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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sábado, março 27, 2010

# Nem a crise económica trava corrida internacional ao armamento

http://www.publico.clix.pt/Mundo/nem-a-crise-economica-trava-corrida-internacional-ao-armamento_1429727
27.03.2010 - 12:28 Por João Manuel Rocha

Há uma corrida às armas na Ásia e na América do Sul, e, ainda que em
menor escala, no Médio Oriente. Em África moram também importantes
clientes de armamento convencional, uma indústria em que os
compradores até podem ir variando, mas os grandes vendedores são quase
sempre os mesmos.

É isso, e mais, que diz o último relatório do Instituto Internacional
de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). O estudo confirma que no
período 2005-2009 as vendas aumentaram 22 por cento face aos cinco
anos anteriores, apesar da crise, e que a distribuição regional se
manteve relativamente estável, com a região Ásia-Oceânia como
principal compradora, seguida por Europa, Médio Oriente, Américas e
África. Os aviões de combate representam 27 por cento do volume de
transacções, refere o estudo do Sipri, que desde 1966 faz o
levantamento dos movimentos de armas convencionais, caso de aviões,
blindados, artilharia, sensores, mísseis, navios ou submarinos. As
armas ligeiras e munições não estão incluídas.

"Estados com recursos compraram quantidades consideráveis de aviões de
combate a preços elevados. Os países vizinhos reagiram a essas
aquisições com as suas próprias en- comendas", observa Paul Holtom,
responsável pelo programa de acompanhamento da transferência de armas
do Sipri. "As encomendas e entregas dessas armas potencialmente
desestabilizadoras levaram a uma corrida ao armamento em regiões onde
reina a tensão: Médio Oriente, Norte de África, América do Sul, Ásia
do Sul e Sudeste asiático", assinala o relatório.

O trabalho do instituto não regista os fluxos financeiros reais das
operações. Para elaborar as suas tabelas, o Sipri compara períodos de
cinco anos e calcula o valor dos equipamentos tendo em conta o seu
"poder militar". "É uma forma de comparar a uma escala global, uma vez
que algumas armas são vendidas a "preço de saldo" em alguns países e
como "bens de luxo" noutros", explicou ao PÚBLICO a directora de
comunicação do Sipri, Stephanie Blenckner. O instituto fez até 2007
estimativas de custos, mas abandonou essa prática, até porque
informação rigorosa é coisa que muitos governos não fornecem. As
tendências e variações percentuais registadas permitem, no entanto,
identificar fluxos de armamento e pólos de tensão no globo.

A China e a Índia abrandaram as compras, em 20 por cento e sete por
cento, respectivamente, mas continuam a ser os dois grandes
compradores mundiais. Mas outros países seguiram a tendência inversa.
Foi o caso de Singapura, Estados Unidos, Paquistão ou Malásia, que nos
últimos anos reforçaram os investimentos em equipamento militar. O
grupo dos cinco principais compradores - em que à China e Índia se
juntam Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul e Grécia - foi
responsável por 32 por cento do total das aquisições, uma quota
ligeiramente menor do que os 38 por cento do quinquénio anterior.

Riscos de desestabilização

Os países agrupados na categoria Ásia-Oceânia importaram 41 por cento
das armas convencionais, o que representa uma subida de 11 por cento
face a 2000-2004. Para o Nordeste asiático foram vendidas 46 por cento
do total de armas compradas na região, contra 27 por cento da Ásia do
Sul e 20 por cento do Sudeste asiático.

Entre os dez principais importadores mundiais cinco são asiáticos: à
China e Índia somam-se a Coreia do Sul, na terceira posição,
Singapura, na sétima, e Paquistão, na décima. No Sudeste asiático as
compras quase duplicaram, com alguns países a registarem crescimentos
astronómicos: 722 por cento a Malásia, 146 Singapura, 84 a Indonésia.
Singapura tornou-se no primeiro estado da Associação de Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN) a integrar a lista de maiores compradores de
armas desde o fim da guerra do Vietname, nos anos 1970, destaca o
Sipri.

A "vaga de aquisições pode desestabilizar a região, pondo em causa
décadas de paz", afirma o especialista do instituto em Ásia, Siemon
Wezeman. Analistas citados pelo Financial Times e pela BBC vêem o
crescimento das compras de armamento na região como uma resposta ao
poderio da China e associam-no a receios de que as disputas
territoriais possam assumir um carácter bélico.

A Europa recebeu 24 por cento das armas transaccionadas, uma ligeira
quebra percentual face aos 25 por cento do período anterior, mas
mantém-se como segundo grande blo- co importador. E nela é a Grécia o
principal receptor, ainda que tenha descido da terceira para a quinta
posição mundial. A transferência de 26 aviões de combate
norte-americanos F-16C e de 25 Mirage-2000-9 franceses representou por
si só 38 por cento das importações de Atenas, tradicional grande
comprador devido à histórica tensão com a vizinha Turquia.

Os países das Américas ficaram com 11 por cento das importações
globais, percentagem equivalente à dos cinco anos anteriores. Os
Estados Unidos são o maior cliente do continente, oitavo na tabela
global, o que não é uma surpresa. Mas foi na América do Sul que, com
um crescimento de 150 por cento sobre o período anterior, se registou
o salto mais significativo. O Chile, com aquisições recentes de
tanques alemães e aviões de combate brasileiros, surge como o
principal comprador da região, décimo terceiro na tabela global. Mas a
Venezuela, o Brasil e o Peru têm também estado muito activos. "Há
sinais de com- petição na compra de armas na América do Sul. Isto
mostra que precisamos de mais transparência e medidas de confiança
para reduzir a tensão na região", comentou Mark Bromley, investigador
do Sipri e especialista em América Latina.

O Médio Oriente, destino de 17 por cento das armas transaccionadas,
registou um aumento de 22 por cento nas importações. Uma análise mais
fina mostra que o principal cliente na região, quarto a nível mundial,
foram os Emirados Árabes Unidos, com 33 por cento, seguidos de Israel,
com 20, e Egipto, com 13. O Irão surge num discreto vigésimo nono
lugar, mas foi o segundo maior cliente da China, tendo-lhe comprado,
segundo dados complementares divulgados pela agência AP, mais de mil
mísseis terra-ar e terra-mar e meia centena de veículos de combate.
http://www.publico.pt/Mundo/nem-a-crise-economica-trava-corrida-internacional-ao-armamento_1429727
Nem a crise económica trava corrida internacional ao armamento

África representa uma fatia de sete por cento no negócio de armas
convencionais, um por cento a mais do que nos cinco anos precedentes.
A Argélia, com 43 por cento das compras do continente e presença no
top ten mundial, e a África do Sul, com 28 por cento, são os grandes
importadores. O terceiro cliente de armas convencionais é o Sudão, com
cinco por cento do total. Os fluxos de armas para zonas instáveis
mantêm-se: Chade e Quénia são, além do Sudão, destinos referenciados
pelo Sipri, que faz eco de rumores de que parte do equipamento enviado
para este último país teria como destino final o Governo do Sul do
Sudão.

Os conflitos locais levaram a que sete dos 12 embargos a vendas de
armas aprovados no ano passado pelas Nações Unidas, muitos com uma
eficácia duvidosa e frequentemente violados, visassem países
africanos. "Em diversos casos, volumes relativamente pequenos de armas
fornecidas a países da África subsariana tiveram um forte impacto nas
dinâmicas dos conflitos regionais", lembra o instituto.

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sexta-feira, março 26, 2010

# Viciados no Facebook. Já há clínicas para tratar a obsessão

por Ana Rita Guerra, Publicado em 25 de Março de 2010 |
http://www.ionline.pt/conteudo/52583-viciados-no-facebook-ja-ha-clinicas-tratar-obsessao-

Os sintomas da privação são semelhantes aos de uma ressaca de
nicotina, álcool ou comprimidos.

No momento em que começam a abrir clínicas para tratar viciados em
Facebook, percebemos que algo de muito importante está a acontecer na
maior rede social da internet. Com mais de 400 milhões de utilizadores
em todo o mundo, a rede criada por Mark Zuckerberg atingiu um estatuto
de obsessão social.

Esta nova geração de viciados do século XXI, como alguns psiquiatras
estão a descobrir, apresenta sintomas físicos e psicológicos
semelhantes à adição a substâncias como a nicotina, o álcool ou
comprimidos. Parece piada, mas não é. Chama-se Facebook Addiction
Disorder (FAD) e é uma perturbação psicológica derivada da Internet
Addiction Disorder, diagnosticada pelo psiquiatra norte-americano Ivan
Goldberg em 1995.

Ainda não é considerada uma patologia, mas já começou a ser
identificada. Há mais de 80 grupos no Facebook para pessoas viciadas
em Facebook, o que parece tão acertado como montar um grupo de
Alcoólicos Anónimos numa destilaria. Também foi lançado um livro, da
editora Ice Cream Melts, chamado "Facebook Addiction", baseado na vida
de vários viciados na rede social.

Como se trata Tal como outras perturbações, a FAD já pode ser tratada
em clínicas e serviços especializados, como os que abriram em Itália,
Estados Unidos e Reino Unido nos últimos meses. Mas será necessária
abstinência? O médico Richard Graham, que trabalha no hospital
londrino Capio Nightingale, diz à BBC que não. Tem um programa
intensivo de 28 dias, que começa com psicoterapia, passa à fase de
desligar a tecnologia e termina com exercício físico e eventos
familiares.

A ideia é recuperar o controlo sobre o uso da tecnologia, já que,
segundo afirma, "não se pode evitá-la". E como a ideia é pôr as
pessoas dentro de uma sala a conversar, o serviço de tratamento não
dispõe de site na internet.

No caso italiano, a clínica Agostino Gemelli Polyclinic foi inaugurada
há cerca de quatro meses em Roma e o Molinette Hospital, em Turim,
passou a ter assistência em Janeiro de 2010.

De acordo com o coordenador desta unidade hospitalar, Frederik
Tonioni, a adição à internet ou a redes na internet causa "sintomas
físicos similares aos que são manifestados por adictos em crises de
ressaca: ansiedade, depressão e medo de perder o controlo sobre o que
acontece na internet". O médico, citado na página do apresentador de
rádio britânico Mark Nolan, adianta que há cinco tipos de adição à
rede: cibersexo, ciber-relacional, compulsão de rede, descargas e
dependência de computadores.

O primeiro é exactamente o que o nome descreve, uma adição ao sexo
virtual ou à pornografia na internet. O segundo descreve uma
dependência das redes sociais. O terceiro está ligado a impulsos, como
compras online ou jogos casuais. O quarto indica uma obsessão pela
busca compulsiva de informação e o quinto está muito ligado aos
videojogos.

Os sintomas da perturbação FAD são semelhantes à adição à internet,
tal como descrita há quinze anos por Ivan Goldberg - perda de ligações
pessoais, mudanças repentinas de humor, percepção alterada do tempo,
fetiches tecnológicos e perda de sono, muitas vezes por passar a noite
a navegar na net. Os doentes apresentam um certo desprezo pelas
relações na vida real e entram constantemente no Facebook para ver as
actualizações, no computador do trabalho, de casa ou no telemóvel.

Ainda segundo o responsável do hospital de Turim, durante os primeiros
meses de operação, a maioria dos doentes tratados divide-se em dois
tipos. Por um lado, indivíduos entre os 25 e os 40 anos, cientes de
que desenvolveram uma relação patológica com a internet. Por outro,
doentes com dependências específicas, como cibersexo, jogos e compras
online. Há ainda uma grande prevalência em jovens do sexo masculino,
quase sempre adolescentes.

Don Martin, gestor clínico da seguradora Optima Health, garante que
esta perturbação associada ao Facebook é real. "Se é mais importante
ver o que os amigos estão a fazer no Facebook que saber onde anda o
parceiro, o filho ou outras pessoas que estão envolvidas na sua vida e
com quem fale pessoalmente então saiba que arranjou um problema", diz
o especialista, citado pelo canal de televisão WVEC, associado à ABC.
"É uma compulsão, uma obsessão", continua Martin, explicando que estes
doentes experimentam um sentimento de perda quando não estão na
página, a ver as actualizações ou a montar celeiros na Farmville.

Para testar o grau de adição ao Facebook, alguns grupos de apoio
sugerem que se faça o teste (ver quizz). Mas há uma forma mais rápida
de o testar: quantos dias consegue estar sem entrar na sua página? Se
não aguentar sequer 24 horas, o mais provável é que a experiência na
rede social esteja a ir longe demais.

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sábado, março 20, 2010

# Religiao vista atraves de Ressonancia Magnetica Nuclear

Religião e saúde
por ANSELMO BORGES http://dn.sapo.pt/

Kant alinhou as tarefas fundamentais da Filosofia: "O que posso
saber?", "O que devo fazer?", "O que é que me é permitido esperar?" No
fundo, elas reduzem-se a uma quarta pergunta, para a qual remetem: "O
que é o Homem?"

Segundo Kant, precisamente à terceira pergunta responde a religião, o
que significa que, para ele, o que a determina é a esperança de
salvação, felicidade, consolação, sentido último. Deus "deve"
moralmente existir - é um postulado da razão prática -, para que se dê
a harmonia entre o dever cumprido e a felicidade.

Claro que é sempre possível perguntar se realmente a religião consola
e como. Para viver a religião verdadeira, é preciso estar disposto a
sacrificar-se pela dignidade, pela justiça, pela verdade: pense-se,
por exemplo, na cruz de Cristo. E está sempre presente a ameaça de
projecção e ilusão, como denunciaram os "mestres da suspeita". De
qualquer forma, não há dúvida de que a religião tem a ver com
felicidade e sentido último.

Há hoje inclusivamente estudos que mostram uma relação globalmente
positiva entre a religião e a saúde - note-se que, significativamente,
o étimo latino de saúde e salvação é o mesmo: salus, salutis, em
conexão com saudar e saudade: salutem dare. Ao contrário de R.
Dawkins, que supõe que é largamente aceite pela comunidade científica
que a religião prejudica os indivíduos, reduzindo o seu potencial de
saúde e sobrevivência, Mario Beauregard, investigador de neurociências
na Universidade de Montréal, escreve que se acumulam provas
consideráveis que mostram que as experiências religiosas, espirituais
e/ou místicas "estão associadas a melhor saúde física e mental".

No quadro da "medicina psicossomática", é sabido hoje, por exemplo,
que o stress ou a solidão podem contribuir para aumentar a tensão
arterial. Foi assim que se começou a estudar também a fisiologia da
meditação para compreender a influência do espírito sobre o corpo. Na
sua obra The Spiritual Brain, Beauregard cita 158 estudos médicos
sobre o efeito da religião na saúde, concluindo que 77% fazem menção
de um efeito clínico positivo. Um estudo mostrou que os "adultos mais
idosos que participam em actividades religiosas pessoais antes do
aparecimento dos primeiros sinais de handicap nas actividades do
quotidiano têm mais esperança de vida do que os que o não fazem".

Há também dados que mostram o desejo dos doentes de que os médicos
conheçam as suas crenças religiosas e que as tenham em conta. Falar
sobre o assunto pode aumentar a compreensão médico-doente. Por outro
lado, uma sondagem junto de 1100 médicos americanos mostrou que 55%
estavam de acordo com a afirmação: "As minhas crenças religiosas
influenciam a minha prática da medicina."

No seu novo livro, How God Changes your Brain (Como muda Deus o teu
cérebro), o neurologista Andrew Newberg mostra, através da ressonância
magnética nuclear funcional, que a medi- tação e a oração intensas
alteram a massa cinzenta, reforçando as zonas que concentram a mente e
alimentam a compaixão; também acalmam o medo e a ira. "A religião e a
ciência são as duas forças mais poderosas em toda a história humana.
São as duas coisas que nos ajudam a organizar e a entender o nosso
mundo. Porque não procurar uni-las?"

Note-se, porém, que os efeitos não são sempre positivos. É fundamental
a imagem que se tem da entidade superior, benevolente ou malévola.
Beauregard refere um estudo que mostra que os idosos e doentes corriam
maior risco de morrer, se tivessem "uma relação conflituosa com as
suas crenças religiosas".

Por outro lado, os ateus dirão que precisamente a imagiologia cerebral
das pessoas mergulhadas na oração é a prova de que a fé é uma ilusão,
pois apenas mostra o que se passa no cérebro. Responde Newberg: "Pode
ser que seja só o cérebro a fazê-lo, mas também poderia ser o cérebro
recebendo o fenómeno espiritual", acrescentando: "Eu não digo que a
religião seja má ou não real. O que digo é que as pessoas são
religiosas e procuramos saber como isso as afecta."

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# Quanta sabedoria podera' haver numa so' frase?

"Sozinho vou mais depressa, acompanhado chego mais longe". (Autor desconhecido)

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quarta-feira, março 17, 2010

# Quotes by George Carlin

"Some people see the glass half full. Others see it half empty. I see
a glass that's twice as big as it needs to be."
— George Carlin

"Those who dance are considered insane by those who cannot hear the music."
— George Carlin

"Religion has convinced people that there's an invisible man ...
living in the sky. Who watches everything you do every minute of every
day. And the invisible man has a list of ten specific things he
doesn't want you to do. And if you do any of these things, he will
send you to a special place, of burning and fire and smoke and torture
and anguish for you to live forever, and suffer, and suffer, and burn,
and scream, until the end of time. But he loves you. He loves you. He
loves you and he needs money."
— George Carlin

"Have you ever noticed that anybody driving slower than you is an
idiot, and anyone going faster than you is a maniac?"
— George Carlin

"Fighting for peace is like screwing for virginity."
— George Carlin

"We're so self-important. So arrogant. Everybody's going to save
something now. Save the trees, save the bees, save the whales, save
the snails. And the supreme arrogance? Save the planet! Are these
people kidding? Save the planet? We don't even know how to take care
of ourselves; we haven't learned how to care for one another. We're
gonna save the fuckin' planet? . . . And, by the way, there's nothing
wrong with the planet in the first place. The planet is fine. The
people are fucked! Compared with the people, the planet is doin'
great. It's been here over four billion years . . . The planet isn't
goin' anywhere, folks. We are! We're goin' away. Pack your shit, we're
goin' away. And we won't leave much of a trace. Thank God for that.
Nothing left. Maybe a little Styrofoam. The planet will be here, and
we'll be gone. Another failed mutation; another closed-end biological
mistake."
— George Carlin

"I thought about how mothers feed their babies with tiny little spoons
and forks so I wondered, what do Chinese mothers use? Toothpicks?"
— George Carlin

terça-feira, março 16, 2010

# Mil garrafas de sangue tailandês lançadas contra o Governo

"Os camisas vermelhas", partidários do antigo primeiro-ministro
Thaksin Shinawatra, deram o seu sangue a enfermeiros e juraram que
iriam reunir "um milhão de centímetros cúbicos" (equivalente a 1000
garrafas de refrigerante) para derramar hoje à noite à porta da
Government House.

Pelo menos 100.000 destes adversários do actual chefe do Executivoi,
Abhisit Vejjajiva, tinham-se concentrado domingo na capital, a
exigir-lhe que dissolvesse o Parlamento e convocasse eleições
legislativas antecipadas.

Como ele não aceitou o ultimato, que expirava ao meio-dia de ontem,
começaram a fazer o "sacrifício do sangue", já condenado pela Cruz
Vermelha como um grande desperdício e uma prática verdadeiramente
anti-higiénica.

Weng Tojirakam, médico e um dos líderes do protesto, afirmou que esta
estratégia serve para testar a consciência de Abhisit, colocado no
poder em Dezembro de 2008 pelos militares que dois anos antes tinham
derrubado Thaksin. Este entretanto fizeram-no condenar à revelia a
dois anos de cadeia, por conflito de interesses entre as suas empresas
e a prática governamental.

"Este sangue pertence aos combatentes pela democracia. Qual é a sua
cor? O Vermelho!", gritou alguém por um megafone, enquantol Weng e
outros dirigentes do movimento davam sangue num palco erguido junto de
uma tenda branca.

Alguns monges em túnicas cor de laranja, embora proibidos pela lei de
participar em actividades políticas, estavam entre as primeiras
pessoas que formaram fila para a doacção. Um deles ostentou
orgulhosamente um seringa cheia com o seu próprio sangue.

Embora este gigantesco protesto seja essencialmente de partidários de
Thaksin, que já foi proprietário do Manchester City, juntaram-se a ele
outros activistas que se opõem ao golpe de estado militar de 2006 e
que pretendem uma menor interferência das Forças Armadas nos assuntos
do reino, à frente do qual se encontra há 64 anos Bhumibol Adulyadej,
o chefe de Estado que há mais tempo permanece em funções em qualquer
parte do mundo.

Hoje, pelo segundo dia consecutivo, Thaksin falou aos manifestantes,
via vídeo, a partir do estrangeiro, tendo-os incitado a prosseguir a
sua luta, de forma não violenta.

Dezenas de milhares de militares e polícias controlam a multidão,
enquanto a imprensa local noticia que em algumas das províncias do
Norte do país, o território tradicional do ex-primeiro-ministro,
também estão a decorrer manifestações coincidentes com a de
Banguecoque.

http://www.publico.pt/Mundo/mil-garrafas-de-sangue-tailandes-lancadas-contra-o-governo_1427432

# Dezenas de portugueses são escravizados todos os anos

A Polícia Judiciária (PJ) estima em mais de três dezenas as pessoas
que, todos os anos, são vítimas de sequestro e traficadas de Portugal
para Espanha, onde depois são escravizadas em instalações agrícolas.

O mais recente inquérito de sequestro, tráfico de pessoas e escravidão
foi remetido ontem a tribunal através do Departamento de Investigação
Criminal da PJ da Guarda e reporta-se a um caso que envolve um homem
de 27 anos que, em Agosto do ano passado, terá sido transportado
contra a sua vontade para uma quinta em Espanha onde trabalhou sem
receber salário.

Há dois arguidos no processo, os quais ficavam com o dinheiro da
vítima e a ameaçavam de cada vez que esta dizia querer voltar à sua
terra.

Após a fuga do homem e denúncia do caso, a Polícia Judiciária concluiu
que os suspeitos, de 33 e 48 anos, serão ainda responsáveis por um
outro caso de escravidão, envolvendo um casal português, e suspeitos
de terem praticado o mesmo delito com mais uma dezena de pessoas
arregimentadas em pequenas aldeias da região da Serra da Estrela.

Segundo a Judiciária, as vítimas escolhidas pelos traficantes de seres
humanos são pessoas com fracos recursos financeiros, que aceitam ir
para Espanha a troco de vencimentos que em pouco excedem o ordenado
mínimo em Portugal, e que também possuem "diversas debilidades", seja
porque a sua instrução é muito reduzida ou porque são influenciáveis e
cedem a chantagens.

São, muitas vezes, desempregados que, nas suas terras, não possuem
qualquer ocupação.

No final do ano passado, no final de mais uma investigação deste tipo
de crimes, a Polícia Judiciária chegou ainda a uma zona agrícola de
Espanha onde os trabalhadores arrregimentados em Portugal eram, no
final do dia de labuta, encerrados e acorrentados num aviário.

Quem procedia a esta tarefa eram os recrutadores, que também lhes
ficavam com os vencimentos e com os documentos pessoais, de modo a
dificultarem eventuais tentativas de fuga.

No caso do homem de 27 anos cujo inquérito foi agora concluído pela PJ
não foram recolhidos indícios que apontem para a responsabilização dos
proprietários das herdades espanholas para onde são encaminhadas as
pessoas.

As investigações dizem que a total responsabilidade dos crimes é dos
suspeitos identificados, os quais são não só angariadores, mas também
raptores e até trabalhadores dessas mesmas explorações.

16.03.2010 - 07:46 Por José Bento Amaro
http://www.publico.pt/Sociedade/dezenas-de-portugueses-sao-escravizados-todos-os-anos_1427370

sexta-feira, março 12, 2010

# Retornados, a palavra possível (II)

Público, 2010.03.11 Helena Matos

Os que não "retornaram" para Portugal mas sim dentro de África e que
não eram brancos nem sequer são mencionáveis

"Os recentes acontecimentos de Moçambique e outros que se lhe possam
seguir, devemo-los considerar como esporádicos, meramente emocionais,
acção duma minoria que aproveita a falta de informação ou a informação
desvirtuada em que o anterior regime deixava as populações das
colónias." - Datada de 15 de Outubro de 1974, esta Informação de
Serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros/Comissão Nacional da
Descolonização contém as linhas mestras da atitude do Estado português
sobre o que nesse mesmo período acontecia nos territórios sob sua
administração em África e na Ásia. Ou seja, oficialmente não acontece
nada que não esteja previsto e controlado. Tudo o que não coubesse
nesta moldura era apresentado como o resultado duma minoria
emocionalmente descontrolada e de forma consciente ou involuntária
afecta ao regime anterior.

É também este paradigma que vamos encontrar nas pequenas notícias que
até ao início de 1975 vão dando conta do "êxodo dos brancos"; da "fuga
injustificada" e do "alarmismo temporário" dos colonos. Não interessa
que os primeiros retornados não tenham sido maioritariamente brancos,
pois se por retornado se entender aquele que abruptamente muda o seu
local de residência para o sítio onde nasceu constataremos que os
primeiros retornados não são brancos mas sim os negros dos musseques
de Luanda que em Julho e Agosto de 1974 deixam a capital angolana
rumando a Malanje e demais terras de origem; os mais de mil
cabo-verdianos que nesse mesmo período são levados numa ponte aérea de
Angola para o seu arquipélago; os nunca quantificados trabalhadores
cabo-verdianos que no Verão de 1974 são embarcados em Lisboa com
direcção a Cabo Verde, e ainda os comerciantes de origem libanesa que
nesse mesmo Verão deixam a Guiné-Bissau. É certo que pelo mesmo tempo
milhares de brancos começavam então a enviar os seus bens por via
marítima e a tratar dos papéis para que os seus automóveis pudessem
circular nas pequenas estradas daquilo a que chamavam metrópole, mas
até Setembro de 1974 esse "retorno" em direcção a Lisboa ainda não é
por eles encarado como definitivo.

Do ponto de vista informativo os retornados são vítimas de vários
preconceitos, mas aqueles que não "retornaram" para Portugal mas sim
dentro de África e que para cúmulo não eram brancos nem sequer são
mencionáveis. No desacerto que os retornados eram, os negros e
mestiços eram um desacerto ainda maior.

Retratados pelos governantes e jornalistas de então como "homens
desejosos de viver num mundo que acabou", grupo "que quer manter
privilégios", pessoas que entraram em pânico sem qualquer razão e
"gente que não porfia", aos portugueses de África não só não foi
permitida a expressão da sua vontade como, muito mais grave, foi-lhes
proibida, sobretudo em Moçambique, a simples manifestação de opiniões
contrárias ao que Lisboa decidia ou dizia que decidia.

A legislação aprovada pelo Alto-Comissário português em Moçambique,
Vítor Crespo, só é equiparável à dos países totalitários: a 28 de
Outubro de 1974, Vítor Crespo assinava o Decreto-Lei n.º 8/74 que
estabelecia que "Todo aquele que dolosamente propalar notícias falsas
ou tendenciosas que possam alterar a ordem ou a tranquilidade pública,
paralisar as actividades económicas e profissionais, causar a
intervenção desnecessária das autoridades públicas, ou por qualquer
modo causar injustificado alarme público será punido com pena de dois
a oito anos de prisão maior."

Dias depois, a 2 de Novembro, novo Decreto-Lei, o n.º 11/74, endurece
ainda mais a repressão: não só os chamados crimes contra a
descolonização têm as penas de prisão aumentadas como "os indivíduos
suspeitos da prática de crime contra a descolonização ficarão sob a
custódia das autoridades militares até à decisão com trânsito em
julgado dos respectivos processos". No mesmo dia, 2 de Novembro, outro
decreto, o n.º 12/74, depois de considerar que certas garantias
individuais "só podem realizar-se inteiramente num clima de completa
estabilidade social" determina que os detidos suspeitos da prática de
crime contra a descolonização não beneficiarão dehabeas corpus. Na
prática podia prender-se quem se quisesse, porque na definição de
crime contra a descolonização cabia tudo, desde a expressão de ideias
numa esplanada até produzir menos vegetais numa fazenda. Podiam também
colocar-se os detidos em parte incerta pelo tempo que se quisesse e
entregá-los a quem se considerasse que exercia a autoridade militar,
estatuto que em 1974/1975, em Moçambique, era perigosamente difuso.
Aliás os portugueses de Moçambique, pelo menos aqueles que
desempenhavam cargos na administração pública, correram ainda o sério
risco de terem um estatuto próximo do de trabalhador forçado em país
estrangeiro pois o Alto-Comissário português naquele território tentou
impedir a transposição do decreto que previa o Quadro de Adidos,
figura legal que permitia aos funcionários públicos nas ainda colónias
pedirem a transferência para Portugal. Como explica num telegrama que
envia para Lisboa, Vítor Crespo teme que a promulgação do decreto dos
Adidos "implique saída mais ou menos imediata todos os funcionários",
o que segundo ele violaria os acordos de Lusaka.

Impedir os funcionários públicos de deixar Moçambique torna-se a
alternativa que chega a estar em cima da mesa: 4 de Novembro de 1974,
a Comissão Nacional da Descolonização discute, em Lisboa, a proposta
de se "estabelecer a obrigatoriedade de serviço pelo espaço de tempo
de dois anos" aos funcionários públicos de Moçambique. Valeu a estes
últimos uma intervenção de Almeida Santos explicando aos presentes que
era impossível obrigá-los a ficar.

Assim, quando a sua fuga se torna um facto incontornável e apesar de
tudo se passa a admitir que alguns têm razões para fugir, os
retornados passam a ser vistos como um problema político, como se
percebe por este texto incluído no Boletim Informativo das Forças
Armadas quando em Maio de 1975 aborda finalmente esta questão: "Não
menos graves serão para Portugal as consequências dum afluxo
significativo a partir de Angola: aumento da taxa de desemprego para
um valor crítico, com o consequente aumento da instabilidade social;
enfraquecimento dos laços culturais, políticos e económicos a
estabelecer com Angola, de imediato e primordial interesse para a
revolução portuguesa; redução das possibilidades de ligação ao
terceiro mundo; inserção na sociedade portuguesa de população
traumatizada e talvez couraçada contra a revolução, que identifica
como causa dos seus males; e, finalmente, o aproveitamento que a
reacção interna e internacional não deixará de fazer, na tentativa de
desacreditar a descolonização e, por ela, todo o processo
revolucionário português e o MFA."

Na mesma linha de precaução contra esta gente "couraçada contra a
revolução" que se recusa a ficar em África para fortalecer os laços
culturais com o terceiro mundo temos tomadas de posição contra a sua
integração por parte das estruturas sindicais: o Sindicato dos
Delegados do Procurador da República manifesta-se contra o decreto que
permitia "o ingresso indiscriminado dos magistrados judiciais e do
Ministério Público das colónias na magistratura portuguesa". O caso
dos professores é ainda mais grave: chega a ser convocada uma greve
para protestar contra a decisão do Ministério da Educação de integrar
os professores provenientes das colónias. Como o politicamente
correcto não existia na época, ficaram também registadas as decisões
de comissões de moradores e juntas de freguesia contra a inclusão dos
"regressados de Angola" nos bairros sociais.

Mas mais uma vez as palavras pouco podiam contra os factos: os
retornados existiam. E tal como apareceram muito antes de se admitir
que existiam também vão terminar muito depois: até 1977 eles vão
continuar a chegar. A todos os concelhos de Portugal chegaram
retornados. Muitos transportaram para Portugal o espírito de
auto-emprego que praticavam em África e abriram negócios nos mais
adormecidos locais deste país. À falta de reconhecimento oficial, os
cafés Nova Lisboa, as oficinas Cabinda, as mercearias Bilene, as
pensões Mussulo... são o testemunho das suas histórias e que por causa
da História não nos deu jeito ouvir. Ensaísta

terça-feira, março 09, 2010

# Mais de metade dos portugueses faz férias "cá dentro"

Mais de metade dos portugueses (58,8 por cento) planeia fazer férias
em Portugal este ano, um valor acima da média europeia (41 %), segundo
uma sondagem Eurobarómetro hoje, terça-feira, divulgada em Bruxelas.

A segunda preferência dos portugueses, para as férias em 2010, são os
Estados-membros da União Europeia (UE), para onde tencionam viajar
12,1 por cento dos inquiridos, abaixo dos 23 por cento na média
europeia (UE27).

A América Central e do Sul reúne as preferências de 4,4 por cento,
contra uma média comunitária de 1,9 por cento e o continente africano
de 1,8 por cento, contra 2,8 por cento de média da UE27.

Questionados sobre se têm recursos financeiros suficientes para fazer
as férias planeadas, 43 por cento dos portugueses responderam que sim,
na condição de fazerem mais poupanças (UE27 38,6%) e 39,1 disseram que
não terão qualquer dificuldade (UE27 45,7%).

Uma percentagem de 7,9 de portugueses (UE27 7,2%) não irá de férias
devido a dificuldades financeiras e 1,9 por cento (UE27 2,9%) terá que
se endividar para tal.

Questionados sobre que tipo de férias fazem este ano, 34,5 dos
portugueses diz que ainda não decidiu (UE27 28,2%) e 29 por cento
afirma que não viaja (UE 27 21,1%).

Um total de 17,4 por cento dos turistas portugueses dizem que já
optaram por férias com uma duração superior a quatro noites
consecutivas (UE27 19,3%) e 10,7 por cento partem de férias por mais
de 13 noites consecutivas (UE27 15,1%).

Segundo os resultados do Eurobarómetro, a maioria dos portugueses (51
por cento) escolhe destinos tradicionais para férias, enquanto 25,4
por cento optam por sítios emergentes e não tradicionais.

A média europeia é respectivamente de 57 e 28,4 por cento.

A recomendação feita por colegas ou amigos é a principal razão
apontada pelos portugueses para escolherem o destino de férias (29,8
por cento, contra uma média comunitária de 29,7%), seguindo-se o
conhecimento pessoal (19,3 por cento, contra uma média europeia de
18,2%) e a informação pesquisada na Internet (18,3 por cento, UE27
24,3%).

Em Portugal, as entrevistas por telefone foram realizadas entre 05 e
09 de Fevereiro pela Consulmark, a um universo de 1006 pessoas

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1514634

segunda-feira, março 08, 2010

# Retornados: a palavra possível nasceu há 35 anos (I)

Foi uma das maiores pontes aéreas mundiais para evacuação de refugiados. Mas eles não retornavam. Eles fugiam

"Estivadores africanos do porto de Lourenço Marques recusaram-se ontem a carregar barcos de carga destinados a Lisboa com bens pertencentes a colonos brancos que regressam a Portugal. Segundo anunciaram, respondem assim a um apelo lançado pela Frelimo no sentido dos residentes brancos permanecerem no território, ajudando ao seu desenvolvimento. Todavia, na capital moçambicana a tensão aumentou nos últimos dias, devido a uma série de deflagrações (...) que devem ser obra de extremistas das direitas."

Direitas. Extremistas. Colonos. Brancos - esta notícia do Telejornal da RTP do dia 21 de Junho de 1974 contém os tópicos básicos das notícias sobre aqueles que, um ano depois, passarão a ser designados como retornados. Mas em Junho de 1974 os retornados não só não existiam como eram precisamente aquilo que antecipada e firmemente se garantia aos portugueses que jamais sucederia. É certo que, em 1974, existiam em Portugal os refugiados de Goa e os refugiados do Zaire. Mas os primeiros surgiam como o resultado dos erros de Salazar e dos segundos não só mal se ouvira falar como também eram apresentados como a natural consequência do colonialismo.

Os portugueses de África confrontaram-se desde os primeiros momentos com um estereótipo que os reduzia à caricatura dos colonos brancos, extremistas de direita. Que para maior agravo fugiam por receios infundados e por não quererem dar o seu contributo aos novos países africanos: "filhos pródigos" de Moçambique - chama por este mesmo mês de Junho de 1974 o correspondente do Expresso naquele território àqueles que já então esgotavam os bilhetes da TAP para a viagem Lourenço Marques-Lisboa.

Mas este enquadramento ideológico, quer das vidas dos portugueses em África, quer de tudo o que lhes possa vir a suceder, leva a um fenómeno muito mais profundo que a caricatura: a indiferença pela omissão. Assim, esperar-se-ia que a situação vivida por estas pessoas em Lourenço Marques merecesse maior atenção por parte da comunicação social daquilo a que se chamava metrópole. Afinal, não era de modo algum habitual que cidadãos portugueses fossem impedidos de viajar sequer pelos seus governos, quanto mais por um movimento político armado, no caso a Frelimo, do qual o Alto Comando Militar de Moçambique (ACMM) continuava a dar conta de ataques - na terceira semana de Junho são imputados pelo ACMM à Frelimo ataques a três aldeias no distrito de Cabo Delgado que causaram uma morte e seis desaparecidos, para lá do assassínio de três chefes tribais no distrito de Vila Pery. Mas não foi isso que aconteceu. Mesmo a referência à carga que a Frelimo não quer deixar embarcar não gera qualquer curiosidade. O que pretendem embarcar estas pessoas: bens que querem colocar em segurança para o que der e vier ou a panóplia habitual de objectos nestas viagens sazonais de reencontro com os familiares e de apresentação dos filhos aos parentes que tinham nesse território a que chamavam Portugal europeu? Em Lisboa ninguém se interessou por esse assunto. Vão ser necessários muitos meses e muitos milhares de retornados para que a imprensa portuguesa lhes dedique espaço e para que o discurso do poder político-militar conceda que eles existem.

Seja na versão oficial ou no imaginário de cada um de nós, os retornados são um fenómeno de 1975. De facto, são de meados de 1975 as imagens dos caixotes junto ao Padrão dos Descobrimentos e das crianças sentadas no chão do aeroporto de Lisboa. É também em 1975 que começa oficialmente a ponte aérea que traria centenas de milhares de portugueses de África. E finalmente é em 1975 que, perante a evidência da catástrofe, se arranjou um termo politicamente inócuo, susceptível de nomear essa massa de gente que só sabia que não podia voltar para trás. Arranjar um nome para esse extraordinário movimento transcontinental de milhares e milhares de portugueses foi difícil, não porque as palavras faltassem, mas sim porque os factos sobravam.

Contudo, não só muitos deles não eram retornados, pela prosaica razão de que tinham nascido e vivido sempre em África, como surgem muitos meses antes de a palavra "retornado" ter conseguido chegar às primeiras páginas dos jornais portugueses. Desde Junho de 1974 que encontramos notícias sobre a fuga dos colonos, dos brancos, dos africanistas, dos europeus, dos ultramarinos, dos residentes e dos metropolitanos. Enfim, de pessoas brancas, pretas, mestiças, indianas... que residiam em Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde. Nenhum destes termos é verdadeiramente apropriado para descrever o que eles de facto eram, mas a desadequação dos sinónimos foi breve, pois dentro de poucos meses eles deixaram de ser definidos em função dessa África onde foram colonos, brancos, africanistas, europeus, ultramarinos, residentes ou metropolitanos para passarem a ser definidos em função da própria fuga. Então passarão a ser desalojados, regressados, repatriados, fugitivos, deslocados ou refugiados. Finalmente, em meados de 1975, tornar-se-ão retornados.

Oficialmente, os retornados nasceram há 35 anos, em Março de 1975, através do Decreto n.º 169/75 que criou o IARN. Ao contrário do que ficou para o futuro, as siglas não queriam dizer Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais, mas sim Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, pois quanto mais os factos davam conta da catástrofe, mais cuidado punha Lisboa na gestão das palavras. O texto introdutório do decreto explica a criação do IARN como uma medida de "prudente realismo" perante a possibilidade de advir do "processo de descolonização em curso (....) o eventual afluxo a Portugal de indivíduos ou famílias que hoje residem ou trabalham em alguns territórios ultramarinos". Mas não só a estes portugueses se refere este decreto. Aliás, os seus considerandos mais sérios e assertivos (nada que se assemelhe a um "eventual afluxo", mas sim a um retorno em "grande massa") são reservados não aos retornados de África, mas sim aos portugueses emigrados na Europa: "Considerando que, no caso de se verificar uma grave crise de emprego nos países principais destinatários da emigração portuguesa, é de admitir a hipótese do retorno de uma grande massa de emigrantes ao país". Ou seja, escassas semanas antes de começar uma das maiores pontes aéreas mundiais para evacuação de refugiados, numa fase em que por barco e carreiras aéreas regulares já tinham afluído a Portugal milhares de residentes nos territórios africanos e quando os próprios funcionários públicos portugueses e membros das forças segurança abandonavam em massa os seus lugares em África, o poder político-militar de Lisboa finalmente reconhecia não ainda a sua existência mas a possibilidade de virem a existir.

Aquilo que o Decreto n.º 169/75 refere como "eventual afluxo" foi o maior êxodo de portugueses registado num tão curto período. Não se sabe ao certo quantos foram os retornados, pois muitos "retornaram" directamente de África para Brasil, Canadá, Venezuela ou deixaram-se ficar pela África do Sul. E não fosse o povo ter chamado bairro dos retornados a alguns conjuntos de habitação social, geralmente prefabricada, para onde alguns deles foram residir, não se encontraria outra referência no espaço público à sua existência. Até hoje ninguém os homenageou. Deles o poder político e militar falou sempre o menos possível. A comunicação social, tão ávida de histórias, demorou anos a interessar-se por aquilo que eles tinham para contar. E os poucos que entre eles passaram a papel as memórias desse tempo só em casos excepcionais conseguiram romper o universo restrito das edições de autor.

Há 35 anos inventámos a palavra retornado. Mas eles não retornavam. Eles fugiam. Retornados foi a palavra possível para que outros - os militares, os políticos e Portugal - pudessem salvaguardar a sua face perante a História. Contudo, a eles o nome colou-se-lhes. Ficaram retornados para sempre. Como se estivessem sempre a voltar.
Ensaísta Público 20100304  Helena Matos