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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quarta-feira, dezembro 26, 2007

# Mulheres licenciadas aumentam 60 vezes em meio século

http://dn.sapo.pt/2007/12/26/sociedade/mulheres_licenciadas_aumentam_vezes_.html
ELSA COSTA E SILVA

O peso de mulheres licenciadas na sociedade portuguesa cresceu mais de 60 vezes nos últimos 47 anos. Se em 1960, o total de diplomadas não ia além dos dez mil, no final do ano lectivo em curso esse número deverá rondar as 600 mil. A evolução é muito significativa, mas falta ainda, explicam especialistas em sociologia da educação, conquistar o mercado de trabalho e chegar a lugares de topo.

Em 1960, a percentagem licenciada não chegava sequer ao meio por cento do total das mulheres (0,23%) - dez mil num universo de pouco mais de 4,6 milhões. No mesmo ano, havia mais de 38 mil homens com o ensino superior, sendo que as maiores diferenças do género se encontravam em cursos como Direito e Engenharia. Em 2005, segundo os últimos dados disponíveis no Instituto Nacional de Estatística, esse valor ultrapassava já os 9,3%.

Passado menos de meio século, a situação inverteu-se e hoje há mais diplomas entre as mulheres que entre os homens. Segundo dados do INE para 2005, recolhidos pelo Inquérito ao Emprego, havia mais de 507 mil mulheres com licenciatura. Homens eram apenas 341 mil. Para os dois anos seguintes, resta a hipótese de uma estimativa que confirma esta tendência: há cerca de 70 mil novos licenciados por ano, 65% dos quais são mulheres - uma das mais altas percentagens da União Europeia (UE). Ou seja, teremos cerca de mais 91 mil licenciadas no final deste ano lectivo, totalizando agora quase 600 mil. Contas feitas, a percentagem de mulheres com habilitações superiores face à população feminina total é já de 9,3%. A proporção de homens diplomados é de 6,7%.

Segundo Custódia Rocha, especialista em Sociologia do Género e da Educação da Universidade do Minho, Portugal teve uma "evolução admirável no âmbito dos membros da UE e ultrapassou muitos outros países". Além disto, as mulheres viram ainda alargar as opções em áreas científicas, estando actualmente presentes num leque mais abrangente de cursos, sendo apenas ultrapassadas pelos homens em licenciaturas viradas para as engenharias e ligadas à indústria transformadora e de construção.

Outra área científica, uma das mais avançadas e das quais se esperam maiores desenvolvimentos nos próximos anos, está deficitária de mulheres: as novas tecnologias de informação e comunicação.

Apesar da clara vantagem das mulheres no acesso ao ensino superior, mantêm-se ainda as grandes desigualdades no mercado de trabalho, onde há "forte segregação profissional", explica Custódia Rocha. As mulheres, diz, enfrentam mais obstáculos para se inserir no mercado de trabalho e atingem apenas as posições mais baixas da hierarquia, exercendo funções para as quais estão sobrequalificadas. "Apesar da igualdade a nível de acesso, não se operacionalizaram questões como a eliminação de concepções estereotipadas dos papéis sociais", adianta a socióloga. Os cursos com maior tradição feminina têm menor acesso ao mercado de trabalho e as mulheres continuam minoritárias nos cargos de chefia e decisão.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

# Pastorinho da Serra da Estrela...

De repente olho para a televisão e ouço dizer que dois mil e quinhentos sem abrigo da capital vão ter consoada graças à boa vontade de inúmeros lisboetas. Sendo certo que nesta matéria os números são sempre muito duvidosos, não me parece que, em Lisboa, os sem-abrigo existam aos milhares. Rondarão os mil - dizem aqueles que nas instituições e na CML acompanham estas matérias. Um número provavelmente com tendência para crescer - acrescento eu - face às mudanças recentemente anunciadas para os 4585 doentes mentais internados em Portugal: o fecho de três dos seis hospitais psiquiátricos actualmente existentes, a concentração de outros e um clima de guerra aberta entre a tutela e as instituições particulares de solidariedade social (IPSS's) que acompanham grande parte destes doentes não são o clima adequado para alterar positivamente o que quer que seja.

Ensina a experiência doutros países, nomeadamente dos EUA, que o reverso destas exaltações e enfrentamentos na saúde mental é o aumento do número de pessoas a viver na rua pois na realidade não existem as tais famílias a que idilicamente os doentes deveriam retornar e sobretudo é muito mais fácil fechar hospitais psiquiátricos do que criar os centros de rectaguarda que deveriam acompanhar estas pessoas.
É claro que nada disto vem a jeito quando se fala de pessoas sem-abrigo. As televisões dizem que dois mil e quinhentos sem-abrigo vão consoar em Lisboa. Mas até podiam dizer que eram cinco mil. Eles são apenas uma parábola. O sem-abrigo está para os dias de hoje tal como os pastorinhos da serra da Estrela estiveram para os meninos dos anos 60. Tínhamos de comer por causa do pastorinho, de agradecer os brinquedos - mesmo as mais hediondas peças de roupa - por causa do pastorinho e sobretudo a nossa traquinice transformava-se quase numa blasfémia quando confrontada com a postura adulta do pastorinho.
Nas primeiras vezes que subi à dita serra ainda tentei vislumbrar a sombra do pastorinho. Mas o mundo felizmente era grande e eles, com grande horror das élites, tinham trocado a natureza agreste da serra pela artificialidade das cidades. Na verdade pouco importava que víssemos ou não o pastorinho. Ele propriamente dito pouco interessava. O que interessava sim era que aquela criança humilde e trabalhadora era um repositório de virtudes que contrastavam grandemente com os desmandos futuros que a nossa irrequietude, provavelmente resultado duma infância por comparação privilegiada, já deixava adivinhar. De igual modo o sem-abrigo de hoje é também ele não uma pessoa mas sim uma alegoria.

Cada vez há menos paciência e tolerância para quem reivindica. Os sindicatos são vistos como um móvel fora de moda. Os grevistas quase têm de pedir desculpa por tomarem uma atitude anterior às maravilhas do choque tecnológico. Os organizadores de qualquer protesto passaram à qualidade de nódoa nos grandes momentos. Para todo e qualquer problema propõe-se fazer e divulgar listas negras.
Alheios a tudo isso, sem que se lhes vislumbre laivos de contestação ou perigosidade, os sem-abrigo riem para as câmaras de televisão, enquanto agradecem as canções e o bolo-rei. O sem-abrigo de hoje configura-se assim como a figura ideal para os bons sentimentos dum tempo em que o verbo reivindicar está arrumado na gaveta.

*PÚBLICO, 18 DE DEZEMBRO
Helena Matos

quarta-feira, dezembro 19, 2007

# Existem em Portugal mais de 1,4 milhões de armas legais

Um aumento de 90 mil face a 2006
Existem em Portugal mais de 1,4 milhões de armas legais
12.09.2007 - 11h16 Lusa


Em Portugal existem actualmente mais de 1,4 milhões de armas legais, um aumento de 90 mil face a 2006, apesar de as exigências da nova legislação terem feito "baixar o número de licenciamentos", disse hoje fonte da PSP.

Os dados mais recentes da PSP indicam que estão registadas 1.401.507 armas, contra as 1.309.300 no ano anterior.

O licenciamento compete à PSP, bem como velar pela aplicação da nova legislação respeitante às armas e munições, que entrou em vigor em finais de Agosto de 2006.

Segundo os números disponibilizados à Lusa pela PSP, as mais de 1,4 milhões de armas registadas actualmente em Portugal englobam todas as classes (caça, defesa, desporto, coleccionismo, entre outras), sendo que mais de metade das licenças pertencem a caçadores e as restantes a outros civis e entidades em exercício de cargos públicos.

O novo regime jurídico alterou o quadro legislativo nesta área, que remontava a 1949, e trouxe novas exigências e uma maior responsabilidade aos detentores de armas, tornando mais difícil a obtenção ou renovação da licença de uso e porte de arma, na medida em que exige formação prévia, um exame médico e capacidades de utilização da arma e seguro de responsabilidade civil.

O diploma consagra também uma nova classificação de armas de fogo, em resultado das disposições europeias e das recomendações da ONU, classificando-as de A a G, consoante o seu grau de perigosidade.

Questionada pela Lusa sobre o número de licenças emitidas no quadro da nova Lei, fonte da PSP disse "não dispor de números exactos", uma vez que o Departamento de Armas e Explosivos (Depaexp) "só emite licenças especiais, classe B e para tiro desportivo".

A mesma fonte explicou que as restantes licenças são emitidas pelos comandos, assegurando, no entanto, que até à presente data e ao abrigo do novo quadro jurídico, "se verificou uma redução do número de licenças emitidas no país".

O novo quadro jurídico das armas e munições tipifica também o estatuto e regras de actividade aplicáveis aos armeiros e obriga-os a verificar a identidade do comprador e recusar a venda de arma ou munições sempre que este apresente sinais notórios de embriaguez, perturbação psíquica, consumo de estupefacientes ou de outras substâncias que lhe afecte o comportamento.

O novo diploma estabelece ainda que os armeiros possuam alvará devidamente autorizado pela PSP, à qual terão de reportar toda a venda de armas e munições.

No caso de incumprimento, explicou fonte da PSP, os armeiros são responsabilizados pela prática de infracção (contra-ordenação ou crime) que, "além das demais sanções correspondentes a tal prática, pode pôr em causa a manutenção dos respectivos alvarás".

sexta-feira, dezembro 14, 2007

# A INVERSÃO DO PAPEL DO ESTADO

O futuro terá muita dificuldade em entender a nossa obsessão com o Estado. Esta é a época que mais teoriza sobre o papel das autoridades, onde os poderes públicos mais se esforçam por melhorar a vida dos cidadãos, mas onde existe a maior confusão, atropelo e ambiguidade nesses mesmos poderes. O Estado não faz o que deve e anda a meter-se onde não é chamado. Assistimos nos últimos tempos a um recuo evidente do Governo nas suas funções básicas. Ao mesmo tempo há funcionários, fiscais e técnicos a invadir a intimidade dos cidadãos em nome da segurança e bem-estar. Se isto continua em breve teremos uma inversão total da estrutura institucional.

O mais surpreendente é que muitas mudanças básicas acontecem, não por razões ideológicas, de forma planeada ou segundo análises fundamentadas, mas por mero deslize. São consequências laterais de tácticas oportunistas, expedientes patetas ou golpes de conveniência. A tacanhez política está a ter efeitos radicais que dificilmente serão corrigidos.

O recuo do Estado nas suas funções próprias é bastante evidente. Desesperado pelo défice, o Governo perde de vista o seu papel. A fúria de privatização há muito deixou de ter propósitos estruturais, para se tornar mero instrumento financeiro. Privatiza-se não o que se deve, mas o que rende. Como as corporações capturaram as funções que deveriam exercer, cada ministério trata mais de reivindicações de profissionais que do seu serviço ao povo.

Um recente caso escandaloso é o das Estradas de Portugal. Entregou-se a uma sociedade anónima uma função essencial do Estado, a liberdade de circulação, pois estradas abertas constituem um direito fundamental de cidadania. Qual a razão? A bomba de relógio financeira das SCUT, criada na ilusão de obter dinheiro privado para infra-estruturas, está a explodir. Por isso entrou-se numa fuga para a frente, generalizando a abordagem. Quando o primeiro-ministro afirmou em 16 de Novembro que a nova empresa tem por objectivo a "sustentabilidade financeira", ele sabe que isso só será possível com uma qualquer forma sofisticada dos antigos bandoleiros dos atalhos.

Enquanto aliena funções fundamentais, a sempre crescente máquina estatal atarefa-se a tratar da violência doméstica, inovação tecnológica, galheteiros nos restaurantes, embalagens de brinquedos. Proíbe o fumo, o ruído e o excesso de velocidade, promove o aborto e facilita o divórcio. Dizemos ser um país livre, mas é impossível a matança do porco, brindes no bolo-rei, ou termómetros de mercúrio.

Tudo isto no meio de uma fúria legislativa, onde novas versões de diplomas surgem antes de secar a tinta nas anteriores. Um exemplo sugestivo, já que se fala de trânsito, é o Código da Estrada. O Estado, que se demite da gestão rodoviária, está cada vez mais enfiado com o condutor ao volante. Como andar de automóvel não muda há décadas, seria de esperar estabilidade nessa legislação fundamental que afecta toda a população. Pelo contrário, esse campo é um emaranhado de diplomas.

Referindo apenas os principais, tínhamos um código, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio, que foi depois revisto e republicado pelos DL 2/98, de 3/1, e 265-A/ 2001, de 28/9, e alterado pela Lei 20/2002, de 21/8. Então o Governo decidiu criar um novo Código, que aprovou pelo DL 44/2005, de 23/02. Desde então, nestes dois anos já foram publicados 26 novos diplomas que o complementam, corrigem e acrescentam. São quatro leis, cinco decretos-leis, dois decretos regulamentares, seis portarias e nove despachos. O site da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, na secção Trânsito, tem um total de 46 diplomas que devemos conhecer cada vez que entramos num carro.

O mais incrível é que os responsáveis não se dão conta de que esta profusão legislativa apenas manifesta a sua tolice, impotência e incapacidade. O Estado tornou-se uma galinha tonta, a correr em todos os sentidos. As gerações futuras vão divertir-se com este tempo infantil que acha que a lei resolve tudo mas não consegue decidir qual lei o deve fazer.

JCN, DN071203

quinta-feira, dezembro 13, 2007

# Portugueses sentiriam mais falta da Internet do que da tel

Estudo revela importância crescente da Internet e dos telemóveis
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1313700&idCanal=61

13.12.2007 - 12h50 Joana Amaral Cardoso
Se algum dos meios de comunicação com que contactam diariamente desaparecesse, a maioria dos portugueses inquiridos num estudo de mercado sentiria mais falta da Internet e dos telemóveis do que da televisão, rádio ou jornais.

De acordo com o estudo A Day in the Life (um dia na vida), elaborado pela agência de meios Nova Expressão para a Columbus Media International e efectuado pela Netsonda, 98,1 por cento dos portugueses inquiridos sentiria falta da Internet (95,6 por cento sentiriam falta do telemóvel, 92,4 por cento da TV, 90,6 por cento da rádio e 86,8 por cento dos jornais). Os meios de comunicação menos importantes para o painel de 681 portugueses, todos utilizadores de Internet, são as consolas de jogos e os outdoors.

Confrontados com várias opções para descrever o confronto com o desaparecimento de meios de comunicação, que incluem também o cinema, as revistas e os leitores mp3, mais de metade dos inquiridos (53,6 por cento) não conseguiria mesmo imaginar a sua vida hoje sem a Internet. Só os telemóveis igualam a reacção mais extrema da gama de questões (que vai desde o "não conseguiria imaginar a minha vida sem" até ao "não me faria diferença nenhuma"), com 43,6 por cento dos inquiridos a assumir que não imagina viver sem telefone móvel.

O objectivo do estudo é saber mais sobre os hábitos de consumo de média dos portugueses, integrado num estudo mais alargado sobre o mesmo tema, que abrange os EUA, o Canadá, Reino Unido, Alemanha e Polónia e os Emirados Árabes Unidos. Os norte-americanos são, de longe, os que mais falta sentiriam dos meios de comunicação se fossem privados deles.

Nas conclusões gerais do estudo internacional da Columbus, Portugal destaca-se por ser o país cujos espectadores mais se queixam da violência excessiva na televisão (uma preocupação partilhada por 69 por cento dos inquiridos portugueses). De todo o painel, o Reino Unido é o país onde essa preocupação é menos significativa.

Os países que mais consomem televisão são Reino Unido e o EUA. Os seus espectadores passam em média, e respectivamente, 3,7 e 4,3 horas por dia frente ao televisor. Em Portugal, 71 por cento dos espectadores dizem que prestam tanta atenção à publicidade televisiva que passa nos canais temáticos do cabo quanto à dos canais generalistas. Mas 56 por cento dos portugueses ouvidos pela Netsonda admitem que tentam evitar ver anúncios na televisão, ao mesmo tempo que 57 por cento deles dizem prestar atenção à publicidade nos jornais.

Os principais destinos dos inquiridos portugueses que procuram entretenimento são a televisão e a Internet (76 e 58 por cento, respectivamente) e estes dois meios também lideram quando a busca é em torno de notícias (79 por cento TV e 56 por cento Internet). Os jornais servem como fonte de notícias para 55 por cento dos ouvidos.

A omnipresença da Internet na vida dos consumidores de média portugueses mantém-se de forma equilibrada durante toda a semana: 4h36 durante a semana, 4h04 ao fim-de-semana. A Internet serve sobretudo para usar o e-mail (98,2 por cento) e ler notícias (85,2 por cento).

Quanto à televisão, os inquiridos dedicam-lhe 2h43 diárias nos dias úteis e 3h46 diárias ao fim-de-semana. E passam 59m a ler jornais durante os dias úteis, dedicando ainda 48m às revistas, gastando 1h16 a ler jornais nos dias de fim-de-semana e 1h03 para as revistas ao sábado e domingo. Estes valores estão no mesmo nível dos despendidos pelos americanos, canadianos e britânicos na leitura de jornais diários. Quanto à Internet, os norte-americanos são os que mais horas passam na rede, gastando entre 5,3 horas e 6 horas diárias frente ao computador.

terça-feira, dezembro 11, 2007

# Universidade do Porto está nas 500 melhores do Mundo

JN.pt
j. paulo coutinho
Universidade do Porto é a única portuguesa entre as melhores


A Universidade do Porto (UP) é a única instituição portuguesa de Ensino Superior na lista de 2007 do Ranking de Performance de Artigos Científicos de Universidades Mundiais. "Trata-se de um ranking mais sério do que Times Higher Education Supplement, uma vez que mede a produção científica efectiva e não recorre a inquéritos, como acontece no caso da seriação internacional feita pelos ingleses", sublinha José Ferreira Gomes, professor da Faculdade de Ciências da UP.

Em comunicado, a UP refere que está na 459.ª posição (195.ª na Europa) no ranking de 2007 recentemente divulgado pela autoridade independente de avaliação e acreditação do Ensino Superior de Taiwan (http//www. heeact.edu.tw/ranking/).

A elaboração do ranking teve por base os artigos científicos que os membros de cada instituição publicaram nas mais reconhecidas publicações internacionais", refere a UP, acrescentando que a avaliação se centrou em nove indicadores, divididos por três critérios.

Excelência da investigação (50%), impacto da investigação produzida (30%) e produtividade (20%) foram os critérios de avaliação da produção científica de cada universidade.

"O ranking é centrado mais na qualidade do que na quantidade da investigação (os indicadores de qualidade contam para 80% da nota final) e tem em conta o desempenho recente da universidade (constitui 50% da nota final), assegurando assim uma comparação mais justa entre universidades com grandes diferenças de idade", realça a UP.

A Universidade do Porto espera "subir várias posições neste ranking" nos próximos anos, atendendo ao "aumento muito significativo dos valores de avaliação do ano de 2006".

A UP é a maior universidade portuguesa, em número de estudantes, e "o maior produtor de ciência em Portugal, tendo sido responsável por cerca de um quinto dos artigos científicos publicados anualmente por instituições portuguesas".

O ranking é liderado pela Universidade de Harvard, seguida de outras 10 universidades norte-americanas, surgindo a primeira europeia (Cambridge, Inglaterra) em 17.º.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

# Vale a pena?

Por António Barreto
http://sorumbatico.blogspot.com/

A MEIA DÚZIA DE LAVRADORES que comercializam directamente os seus produtos e
que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora
ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que
sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da
chegada da "fast food", para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros
que faziam a domicílio pratos e "petiscos", a fim de os vender no café ao
lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada,
podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam
diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas,
rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que
comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.

A SOLUÇÃO FINAL vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os
inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho
mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os
computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as
receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas
industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes
exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e
regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados
cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela
carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem
através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas
certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da
ração e pelos impérios do açúcar.

EM FRENTE À FACULDADE onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os
estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às
cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar! Nas esplanadas, a partir de
Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas,
refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que
não sejam industriais e embalados? Proibido. Nas feiras e nos mercados,
tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos
zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam
tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos. Na
província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao
lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde,
coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido. Embrulhar castanhas assadas
em papel de jornal? Proibido. Trazer da terra, na estação, cerejas e
morangos? Proibido. Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o
azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas,
alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido. Comprar um bolo-rei
com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido. Ir a
casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre
para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido. Vender
bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só
industriais. É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas
especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos. Servir
areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha,
uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.

AS REGRAS, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do
estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as
descrever. Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho
tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto. Na cozinha,
tem de haver uma faca de cor diferente para cada género. Não pode haver
cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma
mesa em que se fazem tostas mistas. No frigorífico, tem de haver sempre uma
caixa com uma etiqueta "produto não válido", mesmo que esteja vazia. Cada
vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem
de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação. Não se
pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.

Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico,
papel ou tecido. Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram?
Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou
com célula fotoeléctrica.

As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia
e devidamente registadas. As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm
de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e
assinadas pelo funcionário certificado. Usar colheres de pau para cozinhar,
tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja
com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas,
tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte. O
dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o
seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns
ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.

TUDO ISTO, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde.
Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha
da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas
regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.

«Retrato da Semana» - «Público» de 25 de Novembro de 2007