fundos privados, o museu ocupa terreno doado pelo povo americano, a nação mais cristã à superfície da terra. É evidente que as tropas americanas que libertaram os campos de concentração também eram maioritariamente compostas de cristãos. Portanto, é-me difícil compreender porque é que os produtores do filme que é mostrado aos visitantes do Museu do Holocausto, de que vi uma cópia, parecem determinados em dedicar grande parte do seu pequeno documentário a inverdades que denigrem o cristianismo.
Se é inegável o papel histórico da Igreja no anti-semitismo, será justo focar apenas isso ? e excluir completamente a discussão da rejeição da Igreja por parte de Hitler e o virulento anti-semitismo ateu por parte de Estaline? Não só Estaline é expurgado, como o filme dá a entender que o cristianismo deu origem ao anti-semitismo no mundo. As opressões de Faraós, Hamanitas, Romanos, Gregos, e Babilónios ao Povo Judeu não são consideradas pelos realizadores. Por exemplo, o vídeo que é mostrado repetidamente às multidões que passam pelo museu leva o espectador a acreditar que Hitler se considerava actuando como um agente da Igreja Católica. Repare nesta frase no "climax" do filme: "Entra Adolf Hitler, nascido Austríaco e baptizado Católico". Imagine como é que nós, Judeus, reagiríamos a um filme apresentado por Cristãos sobre os milhões de vítimas do comunismo, no qual o narrador dissesse solenemente: "Entra Karl Marx, nascido judeu". Certamente os Judeus teriam o direito de reclamar que esta informação, apesar de ser inegavelmente correcta, não era essencial para a história, e portanto era intencionalmente maldosa. No vídeo do museu do Holocausto não é mencionado o ódio visceral que Hitler tem ao papa e ao catolicismo. Estaremos nós sem querer a causar ressentimento entre os cristãos? Isso não será, de certeza, útil para os judeus.
Consideremos estas palavras que o filme referido acima atribui a Hitler: "Defendendo-me dos judeus, estou a agir para o Senhor. A diferença entre a Igreja e mim, é que eu estou a levar o trabalho até ao fim." Embora eu seja um estudioso da II Guerra Mundial, e muito familiarizado com muitos dos detalhes menos conhecidos da vida de Hitler, incluindo a sua odisseia espiritual, e apesar de ter procurado diligentemente, não consegui localizar esta frase entre os testemunhos dos escritos ou discursos de Hitler. Ao escrever este artigo, ainda não encontrei a fonte dessas palavras. Seleccionar estas como as únicas entre todas as que Hitler disse, para serem mostradas no filme de 15 minutos, poderá ser visto pelos cristãos, com justificação, como um ataque. Como é que esta bofetada, exactamente, poderá ajudar os judeus?
Falando no Mein Kampf, Konrad Heiden, o famoso biógrafo de Hitler, declarou que "o livro pode mesmo ser apelidado como uma Bíblia satânica. Para o autor ? embora ele tenha sido suficientemente esperto para não o declarar explicitamente ele próprio... a crença na igualdade humana é uma espécie de feitiço hipnótico exercido pelo judaísmo que quer conquistar o mundo com a ajuda das igrejas cristãs." Por outras palavras, Hitler via o judaísmo e as igrejas cristãs do mesmo lado da batalha - opostas a ele. Ele manipulava as fontes mais profundas do anti-semitismo que existiam na Europa, cuja culpa é partilhada pela Igreja; mas não era um agente do cristianismo.
Hoje em dia, nas escolas, devia ser inculcada às crianças judias gratidão para com aqueles cristãos que sofreram durante o Holocausto por salvar vidas judaicas. No entanto o papel desinteressado desses cristãos é largamente ignorado. Aqueles que salvaram judeus são chamados Gentios Justos. Acho que chegou a altura de mudar esta expressão por duas razões. A primeira é a de que ela implica um oxímoro sugerindo que normalmente não esperaríamos encontar estas duas palavras juntas. "Vejam, encontrei um! Um gentio que é mesmo justo!" (pergunto-me como é que nós judeus poderíamos reagir a um prémio concedido em cada ano por uma organização cristã a um "Empresário Judeu Honesto"). Em segundo lugar, falar de Gentios Justos presta um mau serviço aos muitos cristãos que salvaram judeus especificamente por causa da sua fé. Eles eram "cristãos justos" e não "gentios justos". Muito poucos judeus compreendem que foram muitas vezes os valores cristãos a única razão pela qual estes heróis tenham decidido arriscar as suas vidas.
Há um caso famoso perante o qual a comunidade Judaica saltou entusiásticamente para a carruagem para reconhecer uma dívida. É o caso de Oskar Schindler da famosa Lista de Schindler. A gratidão é-lhe devida, absolutamente. Mas a energia gasta a reconhecer os seus actos só revela a falta de agradecimento a tantos outros. Embora eu tenha declinado ver o filme, o meu entendimento do Sr. Schindler é que não era um homem particularmente religioso, ou sequer uma pessoa com muita moral. Será que o filme tende a sugerir que a moralidade religiosa é irrelevante desde que uma pessoa salve judeus? Em qualquer dos casos, então que dizer daqueles que salvaram judeus e o fizeram por causa dos seus valores e moralidade cristãos?
Não tem a intenção de denegrir o Sr. Schindler, ou qualquer outro que tenha arriscado a sua vida para salvar judeus, perguntar porque é que um livro em concreto sobre este assunto foi ignorado pela comunidade judaica. Como tantos judeus da minha geração, eu cresci a ler avidamente montes de livros sobre o Holocausto. Imaginem a minha surpresa quando, em adulto, encontrei uma emocionante história verdadeira sobre a qual eu não só nunca tinha lido nada, mas da qual eu nunca sequer tinha ouvido falar. À medida que comecei a perguntar à minha roda, percebi que também nenhum dos meus amigos judeus ou dos milhares de judeus no público das minhas conferências tinha ouvido falar deste excelente livro.
Além disto, uma visita ao Museu do Holocausto em Washington, mostrou que o livro nem sequer existia na sua loja.
Será que este era um volume obscuro e escondido? Não, de todo! O livro é largamente conhecido e lido nos lares e nas escolas cristãs por todo o país. Foi feito um filme sobre ele. O livro é The Hiding Place, de Corrie ten Boom, que conta a história verdadeira de como ela e a sua família esconderam judeus na Holanda. Tanto este como a sua continuação In My Father's House, são bem escritos e incrivelmente emocionantes.
Então porque é que tem sido ignorado na comunidade judaica? Porque é que tem sido efectivamente censurado nas listas de leituras judaicas sobre o Holocausto? Por que é que a versão em filme foi boicotada por grupos judeus? Só posso perceber que esta reacção resulta do facto de The Hiding Place não se conformar com o estereótipo sobre os cristãos religiosos ao qual a comunidade judaica sucumbiu. Ao contrário de Herr Schindler, que salvou judeus por sabe-se lá que razões, que ele pessoalmente sentia, as actividades da família ten Boom eram directamente motivadas pela sua crença em Jesus. Nas suas palavras: "Senhor Jesus, eu ofereço-me pelo Teu povo. De qualquer maneira. Em qualquer lugar. A qualquer momento."
É evidente que Corrie ten Boom e a sua família desejavam mostrar a toda a gente, incluindo os judeus, aquilo que eles acreditavam fervorosamente ser a verdade do cristianismo. No entanto o facto de salvarem vidas judaicas, não tinha como condição que os judeus aceitassem o cristianismo. De facto a família ten Boom mostrou grande respeito e esforço para acomodar os judeus que queriam manter-se kosher e observar o Sabbath enquanto estavam escondidos. Infelizmente, a bondade desta família cristã foi descoberta; os Nazis levaram-nos prisioneiros para os seus infames campos onde morreram todos menos a Corrie. Felizmente os judeus que eles tinham escondido, escaparam à captura. O pai de Corrie, o Sr. Casper ten Boom, um cidadão Holandês muito respeitado e já com oitenta e tal anos na altura do Holocausto, foi informado pelos nazis que seria libertado se prometesse que acabaria com as suas actividades de acolher judeus. A sua filha lembra-se da cena:
O chefe da Gestapo inclinou-se. "Eu queria mandar-te para casa, velhote," disse ele. "Aceito a tua palavra de que não vais causar mais problemas." Eu não podia ver a cara do meu pai, só os seus ombros bem direitos e a auréola de cabelo branco acima deles. Mas ouvi a sua resposta. "Se for hoje para casa," disse ele calma e claramente, "amanhã abrirei de novo a minha porta a qualquer pessoa necessitada que bata."
Pouco depois disto Casper ten Boom morreu, na prisão da Gestapo, isolado da sua família. A filosofia deste grande homem mostra-se logo no princípio do livro. Quando inicialmente ele tenta acolher um bébé judeu e um pastor tentou preveni-lo do perigo. O Sr. ten Boom responde-lhe: "O senhor diz que nós podemos perder as nossas vidas por causa desta criança. Consideramos isso a maior honra que esta família poderia ter." Ele repete mais à frente que "nesta casa, todas as pessoas de Deus são sempre bem-vindas."
A Corrie passou anos nos campos de concentração e perdeu a irmã e o sobrinho às mãos dos Nazis, por causa dos seus crimes de salvarem vidas de judeus. Corrie acabou os seus dias recentemente na Califórnia do Sul, sem o reconhecimento nem o agradecimento de uma comunidade judaica obcecada pela Lista de Schindler. Nós devemos-lhe ? e aos seus amigos cristãos ? um pedido de desculpas.

Rabbi Daniel Lapin é presidente da Toward Tradition. O seu livro America's Real War foi recentemente publicado.

sexta-feira, março 17, 2006

#O outro lado...

Amigos,
dêem um salto a este site e vejam como o "outro lado" (assim chamado pelos defensores do choque de civilizações) vê os acontecimentos.

http://www.aljazeerah.info/

Até têm cartoons.
http://www.aljazeerah.info/Cartoons/Cartoon%20Links/Cartoon%20links.htm

Vale a pena. Um abraço. Jorge

quarta-feira, março 15, 2006

#Um mundo que afinal funciona bem

DN060306

Na próxima quinta-feira fará 230 anos que foi publicado um livro: a 9 de Março de 1776, na editora W. Strahan & T. Cadell, foi dado à estampa o Ensaio sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, do filósofo escocês Adam Smith. Era o segundo volume das suas lições de Moral na Universidade de Glasgow (o primeiro, Tratado dos Sentimentos Morais, fora publicado em 1758). Mas a obra ficou famosa como fundadora de uma nova ciência, a economia.

Muito se tem escrito e elaborado sobre as geniais intuições de Smith. Mas a ideia realmente revolucionária do tratado é muito simples e costuma ficar ignorada. Não se trata da liberdade, mercado, produção. Aquilo que Smith viu, e que muita gente desconhece, é um facto patente que, se o olharmos da forma certa, fica insólito. O que o escocês nos quer dizer é algo que todos já vimos, mas ninguém reparou.

O mundo é composto por muita gente, muito diferente. Há pessoas boas e más, inteligentes e estúpidas, fortes e fracas. Cada uma pensa pela sua cabeça e quer coisas muito variadas. O que seria esperar era uma enorme confusão. Há muita confusão neste mundo, mas isso é normal. O que é realmente muito estranho é que não haja mais confusão. Aquilo que é de facto incompreensível não é quando o mundo funciona mal, mas quando funciona bem.

Vale a pena citar o exemplo do autor: "Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse" (Smith (1776) livro I. cap. 2). O meu jantar depende de uma enorme quantidade de pessoas, dos que cultivam os vegetais até aos que tiram da terra o metal dos talheres, modelam o copo ou o fogão, extraem o gás natural. Toda esta multidão precisa de trabalhar para que eu possa jantar. Mas a única pessoa no mundo interessada no meu jantar... sou eu. Por que razão se realiza tanto esforço? Porque é que o mundo funciona bem?

Esta é a questão verdadeiramente interessante, aquela que fez nascer a ciência económica. Por que motivo o mundo não é uma confusão tão grande como seria de esperar? Esta é a pergunta que os economistas procuram responder há 230 anos. Desta constatação, e de muitas outras intuições, nasceu uma forma de abordagem às escolhas e interacções humanas que, sem substituir as outras análise, da psicologia à sociologia, suscita contributos muito interessantes.

Esta ideia, no entanto, tem gerado muitos mal-entendidos. Um dos mais frequentes é deduzir que, como o interesse próprio serve o bem dos outros, então o egoísmo é eticamente bom. Mas pensar isso é esquecer que o livro pretende ser uma lição de moral, e confundir Adam Smith com a filosofia da publicidade ou da SIC Radical.

Este paradoxo do meu jantar chega para combater a noção, hoje dominante, de que o altruísmo e o egoísmo são opostos e que cada pessoa tem de escolher entre ser boa para si ou para os outros, entre ser feliz ou virtuosa. Esta ideia é evidentemente falsa, como muitos sábios disseram ao longo dos séculos. O mundo não é uma luta entre átomos opostos que se devoram mutuamente, mas um local variado de confronto e cooperação, amizade e discussão. Muitas vezes, como o padeiro e o cervejeiro, as pessoas ajudam-se a si mesmas ajudando os outros.

Mas a questão da ética coloca-se a outro nível. Smith notou que cada um, ao fazer o que acha que deve fazer, tem efeitos benéficos sobre os demais. Mas o problema ético coloca-se naquilo que se acha que se deve fazer, na atitude perante a vida, não na estrita ponderação das consequências. Um traficante de droga dá de comer a muitos pobres e o médico prejudica vastas regiões produtoras de tabaco. Até um rio, correndo para a foz, irriga todas as terras, sem que isso faça dele egoísta ou altruísta.

O livro de Adam Smith mostrou que o mundo não é uma confusão, como se diz, e que até dos comportamentos maus saem boas consequências. Isso não os transforma em admiráveis. Apenas mostra que a arquitectura da realidade é muito mais bem concebida que a nossa personaliddade.

Já sabíamos que "de boas intenções anda o inferno cheio", sem deixarem de ser, ao mesmo tempo, boas e infernais. Com Smith aprendemos que até das más intenções anda o progresso feito, sem deixarem de ser más e progressivas. Daqui se pode deduzir aquilo que os últimos 230 anos mostram claramente: o progresso pode levar-nos ao inferno, se cuidarmos mais das interacções do que das intenções.

João César das Neves
Sent by: Povo

terça-feira, março 14, 2006

#Se eu pudesse...

Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo."

Jorge Luís Borges

Sent by: Luísa Cardoso

segunda-feira, março 13, 2006

#Pedaços

Aquilo de que o medo mais tem medo: é quando pensamos que começamos a vencê-lo.
Vítor Gonçalves

Não me sinto impedido de fazer o que me apetece, mas isso não me traz felicidade. Serei independente, talvez, mas serei livre? Serei livre quando as decisões que tomo me trazem frustração?
Paulo Pinto

quarta-feira, março 08, 2006

#Mas tunão...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

?No Tempo Dividido e Mar Novo?, Edições Salamandra, 1985, p. 79

Sent by: Luísa Cardoso

sexta-feira, março 03, 2006

#Democracia e bola

Diálogo (um dia antes das eleições)

- Essa coisa de ganhar balanço levando o voto a todos os espaços e a todos os momentos.
- Estamos no século da democracia: a população deve ter voz sobre todas as coisas.
- Até aqueles cuja voz...
- Até esses.
- Portanto: a população decidia tudo.
- Falava, por exemplo, de um jogo de futebol.
- Jogo que não passa de uma ditadura dos jogadores.
- O que propõe então é...
- Vou repetir: que a decisão seja dos espectadores do jogo, não dos jogadores.
- Muito bem.
- Em vez de 22 jogadores mais um árbrito decidirem, seriam 30 000 espectadores a fazê-lo. Por voto. É uma grande diferença. É só fazer as contas.
- Só valeriam os votos dos espectadores no Estádio?
- Sim.
- É justo.
- E uma excelente maneira de levar as pessoas a ver o jogo. Iriam decidir mesmo o resultado. Valeria a pena a deslocação. Não me parece justo deixar algo tão importante - como o resultado de um jogo - apenas nas mãos (ou nos pés) de menos de uma dúzia de cidadãos.
- Neste caso designados como: jogadores de futebol.
- Exactamente.
- O resultado dos jogos seria então determinado não por habilidades momentâneas, mas por decisões reflectidas da população.
- Parece-me justo, estamos no século do cérebro e do voto.
...
- Um jogo de futebol decidido pelos votos da população (dos espectadores em particular) e não pelos golos dos jogadores! São alterações como esta que transformam um país pouco desenvolvido num país avançado.
- São.
- Em vez de decisões com o próprio joelho, em vez de decisões deste tipo, musculares, físicas, não cerebrais e não democráticas, passar para decisões alargadas.
- Cada jogo de futebol seria assim uma espécie de referendo.
- Sim, mas atenção: primeiro teria de se jogar.
- Os jogos fazem falta.
- As decisões seriam depois do jogo - e os indivíduos sérios iriam decidir-se pela vitória de uma ou de outra equipa, independentemente dos golos, e não influenciados por paixões que pudessem existir antes, mas sim após uma reflexão lógica sobre o que aconteceu.
- Manter um jogo apaixonante já não é digno de um século onde a racionalidade exige outro tratamento dos acontecimentos.
- Exacto.
- Racionalidade e democracia, importância da opinião e do voto de cada cidadão: eis o futebol do próximo século.
- É justo.
- Quanto às eleições para decidir quem governa o país?
- Ah, sobre isso a minha opinião é que se deveria fazer um jogo de futebol à antiga: cada Partido escolhia onze jogadores e a equipa que marcasse mais golos ia para o governo.
- Parece-me sensato e racional.
- Digno deste século.
- Sim. Digno deste século

O Senhor Kraus, de Gonçalo M. Tavares, Caminho, 2005

Sent by: Rita Silva

quinta-feira, março 02, 2006

#Morangos com Fel

Rendição inevitável ou combate necessário?

«O realismo exige que, para observar um objecto de modo a conhecê-lo, o método não seja imaginado, pensado, organizado ou criado pelo sujeito, mas sim imposto pelo objecto» (Luigi Giussani, O Sentido Religioso). Sugiro que sigamos esta indicação para perceber o fenómeno "Morangos com Açúcar".

Trata-se de um produto televisivo, por isso tem um conjunto de ingredientes típicos: como tudo na televisão, ao contrário do que se possa pensar, não pretende ser realista, mas sim ser um espectáculo, e não pretende dar informações, mas sim provocar emoções. Porque é dirigido ao lazer, a sua técnica consiste em apelar à lógica generalizada do lazer, ou seja, distrair; prescindir de qualquer esforço, especialmente o de pensar, e manter, o maior tempo possível, acesa a instintividade.

Porque o público-alvo são adolescentes e pré-adolescentes (embora possa atrair também crianças e adultos), importa relembrar algumas características típicas destas idades. Os adolescentes estão a experimentar a autonomia, mas ainda não sabem geri-la adequadamente; vivem um momento de explosão sensorial, sobretudo no que se refere a estímulos de natureza sexual; julgam-se invulneráveis a riscos, nomeadamente o de serem influenciados; estão a descobrir a capacidade de pensar logicamente, na qual se julgam independentes, mas não se apercebem de quanto assimilam e reproduzem chavões, que repetem julgando fazer afirmações de sua autoria.

Como formato, ?Morangos com Açúcar? domina com mestria estes dois factores: produto televisivo e público-alvo. É uma telenovela, com particular intensidade de apresentação, tirando partido da dificuldade do seu público de gerir autonomamente e de forma adequada o seu tempo livre. Também joga com o desejo de autonomia típico dos adolescentes, já que os protagonistas são representados por actores mais velhos do que as idades que querem retratar, dando a ideia de que aquela idade corresponde a uma maturidade maior do que a real.

Tem um grafismo e cenários apelativos e cria uma atmosfera fantasiosa, onde quase todos os ambientes do quotidiano (escola e casa) são muito modernos, como se o comum das famílias portuguesas, em vez de decorações clássicas, optasse pelo último grito do design.

Na aparência das pessoas, nas conversas que têm e nos problemas que se lhes colocam há uma sobre-estimulação da sensualidade, o que tem um forte apelo nestas idades, especialmente por despertar também uma emoção de transgressão e clandestinidade.

A superficialidade e o lugar-comum na abordagem dos temas aproveitam a vulnerabilidade destas idades à assimilação de chavões, reforçando a tendência para a banalidade e pretensão de saber tudo.
Como conteúdo, o aspecto mais pernicioso parece-me ser o empobrecimento da ideia de adulto: os adultos de ?Morangos com Açúcar?; ou são pessoas censuráveis e não fiáveis; ou são antipáticos e distantes; ou são laterais por passarem ao lado do que realmente interessa aos miúdos; ou são ?compinchas?; ou são objectos sexuais. Os adolescentes, esses são senhores das suas vidas, porque, ou não têm uma autoridade que se afirme, ou enfrentam-na e vergam-na com sucesso. Acresce a sabida obsessão pela sexualidade: os adolescentes de "Morangos com Açúcar" são quase todos sexualmente activos (os que não são têm pena e a sua aparência é ridícula) e movem-se, na maior parte do tempo, por motivações sexuais.

Sublinho ainda a pobreza de valores: em "Morangos com Açúcar" é importante o não-racismo, a ecologia e a saúde pública. Tudo o resto é opcional e não absoluto. A existência e massiva presença de "Morangos com Açúcar" exige assim, um juízo e uma tomada de posição (a suposta não tomada de posição é, ao contrário do que pretende, altamente expressiva).

Deixo algumas mensagens subliminares que me parece que os Pais transmitem aos filhos quando se rendem à inevitabilidade desta novela: «Fazes o que queres: já tens idade para isso e não tenho o direito de interferir nas tuas escolhas»; «A nossa vida, a nossa casa e a escola que te escolhemos são cinzentas e sem graça; giras são as vidas, as casas e as escolas de "Morangos com Açúcar"»; «Já estás crescido(a), por isso é normal que o sexo esteja no centro das tuas preocupações: vive a vida, faz as tuas experiências, mas toma cuidado com as doenças»; «Os valores que te transmitimos são os nossos, mas são tão bons como outros quaisquer; cada um tem que encontrar os seus»; «Não é preciso estar sempre a aprofundar tudo e em geral as coisas são tal e qual o que parecem»; «Uma telenovela é de facto algo de irresistível, compreendo que não passes sem "Morangos com Açúcar" Podes ver desde que faças antes os TPC»; «Veste-te como quiseres, és jovem, tu é que sabes o que se usa, não te quero forçar ao meu gosto nem tenho nenhum critério para te dar nessa matéria».

O que sugiro é a clareza de uma escolha e a coragem de a levar até às últimas consequências: que podem passar por banir a televisão, proibir simplesmente de ver "Morangos com Açúcar" ou outras versões mais negociais. Lembro que quanto mais pequenos são os filhos mais os ajuda e protege uma posição firme. E posso prometer em nome do meu bom-senso e discernimento, que não ver ?Morangos com Açúcar?, ainda que todos os meninos da escola vejam, não causa traumas, nem provoca exclusão.
Como educadores, o que está em causa é a proposta de uma certeza. Não uma certeza de não errar, mas «a certeza como significado e como horizonte, como fonte de energia e como apoio e, portanto, como capacidade de atravessar qualquer contradição e obscuridade» (Luigi Giussani, Educar é um Risco).
Remar contra a corrente é árduo, às vezes parece impossível, mas devemos aos que nos foram confiados a comunicação da totalidade do que encontrámos. Devemos-lhes essa provocação à vida.

[Foi impossível obter fonte e autor.]