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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

terça-feira, maio 29, 2007

# Mais 2,3 milhões a usar os transportes públicos

A linha urbana de Aveiro da CP é a que tem maior procura
http://jn.sapo.pt/2007/05/24/porto/mais_23_milhoes_a_usar_transportes_p.html

Carla Sofia Luz Alfredo cunha

O Grande Porto é a região do país em que se registou um maior crescimento da utilização de transportes públicos no ano passado, em relação a 2005. Os três operadores públicos da Área Metropolitana do Porto conquistaram mais 2,3 milhões de passageiros. O número de clientes da Empresa do Metro (prosseguiu a expansão da rede com abertura de novos troços e da linha entre o Dragão e o aeroporto - Linha E) e da CP continuou a subir. Só a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) perdeu utentes. A empresa defende, no relatório e contas de 2006, que a descida de clientes da ordem dos 9% é um reflexo da entrada em operação das linhas da primeira fase do metro.

No ano passado, as composições do metro transportaram quase 39 milhões de passageiros na rede com 58 quilómetros de extensão, o que corresponde a mais de metade dos utentes contabilizados em 2005 (18,4 milhões). Então, a rede tinha apenas 34,5 quilómetros. Desde a abertura da primeira linha que as validações não páram de aumentar. 2006 foi também um bom ano para as linhas urbanas do Porto da CP.

"Houve uma subida de um milhão de passageiros. É a região do país onde se sente um maior crescimento na procura do transporte ferroviário, em termos percentuais. É o acordar para um meio de transporte eficiente. Em média, cresce 8%, o que não tem paralelo a nível nacional", explica Cardoso dos Reis, presidente da CP, recordando que o Grande Porto não era uma região que, tradicionalmente, usava muito o comboio. A nova geração é uma fatia importante dos clientes das quatro linhas urbanas da CP. Daí que, como realçou, ontem de manhã, a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, a empresa tenha investido no aumento de 17% da oferta com mais 41 comboios nos dias úteis, representando 20500 lugares.

"A faixa etária com menos de 35 anos é uma fatia enorme na adesão ao caminho-de-ferro. A Linha de Aveiro é a que regista maior crescimento, em termos de volume", adianta Cardoso dos Reis (ler 'Nos Carris'), certo de os sistemas integrados de transporte gerarem maiores eficiências. "Nos locais onde promovemos a intermodalidade, nota-se um crescimento", sustenta.

Para Ana Paula Vitorino, a oferta da STCP não pode permanecer estanque e tem de adaptar-se às necessidade de mobilidade da população. O aumento de clientes dos transportes públicos no Grande Porto "é a prova do civismo da população" da região, "que dá lições a todo o país".

Linha de Aveiro Esta linha da CP tem sete milhões de clientes por ano.
Linha de Caíde Aproxima Caíde do Porto e tem 4,9 milhões de utentes anuais.
Linha de Braga Os comboios entre Braga e Porto recebem 5,1 milhões de passageiros por ano.
Linha de Guimarães Liga Guimarães ao Porto e tem 1,5 milhões de clientes anuais.

# Ideias para grandes cidades

RAUL JUSTE LORES da Folha de S.Paulo

O filósofo e matemático Antanas Mockus, 55, encontrou-se esta semana com o
governador José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), secretários
municipais e estaduais, além de líderes de ONGs. A agenda de reuniões do
ex-prefeito (por duas vezes) de Bogotá são prova de seu prestígio.
Mockus é considerado o pai da revolução urbana que transformou aquela
cidade em exemplo de como fazer muito com pouquíssimo dinheiro.
Mesmo com um orçamento que representa um terço de São Paulo, a ainda pobre
Bogotá, 8 milhões de habitantes, apresenta inovações em transporte público,
educação no trânsito, habitação e cultura. A taxa de homicídios, que era de
80  por 100 mil habitantes em 1993, baixou para 18 no ano passado.
Em entrevista à Folha, Mockus falou que os impostos devem ser
"redistributivos" e priorizar habitação e transporte público e sugere um
"pacto  de cidadania" com os motoboys.
FOLHA - O número de homicídios em São Paulo baixou quase tanto quanto
Bogotá, mas o número de assaltos, seqüestros relâmpagos e a sensação de
insegurança não melhoraram. Como mudar isso?
ANTANAS MOCKUS - Em  Fortaleza, vi um estudo que fizeram com os
presidiários, dizia que eles gostavam  mais de assaltar casas com muros
altos. O ladrão teme a transparência, que  permite que os vizinhos, a
patrulha ou um pedestre possam ver o que acontece se  houve uma invasão. A
vigilância eletrônica e a vigilância social funcionam mais  sem áreas
escondidas. Aquele que se fecha cria lugar propício para o crime.  
A segurança melhorou em Bogotá com mais espaço público, que é sagrado.
Discutimos muito para que as ciclovias passassem por dentro de condomínios
fechados. Quanto mais ciclista na rua, mais seguro. A noite das mulheres
[quando  a prefeitura pediu que só mulheres saíssem em uma sexta-feira e que
os homens  ficassem em casa] foi uma noite muito segura porque sempre
teremos espaços mais  seguros quando o povo ocupa a cidade à noite. E se são
mulheres e crianças, mais  ainda, muitos e frágeis são mais dissuasórios que
poucos fortões  Por razões de segurança, os mais ricos só querem morar em
apartamentos, não  em casa.
FOLHA - O senhor criou uma "vacinação contra a violência" nos bairros  mais
violentos. Como funcionou?
MOCKUS - O grau de violência familiar e de mau-trato infantil chegou  a um
ponto que não dava para empregar uma resposta convencional. Quisemos algo
extraordinário, diferente. Decidimos criar uma campanha de vacinação contra
a  violência. Empregamos centenas de psiquiatras da prefeitura e voluntários
que,  em um domingo, atenderam em juizados de família, centros de saúde e
escolas nas  áreas mais violentas. Um psiquiatra recebia cada pessoa em um
cubículo.  Perguntava qual era o momento em que você foi mais maltratado na
vida. Fazia que  o paciente enchesse uma bexiga e pintasse nela a cara de
quem o maltratou.  Depois o psiquiatra sugeria que a pessoa fizesse o que
quisesse. Tinha gente que  estourava a bexiga, gritava, chorava. Os casos
mais graves eram encaminhados à  rede municipal de saúde. Cerca de 15 mil
pessoas foram atendidas no primeiro  domingo, 30 mil no segundo.
FOLHA - Sua primeira campanha de marketing envolveu a educação no
trânsito. Por que começou por ali?
MOCKUS - Para valorizar o  espaço público, precisamos melhorar o encontro
dos desconhecidos. Então comecei  a tentar melhorar o convívio entre
pedestres e motoristas. Descobrir o porquê da  agressividade e o que piorava
a lentidão.
Começamos pelos mímicos, que atuavam nas principais avenidas, onde muitos
motoristas bloqueavam os cruzamentos ou paravam em cima da faixa de
segurança.  
Quatrocentos atores e mímicos interagiram por alguns meses com os
motoristas, implorando, chorando ou fazendo cara de bravo aos infratores.
Sem  falar uma palavra, nem agressividade. Virou uma brincadeira. Quando um
motorista  parava de forma errada, as pessoas até vaiavam. Se o motorista
insistia no erro,  o policial aparecia para multar ou advertir o infrator. O
policial também saiu  mais valorizado.
Distribuímos 350 mil cartões vermelhos e 350 mil cartões verdes para que os
motoristas interagissem uns com outros, em vez de se xingar, buzinar ou
agredir.  
*FOLHA - Em São Paulo, os motoboys formam outro elemento que gera confronto
no trânsito.
* MOCKUS - Os pedestres atravessam nos lugares indicados  graças aos
motoboys, senão seriam atropelados. Em Bogotá, os motoristas  fechariam os
motoboys!
Eles são muito grupais, entusiastas de sua perícia, arriscados. Eles andam
com mais velocidade que os carros e tempo hoje é ouro. No trânsito, eles são
reis. Vi que há solidariedade ali, quando um cai, vários param para ajudar.

Sei que há um culto à velocidade, muito risco, muitos acidentes. Por que
não se criam duas ou três regras que destacaria os motoboys mais admiráveis
e  sensatos? Porque não fazer uma homenagem ao motoboy que não quebra
espelhinhos,  que respeita os colegas, que é bom exemplo? Eu faria um pacto
de cidadania com  eles.
FOLHA - São Paulo gastou cerca de R$ 200 milhões no ano passado  recapeando
ruas, e o governo anterior construiu túneis dos Jardins na direção do
Morumbi. Ambas ações priorizam o uso do carro em vez do transporte público.
Bogotá fez o contrário?
MOCKUS - Nosso rodízio atinge 40% dos  carros por dia, quatro números não
podem circular durante seis horas por dia.  Quando eu era reitor da
Universidade, eu ia de bicicleta para a reitoria,  chamava atenção que a
minha escolta usava carro e eu na bici. Quando prefeito,  andei de bicicleta
várias vezes.
Aos domingos, fechamos as principais avenidas de Bogotá por várias horas e
elas se transformam em um grande parque. É um dia de mais exercício físico,
as  pessoas ficam de melhor humor, a poluição diminui.
Investimento prioritário é transporte público. Menos espaço e verbas para o
transporte privado de carro, prioridade para faixas exclusivas de ônibus,
melhorar as calçadas.
Todas as grandes cidades terão que seguir Cingapura e Londres no futuro, e
ter um pedágio eletrônico. Usar carro em certas horas é caro, não dá para
tirar  dinheiro público para fazer as obras caríssimas que demandam o
tráfego de  carros. Investir em transporte público com esse dinheiro é
redistribuir renda.  
FOLHA - O senhor aumentou impostos como prefeito. O paulistano reclama  que
já paga demais. Como fazer?
MOCKUS - Ganhei duas vezes  prometendo mais impostos, não menos.
Precisávamos enriquecer os cofres da  Prefeitura. Vendi 50% da empresa
municipal de energia, que precisava de  investimentos, e vendi 11% da
empresa de telefonia porque é bom que esses  pequenos acionistas fiscalizem
o desempenho do governo, se há politicagem ou  corrupção.
Na distribuição da cartela da nossa versão do IPTU, fizemos uma campanha de
pagamento voluntário. Quem pudesse, pagaria 10% a mais do total. No talão,
colocamos quinze projetos que a Prefeitura estava tocando e pedimos que quem
fosse pagar os 10%, fizesse um "x" ao lado do projeto preferido. Mais de
65.000  famílias contribuíram voluntariamente.
De US$ 200 milhões de IPTU em 1994 passamos a US$ 750 milhões em 2003. Hoje
já passa de US$ 1 bilhão de IPTU. Só conseguimos isso elevando a confiança
dos  cidadãos na prefeitura.
Intervenções nas áreas mais caras da cidade, classe média ou classe alta,
eram custeadas pelos moradores, não saíam do orçamento comum. O dinheiro
público  tem que ser redistributivo. Criei um imposto sobre a gasolina de
25%. Metade do  arrecadado vai para o sistema de ônibus, a outra para a
manutenção viária,  incluídas as calçadas
FOLHA - Para ter essa crença na cidade, é necessário recuperar a
auto-estima. Os paulistanos vivem falando que a cidade é um caso perdido. Há
receita para se recuperá-la?
MOCKUS - Pergunte a um grande  industrial se ele mudaria para uma cidade
pequena ou se ele continuaria em São  Paulo. O que faz São Paulo tão
atraente? A prefeitura deveria pesquisar quais  são as 10 principais razões
para se morar em São Paulo, perguntar ao munícipe o  que ele deve à cidade,
e conectar as respostas com ações que fortaleçam e  potencializem aspectos
criativos de amor com a cidade.
Os bogotanos tinham pouquíssima auto-estima no início dos anos 90. Quando
ninguém respeita as leis, qualquer desconhecido representa um perigo. As
relações anônimas melhoram quando há um nível de respeito.
FOLHA - Para suas campanhas educativas de trânsito, violência ou
cidadania, o senhor recorreu a mímicos, brincadeiras e até se vestiu de
super-homem. Não temia o ridículo?
MOCKUS - Não temi ser chamado  de ridículo ou populista com meus atos.
Decidi arriscar, um risco pedagógico. Há  problemas que se resolvem com
dinheiro, outros com a aplicação da lei, outros  com educação, a maneira
mais difícil. Continuo a me sentir um educador, só  entrei na política
porque sabia que iria ensinar e aprender.
Só dá para ser levado a sério se o político se autoaplica o remédio.
Cultura cidadã não é acessório, tem que ser o coração da política. Como
fazer  para arrecadar mais, como gastar melhor, como comunicar minhas
decisões, como  melhorar a qualidade do espaço público e melhorar a
convivência, cada ação tem  que ser precedida dessas perguntas.
Me cerquei de intelectuais, de acadêmicos da universidade para governar, o
melhor em cada cargo. E foi ótimo. Com cronogramas, prazos e objetivos. Se
os  partidos tradicionais, os políticos, nos colocassem barreiras,
obstáculos para  governar, todo mundo iria saber.
FOLHA - Então comunicar é tudo?
MOCKUS - Sempre preferi  que as questões municipais fossem visualizadas de
forma que ninguém pudesse  dizer "não entendi". As pessoas deveriam ser
sensibilizadas a partir de formas  que elas nunca viram antes. Velhos
discursos não comoveriam ninguém.
FOLHA - No Brasil, governos só investem em publicidade às vésperas de
campanhas eleitorais com fins eleitoreiros. Como o senhor fez tanto
marketing?
MOCKUS - Decidimos criar versões interessantes dos  problemas da cidade,
visuais, simbólicas, gerar uma narrativa que atraísse a  atenção da
imprensa. Chegou um momento que os jornalistas já nos rondavam,
perguntando-se qual seria a novidade da semana. Criei um nível de suspense
a fim de enriquecer as mensagens. Como acontece na arte, alguém abre uma
porta  que permite que vários outros comecem a usar uma nova linguagem.
Minha missão  era criar matéria-prima que fizesse nossas idéias mais
visuais, com apelo. E  explicá-las aos jornalistas, com quem sempre tive boa
relação.
Só se o cidadão entende as razões de um projeto, poderá apoiá-lo. Não deve
ficar um único cidadão sem entender a mensagem.
FOLHA - São Paulo está com seus limites ocupados por invasões e  conjuntos
habitacionais a dezenas de quilômetros das áreas centrais, enquanto  muitas
destas estão subaproveitadas. Como Bogotá regularizou sua  expansão?
MOCKUS - Para fazer conjuntos habitacionais, o governo  comprou terras e
estipulava um plano diretor. O mercado não faz bom urbanismo.  As
construtoras então competiam entre si, fazendo apartamentos de 45 m2,
subsidiados. Os lotes tinham urbanismo básico, água, luz, calçadas, antes
das  empreiteiras terminarem os edifícios, de cinco andares ou casas que
pudessem ser  ampliadas. O ideal é fazer como os parisienses: morar em
apartamentos  pequeninos, mas ter uma cidade maravilhosa onde conviver.
Espaço público é  sagrado.
Temos que fazer a reforma urbana a tempo, coisa que não soubemos fazer no
passado com a reforma agrária.
Bogotá ficou densa, parece bem mais densa que São Paulo, isso ajuda nas
distâncias, tudo ficou mais perto. Antes, quando um bairro ficava decadente,
era  abandonado e a cidade continuava a se expandir para o norte. Hoje isso
parou e  começamos a recuperar o centro expandido.

sexta-feira, maio 25, 2007

# A escola que e um manifesto contra o eduques, JMFernandes, Publico, 070523

A escola que é um manifesto contra o "eduquês"
23.05.2007 Publico

É privada, escolhe os professores, recebe todos os alunos do concelho, dos pobres aos ricos, ensina a tabuada, tem quadro de honra, não vai em modas. Fica em Arruda dos Vinhos e perceber como lá se ensina desfaz muitos mitos sobre como deve ser o sistema de ensino

Fica em Arruda dos Vinhos, concelho rural dos arredores de Lisboa. É a única escola desse concelho que tem terceiro ciclo do ensino básico e, por esse concelho ter sido o único onde a média a Matemática nos exames nacionais do 9º ano foi positiva, o PÚBLICO visitou a João Alberto Faria. A reportagem foi publicada segunda-feira, mas vale a pena voltar ao tema. Porque essa escola é um manifesto vivo contra o tipo de políticas que têm degradado a qualidade do ensino em Portugal.
Primeiro: naquela escola entende-se, e citamos, que "a massificação do ensino levou a um menor grau de exigência, mas a Matemática não se tornou mais fácil e mantém as dificuldades próprias da disciplina"- o que requer "esforço e trabalho".
Segundo: naquela escola não se embarca em modas, prefere-se cultivar a exigência. Por isso "o grupo de Matemática é pouco atreito a algumas inovações pedagógicas", por isso defende-se que "saber a tabuada é mais importante do que saber utilizar a calculadora", por isso interditaram mesmo a sua utilização no 2º ciclo.
Terceiro: como sem bons professores não há boas escolas, na Alberto Faria todos os professores são entrevistados antes de serem contratados, explicando-se-lhes qual a filosofia da escola e avaliando se os candidatos estão à altura do que se lhes vai pedir.
Quarto: não há nenhuma relação inelutável entre os bons resultados de uma escola e o nível sócio-económico da região onde se insere. Arruda dos Vinhos está longe de ser um dos concelhos com mais poder de compra e na João Alberto Faria não se seleccionam os alunos, recebem-se todos, mais ricos ou mais pobres. Mais: recebem-se também alunos de concelhos vizinhos, porque, como explicou um aluno do 10º ano que quer ir para Medicina, nela "o nível de exigência dos professores pode ser compensado pelos resultados nos exames, que normalmente tendem a ser melhores". Quem responde bem à exigência possui também o estímulo de figurar no Quadro de Honra da escola.
Quinto: uma direcção escolar focada em disciplinas como Matemática ou Português levou a que o tempo lectivo destinado ao Estudo Acompanhado fosse dedicado só a essas disciplinas. E quando acabam as aulas do 9.º ano os docentes estão disponíveis para dar aulas extra de preparação para os exames de Português e Matemática e ainda todas as que sentirem necessárias para o esclarecimento de dúvidas dos seus alunos.

Tudo o que atrás fica escrito permite que os bons resultados daquela escola se prolonguem no ensino secundário, tendo o ano passado ficado em 32º lugar nos rankings feitos a partir dos resultados a Matemática dos seus alunos no 12º ano. Uma boa posição, se nos lembrarmos que falamos de uma escola que não foi feita para alunos de elite.
Contudo, para o quadro ser completo, é necessário sublinhar outra: esta é uma escola privada. O seu nome completo é Externato João Alberto Faria. Mas os seus alunos não pagam para a frequentarem, pois, como é a única do concelho, tem um contrato de associação com o ministério. Estes contratos de associação são relativamente raros no país, havendo mesmo assim quem defenda que o Estado devia construir escolas públicas ao lado de estabelecimentos privados como este. Mesmo que tal saísse muito mais caro. E resultasse numa menor qualidade de ensino. Só que a Alberto Faria mostra como fazer o contrário pode resultar muito melhor.

Conclusões? Que se as escolas escolhessem os professores, se os alunos escolhessem as escolas, se o Estado se limitasse a dar orientações gerais, em vez de dirigir, e desse um cheque-ensino aos alunos menos abonados que quisessem ir para uma escola mais exigente, ou melhor, privada e paga, ganharia a qualidade de ensino e o ministro das Finanças agradeceria. Só os interesses instalados se revoltariam.
José Manuel Fernandes
_._,___

quarta-feira, maio 23, 2007

# Mundo ainda mais perigoso do que no auge da guerra fria

Relatório da Amnistia Internacional
Mundo ainda mais perigoso do que no auge da guerra fria
23.05.2007 - 09h17 Jorge Heitor


"Quando encaramos os outros como uma ameaça e estamos dispostos a negociar os seus direitos humanos em troca da nossa segurança, estamos a jogar um jogo sem vencedores", afirma a secretária-geral da Amnistia Internacional (AI), Irene Zubaida Khan, na mensagem que hoje acompanha a divulgação do relatório anual daquela organização não-governamental com sede em Londres.

"O mundo encontra-se tão polarizado como no auge da guerra fria, e em muitos aspectos mais perigoso. Os princípios universais que nos deviam unir estão a ser desbaratados em nome da segurança. A agenda é ditada pelo medo - instigado, encorajado e sustentado por líderes sem princípios", acrescenta aquela jurista de 50 anos natural do Bangladesh.

"As políticas do medo tornaram-se mais complexas com o aparecimento de grupos armados e grandes grupos empresariais que cometem ou permitem abusos dos direitos humanos. Governos fracos e instituições internacionais ineficazes são incapazes de os fazer responder pelos seus actos, deixando as pessoas vulneráveis", prossegue Irene Khan.

O primeiro-ministro australiano, John Howard, o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o do Sudão, Omar al-Bashir, são evocados entre os que recorrem ao medo (de imigrantes, do terrorismo ou de invasões estrangeiras) para reforçarem o seu poder. E considera-se que "os trabalhadores migrantes alimentam o motor da economia mundial".

O desafio da globalização

"A marginalização de uma enorme parte da humanidade não deve ser encarada como um custo inevitável da prosperidade global. Não existe nada de inevitável nas políticas e decisões que negam às pessoas os direitos económicos e sociais", afirma a secretária-geral. E logo recorda que, na África, na Ásia e na América Latina, milhões de pessoas estão a ser expulsas das suas terras "sem direito a um processo justo, pagamento de compensações ou direito a alojamento alternativo".

Os africanos, que "têm sido há muito vítimas da ganância dos governos e empresas ocidentais, enfrentam agora um novo desafio por parte da China", diz Irene Khan, segundo a qual "as normas de saúde, segurança e tratamento dos trabalhadores por parte das empresas chinesas estão aquém dos padrões internacionais".

Noutro ponto deste longo libelo acusatório sublinha-se que "a procura de terras, madeira e recursos minerais por parte das grandes empresas está a ameaçar a identidade cultural e a subsistência diária de muitas comunidades na América Latina", algumas das quais se encontram em risco de sobrevivência.

Na Rússia, "os crimes de ódio contra estrangeiros e minorias são comuns, mas até há pouco eram raramente julgados, porque se alimentavam da propaganda nacionalista das autoridades", entendem os autores do relatório que hoje de manhã será apresentado em Londres e do qual o PÚBLICO obteve antecipadamente uma cópia.

Um dos múltiplos aspectos deste diagnóstico do mundo contemporâneo é o das atitudes anticiganas na União Europeia, "com a segregação e a discriminação na educação, saúde e habitação, e a exclusão da vida pública a persistirem em alguns países". A população de etnia cigana é considerada a maior, mais pobre e jovem minoria da Europa, com um número calculado entre 9 e 12 milhões.

Declara-se ainda neste trabalho anual da mais importante organização não-governamental de direitos humanos agora apresentado na capital britânica que os incidentes de islamofobia e anti-semitismo são cada vez mais evidentes na comunidade internacional e que em muitas partes do mundo o sentimento antiocidental e antiamericano atingiu proporções inéditas.

Por outro lado, faz-se uma crítica à ONU, que demorou semanas a demonstrar no ano passado qualquer vontade de apelar a um cessar-fogo no conflito do Líbano, em que acabaram por morrer cerca de 1200 civis. E nota-se que a comunidade internacional também pouco fez para resolver as restrições à liberdade de movimento dos palestinianos nos territórios ocupados por Israel.

Quanto ao Darfur, problema particularmente visível desde o início de 2003, "é uma ferida que sangra na consciência do mundo. O Conselho de Segurança das Nações Unidas está minado por desconfiança e duplicidade por parte dos seus membros mais poderosos", conclui o trabalho desta entidade de carácter humanitário.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1294787

terça-feira, maio 22, 2007

# Universidade do Porto em 11º lugar em ranking ibero-americano

Segunda instituição portuguesa é a Universidade Técnica de Lisboa
Universidade do Porto em 11º lugar em ranking ibero-americano
22.05.2007 - 09h42 Lusa


A Universidade do Porto ocupa a 11ª posição no ranking Ibero-americano de instituições de investigação, que avalia a produção científica de cerca de 750 universidades e institutos de investigação de 10 países ibero-americanos, foi hoje revelado.

A classificação coloca a Universidade do Porto no 11º lugar na tabela relativa à produção científica realizada em 2005, o último ano de avaliação, numa lista que é liderada pelo CSIC Madrid, seguindo-se a Universidade de S. Paulo e a Universidade Nacional Autónoma do México.

Nesta lista, a Universidade Técnica de Lisboa surge na 19ª posição, a Universidade de Lisboa é a 26ª e a Universidade de Aveiro ocupa o 31º lugar.

Ainda relativamente a instituições portuguesas, a Universidade de Coimbra é a 33ª, a Universidade Nova de Lisboa ocupa o 39º lugar e a Universidade do Minho surge na 61ª posição.

Na produção científica por áreas, o melhor desempenho da Universidade do Porto foi obtido em Tecnologia Química (3º lugar), seguindo-se Engenharia Mecânica, Naval e Aeronáutica (4º lugar) e Ciências da Computação e Tecnologia Informática (7º lugar).

Relativamente à produção científica agregada entre 1990 e 2005, a Universidade do Porto também é a melhor instituição portuguesa deste ranking, mas desce para o 20º lugar entre as instituições de investigação do espaço ibero-americano.

Esta classificação também é liderada pelo CSIC Madrid, seguindo-se a Universidade de S. Paulo e a Universidade de Barcelona.

Nesta lista, a Universidade Técnica de Lisboa ocupa a 21ª posição, a Universidade de Lisboa é a 28ª e a Universidade de Coimbra surge no 34º lugar.

O Ranking Ibero-americano de Instituições de Investigação avalia a produção científica de cerca de 750 instituições em Portugal, Espanha, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, México, Peru e Venezuela.

sexta-feira, maio 11, 2007

# Contenção

Ao mesmo tempo que, segundo números da Comissão Europeia, o poder de compra dos trabalhadores portugueses registou, em 2006, a maior descida dos últimos 22 anos, a CMVM anunciou que, entre 2000 e 2005, os vencimentos dos administradores das empresas cotadas em bolsa duplicaram (e nas empresas do PSI 20 mais que triplicaram!).
Isto é, enquanto pagam aos seus trabalhadores dos mais baixos salários da Europa a 25 (e todos os dias reclamam, sob a batuta do governador do Banco de Portugal, por "contenção salarial" e "flexibilidade"), esses administradores duplicam, ou mais que triplicam, os próprios vencimentos, vampirizando os accionistas e metendo ao bolso qualquer coisa como 23,9% (!) dos lucros das empresas.
Recorde-se que o Estado é accionista maioritário ou de referência em muitas dessas empresas, como a GALP, a EDP, a AdP, a REN ou a PT, cujas administrações albergam "boys" e "girls" vindos directamente da política partidária (cada um atribuindo-se a si mesmo, em média, 3,5 milhões de euros por ano!).
Se isto não é um ultraje, talvez os governos que elegemos (e o actual é, presumivelmente, socialista) nos possam explicar o que é um ultraje. O mais certo, porém, é que se calem e continuem a pedir "sacrifícios" aos portugueses. A que portugueses?

# A razão

Oito da noite numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar em casa de uns amigos. A morada é nova, bem como o caminho que ela consultou no mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda. Ele tem certeza de que é à direita.
Discutem.Percebendo que além de atrasados, poderão ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe, então,que estava errado.
Embora com dificuldade, admite que insistiu no Caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados.Mas ele ainda quer saber:
Se tinhas tanta certeza de que eu estava a ir pelo caminho errado, devias ter insistido um pouco mais...         E ela diz: Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à  beira de uma discussão, se eu
insistisse mais, teríamos estragado a noite!

MORAL DA HISTÓRIA
Esta pequena história foi contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de tê-la ou não.Desde que ouvi esta história, tenho-me perguntado com mais frequência: "Quero  ser feliz ou ter razão?"

Ah... e outro pensamento parecido, diz o seguinte: "Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam. " Pensem nisso e sejam felizes.

[Sent by: João Vaz]

# Violinista famoso toca incógnito num estação de metro...

Clique para ver o filme
http://www.youtube.com/watch?v=hnOPu0_YWhw

Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos
violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, numa estação de metro
de Washington, de manhã, em hora de ponta, despertando pouca ou nenhuma
atenção. A provocatória iniciativa foi da responsabilidade do jornal
"Washington Post", que pretendeu lançar um debate sobre arte, beleza e
contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius
de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares.

Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston,
onde os melhores lugares custam 100 dólares, mas na estação de metro foi
ostensivamente ignorado pela maioria.

A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a
oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o
jornal, indicará que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente,
sufocada dentro de todos nós.


"Foi estranho ser ignorado"

Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da clássica, vestido de
jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na
sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos
grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e
"Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total.

Esse facto, aparentemente, não impressionou os utentes do metro.
"Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell,
habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um
telemóvel toca. Mas no metro as minhas expectativas diminuíram. Fiquei
agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou.

O sucedido motiva o debate foi este um caso de "pérolas a porcos"?
É a beleza um facto objectivo que se pode medir ou tão-só uma opinião? Mark
Leitahuse, director da Galeria Nacional de Arte, não se
surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos
uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a
notará".

Para outros, como o escritor John Lane, a experiência indica a
"perda da capacidade de se apreciar a beleza". O escritor disse ao "Washington
Post" que isto não significa que "as pessoas não tenham a capacidade de
compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante".

quinta-feira, maio 10, 2007

# Muito bons números, mas... e as pessoas?

Portugal liderou cortes nas despesas com pessoal em 2006
10.05.2007 - 09h22 Sérgio Aníbal PÚBLICO

Portugal foi o país da União Europeia que registou um maior corte nas despesas públicas com pessoal durante o ano passado.

Os dados oficiais sobre as finanças públicas dos 27 países da União Europeia, publicados no passado dia 2 de Maio pelo Eurostat, mostram que a redução de 2,3 por cento registada em Portugal nos custos com os funcionários públicos é, de forma destacada, a mais forte entre todos os países analisados.

Aliás, apenas mais dois países apresentam, além de Portugal, uma diminuição em termos nominais deste indicador: a Holanda, com um corte de 0,8 por cento, e a Alemanha, com uma redução que não chega a atingir os 0,1 por cento. Em média, na União Europeia, a variação dos custos com pessoal na Administração Pública foi, em 2006, de quatro por cento.

Estes números mostram o efeito que o esforço de redução do défice orçamental teve sobre as remunerações dos funcionários públicos.

São vários os factores que explicam o corte obtido neste tipo de despesa. O Governo destaca sobretudo a aplicação rigorosa da regra de entrada de apenas um novo funcionário por cada dois que saem. Neste aspecto, a saída de professores não pertencentes ao quadro que acompanha a tendência de redução do número de alunos acabou por ter um efeito decisivo. Com um efeito muito forte está o congelamento das progressões na carreira (aplicada como provisória há quase dois anos) e um aumento salarial inferior à taxa de inflação.

Em percentagem do PIB, o peso das despesas com pessoal diminuiu 1,2 pontos para 13,5 por cento, a descida mais forte na Europa. O peso desta componente ainda é, no entanto, superior à media da UE que está situada em 10,7 por cento.

Variação real da despesa

O gasto com os funcionários foi, a par do investimento, um dos indicadores que mais ajudaram o Governo a limitar o crescimento da despesa pública No final, de acordo com o Eurostat, o crescimento nominal de 1,5 por cento registado na despesa total da Administração Pública em 2006 foi o segundo mais baixo de toda a União Europeia. Apenas na Alemanha, com uma variação de 0,6 por cento, a contenção foi mais forte.

Em termos reais - ou seja, descontando o efeito da inflação - apenas Portugal e a Alemanha apresentaram uma diminuição da despesa pública e, aqui, o Governo português volta a ser o que mais poupou.

quinta-feira, maio 03, 2007

# Bilhete de TGV entre Lisboa e Madrid vai custar 100 euros

Bilhete de TGV entre Lisboa e Madrid vai custar 100 euros
03.05.2007 - 09h34 Carlos Cipriano PÚBLICO

Os bilhetes em comboio de alta velocidade (TGV) entre Lisboa e a capital do país vizinho deverão rondar os 100 euros.

Quem o diz é a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, em entrevista ao "Acção Socialista" (30/04/2007), acrescentando que é um "valor que se apresenta altamente competitivo, sobretudo face aos preços praticados pela aviação comercial".

José Manuel Viegas, especialista em transportes, diz que os 100 euros referidos pela governante foram precisamente o valor a que ele chegou num estudo que fez em 2001 para o Instituto Nacional do Transporte Ferroviário.

"Apuramos esse valor através de um "benchmark" de preços internacionais, mas nessa altura não havia as "low cost" como há hoje", disse ao PÚBLICO.

Resultado: se na altura já havia dúvidas quanto à rentabilidade da linha de alta velocidade Lisboa-Madrid, agora mais difícil será que as receitas venham a pagar os custos operacionais.

O investimento na infra-estrutura, esse, é para esquecer porque jamais será amortizado. "Com esse nível tarifário, outras linhas na Europa atingem a cobertura operacional, mas entre cidades inseridas em zonas metropolitanas mais populosas e com maior poder de compra", diz José Manuel Viegas.

Acresce que os portugueses têm também menos mobilidade que os restantes europeus, pelo que – repete – as dúvidas são muitas quanto à possibilidade de as receitas do TGV entre Lisboa e Madrid pagarem os custos de exploração. Mas não será apenas ao nível das várias linhas europeias que se farão sentir os problemas de competitividade.

Caso se olhe para os preços praticados actualmente pelas companhias de aviação (ver segundo texto nesta página), rapidamente se percebe que uma viagem de Lisboa para Madrid poderá não ser a melhor opção.

Subsidiação não resolve

E se Portugal e Espanha subsidiarem o operador? Aí, diz, pode bem acontecer que uma Voeling (companhia de baixo custo que voa entre Lisboa e Madrid) apresente uma queixa por concorrência desleal à Comissão Europeia.

"Numa fase inicial, durante um período de promoção, a Comissão Europeia até pode aceitar que os dois estados ajudem o serviço, mas depois não. E o risco é fazer-se um investimento para arrancar com um serviço que durará três anos e depois ter de parar", alertou.

Seja como for, os 100 euros são um preço médio, uma vez que todos os operadores ferroviários que têm comboios de alta velocidade praticam tarifas diferentes consoante as horas e os dias da semana em que se viaja.

Mas basta ver os preços praticados, por exemplo, pelo TGV entre a capital francesa e Marselha (750 quilómetros de distância feitos em três horas) para ver como estes são mais baratos: 76 euros é o preço "normal", 94 euros o da hora de ponta, 63 euros o preço de promoção e 44 euros o do último TGV do dia.

De Paris a Montpellier (570 quilómetros) o preço oscila entre 33 e os 76 euros e para Bordéus (540 quilómetros) o TGV pode custar entre 41 e 65 euros. Olhando para viagens entre países diferentes, as conclusões não diferem muito.

De Paris a Amesterdão (500 quilómetros de distância) em alta velocidade viaja-se por 112,40 euros, mas é possível encontrar, com restrições, tarifas a 34,50 euros. E na Alemanha o ICE (comboio de alta velocidade alemão) custa 104 euros entre Frankfurt e Berlim (420 quilómetros).

Em Espanha, o AVE (Alta Velocidad Española) custa de Madrid e Sevilha (470 quilómetros) entre 66 a 72 euros em classe turística, cerca de 100 euros em preferente e 131 euros na classe club.

Segundo o projecto apresentado pelo Governo português para a alta velocidade, a linha Lisboa-Madrid estará concluída em 2013 e será percorrida em 2 horas e 45 minutos. Estão previstas 14 circulações em cada sentido.

quarta-feira, maio 02, 2007

# Debaixo das oliveiras, Alegre

Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa debaixo
das oliveiras.

O mês em que a brisa me pôs nas mãos
uma harpa de folhas
e a terra me emprestou
sua flauta e sua lua.
Maré viva. Meu sangue atravessado
por um cometa visível a olho nú
tangido por satélites e aves de arribação
navegado por peixes desconhecidos.

Este foi o mês em que cantei
como quem morre e ressuscita
no terceiro dia
de cada sílaba
como quem nasce de si mesmo e se transforma
em água e folhas. Palavras
e folhas
de uma vida.

O mês em que subi a uma colina
dentro de minha casa
olhei a terra e o mar
depois cantei
como quem faz com duas pedras
o primeiro lume. Palavras
e pedras. Palavras e lume
de uma vida.

Este foi o mês em que fui a um lugar santo
dentro de minha casa.
O mês em que saí aos campos
e me banhei no rio como quem se baptiza
e cantei debaixo das oliveiras
as mãos cheias de terra. Palavras
e terra
de uma vida.

Este foi o mês em que cantei
como quem espalha ao vento suas cinzas
e cresce de seu próprio adubo
carregado de folhas. Palavras
e folhas
de uma vida.

O mês em que a mulher
tocou meus ombros com sua graça
e me deu a beber
a água pura do seu poço.
Este foi o mês em que o filho
derramou dentro de mim
o orvalho e o sol
de sua manhã.

O mês em que cantei
como quem de si se perde e reencontra
nas coisas novamente nomeadas.

Este foi o mês em que atravessei montanhas
e cheguei a um lugar onde as palavras
escorriam leite e mel.
Milagre Milagre gritaram dentro de mim
as aves todas da floresta.

Então reparei que era o lugar do poema
o lugar santo onde cantei
entre a mulher e o filho
como quem dá graças.

Este foi o mês em que cantei
dentro de minha casa
debaixo das oliveiras.

Manuel Alegre, "Coisa Amar ( Coisas do Mar ), 1976

[sent by: Mónica Claro]