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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sexta-feira, agosto 30, 2013

# Precisamos é de bicicletas

Muitas vezes parecemos estar à espera de um qualquer sinal espetacular
para tomar uma decisão de vida sempre adiada. E queixamo-nos de falta
de meios para, então sim, levar a cabo aquela transformação necessária
ou aquela viragem desejada ou, mais adiante ainda, aquela
concretização que indefinidamente protelamos. Contudo, as verdadeiras
transformações inventam os meios próprios para se expressarem, e
estes, regra geral, começam por ser espantosamente modestos. Fernando
Pessoa, com a caricatura dos que "conquistam o mundo sem levantar-se
da cama", refere, no fundo, uma doença interior infelizmente muito
comum: idealizamos de tal maneira o que pode ser a vida que ela perde,
depois, o jogo por falta de comparência, sequestrada num plano cada
vez mais mental e abstrato. Se a vida não decorre como imaginamos,
baixamos as persianas e preferimos não vivê-la. Ora, se não estamos
dispostos a aprender com a sabedoria dos pequenos passos e com a
dinâmica do provisório dificilmente alcançaremos o segredo da alegria.

Penso em dois grandes pulmões espirituais na Europa que nos está mais
próxima: Taizé e Bose. Taizé é uma minúscula povoação que fica a 390
Kms a sudeste de Paris. Em 1940, era uma espécie de zona de demarcação
entre a França ocupada pelas tropas alemãs e a França livre.
Precisamente nesse ano chega a esse lugar um jovem teólogo suíço,
Roger Schutz. Ele vinha buscando, dentro de si, qual seria a sua
missão. E não tinha encontrado ainda respostas. O que é engraçado é
que a primeira vez que ele chegou a Taizé, fê-lo de bicicleta (veio a
pedalar desde Genebra). Poderia ser só um passeio ou uma fuga para
lugar nenhum. Taizé não tinha nada, mas ele entendeu esse nada como
uma oportunidade para "reparar" as feridas da humanidade. Dois anos
depois é expulso dali, porque os alemães perceberam que ele auxiliava
os judeus perseguidos. Mas em 1944 ele regressa, e traz já consigo um
pequenino grupo de jovens da sua idade, movidos pelo ideal de
construir e viver uma experiência monástica, na frugalidade, no
silêncio, no louvor e no acolhimento. Hoje largos milhares de jovens
caminham para Taizé como se buscassem uma fonte refrescante. E o
testemunho do Irmão Roger tornou-se uma inspiração de que não
precisamos de aviões a jato ou de veículos sofisticados para descobrir
o mapa do coração. Basta-nos uma bicicleta, ou menos ainda.

Bose, por sua vez, fica no Norte da Itália, entre Turim e Milão, no
território montanhoso de Biella. No ano de 1968, época de tantas
mutações e reivindicações, há um jovem estudante de economia que
decide começar uma experiência monástica num pequeno monte periférico.
Àquela época não tinha eletricidade, nem água canalizada. Por mais de
dez anos ele viveu nessa solidão, fiel à oração e ao trabalho manual.
Ele conta, por exemplo, que durante o inverno uma das suas tarefas era
não deixar apagar a lareira, que lhe servia para tudo: cozinha,
iluminação, aquecimento. Hoje, com graça, ele conta que tudo o que
sabe sobre Deus e sobre o amor ao mundo, o deve ao fogo (ou melhor, a
essa vigilância ativa para não deixar se apagar o fogo). Muitas vezes
achamos que precisamos de mais isto e aquilo, quando, no fundo,
precisamos é de aprender a tornar fecundo o nosso ponto de partida
(seja ele qual for).

José Tolentino Mendonça
In Diário de Notícias (Madeira)
14.08.11

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# Trabalhadores de cadeias de 'fast food' dos EUA fazem "maior protesto de sempre"

O protesto começou em Nova Iorque o ano passado com uma greve de 200
trabalhadores, mas depressa se alastrou a todo o país com greves
durante o mês de Julho em Chicago, Detroit, Flint, Cidade de Kansas,
Milwaukee e St Louis

Milhares de trabalhadores da McDonald´s e de outras cadeias de 'fast
food' dos Estados Unidos fizeram greve na quinta-feira, numa ação que
os organizadores consideraram o maior protesto de sempre no setor.

Trabalhadores de 60 cidades pararam de virar hambúrgueres ou de fritar
batatas para se juntarem numa luta a exigir o pagamento de 15 dólares
à hora (11,3 euros) - o dobro do que a maioria ganha - e o direito a
formar um sindicato sem retaliações por parte das entidades patronais.

"Eles fazem milhões que saem do nosso esforço. Eles têm condições para
nos pagar melhor", disse Shaniqua Davis, uma trabalhadora de 20 anos,
durante uma manifestação à porta do McDonald´s na 5ª. Avenida, em Nova
Iorque.

Esta funcionária tem um filho de um ano e trabalha numa filial do
restaurante no bairro do Bronx, onde ganha 7,25 dólares (5,47 euros) à
hora.

"Tenho contas para pagar e preciso comprar fraldas. Mal consigo
comprar comida e, se não fossem os vales de compras e alguma ajuda que
vou tendo, estaria a dormir na rua", lamentou.

Já os trabalhadores da cadeia "Kendall Fells", do grupo "Fast Food
Forward", não têm seguro de saúde nem nenhuma garantia de horas.

O protesto começou em Nova Iorque em novembro do ano passado com uma
greve de 200 trabalhadores, mas depressa se alastrou a todo o país com
greves durante o mês de julho em Chicago, Detroit, Flint, Cidade de
Kansas, Milwaukee e St Louis.

Na quinta-feira, os organizadores do protesto disseram que a
manifestação atingiu mil restaurantes das maiores cadeias de 'fast
food', incluindo Burger King, Wendy's, Taco Bell, Pizza Hut e KFC.

"Parem os hambúrgueres, parem as batatas fritas, façam os salários
aumentar", é a frase que dá mote ao protesto.

A maior parte dos três milhões de trabalhadores de cadeias de 'fast
food' nos Estados Unidos não trabalham a tempo inteiro e não podem
contar com as gorjetas para complementar o ordenado, como acontece
noutros restaurantes e bares.

A associação norte-americana de restauração veio entretanto defender a
indústria, sublinhando que ela cria oportunidades através de postos de
trabalho que "atendem às necessidades críticas da economia".

http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/trabalhadores-cadeias-fast-food-dos-eua-fazem-maior-protesto-sempre

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quinta-feira, agosto 29, 2013

# Sem-abrigo rouba um dólar para receber tratamento médico na prisão

Um homem assaltou uma sucursal do Bank of America, no estado de
Oregon, Estados Unidos, e roubou um dólar (aproximadamente 75
cêntimos). Timothy Alsip admitiu ter cometido o crime para ter um
motivo para ser preso e receber tratamento médico na prisão.

Timothy Alsip foi preso, na passada sexta-feira, após ter entrado numa
agência do Bank of America. Sem-abrigo, o homem de 50 anos entregou um
bilhete ao funcionário de balcão e exigiu que lhe fosse entregue 1
dólar, aproximadamente 75 cêntimos.

"Entregou um bilhete a dizer 'Isto é um assalto. Dê-me um dólar'",
contou Mark Nikolai, polícia do distrito de Clackamas, em Oregon, que
publicou a notícia na página oficial da corporação.

Depois de cometer o delito, o homem sentou-se na entrada da agência
bancária, onde esperou pela polícia. Mais tarde, depois de ser detido,
Timothy Alsip terá admitido que cometeu o assalto para ser preso, uma
vez que esperava receber tratamento médico na prisão.

Sem cadastro criminal, o assaltante terá, nos dias anteriores,
abordado algumas pessoas na rua para pedir ajuda. De acordo com o
jornal "The Oregonian", Timothy chegou a telefonar para as emergências
para se queixar de "vários problemas imaginários".

Timothy Alsip continua na prisão, uma vez que não pagou a fiança pela
acusação de roubo, no valor de 30 mil euros.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/MundoInsolito/Interior.aspx?content_id=3391758

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terça-feira, agosto 27, 2013

# Prostituição. Zurique inaugura garagens de sexo drive-in

http://www.ionline.pt/artigos/mundo/prostituicao-zurique-inaugura-garagens-sexo-drive-in

Reuters

A ideia foi aprovada em referendo no ano passado com quase 53% dos
votos e irá custar anualmente 570 660 euros aos contribuintes

Com objectivo de tornar a prostituição mais segura, a Suíça inaugurou
ontem nove "sex boxes", construídas com dinheiro do Estado. Feitas de
madeira, as garagens deverão ser usadas por dezenas de profissionais
do sexo que antes de lá entrarem poderão negociar com os clientes numa
estrada com um pequeno parque circular.

Os defensores da ideia, inspirada no conceito drive-in, argumentam que
a mesma irá melhorar a higiene das prostitutas, evitando que andem
pelas ruas ou sejam levadas até locais isolados para terem encontros
sexuais. Porém, outros condenam a iniciativa, dizendo que esta
encoraja o negócio sexual, e criticam o investimento de 1,6 milhões de
euros dos contribuintes para construir as instalações.

Num país onde a prostituição é legal desde 1942, o espaço, numa zona
industrial, longe do centro de Zurique e aberto todos os dias durante
a noite até às 5 da manhã, conta ainda com casas de banho pintadas de
rosa e azul, duches, cacifos e lavandaria. Quanto à segurança, os
homens não precisam de se preocupar com câmaras, embora exista um
botão de emergência para as prostitutas - que terão de pagar uma
pequena taxa para usarem o espaço, a rondar os 32 euros anuais mais
quatro por noite - caso necessitem de ajuda.

"Segurança para as prostitutas. Pelo menos funciona como uma espécie
de abrigo para elas. Podem lá fazer o seu negócio e respeito--as",
afirmou o advogado Daniel Hartmann em declarações à AFP. Eles [quem
construiu as instalações] fizeram um óptimo trabalho e elas têm
melhores condições aqui. Não estão expostas aos patrões, aos chulos",
sublinhou.

No entanto, nem todos partilham da mesma opinião. "Tenho de pensar bem
nisto, porque é de tal maneira incrível que o município ofereça isto
aos homens e que haja tantas mulheres a verem", afirmou Brigitta
Hanselmann, uma professora de educação especial reformada,
acrescentando que as garagens do sexo eram uma tentativa de controlar
uma coisa que não se pode controlar.

A manutenção do projecto, aprovado em referendo o ano passado com
quase 53% dos votos, irá custar anualmente 570 660 euros aos
contribuintes, além dos gastos com a construção. "Isto não vai
resultar, seja porque os clientes não vão frequentar o espaço, seja
porque as prostitutas não o vão usar", afirmou Sven Oliver Dogwiler,
representante local do partido de direita Schweizerische Volkspartei
(SVP), que se opõe à iniciativa. "Mete-as [as prostitutas] num espaço
mais limpo mas financiado por impostos", acrescentou.

Inspiradas nos bordéis drive-in construídos em várias cidades da
Alemanha e da Holanda, nas "sex boxes" só podem entrar clientes com
mais de 18 anos. Motos e pedestres não são autorizados, uma vez que a
relação sexual tem de acontecer dentro de um carro.

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segunda-feira, agosto 26, 2013

# Cada um dos 14.268 presos custa 40,10 euros por dia ao ministério da Justiça

Por Agência Lusa
publicado em 25 Ago 2013 - 15:05
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/cada-dos-14-268-presos-custa-4010-euros-dia-ao-ministerio-da-justica

Diariamente, o custo médio de um recluso multiplicado pelo universo de
reclusos dá um total de pouco mais de 572 mil euros

Cada um dos 14.268 presos custa 40,10 euros por dia ao Ministério da
Justiça, segundo dados da Direção-Geral de Reinserção e Serviços
Prisionais (DGRSP).

Diariamente, o custo médio de um recluso multiplicado pelo universo de
reclusos dá um total de pouco mais de 572 mil euros.

O custo diário de cada recluso é um valor médio e é determinado pela
soma das despesas com pessoal (guardas prisionais e pessoal
administrativo), aquisição de bens (alimentação) e serviços e outras
despesas correntes.

Até 15 de agosto, a DGRSP regista um universo de 14.268 reclusos,
incluindo 158 inimputáveis (menores de 18 anos ou com anomalias
psiquícas), que se encontram em instituições psiquiátricas
não-prisionais.

Deste total de presos, 2.601 encontram-se em regime de prisão
preventiva (18,40% do universo dos reclusos em Portugal), sendo que
1.990 aguardam julgamento e 692 esperam o trânsito em julgado de
sentenças.

Um total de 10.964 são presos condenados (81,6%), 545 dos quais em
regime de prisão em dias livres (fins de semana).

Em 31 de dezembro de 2012, as prisões portuguesas tinham menos
reclusos do que atualmente, fixando-se o total em 13.614, dos quais
2.661 eram presos preventivos e 130 inimputáveis.

No final do ano passado, o número de reclusos fixou-se em 13.614, dos
quais 130 estavam em hospitais psiquiátricos, fora do universo dos
estabelecimentos prisionais.

A taxa de ocupação do sistema prisional era de 166,8% a 15 de agosto.

Na repartição dos presos por sexo, 13.309 são homens, a que
corresponde 94,30% do universo de reclusos, e 801 pertencem ao grupo
de mulheres, apenas 5,70%.

Os dados da DGRSP revelam ainda que 81,40% dos presos têm
nacionalidade portuguesa, enquantos os restantes 18,60% são
estrangeiros.

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quarta-feira, agosto 14, 2013

# Egito: apoiantes de Morsi queimam igreja católica

Por Agência Lusa publicado em 14 Ago 2013 - 08:37

As autoridades egípcias anunciaram que os comboios, de e para a
capital, foram hoje bloqueados, na sequência da operação policial para
evitar que os manifestantes se reagrupem nos arredores do Cairo

Apoiantes do Presidente deposto Mohamed Morsi do Egito incendiaram
hoje uma igreja católica em Sohag no centro do país como "represália"
pela carga da polícia no Cairo, noticia a agência de notícias oficial
MENA.

Os atacantes utilizaram cocktails molotov que foram atirados contra a
igreja de Sohag, uma cidade na região centro do Egito onde vive uma
considerável comunidade de cristãos coptas. A igreja ficou destruída
pelas chamas.

O Ministério do Interior egípcio anunciou hoje o "controlo total"
pelas forças de segurança de um dos dois acampamentos de protesto dos
apoiantes do Presidente islamita deposto no Cairo depois de uma
operação policial.

A praça Al-Nahda, no Cairo, está "totalmente sob controlo" e as
"forças policiais conseguiram remover a maior parte das tendas" que se
encontravam no local, refere o Ministério.

O balanço oficial da operação policial para desmantelar os dois
maiores acampamentos de apoiantes do Presidente deposto Mohamed Morsi,
no Cairo, é de seis mortos e 26 feridos segundo o Ministério da Saúde.

A Irmandade Muçulmana fala de "centenas de mortos".

O atual clima de tensão no Egito iniciou-se a 30 de junho, quando
diversos setores da oposição promoveram grandes protestos exigindo a
deposição do Presidente islamita Mohamed Morsi, eleito em junho de
2012 nas primeiras eleições livres no país.

Morsi provinha da Irmandade Muçulmana, que também venceu as
legislativas organizadas após o derrube, em fevereiro de 2011, do
regime autocrático de Hosni Mubarak.

Em 03 de julho o Presidente foi deposto e detido pelos militares,
tendo sido formado um Governo de transição, entre os protestos das
correntes islamitas que exigem o seu regresso ao poder.

Após o falhanço das tentativas de mediação internacionais, o Governo
interino nomeado pelo exército anunciou que, terminado o período do
Ramadão, no passado fim de semana, iria acabar com as manifestações
pró-Morsi, operação que iniciou hoje.

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segunda-feira, agosto 12, 2013

# A arte do inacabado

É-nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo,
tendencialmente ininterrupto, que devemos esticar e levar ao limite. A
maioria de nós vive nessa linha de fronteira, em esforçada e
insatisfeita cadência, a desejar, no fundo, que a vida seja o que ela
não é: que as horas do dia sejam mais e maiores, que a noite não
adormeça nunca, que os fins de semana cheguem para salvar-nos a face
diante de tudo o que fica adiado.
Quantas vezes damos por nós a concordar automaticamente com o lugar
comum: "precisava que o dia tivesse quarenta e oito horas" ou
"precisava de meses de quarenta dias". Desconfio que não seja isso
exatamente o que precisamos. Bastaria, aliás, reparar nos efeitos
colaterais das nossas vidas sobreocupadas, no que fica para trás, no
que deixámos por dizer ou acompanhar.
Sem darmos bem conta, à medida que os picos de atividade se agigantam,
as nossas casas vão-se assemelhando a casas devolutas, esvaziadas de
verdadeira presença; a língua que falamos torna-se incompreensível
como uma língua sem falantes no mundo mais próximo; e mesmo que
habitemos a mesma geografia e as mesmas relações parece que, de
repente, isso deixou de ser para nós uma pátria e tornou-se uma
espécie de terra de ninguém.
O ponto de sabedoria é aceitar que o tempo não estica, que ele é
incrivelmente breve e, que por isso, temos de vivê-lo com o equilíbrio
possível. Não nos podemos iludir com a lógica das compensações: que o
tempo que roubamos, por exemplo, às pessoas que amamos procuraremos
devolvê-lo de outra maneira, organizando um programa ou comprando-lhes
isto e aquilo; ou que o que retiramos ao repouso e à contemplação
vamos tentar compensar numas férias extravagantes.
A gestão do tempo é uma aprendizagem que, como indivíduos e como
sociedade, precisamos fazer. Nisto do tempo, por vezes é mais
importante saber acabar do que começar, e mais vital suspender do que
continuar.
Lembro-me que durante anos, numa casa em que vivi, ouvia diariamente o
varredor público limpar as folhas caídas do grande lódão, por baixo da
minha janela. Ele chegava por volta da 1 da manhã, mais coisa menos
coisa. A música da sua vassoura era uma chamada a concluir e a
recolher-me. Também eu precisava varrer a minha dispersão e apagar a
luz até ao dia seguinte.
Mas até esse exercício de interromper um trabalho para passar ao
repouso não nos é fácil, pelo menos em certa idade. Isso implica, não
raro, um exercício de desprendimento e de pobreza. Aceitar que não
atingimos todos os objetivos que nos tínhamos proposto. Aceitar que
aquilo aonde chegamos é ainda uma versão provisória, inacabada, cheia
de imperfeições. Aceitar que nos faltam as forças, que há uma frescura
de pensamento que não obtemos mecanicamente pela mera insistência.
Aceitar porventura que amanhã teremos de recomeçar do zero e pela
enésima vez.
Creio que o momento de viragem acontece quando olhamos de outra forma
para o inacabado, não apenas como indicador ou sintoma de carência,
mas condição inescusável do próprio ser. Ser é habitar, em criativa
continuação, o seu próprio inacabado e o do mundo. O inacabado
liga-se, é verdade, com o vocabulário da vulnerabilidade, mas também
(e eu diria, sobretudo) com a experiência de reversibilidade e de
reciprocidade.
A vida de cada um de nós não se basta a si mesma: precisaremos sempre
do olhar do outro, que é um olhar o outro, que nos mira de um outro
ângulo, com uma outra perspetiva e outro humor. A vida só por
intermitências se resolve individualmente, pois o seu sentido só se
alcança na partilha e no dom.

José Tolentino Mendonça
In Expresso, 20.7.2013

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