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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quarta-feira, agosto 29, 2012

# Tony Samara. “Devemos viver a vida e não andar com medo do que vai ser”

Por Sara Sanz Pinto, publicado em 29 Ago 2012 - 14:36 |
http://www.ionline.pt/mundo/tony-samara-devemos-viver-vida-nao-andar-medo-vai-ser
Definindo-se
como um professor espiritual, Samara afirma que a
sociedade precisa de pensar menos na economia e no orçamento para o
próximo ano

Autor dos livros "A Sabedoria do Xamã", "Do coração", "Different Yet
the Same" e "Deeper Than Words", Tony Samara orienta espiritualmente
pessoas do mundo inteiro. Os principais países onde actua são na
Europa mas, através da internet, está a atrair uma audiência global,
fazendo conferências online. O i aproveitou uma das suas passagens por
Portugal para saber o que temos de mudar para sermos mais felizes.

O que há de errado com as pessoas hoje em dia?

O grande problema com as pessoas, hoje em dia, é não estarem em
contacto com o verdadeiro sistema de valores, que contém imensas
referências ao que é realmente importante. Na estrutura da nossa
sociedade, aquilo que as pessoas vêem como importante faz com que nos
esqueçamos do nosso valor interior. Em Portugal, talvez menos do que
em outros países, algumas das tradições têm sido preservadas e é
possível que o sistema de valores esteja um pouco mais presente. Mas
do que vejo em Lisboa, tal como nas grandes cidades, as pessoas estão
tão absorvidas com o exterior que se esquecem do interior, em termos
psicológicos e emocionais, no sentido de regressar a um centro onde há
paz e tranquilidade. Estas sensações influenciam a nossa forma de
fazer as coisas, as nossas acções na vida, e sinto que já não estamos
mais em contacto com isso. E assim surgem os problemas no mundo. As
pessoas jovens estão perdidas e já não sabem o que fazer, perderam a
noção de respeito e o contacto com as tradições, que podiam ser
repressoras, mas pelo menos permitiam que as pessoas soubessem onde
era o seu lugar. Hoje com a televisão, internet, redes sociais,
família, expectativas na educação, são criadas tantas exigências às
crianças que elas acabam por ser autodestrutivas ou por criar
sentimentos de revolta contra a sociedade. Penso que este é o grande
problema, termos perdido a noção do que é realmente importante, e isso
criou todos os problemas económicos, culturais e sociais com que
vivemos actualmente.

Nasceu em Inglaterra?

Sim, nasci em Inglaterra, mas saí de lá quando tinha dois anos. A
minha família era diplomata e acabei por crescer em vários países,
essencialmente no Médio Oriente, o que acabou por se tornar uma grande
influência na minha forma de entender as coisas. Onde cresci existiam
muitas culturas, todas elas muito diferentes – muçulmanos, cristãos,
gregos ortodoxos, judeus –, e isso ajudou-me a abrir os olhos. Todas
as tradições espirituais, místicas e religiosas faziam com que, na
altura – não hoje em dia –, as pessoas interagissem entre si e havia
uma sensação de entusiasmo. Não era o entusiasmo de quem vai de férias
para um sítio como o mar Vermelho, no Egipto, e fica no resort, igual
a tantos outros, mas era uma sensação de qualquer coisa realmente
interessante que me ajudou durante a infância a questionar o que é ou
não real ou porque é que as pessoas são diferentes.

E depois?

Voltei para Inglaterra, durante a minha adolescência e depois vivi em
vários países, como a Austrália ou a Nova Zelândia. Estudei biologia
marinha na universidade. Não sou cientista, mas sou muito científico
no sentido em que gosto muito de saber como é que as coisas funcionam.
Mas também sou um idealista e, basicamente, não acabei a minha
licenciatura porque fui convidado para ir para a floresta da Amazónia
fazer um projecto de conservação que mudou muito a minha vida.

Quanto tempo lá esteve?

Estive na América do Sul cinco anos. Andei entre a Amazónia, os Andes
e as Caraíbas, a trabalhar. Compreendi que nós, enquanto seres
humanos, mesmo se formos muito primitivos/nativos, temos uma qualidade
especial, e descobri que essa tal qualidade estava acima dos estudos
na universidade ou do tipo de inteligência a que estava habituado.
Estudei muito e li centenas e centenas de livros sobre filosofia,
psicologia e medicina. Mas ao ver os nativos viverem de forma sábia
mas sem terem, ao mesmo tempo, acesso a esse conhecimento,
fascinou-me. Por isso fiquei muito interessado em antropologia e no
estudo de culturas nativas e depois fui introduzido ao xamanismo.

E como foi essa experiência?

Desafiadora, porque foi tudo muito diferente do que alguma vez estava
à espera. É difícil explicar. Mesmo tendo crescido no Médio Oriente,
tudo era diferente, a forma como as pessoas caminhavam, falavam,
interagiam umas com as outras, o que era importante e o que não era,
era tudo muito radical. Não vivi apenas em algumas pequenas aldeias na
América do Sul, estive mesmo no meio da selva, nos Andes, muito longe
da civilização. E foi também um desafio porque me obrigou
verdadeiramente a olhar para a espiritualidade. Antes disso
interessava-me apenas por ela, mas não me questionava tanto acerca das
tradições espirituais em termos dogmáticos e se têm valor no sentido
em que, se és budista, não questionas – sentas-te e meditas e tentas
libertar-te das tuas ligações, não questionas nada e só praticas. E eu
comecei a questionar tudo, era um mundo completamente diferente, tudo,
até o meu sistema de crenças central. Porque me sinto triste quando
isto acontece ou porque me sinto feliz por causa daquilo? Uma busca
interna profunda, não devido aos nativos, mas porque estava num
processo em que tinha vinte e poucos anos e queria encontrar o
significado de tudo. Apesar de na altura andar a estudar e a praticar
meditação há algum tempo, essa experiência foi como um empurrão para
olhar ainda mais fundo. E diria que mudou a minha vida, sabe? Fez-me
chegar à conclusão de que não estou aqui apenas para estudar, mas
também para, de alguma forma, transmitir o conhecimento que adquiri ao
crescer no meio de diferentes culturas, ao estar entre povos nativos e
também ao criar a minha própria maneira de viver.

Regressou mais vezes à América do Sul? Manteve contacto com essas pessoas?

Regressei poucas vezes. Não vejo os nativos como melhores, piores ou
especiais. Vejo-os como quaisquer outras pessoas no mundo, mas
preservaram as tradições de que falava e que, de alguma forma,
desapareceram no Ocidente – a ligação com o mundo natural. Das vezes
que lá voltei, levei inclusive comigo algumas pessoas do Ocidente e
senti que isso era errado, tendo em conta os danos que provoca aos
nativos; eles não se adaptaram ao Ocidente da mesma forma que eu me
adaptei à sua cultura. Os elementos da civilização ocidental
provocavam muitos danos, não por minha causa, mas pelas coisas que
estavam à minha volta – os nativos queriam coisas materiais, dinheiro,
objectos que viam como exóticos… Por isso parei de lá ir porque quero
que eles evoluam num caminho diferente e não com pessoas a
tirarem-lhes fotografias.

E foi depois disto que decidiu ser professor espiritual?

Sim. Pensei: porque não explicar as coisas como eu aprendi durante
muitos anos, a crescer entre diversas culturas e também a viver com
nativos, não apenas na América do Sul, mas também no Pacífico – Havai
e Taiti. Aprendi a essência e a qualidade que precisam de chegar à
cultura ocidental, e para isso não é preciso levar as pessoas para o
passado, mas estar presente na realidade daqui. Por vezes é uma
inspiração ir a esses sítios para vermos as diferenças, mas não creio
que isso por si só tenha respondido às questões que, na altura, achava
serem importantes e que se prendem com como lidar com a realidade
aqui, em vez de ir à procura de outra. O que fazer com as situações em
que estamos envolvidos? As relações com os nossos amigos ou
companheiros? Com o trabalho, com a sociedade, connosco próprios? Está
tudo aqui, não precisamos de continuar a ir para um sítio qualquer,
como muitas pessoas ocidentais fazem. Foram para a Índia, para o
Tibete, agora é para o Peru e depois para outro lado qualquer. Por
isso comecei a trabalhar com as pessoas duma forma muito mística. Ando
por aí e dou as palestras e os workshops normais, mas depois existe um
grupo, com quem trabalho, que está realmente empenhado em transformar
todos esses aspectos que levam o seu tempo, entende? É um processo
interior de transformação profundo e que demora a ser posto em
prática.

Compreendo.

Portugal é Portugal e as pessoas não têm de aprender a ser
norueguesas. Têm de conhecer os valores daqui que são inerentes à sua
cultura. Não estou a dizer que misturar culturas é errado, mas penso
que apenas nos misturamos quando interiorizamos a importância daquilo
que temos. E levamos o que é importante das outras culturas mas, se
nos esquecemos da nossa, apenas vamos fingir que estamos a usar outras
coisas. Por exemplo, vejo as pessoas irem para a Índia e tornarem-se
indianos na forma de vestir, na forma de pensar, mas depois nunca lá
chegam porque não respeitaram o seu sistema de valores interno. E o
exterior não interessa, mas sim o interior. O interior é não só uma
qualquer parte mística de nós próprios, mas a nossa família, a nossa
cultura, a nossa história, quem somos e isso depende de muitos, muitos
factores. É importante descobrir e interiorizar isso tudo, para que
seja real. Não estou a dizer para as pessoas serem nacionalistas, mas
para se aperceberem de que antigamente, aqui em Portugal, existiam
pessoas místicas e há uma cultura de cura e outras, mas que caíram em
esquecimento. Mas assim que abrimos esse sistema de valores, tomamos
consciência de que essa cultura ainda está presente em nós. Estive no
Peru a ensinar isto às pessoas, por exemplo. O país foi dominado pela
cultura ocidental, pelos espanhóis e pelo seu sistema cultural, porque
de outra forma teriam sido mortos. Há 500 anos, se não acreditássemos
naquilo que o nosso superior nos dizia, éramos perseguidos e mortos ou
transformados em escravos, e por isso as pessoas tinham medo, e esse
medo ainda lá está actualmente, no Peru. Ainda agem como há 500 anos e
têm medo de recordar o que está no fundo do seu código genético. É
estranho aparecer um gringo para nos explicar o nosso sistema de
valores. Mas todas as pessoas podem lembrar-se, se tiverem as
ferramentas certas. Não leiam livros de história, ou não tentem ser
alguma coisa que acham que são, mas regressem àquilo que são de facto.
E isso é mais profundo do que encontrar um outro sistema, outra forma,
ou reinventarmo-nos a nós mesmos. É regressar ao conhecimento genético
que lá está.

Acredita que os sonhos dos nossos antepassados estão no nosso corpo,
na nossa carga genética?

Tenho a certeza. Os cientistas, hoje em dia, ainda sabem muito pouco
sobre a nossa genética. Há muita informação na estrutura do DNA e isso
está tudo armazenado, com num disco rígido. E se acedermos a essas
informações, o que é difícil porque exige que cheguemos a um tipo de
consciência, podemos descobrir muitas coisas sobre o mundo e sobre nós
mesmos. Tu és a genética da tua mãe, do teu pai e de muitas gerações
para trás. Há quem fale em sete gerações, mas penso que são mais, e
essa composição genética tem os mesmos impulsos, os mesmos desejos, os
mesmos medos, a mesma dor, a mesma alegria, o mesmo entusiasmo… A um
certo nível, quando consegues descobrir isto, e é disto que falo
quando me refiro às tradições de Portugal, podemos estudar as
qualidades que os nossos antepassados viam como muito importantes em
vez de irmos para outra cultura, com a justificação de que a nossa
cultura já não tem isso e, por conseguinte, temos de ir para o Tibete
ou para a Índia e descobrir lá esse passado. Todos temos qualidades e
não sabemos o que está escondido lá no fundo. Para mim, ao fim e ao
cabo, essas qualidades são as mesmas e essa é a ligação entre todas as
pessoas. Essa é a essência da religião, do misticismo e da filosofia:
há uma sabedoria no fundo de todos nós e, assim que começamos a
atravessar essas camadas, acedemos a essa sabedoria, apesar de a
vermos como única nos diferentes sítios e expressa de diversas formas,
através da música, da arte, da ciência. Actualmente, tudo se resume a
SMS, ao Facebook. É tão superficial... Não porque as pessoas assim o
querem, mas porque não sabem ser outra coisa qualquer, porque é assim
que são socializados em criança. São ensinadas como sobreviver em
sociedade e, inconscientemente, os pais transmitem-lhes sinais de como
fazer as coisas, como pensar, sentir, agir, não porque as queiram
reprimir mas porque é isso que sabem.

Foi difícil para a sua família?

Para a minha foi muito difícil, porque eles eram inteligentes, livres
e com dinheiro. Tinham tudo. Eram bem sucedidos aos olhos da sociedade
e não entendiam porque é que eu não os estava a seguir. Penso que foi
difícil para eles entenderem que eu não queria apenas aquelas coisas,
que são as condições de sobrevivência básicas, a comida, o conforto…
Os seres humanos querem mais do que isso e esse "mais" não é abordado
na nossa sociedade. Tive todas essas coisas e vi que não eram
suficientes. Fizeram-me feliz, foram importantes, mas não eram tudo, e
eu andava à procura do "mais" que eles não tiveram tempo para
encontrar. Se tivesse nascido noutro país e passasse fome, iria à
procura de comida e faria as coisas normais que as pessoas comuns
fazem para sobreviver mas, quando já se tem tudo isto, o tempo é
dedicado a outras coisas.

E tem filhos? Como lidam com a sua profissão?

Tenho quatro. É difícil colocar isto em palavras porque, na verdade,
as crianças são a parte central do meu trabalho. Acredito que, se
trabalharmos com crianças, podemos mudar muito mais o mundo do que se
trabalharmos com adultos. Para mim é importante criar limites
verdadeiros para as crianças sem que sejam negativos, sem lhes
incutirem o medo de que não vão ser bem-sucedidos ou servirem para os
socializar. Têm de vir do sistema verdadeiro de valores, a que chamo
amor. Tudo tem de ir dar ao amor, e a única forma de isso acontecer é
se os pais se trabalharem a eles mesmos. Geralmente, quando tens
filhos, fazes coisas de uma forma completamente diferente da que
pensas estar a fazer. Ter filhos é uma coisa e pensar em ter filhos é
outra: tens ideais. Mas assim que temos filhos tendemos a regredir –
não eu, mas vi muitas pessoas à minha volta regressarem a formas
antigas de fazer as coisas em vez de seguir ideais. Às vezes, as
pessoas não vivem os seus sonhos com as crianças. Ter filhos é um
processo intenso. É preciso dar-lhes a oportunidade de expressar a sua
inteligência criativa, em vez de os reprimir ou socializar, mas dentro
de um limite real onde se consiga conter e expressar esse conhecimento
de uma forma verdadeira. Não acredito que seja bom deixarmos as
crianças fazerem o que querem – isso é mais a forma hippie de fazer as
coisas, que está bem, mas se fizermos isso as crianças vão ficar
confusas e inseguras. Nas sociedades nativas existem limites claros
que permitem que essa criatividade vá para algum lado – não é preciso
dizer "tens de ser isto ou aquilo", mas dizer que elas têm de usar a
sua energia para encontrarem aquilo que querem fazer. Por isso, se a
criança é um artista, não podemos dizer "esquece, é melhor seres
médico".

Por exemplo, para mim que estudei na Escola Alemã, penso que os
alemães tratam as crianças de uma forma muito diferente, como
miniadultos, dão-lhes muita liberdade mas também as responsabilizam
muito mais do que em Portugal.

Exactamente. E é disso que estou a falar. Dos limites onde o respeito
pela pessoa, pelas suas capacidades e pelo seu centro é mais
importante do que a projecção do pequeno bebé inseguro, vestido com
roupas bonitas, sem se ver que é importante – e os alemães são muito
bons nisso – nutrir as qualidades da criança para que se mantenham por
toda a vida.

Melhor que os latinos.

Sim. Estive uns tempos em Itália e é um caos. O homem nunca abandona a
unidade familiar e a mãe é sempre muito importante para ele. Quando um
homem italiano se separa da namorada vai logo ter com a mãe, que
cozinha para ele, lhe engoma a roupa,… Isto aos 40 anos! Em
psicologia, isto é altamente disfuncional e é aqui que nasce o
problema, num sentido mais vasto, de termos crianças e não as
deixarmos ser elas próprias. Interferimos demasiado. Vejo isso a
brincar com crianças. As pessoas pegam no brinquedo e brincam, mas eu
defendo que é melhor agarrar no brinquedo e brincar com a criança por
um minuto e depois deixá-la descobrir sozinha como brincar com o
mesmo. Estar presente na brincadeira em vez de assumir o controlo do
jogo. Os erros dos pais cometidos durante os três primeiros anos ficam
dentro da criança para sempre. É durante os três primeiros anos de
vida que é formado o núcleo central da personalidade, a parte
inconsciente da personalidade, e para mim é uma pena não haver
conhecimento para lidar com isto de uma forma profissional, como um
livro de conhecimento da consciência. E as pessoas nativas sabem
melhor como cuidar das suas crianças, porque têm tempo e vêem o valor,
e assim as crianças crescem muito fortes, independentes e seguras para
criarem novas ideias, novas formas, novas filosofias. As crianças,
hoje em dia, podem tornar-se cientistas que vão para além da zona de
conforto. E isto é parte do meu trabalho espiritual, descobrir a força
interior – com a qual hoje em dia não vejo muitas pessoas –, a
sabedoria interior que poderá ser transmitida de uma forma prática, no
trabalho, nas relações com o namorado e com os amigos, na família…
Qual é o verdadeiro valor da relação com a família? É passarem o Natal
juntos, comprarem juntos os presentes e oferecer cartões uns aos
outros e fazer o processo racional normal? Ou é dizermos aos nossos
familiares que temos um amor verdadeiro e profundo por eles e
querermos mostrar-lhes isso para que seja sempre lembrado?

Falava há pouco de força interior e disse que não a via em muitas
pessoas. Acha que muita gente se casa porque é o próximo passo a dar,
não deixa o emprego que detesta porque tem medo e tem filhos por
receio de envelhecer sozinha?

Sim, e é uma pena que assim seja, porque a vida passa-lhes ao lado sem
que se apercebam da verdadeira alegria que é possível quando temos
filhos ou fazemos um trabalho que nos entusiasma muito. E não estou a
dizer a todas as pessoas para deixarem o seu trabalho e irem à procura
do que quer que seja no campo, mas para se ouvirem a elas próprias:
"qual é o meu sonho?", "o que é que quero?" – não os desejos em termos
de necessidades, mas o que querem realmente. E quando estamos
conscientes de alguma coisa, pensando ou escrevendo sobre ela, de
alguma forma já depositámos sobre a mesma emoções que a tornam, pelo
menos, mais acessível e mais visível. Se não sabemos uma coisa, não a
vemos. Está lá o nosso inconsciente, não reconhecemos o sinal que nos
diz "eu realmente gosto de negócios, mas tenho medo de deixar o meu
emprego porque, hoje em dia, o mundo dos negócios está muito mal". Mas
e se tivermos um talento que mais ninguém tem em gestão? E podemos
fazer algo único, tornar-nos muito bem-sucedidos. Como o Facebook, por
exemplo. Foi uma ideia dos tempos da universidade e hoje em dia é uma
coisa enorme. Mas a ideia por trás de tudo isto foi brutal. E muitas
pessoas têm esse potencial criativo; o mundo iria por um rumo muito
melhor se as pessoas olhassem para estes sonhos pessoais e criassem
uma sociedade em que esses sonhos fossem palpáveis, e não apenas
ideias que as pessoas têm mas nunca olham para elas, excepto quando já
são muito velhas para mudar. O problema é que as pessoas não vivem os
próprios sonhos por causa de muitas coisas, especialmente quando têm
filhos e responsabilidades. Dizem "eu não vou viver os meus sonhos
porque o meu filho precisa de uma boa educação", mas essa é a pior
coisa que se pode fazer, porque ao fazê-lo não estão a reprimir esse
sonho em concreto, mas o sonho interior de serem livres. E quando as
pessoas começam a reprimir os seus sonhos a um nível superficial,
depois começam a fazer o mesmo nos relacionamentos, com a família… E
isso também é prejudicial para a sociedade, porque esses sonhos não se
materializam. Por exemplo, as pessoas respeitam o Nelson Mandela
porque ele tinha um sonho e sempre acreditou nele, fossem quais fossem
as circunstâncias, e concretizou-o. E essas pessoas que realizam os
seus sonhos são uma inspiração e temo-las em elevada consideração, mas
não acreditamos que esse sonho seja possível para nós próprios. E
podemos fazer isto com pequenas coisas, não precisamos de ser o Nelson
Mandela, podemos ser um empresário que inventa uma coisa pequena, mas
que é útil para todas as pessoas. Mas muita gente não dá este passo. A
sociedade precisa de deixar de sentir o medo da economia e do
orçamento para o próximo ano e prestar mais atenção às crianças e aos
jovens, aos sonhos, à educação, e trabalhar para sustentar esse
potencial.

Que solução propõe?

O sistema de valores actual tem de ser alterado e orientado para as
pessoas, fortalecendo a sua independência e a sua criatividade. Não é
só uma estrutura social que sustém toda a gente, mas é mais a
estrutura social que cria os incentivos para as pessoas avançaram e
darem muito de si próprias para essa mesma estrutura. Actualmente
temos uma estrutura social democrática que sustenta a ideia de que, se
apoiarmos todas as pessoas, o que é uma ideia boa, de alguma forma as
pessoas vão trabalhar. Mas houve um abuso desse conceito, porque as
pessoas encontraram uma forma fácil de se safarem e não chegam a
conhecer o seu potencial. Querem ter apoio a todos os níveis, do ponto
de vista material, da sociedade, que os reconheçam de alguma forma. É
mais fácil para as pessoas aceitarem um trabalho que lhes paga três
vezes mais do que aceitarem o sonho profundo de uma forma válida para
fazerem o que querem. Olhe para o que as pessoas fazem a elas mesmas:
não vivem os seus sonhos, não cuidam do estado da sua saúde e da sua
cabeça e abdicam da vida. Só se vive uma vez. E devemos viver a vida,
e não andar com medo daquilo que vai ser. Pode ser difícil no início,
mas temos de fazer o que sentimos ser o mais acertado. E se formos
contra os nossos sentimentos, vamos contra tudo.

Mas então a maioria das pessoas têm esses sentimentos bloqueados, já nem sentem…

Exactamente. E essa é uma das coisas que também ensino. Como podemos
descobrir o nosso sistema de valores. Como sentirmos o nosso sistema
de valores. Ele está bloqueado desde a infância. Temos de tirar do
nosso sistema emocional todas as emoções erradas ou que foram
reprimidas e transformadas na nossa forma de ver as coisas. Muitos
destes sentimentos são negativos, por exemplo, a vitimização: "faço
estas coisas porque me sinto inseguro ou sem força para ver o que há
realmente dentro de mim", "estou num relacionamento com alguém porque
prefiro que essa pessoa me faça sentir coisas em vez de sentir o que
sinto" ou "estou feliz numa relação porque assim não estou sozinho".

quarta-feira, agosto 22, 2012

# Ricardo Araujo Pereira e a Questao de Deus

Este homem tem tanto nível!

Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=NhdWUbvk41o&feature=g-vrec

Parte 2
http://www.youtube.com/watch?v=vwgXsJ0zi28&feature=relmfu

terça-feira, agosto 21, 2012

# Qual é o meu desejo mais profundo?

O desejo mais profundo de uma pessoa é ser feliz. Não só por um
momento, mas feliz para sempre. Outra coisa não seria normal! Mas há
quem desista desse sonho por lhe parecer uma paixão inútil e
impossível, confundindo felicidade com bem-estar ou prazer. Ser feliz
é ser fecundo. É esse o significado da palavra. E uma árvore só é
fecunda quando é podada. Não se é feliz sem podar o egoísmo."

in " Não há soluções, Há caminhos"
P. Vasco Pinto Magalhães

sexta-feira, agosto 17, 2012

# Engenharia genética de bebés é uma "obrigação moral"

Faz pensar.... e muito!

Reputado académico de Oxford defende a alteração das leis,
argumentando que criar crianças eticamente melhores deveria ser
encarado como uma "obrigação moral" de pais responsáveis.
Alexandre Costa (www.expresso.pt)
http://expresso.sapo.pt/engenharia-genetica-de-bebes-e-uma-obrigacao-moral=f747290
23:21 Quinta feira, 16 de agosto de 2012

Utilizar a engenharia genética para evitar o nascimento de potenciais
psicopatas ou alcoólicos é a ideia defendida por Julian Savulescu, um
reputado professor da Universidade de Oxford, num artigo publicado na
última edição inglesa da "Reader's Digest".

A engenharia genética é proibida por lei, para evitar que se repitam
práticas discriminatórias, semelhantes às dos movimentos eugenistas,
desenvolvidas pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, que agora teriam
um potencial muito maior devido ao avanço da ciência.

O académico chama contudo a atenção que estamos no meio de uma
revolução genética e que cada vez se está a perceber melhor como
certos marcadores genéticos dos embriões sugerem futuras
característica de personalidade, argumentando que se deveriam utilizar
esse conhecimento para criar uma futura sociedade mais inteligente e
menos violenta.

Garantir as possibilidades para uma boa vida


Savulescu, austríaco romeno, é especialista da área da bio-ética,
professor de Prática Ética em Oxford e editor do "Journal of Medical
Ethics".

"Certamente que tentar garantir que as vossas crianças terão as
melhores, ou suficientemente boas, possibilidades para uma boa vida é
uma parentalidade responsável?", questiona no artigo citado pelo
"Telegraph".

Savulescu recorda que o controle genético de embriões já é permitido
para evitar determinadas doenças, nomeadamente o síndrome de down ou
mesmo em relação a genes potencialmente cancerígena, argumentando o
que já não está muito longe de criar da engenharia genética.

O académico defende que a prática deveria ser voluntária e não forçada
como ocorreu na Segunda Guerra Mundial.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/engenharia-genetica-de-bebes-e-uma-obrigacao-moral=f747290#ixzz23nlOipD3