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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, agosto 31, 2015

# As mulheres nas religiões

por ANSELMO BORGES DN 22AGO2015

O Papa João Paulo I disse que Deus tanto é Pai como Mãe e, estando
para lá do sexo, também poderia ser representado como mulher. O
Vaticano não gostou. Mas é neste contexto do feminino e Deus que se
conta uma estória. Ao contrário do que se lê e diz, Deus criou
primeiro Eva e não Adão. Eva aborrecia-se, sentia-se só e pediu a Deus
alguém semelhante a ela, com quem pudesse conviver e partilhar. Deus
criou então Adão, mas com uma condição: para não ferir a sua
susceptibilidade, Eva nunca lhe diria que foi criada antes dele. "Isso
fica um segredo entre nós..., entre mulheres!"

As primeiras figurações da divindade foram femininas, por causa da
fertilidade e maternidade. Depois, explica o filósofo F. Lenoir, com a
sedentarização segundo um modelo maioritariamente patriarcal,
aconteceu com as religiões o mesmo que com as aldeias e as cidades:
"Os homens tomaram o seu controlo, relegando a mulher para um papel
secundário ou até para uma ausência de papel, a não ser no seio do lar
e sob a tutela do marido. As justificações teológicas vieram
posteriormente." E o que é facto é que a maior parte das religiões têm
"uma forte tendência para a misoginia". O taoísmo é significativamente
diferente, porque é essencial nos seus ensinamentos a fusão do yin e
do yang, do feminino e do masculino, como "penhor de acesso à
imortalidade".

A mulher foi considerada tentadora, devendo os homens acautelar-se.
Foram-lhe retirados os poderes rituais, por causa da impureza. Lê-se,
na Bíblia, no livro do Levítico: "Quando uma mulher tiver o fluxo de
sangue que corre do seu corpo, permanecerá durante sete dias na sua
impureza. Quem a tocar ficará impuro até à tarde. Todo o objecto sobre
o qual ela se deitar ficará impuro; tudo aquilo sobre que ela se
sentar ficará impuro. Quem tocar no seu leito, deverá lavar as vestes,
banhar-se-á em água, e ficará impuro até à tarde. Se um homem coabitar
com ela e a sua impureza o atingir, ficará impuro durante sete dias e
todo o leito em que se deitar ficará impuro". Segundo F. Lenoir, outra
das razões da misoginia é o prazer feminino, "essa grande intriga para
o homem": "O ciúme em relação ao gozo feminino (jouisance), porque ele
é infinito enquanto o do homem é finito. Há uma espécie de abismo do
gozo sexual da mulher que mete medo ao homem e o contraria."

Concretizando e seguindo F. Lenoir na obra Dieu. Afinal, o hinduísmo e
o budismo não são menos misóginos. Na tradição hindu, há um código
legislativo redigido entre o século II antes da nossa era e o século
II da nossa era, fundado sobre textos sagrados, tacitamente ainda hoje
aplicado, em que se lê sobre o estatuto das mulheres: "Uma jovem, uma
mulher jovem, uma mulher avançada em idade nunca devem fazer algo
segundo a sua própria vontade, mesmo na sua casa", pois a mulher está
dependente do pai, do marido, dos filhos, e é inferior a eles. Também
não tem direito à iniciação religiosa: "A sua iniciação é o
casamento." Em ordem à libertação do ciclo das reencarnações, deve
esperar até ao renascimento como homem. E há o drama das satis: as
esposas que se imolam vivas quando o marido morre.

Segundo uma tradição, Buda aceitou, a pedido da tia, fundar uma ordem
de monjas, mas com condições: o monge mais jovem manteria sempre a
proeminência sobre a monja mais velha, mesmo que centenária, e nenhuma
poderia admoestar um monge, embora o contrário estivesse autorizado.
"Ainda hoje é assim." Um antigo texto budista lembra que "a filha deve
obedecer ao pai; a esposa, ao marido; por morte deste, a mãe deve
obediência ao filho." E para o Despertar búdico deve renascer como
homem.

A oração da manhã dos judeus ortodoxos inclui: "Dou-te graças, meu
Deus, por não me teres feito mulher". As mulheres devem ocultar o
cabelo e o corpo e, nesta corrente, só os homens têm direito a estudar
Teologia. "Felizmente, não é o caso na maioria dos judeus."

Jesus tratou bem as mulheres: rodeado por elas, que também podiam ser
discípulas, foram-lhe fiéis até à morte, ao contrário dos discípulos
homens, que fugiram. Mas as Igrejas católica e ortodoxas
discriminam-nas, impedindo-as, por exemplo, de aceder aos ministérios
ordenados. Já não é o caso entre as Igrejas protestantes, mais
próximas do texto evangélico.

No Alcorão, há passos que declaram a igualdade. Por exemplo, sura 9,
71: "Os crentes e as crentes são amigos uns dos outros. Ordenam o bem
e proíbem o mal. Fazem a oração, dão a esmola, obedecem a Alá e ao seu
Enviado." Mas também há suras nas quais se permite desposar duas, três
ou quatro mulheres; a herança do filho será igual à de duas filhas;
pode bater-se nelas: "Os homens têm autoridade sobre as mulheres em
virtude da preferência que Deus deu a uns sobre outros. Admoestai as
que temeis que se rebelem, deixai-as sós no leito e batei-lhes."(4,
34).

Que caminho longo a percorrer até à dignidade na igualdade e à
igualdade na dignidade!

*Padre e professor de Filosofia

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quinta-feira, agosto 27, 2015

# Esperança média de vida mundial cresce 6 anos. Diferença entre paíse pode chegar a 30 anos.

HÁ 2 HORAS
http://observador.pt/2015/08/27/esperanca-media-vida-mundial-cresce-6-anos-doencas-nos-ultimos-anos/

A população mundial está em média a viver mais 6,2 anos do que em
1990. Mas aumentou também o tempo em que as pessoas convivem com
doenças e incapacidades.

A esperança média de vida global subiu em mais de seis anos nas
últimas décadas, apesar de também ter aumentado o tempo em que as
pessoas convivem com doenças e incapacidades, segundo um estudo
publicado esta quinta-feira pela revista The Lancet.

Em 2013, a expectativa de vida no mundo era de 71,5 anos para ambos os
sexos, mais 6,2 anos do que em 1990, contudo, a esperança de uma vida
saudável, sem sofrer problemas de saúde graves, cresceu no mesmo
período 5,4 anos (de 56,9 anos para 62,3 anos).

"O mundo fez grandes progressos no campo da saúde, mas agora o desafio
passa por encontrar caminhos mais efetivos para prevenir ou tratar as
principais causas de doenças ou incapacidades", assinalou Theo Vos,
professor do Instituto para a Avaliação e Medição da Saúde (IHME na
sigla inglesa), nos Estados Unidos (EUA), citado pela agência de
notícias espanhola (EFE).

O avanço no número de anos que as pessoas podem viver em termos
mundiais deve-se em grande medida à queda da mortalidade provocada por
doenças como a sida e a malária na última década, bem como graças aos
avanços no tratamento de desordens durante a gravidez, nos
recém-nascidos e nas disfunções nutricionais.

Apesar do aumento da esperança média de vida ser uma realidade na
maioria dos países do mundo, em nações como o Botsvana, no Belize e na
Síria, o número de anos que os seus cidadãos vivem em média sem
doenças graves permaneceu semelhante entre 1990 e 2013. E noutros
países, como a África do Sul, o Paraguai e a Bielorússia, a esperança
de vida saudável baixou nos 23 anos anteriores a 2013, ano a que se
reportam os últimos dados do estudo divulgado pela revista médica
publicada no Reino Unido. Já na Nicarágua e no Camboja, as pessoas
viviam em 2013 com boa saúde uma média de 14,7 e 13,9 anos mais do que
em 1990.

O Japão é o país do mundo que registou em 2013 uma maior expectativa
de vida saudável: os homens vivem em média 71,1 anos saudáveis (80,05
anos no total), ao passo que nas mulheres a média é de 75,56 anos (com
uma esperança média de vida de 86,39 anos). Depois do país nipónico,
nesta lista, surgem Singapura, Andorra, Islândia, Chipre, Israel,
França, Itália, Coreia do Sul e Canadá.

No extremo oposto surge o Lesoto, onde os cidadãos vivem em média
menos anos saudáveis: 40,06 anos os homens e 44,01 anos as mulheres.
Os países que completam o lote das nações com menor esperança de vida
saudável são a Suazilândia, a República Centroafricana, a
Guiné-Bissau, o Zimbabué, Moçambique, o Afeganistão, o Chade, o Sudão
do Sul e a Zâmbia.

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# Nível do mar subiu em média quase 8 centímetros desde 1992

Tem bons gráficos e animações para perceber o fenómeno.

http://observador.pt/2015/08/27/nivel-do-mar-subiu-em-media-quase-8-centimetros-desde-1992/

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terça-feira, agosto 25, 2015

# Países emergentes precisam de mais liberdade para agir economicamente

Stiglitz: como bancos tornaram-se ameaça global

http://dowbor.org/2015/08/stiglitz-como-bancos-tornaram-se-ameaca-global-agosto-2015-4p.html/

Por Joseph Stiglitz | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Carlo Giambarresi
ON 11/08/2015

A III Conferência Internacional de Financiamento para o
Desenvolvimento reuniu-se recentemente na capital da Etiópia, Adis
Abeba. A conferência aconteceu num momento em que os países em
desenvolvimento e mercados emergentes demonstraram capacidade para
absorver produtivamente enormes volumes de recursos. As tarefas que
esses países estão assumindo – investindo em infra-estrutura
(estradas, geração de energia, portos e muito mais), construindo
cidades onde um dia viverão bilhões de pessoas e movendo-se em direção
a uma economia verde – são verdadeiramente enormes.

Ao mesmo tempo, falta no mundo dinheiro que possa ser utilizado
produtivamente. Poucos anos atrás Ben Bernanke, então presidente do
Federal Reserve (Banco Central) dos EUA, falou sobre o excesso de
poupança global. Apesar disso, projetos de investimento com elevado
retorno social estavam parados por falta de fundos. Isso continua
sendo verdade hoje. O problema, à época e agora agora, é que os
mercados financeiros do mundo — cuja função deveria ser intermediar
eficientemente recursos de poupança e oportunidades de investimento —
fazem, ao invés disso, má alocação dos recursos e geram riscos.

Há outra ironia. A maioria dos projetos de investimento de que o mundo
emergente necessita é de longo prazo, assim como a maioria dos
recursos disponíveis – trilhões em contas de aposentadoria, fundos de
pensão e enormes fundos soberanos. Mas nossos mercados financeiros,
cada vez mais incapazes de enxergar o longo prazo, atravancam o
caminho entre as duas partes.

Muita coisa mudou nos últimos treze anos, desde que a I Conferência
Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento ocorreu em
Monterrey (México), em 2002. Na época, o G-7 dominava as políticas
econômicas globais; hoje, a China é a maior economia do mundo (segundo
o critério de poder real de compra das moedas), com poupança cerca de
50% superior à dos EUA. Em 2002, as instituições financeiras
ocidentais eram consideradas mágicas em gerenciamento de riscos e
alocação de capital; hoje, vemos que são mágicas em manipulação de
mercado e outras práticas enganosas.
Agora, os países em desenvolvimento e mercados emergentes dizem aos
EUA e aos outros ricos: se não vão cumprir suas promessas, ao menos
saiam do meio do caminho e deixem-nos criar uma arquitetura de
economia global que trabalhe também para os pobres. Não surpreende que
os países hegemônicos, liderados pelos EUA, estejam fazendo de tudo
para frustrar tais esforços. Quando a China propôs o Banco Asiático de
Investimento em Infra-estrutura, para ajudar a destinar parte de seu
excesso de poupança para onde os recursos são extremamente necessário,
os EUA tentaram torpedear o esforço. O governo do presidente Barack
Obama sofreu, então, uma derrota doída e altamente embaraçosa.Ficaram
para trás os apelos para que os países desenvolvidos honrassem seu
compromisso de destinar ao menos 0,7% do seu PIB para ajuda ao
desenvolvimento. Algumas poucas nações europeias – Dinamarca,
Luxemburgo, Noruega, Suécia e, surpreendentemente, o Reino Unido, em
meio a sua austeridade auto-infligida – cumpriram as promessas em
2014. Mas os Estados Unidos (que doaram 0,19% do PIB em 2014)
encontram-se muito, muitíssimo atrás.

Os EUA estão também bloqueando os caminhos do mundo em direção a uma
lei internacional sobre dívidas e finanças. Para que os mercados de
títulos funcionem bem, por exemplo, é necessário que se encontre uma
forma organizada de resolver casos de insolvência dos países. Hoje,
essa forma não existe. Ucrânia, Grécia e Argentina são exemplos do
fracasso dos acordos internacionais existentes. A grande maioria de
países reclama a criação de um caminho para a reestruturação das
chamadas "dívidas soberanas". Washington continua a ser o maior
obstáculo.

O investimento privado também é importante. Mas as novas disposições
de investimento embutidas nos acordos comerciais que o governo Obama
está negociando, com seus parceiros do Atlântico e Pacífico, sugerem
que qualquer investimento direto no exterior terá agora, como
contrapartida, uma acentuada limitação na capacidade dos governos de
regular o meio ambiente, a saúde, as condições de trabalho e até mesmo
a economia.

A posição dos EUA relativa à parte mais disputada da conferência de
Adis Abeba foi particularmente decepcionante. Como os países em
desenvolvimento e mercados emergentes abriram-se para as
multinacionais, torna-se cada vez mais importante que eles possam
tributar esses gigantes sobre lucros gerados pelos negócios ocorridos
dentro de suas fronteiras. Apple, Google e General Electric têm
revelado enorme capacidade de driblar tributos que excedam o que
empregaram na criação de produtos inovadores.

Todos os países – tanto desenvolvidos como em desenvolvimento – vêm
perdendo bilhões de dólares em receitas tributárias. No ano passado, o
Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos divulgou
informações sobre fraude e evasão fiscal em escala global, praticadas
graças às regras tributárias frouxas de Luxemburgo, um paraíso fiscal.
Talvez um país rico, como os EUA, possa arcar com o comportamento
descrito no chamado Luxemburgo Leaks, mas os países pobres não podem.

Integrei uma comissão internacional, a Comissão Independente para a
Reforma da Tributação de Corporações Internacionais, que examinou as
possibilidades de reforma do sistema tributário atual. Num relatório
apresentado à III Conferência Internacional de Financiamento para o
Desenvolvimento, fomos unânimes em afirmar que o sistema atual está
quebrado, e que pequenos ajustes não o consertarão. Propusemos uma
alternativa – semelhante ao modo como as corporações são taxadas
dentro dos EUA, com lucros alocados a cada estado com base na
atividade econômica ocorrida dentro de suas fronteiras. Os EUA e
outros países desenvolvidos têm pressionando para fazer apenas
pequenos ajustes, a serem recomendados pela OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos países mais
ricos. Em outras palavras, os países de onde vêm os fraudadores e
evasores fiscais, poderosos politicamente, deveriam conceber um
sistema capaz de reduzir a evasão fiscal. Nossa Comissão explica por
que as reformas da OCDE, ajustes num sistema fundamentalmente falho,
são, na melhor das hipóteses, simplesmente inadequadas.

Os países em desenvolvimento e mercados emergentes, liderados pela
Índia, argumentaram que o fórum apropriado para discutir tais temas
globais é um grupo já existente dentro das Nações Unidas, o Comitê de
Especialistas em Cooperação Internacional e Assuntos Tributários, cujo
status e orçamento precisavam ser elevados. Os EUA opuseram-se
fortemente: quiseram manter as coisas como no passado, com a
governança global feita pelos e para os países desenvolvidos.

Novas realidades geopolíticas demandam novas formas de governo global,
com mais voz para países emergentes e em desenvolvimento. Os EUA
prevaleceram em Adis Abeba, mas também mostraram que estão no lado
errado da história.

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quinta-feira, agosto 06, 2015

# Como tem evoluído o emprego em Portugal

Há menos desempregados e muito menos ativos. Emigraram 30 mil pessoas
por ano (nos últimos 4 anos). Há mais licenciados empregados e mais
emprego qualificado.
Perdeu-se imenso emprego na agricultura e construção civil.

Estes e outros factos em:
http://observador.pt/opiniao/o-que-ninguem-quer-ver-nos-numeros-do-emprego-e-desemprego/

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# O que aconteceria se a bomba de Hiroshima fosse lançada em Lisboa ou no Porto?

http://observador.pt/2015/08/05/hiroshima/

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segunda-feira, agosto 03, 2015

# A ditadura da infância mais que perfeita

http://observador.pt/opiniao/a-ditadura-da-infancia-mais-que-perfeita/

Helena Matos 2/8/2015, 0:34

Sei por experiência própria como a condição económica, o presentismo e
a rigidez laboral condicionam a vida de quem tem filhos. Mas a grande
condicionante na hora de ter filhos chama-se complicadismo.

É um dos meu terrores: discutir políticas de natalidade. Mal ouço a
expressão, sempre dita com um ar solene, por pivots e políticos, é
como se estivesse diante mim o Obélix a perguntar ao Astérix qual era
o papel das abelhas e das cegonhas no aparecimento dos bebés.

As políticas de natalidade são as novas cegonhas: oficialmente trazem
os bebés. Mas tal como jamais se viu um bebé no bico de uma cegonha (e
a minha geração bem que se esforçou por tal avistamento!), está por
encontrar o primeiro bebé nascido graças àquilo a que pomposamente se
chama políticas de natalidade. Ou então, se alguns bebés nasceram
graças a essas políticas, nomeadamente aquelas que passam por mais
abonos e subsídios, cabe perguntar que mal fizeram essas crianças e os
demais cidadãos para terem de conviver com pessoas que têm filhos se
lhes pagarem para tal.

Claro que há circunstâncias que ajudam quem tem filhos, como as
licenças e os horários flexíveis, mas infelizmente entre nós
desapareceu mais rapidamente o papel selado que a rigidez dos horários
de trabalho! Fundamental seria também acabarmos com a maldita cultura
do presentismo que leva umas almas sem mulher, homem, gato, cão,
periquito ou livro que lhes apeteça rever em casa, a reproduzir na
hora de sair do trabalho o síndroma "eu não hei-de ser o primeiro a
parar" dos congressos estalinistas: ali ninguém parava de bater
palmas, aqui ninguém se levanta para sair e empatam, empatam, tentando
desse modo provar que trabalham muito.

A única forma socialmente aceitável de quebrar o presentismo é
anunciar que se tem o gato ou o cão doentes. Ou a precisar de passear.
Aí todos se mostram solidários. Já se for por causa de um filho é
sempre um escolho, uma questão a ter em conta na hora de atribuir
àquela pessoa um cargo de responsabilidade. Afinal não foi ela
irresponsável q.b. para ter avançado para tal encargo apesar de todos
os avisos sobre o entrave para a carreira que os filhos representam?

(Se discutir as políticas de natalidade faz parte dos meus terrores o
termo carreira aplicado à profissão é um dos meus ódios de estimação.
O que é uma carreira? Percebo a carreira dos eléctricos, das
camionetas e dos autocarros. Mas o que será a carreira do condutor
desses transportes? E de ser caixa de supermercado? Ou jornalista? O
que será essa coisa chamada carreira em nome da qual é suposto que se
abdique de tudo? Regra geral, chamamos carreira a empregos pagos
assim-assim, desempenhados por pessoas mais ou menos irrelevantes que
se acreditam insubstituíveis. O resto são trabalhos, empregos ou
cargos, transitórios como tudo na vida, e para cujo desempenho ter
responsabilidades familiares, seja de filhos ou outras, é um valor
acrescentado de realidade.)

Mas voltemos às neocegonhas, ou seja, às políticas de natalidade. Sei
por experiência própria como as circunstâncias económicas, o
presentismo e a rigidez laboral condicionam a vida de quem tem filhos.
Sobretudo de quem não se ficou pelo casalinho e teve de ouvir os
sábios "Já pensaste?!…" Mas a grande condicionante deste século XXI na
hora de ter filhos chama-se complicadismo, conceito que traduzido de
forma simples quer dizer que a maternidade deixou de ser algo natural
na vida dos jovens adultos para se tornar na mais temerosa das tarefas
a que alguém pode meter ombros.

Face ao espalhafato criado em torno da maternidade e da paternidade o
que me admira não é que as pessoas tenham menos filhos. O que não
entendo mesmo é como ainda existe gente com coragem para meter ombros
a tal empreendimento.

Ter um filho tornou-se uma tarefa imensa. Um saber-ciência algures
entre a exactidão das matemáticas e a imprevisibilidade do mundo do
oculto em que cada sinal de febre, birra, más notas ou grama a mais é
um sinal inequívoco do falhanço dos pais em geral e das mães em
particular. Tudo o que as crianças fazem e não fazem, tudo o que não
lhes aconteceu e devia ter acontecido (ou vice-versa) é visto,
analisado e ponderado como o resultado daquilo que os pais disseram,
deram e fizeram. A gravidez tem de ser perfeita, o parto um momento
sublime, a amamentação um equivalente da demanda do Santo Graal que
nunca se sabe como deve terminar, a introdução dos alimentos uma
viagem ao mundo dos produtos sem isto e sem aquilo. Caso isto não se
cumpra no seu todo ou em parte lá vêm a perturbação, a disfunção e
outras coisas tenebrosas já conhecidas e por conhecer.

Angustia-me pensar o que vai ser destes pobres pais e dos seus filhos
no dia em que estes últimos tenham finalmente de sair da escola A onde
as crianças só comem legumes biológicos; ou da escola B onde aprendem
por um método natural (nas outras, as não naturais enfiam-lhes um
capacete e ligam-lhes eléctrodos à cabeça!) e do sítio C onde como
actividade extra-curricular se ensina filosofia a crianças que ainda
não têm a dentição de leite completa.

Esta ditadura da infância perfeita é das coisas mais assustadoras que
me foi dado ver e tudo indica que veio para ficar tanto mais que
proliferam os filhos únicos. (E só Deus sabe os trabalhos e
complicações que uma mulher em dedicação exclusiva a um ser humano é
capaz de inventar!) Para cúmulo os nados e criados nesse espaço-tempo
da infância perfeita tendem não só a manter-se como eternas crianças –
já viram aqueles matulões compêlos a despontar nas pernas e umas mães
ansiosas a puxarem-lhe a mala de rodinhas? – como a acreditar com
convicção que todos os outros devem condicionar as suas vidas e
atitudes para que eles não se traumatizem.

No Observador até vinha esta semana uma lista daquilo que os pais não
devem fazer para não envergonhar os filhos. Supõe uma pessoa que
seriam referidos actos como roubar, burlar ou não cuidar da família.
Nada disso. No limite creio que até matar não constrangeria muito os
inquiridos desde que os progenitores não disparassem sobre leões. (Já
agora, o leão Cecil era lindíssimo e não percebo o prazer de disparar
sobre leões. Mas ao contrário dos habitantes humanos do Zimbabwe, o
leão Cecil teve comparativamente uma vida longa que, acrescente-se, na
Natureza terminaria de uma forma não menos cruel.)

Mas voltemos aos pais que envergonham os filhos. Entre outras coisas
devem os pais evitar dançar na presença dos filhos ou simplesmente
cantar na cozinha. É que face a esses comportamentos os filhos que
claro cantam e dançam o que lhes apetece e quando lhes apetece, ficam
envergonhados. E logo traumatizados, e logo com problemas afectivos.
Só não percebi se os pais podem ousar essas manifestações longe do
olhar dos filhos ou se mesmo assim estes ficam consternados porque
outros os podem avistar em tais atitudes.

Enfim, tal como no pretérito tempo em que as cegonhas traziam os
bebés, um bocadinho de realidade faz muita falta. E já agora uma boa
dose de bom senso ajudaria à demografia muito mais que as políticas
ditas de natalidade.

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