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terça-feira, agosto 18, 2009

# Cientistas portugueses descobrem mecanismo de protecção natural contra formas graves da malária

Trabalho abre portas a uma nova estratégia de combate à doença
Cientistas portugueses descobrem mecanismo de protecção natural contra
formas graves da malária

Todos os anos, o parasita da malária infecta 200 a 500 milhões de
pessoas no mundo e mata um a dois milhões. Então, o que é que protege
naturalmente da morte a esmagadora maioria dos infectados? A equipa de
Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, acaba
precisamente de descobrir um mecanismo de protecção natural contra as
formas graves da malária e hoje publicou os resultados na revista
norte-americana "Proceedings of the National Academy of Sciences".

Esta protecção natural acabada de identificar não tem a ver com a
capacidade de o próprio sistema imunitário eliminar o parasita da
malária, o "Plasmodium". Nem tem a ver com a eliminação do parasita
com medicamentos antimaláricos, pois mesmo entre quem os recebe há
mortes — sem que se soubesse explicar, até agora, por que tal
acontecia. A resposta da equipa de Miguel Soares é que essa protecção
natural tem a ver com a capacidade de os próprios tecidos do organismo
se protegerem contra a resposta em curso do sistema imunitário contra
o agente patogénico.

Vamos por partes. Ao sermos picados por mosquitos anófeles, que se
alimentam de sangue humano, o parasita da malária pode ser
transmitido: entra na corrente sanguínea e dirige-se para o fígado,
infectando as suas células e multiplicando-se aí. Em seguida, estas
células rebentam e libertam o parasita de novo na corrente sanguínea,
que vai infectar os glóbulos vermelhos. Poucas células do fígado são
destruídas nesta fase, explica Miguel Soares, de 41 anos.

É quando os glóbulos vermelhos se rompem, depois de o parasita se ter
multiplicado ali, que surgem os sintomas da doença, como ataques de
febre, suores, arrepios e até a morte.

Num trabalho anterior, a equipa de Miguel Soares já tinha demonstrado
que o que estava na origem desses sintomas. Quando o parasita leva à
ruptura dos glóbulos vermelhos — que transportam o oxigénio dos
pulmões para os tecidos do corpo através da hemoglobina —, esta
proteína é lançada para a corrente sanguínea. Uma vez aí, a
hemoglobina liberta os seus quatro grupos de ferro (através dos quais
o oxigénio se liga a esta proteína) e são eles que causam os sintomas
graves da malária.

Normalmente, estes grupos de ferros são inofensivos. Mas com a
infecção do parasita da malária em curso, o caso pode mudar de figura.
E são as células do fígado que vão ser atingidas por aqueles grupos de
ferro. Ou nos casos mais graves de malária, as células do cérebro,
como também já havia mostrado esta equipa.

"No contexto da resposta que está a acontecer — há células do sistema
imunitário a fazer tudo para matar o Plasmodium —, se as células do
fígado recebem um grupo de ferro ao mesmo tempo, o resultado é que
morrem", explica Miguel Soares. "Há uma hepatite. O fígado pára de
trabalhar."

Mas isto é algo que acontece raramente. É aqui que entra em cena uma
enzima. Chama-se heme-oxigenase-1, é produzida nos tecidos do
organismo quando são expostos a um "stress" oxidativo e tem a
capacidade de degradar precisamente os grupos de ferro. Ou seja, tem
um efeito protector das formas mais severas da malária, que afecta
sobretudo crianças (onde se inclui a malária cerebral).

Nova estratégia de luta

Servindo-se de uma metáfora, Miguel Soares diz que o sistema
imunitário está a dar marteladas no parasita, mas pelo caminho nós
próprios também levamos marteladas e podemos morrer. Esta enzima
protege-nos, amortecendo essas marteladas.

"Normalmente, a maioria das pessoas com malária não morre, porque há
este mecanismo de protecção natural. Os tecidos estão protegidos e os
indivíduos podem usar a sua resposta imunitária natural para matar o
parasita sem comprometer o fígado, os rins, os pulmões..."

Como é que os cientistas chegaram a esta descoberta? Estudando
ratinhos — por exemplo, modificaram geneticamente alguns animais para
que a enzima protectora não fosse produzida e, dessa forma, puderam
ver os efeitos devastadores no fígado.

Portanto, a equipa de Miguel Soares revelou um mecanismo de protecção,
até agora desconhecido, durante a luta do organismo contra o parasita
da malária, que pode abrir a porta a uma estratégia de combate à
doença completamente diferente da utilizada até ao momento. Além de
continuar a matar-se o parasita com antimaláricos, poderá então
provocar-se o aumento da protecção do organismo através de
medicamentos que copiem o efeito da enzima. Em ratinhos, pelo menos, o
fármaco que a equipa testou, um anti-oxidante banal, teve um
"resultado dramático".


A prova dos nove

Para tirar as teimas de que há um mecanismo natural de defesa dos
tecidos do organismo durante a luta contra o parasita da malária, a
equipa de Miguel Soares testou um fármaco banal, em ratinhos. Se nessa
guerra entre parasita e hospedeiro, os tecidos se protegem com a
produção de uma enzima, talvez um fármaco que imite o efeito dessa
enzima também proteja os animais das formas graves da doença. Testaram
o anti-oxidante N-acetilcisteína, usado em bronquites, pneumonias ou
tuberculose. "Se isto for tudo verdade, este fármaco devia funcionar.
E funcionou, em ratinhos", diz Miguel Soares. T.F.

17.08.2009 - 20h01 Teresa Firmino
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1396525&idCanal=13