/* Commented Backslash Hack hides rule from IE5-Mac \*/

PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, novembro 27, 2017

# O RBI pode salvar o Estado Social

http://observador.pt/opiniao/o-rbi-pode-salvar-o-estado-social/

Gonçalo Marcelo e Roberto Merrill 5/11/2017, 7:57

O Rendimento Básico Incondicional seria eticamente justificado também
pela emancipação que promoveria, ao providenciar às pessoas uma
transição mais fácil entre entrada ou saída do mercado de trabalho

No passado dia 30 de setembro, e tendo como pano de fundo a entrevista
feita a Philippe van Parijs, o Diário de Notícias publicou, na pena de
Paulo Tavares, o artigo de opinião "O RBI pode matar o Estado Social"
[https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-da-direcao/interior/o-rbi-pode-matar-o-estado-social-8809180.html]
, o qual merece um conjunto de esclarecimentos adicional, para além
dos que podem ser encontrados na própria entrevista a Van Parijs.
Foquemo-nos no caso português.

Apesar da sua enorme simplicidade, a ideia do Rendimento Básico
Incondicional (RBI) comporta muitas possibilidades e por essa razão
não se pode fazer abstração do contexto da sua implementação quando se
discute a forma que deve assumir. E se é verdade que existem versões,
à direita do espectro político, que advogam a introdução de um RBI ao
qual poderíamos chamar "ultra liberal", também o é que essa versão
seria, com quase toda a certeza, impossível de implementar em
Portugal.

E isso por duas razões. Em primeiro lugar, por questões de
exequibilidade política. Não se pode ignorar o pacto tácito que existe
entre os Portugueses e o Estado Social enquanto tal. Conquistas como o
Serviço Nacional de Saúde e a massificação do acesso à escola pública
são bens inestimáveis do pós 25 de Abril e que, em grande medida, são
associados à vitalidade do regime democrático. Discutam-se ou não
questões como a da sustentabilidade da Segurança Social, a verdade é
que uma reformulação radical do Estado Social que implicasse a
retirada massiva do Estado dos domínios da saúde e da educação seria
simplesmente impossível em Portugal. E isto também, provavelmente, por
uma segunda razão. É que a provisão pública destes bens goza de
proteção constitucional. Apesar de o nosso Estado Social, à semelhança
dos seus congéneres do sul da Europa, ser relativamente recente e
relativamente pouco generoso, sobretudo se comparado com modelos como
o nórdico, a verdade é que a forte proteção legal dos direitos
existentes torna de facto impossíveis (e, acrescente-se, ainda bem)
muitas opções de políticas públicas que poderiam eventualmente
resultar na retirada desses direitos, como o governo anterior aprendeu
às suas próprias custas.

Se, portanto, um RBI "ultra liberal" seria, no nosso contexto,
impossível por motivos políticos e mesmo constitucionais, um ponto que
até alguém que aborda o tema de forma crítica, como Ricardo Sant'Ana
Moreira, admite, parece-nos que é mais produtivo que nos concentremos
nas formas que o RBI poderá efetivamente assumir, caso venha um dia a
ser implementado entre nós. Assim, podemos dizer que, em vez de o
matar, um RBI em Portugal poderia na prática salvar o Estado Social,
uma vez que teria sempre que ser entendido como o seu aprofundamento e
melhoramento tendo em conta a transformação estrutural da economia no
século XXI. Os argumentos são conhecidos mas, no contexto desta
discussão, não é demais repeti-los. A ser verdade que, como diversos
relatórios apontam, é provável que a chamada quarta revolução
industrial venha a resultar num aumento da produtividade e numa
diminuição da necessidade de mão de obra à escala global, o objetivo
do pleno emprego será cada vez mais difícil de atingir. Assim, ou se
encontram alternativas que permitam ter acesso a rendimento sem que
esse rendimento venha necessariamente de trabalho remunerado, ou
correr-se-á o risco de sobrecarregar cada vez mais os esquemas de
proteção social existentes e aumentar bastante quer a pobreza absoluta
quer a desigualdade.

Neste contexto, o RBI permitiria uma maior segurança económica de
todos e, claro, seria eticamente justificado também pela emancipação
que promoveria, ao providenciar às pessoas uma transição mais fácil
entre entrada ou saída do mercado de trabalho ou permitir que mais
pessoas trabalhassem por verdadeira vocação e recusassem os empregos
que consideram indignos. Para além disso, eliminaria grande parte da
burocracia associada à atribuição de prestações condicionais,
dependentes de condições de recursos ou com obrigatoriedade de
inserção no mercado de trabalho e que, na prática, muitas vezes são
estigmatizantes ou indesejáveis pelo elemento de coerção que
comportam.

Por conseguinte, como é fácil de ver, no RBI como no resto, o diabo
está nos detalhes; mas também aqui não seria pelo RBI que o diabo
viria. Os passos seguintes da discussão seriam, claro, perceber
exatamente qual o melhor modelo de financiamento, sendo certa a
manutenção do essencial do Estado Social existente e a segurança que,
mesmo sendo substituídas algumas das prestações do regime não
contributivo da Segurança Social que se tornariam redundantes, ninguém
ficaria, na prática, com acesso a um rendimento menor que aquele que
tinha antes da introdução do RBI. Não deixa de ser curioso ver neste
momento o próprio FMI, no mais recente relatório do Fiscal Monitor,
juntar-se ao debate sobre como atacar o problema da desigualdade,
advogando uma maior progressividade fiscal e estudando a viabilidade
do RBI nesse contexto. Pela nossa parte, não se está a sugerir uma
introdução imediata, e nem sequer seria prudente advogar a fixação de
uma soma elevada logo à partida. Porém, e tendo em conta as
transformações em curso a que aludimos, a discussão atempada dos modos
possíveis de implementação dum RBI não é, no contexto actual,
prematura.

Gonçalo Marcelo é Docente na Católica Porto Business School e membro
da direção da Associação pelo Rendimento Básico Incondicional –
Portugal
Roberto Merrill é Professor Auxiliar na Universidade do Minho e
Director-Adjunto do Centro de Ética, Política e Sociedade da mesma
universidade. É também Presidente da Associação pelo Rendimento Básico
Incondicional – Portugal

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

sexta-feira, novembro 24, 2017

# Hipotecar o futuro | Centeno diz que seria "incomportável" pagar em 2018 tudo aquilo que decidiu que vai dar em 2018!

http://observador.pt/2017/10/14/mario-centeno-admite-nao-participar-num-proximo-governo/

14/10/2017, 14:38 Miguel Santos Carrapatoso

Desafiado a comentar a sua participação num futuro Governo socialista,
Centeno falou numa "limitação" temporal ao exercício de cargos
públicos e políticos, que é "saudável para a democracia".

"O Orçamento faz-se de equilíbrios: não há vencedores, nem vencidos"

Poucas horas depois de entregar o Orçamento do Estado para 2018 na
Assembleia da República, o terceiro desta legislatura, Mário Centeno
admitiu que pode vir a não integrar um próximo Governo, assim os
socialistas vençam as eleições legislativas.

Em entrevista à Antena 1, desafiado a esclarecer se está ou não
disposto a participar num próximo Executivo enquanto titular da pasta
das Finanças, Centeno disse apenas que considera que há "uma
limitação" temporal no exercício de cargos públicos e políticos, algo
que entende ser "muito saudável para democracia". Nem mais uma
palavra.

Como pivô principal dos últimos três orçamentos, sob permanente
pressão dos membros do próprio Governo e dos parceiros parlamentares
mais à esquerda, Mário Centeno fez questão de deixar claro que ninguém
olha para o Orçamento do Estado como "um banquete onde todos se vão
servindo".

"Todos à volta das mesas em que temos negociados têm perfeita noção da
responsabilidade que os portugueses atribuem a este Governo. Não
encontrei nas discussões que tenho tido nenhuma posição compatível com
esta leitura. O Orçamento faz-se de equilíbrios: não há vencedores,
nem vencidos", assegurou o ministro das Finanças.

Ainda assim, há pelo menos uma batalha que Bloco de Esquerda e PCP
perderam para já: os dois partidos defendiam o agravamento da derrama
estadual do IRC sobre os lucros acima dos 35 milhões de euros no
próximo ano, mas a medida não consta na versão final do Orçamento.
Bloquistas e comunistas sentiram-se defraudados — o PCP chegou a dar a
proposta como "quase certa" — e já assumiram que vão insistir na
medida na discussão na especialidade do Orçamento.

Nesta entrevista, Mário Centeno fechou-se em copas, mas parece ter a
atirado a discussão para sede de concertação social. O titular da
pasta das Finanças ainda admitiu que uma medida desta natureza teria
"um impacto positivo na receita fiscal", mas assumiu que existiriam
"consequências posteriores". Quais? "Não vale a pena concretizar",
rematou o ministro.

Quanto às alterações para os trabalhadores independentes que resultam
deste Orçamento do Estado para 2018, Mário Centeno garantiu que os
chamados "não vão pagar mais IRS", argumentando que as alterações ao
escalões do IRS, o fim da sobretaxa, o alargamento do mínimo de
existência a estes trabalhadores, a garantia de não penhora de dois
terços por causa de dívidas e o novo regime simplificado de IRS vai
beneficiar estes trabalhadores. Se fosse trabalhador a recibos verdes
estaria tranquilo? "Sim", respondeu Centeno.

Sobre o facto de várias medidas inscritas no Orçamento do Estado terem
um impacto significativo em 2019, atirando para esse ano uma grande
parte da despesa, o ministro das Finanças reconheceu que foi a fórmula
escolhida para acomodar o esforço, que de outra forma seria
"incomportável".

Confrontado com a discussão em torno da política de cativações do
atual Governo socialista, Mário Centeno reiterou que as cativações são
"instrumentos absolutamente cruciais para o sucesso da execução
orçamental" e que, em nenhum momento, prejudicaram setores como a
Educação ou a Saúde. "Eu tenho a certeza que todos preferem rimar a
palavra cativação, a rimar a palavra orçamento retificativo, a rimar a
palavra derrapagem orçamental ou sanções", atirou o titular da pasta
das Finanças.

Numa nota final, Mário Centeno sublinhou que a trajetória descendente
da dívida, a consolidação do sistema financeiros, a correção dos
"erros do passado" e a redução do défice estrutural deram mais
resiliência à economia portuguesa. "Estamos melhor, não estamos a
salvo de tudo. Temos de continuar", sublinhou o ministro

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Lutero: somos mendigos

Anselmo Borges DN 24.11.2017

Teria sido possível encontrar um acordo quanto às 95 teses de Lutero,
mesmo quanto às que são mais claramente de crítica ao Papa: "Pregam
doutrina humana os que dizem que a alma voa do purgatório para o céu,
mal o dinheiro cai na caixa." "Porque é que o Papa não esvazia o
purgatório, baseado num motivo correcto: um amor santíssimo e a
extrema necessidade das almas, em vez de resgatar um número incontável
de almas, baseado num motivo bem insignificante: o funesto dinheiro
para a construção de uma igreja?" "Porque é que o Papa, que é hoje
mais rico do que o mais rico Crasso, não prefere pelo menos construir
a Basílica de São Pedro com o seu próprio dinheiro, em vez de fazê-lo
com o dos fiéis pobres?" Aliás, ele mandara as teses ao bispo de Mainz
e só porque não recebeu resposta é que as tornou públicas.
Infelizmente, o próprio papa Leão X, que aos 13 anos já era cardeal e
que estava mais preocupado com o poder e o fausto do que com o
Evangelho e que não percebeu que se estava numa mudança de época,
pensou que tudo se resolvia com a excomunhão do frade alemão. Não foi
assim, e o que é facto é que, como escreveu Viriato Soromenho Marques,
"em poucos anos, o que era um protesto aparentemente localizado e
sectorial contra um cristianismo ocidental romano, já com frestas mas
ainda unificado, transformou-se num poderoso e plural movimento que
iria cindir, violenta e definitivamente, não só o cristianismo como a
política, a sociedade e a cultura do Velho Continente".

2 As indulgências foram apenas a ocasião. O que acabou por romper a
unidade e pôr em marcha consequências que o próprio Lutero não
desejava foi a doutrina luterana dos "sós": sola fides - só a fé: a
salvação dá-se exclusivamente pela fé, sem o contributo das obras;
sola gratia - só a graça, sem méritos; sola Scriptura - só a Bíblia, a
única autoridade na e para a fé. Esta concepção punha fim às
mediações: dos sacramentos, só o baptismo e a eucaristia eram
reconhecidos; o próprio Erasmo de Roterdão, humanista e crítico mordaz
da Igreja, recordou a Lutero que, segundo a Bíblia, em ordem à
salvação, há a colaboração da liberdade humana; a razão não pode ser
excluída da fé; as Escrituras têm de ser lidas sem invalidar a
tradição...

Neste quadro, o protestantismo contribuiu de modo decisivo para a
secularização/secularismo. Sem mediações, entre um Deus radicalmente
transcendente, totalmente Outro, e uma humanidade radicalmente
pecadora, ficava um mundo totalmente profano, sem qualquer significado
divino, que já não é veículo da graça. Com o tempo, uma vez que Deus
está tão distante do ser humano, pode-se chegar ao seu esquecimento e,
no longo prazo, à sua negação. Assim, a Reforma também está na origem
das modernas concepções radicalmente imanentes. É a ironia da história
das ideias: uma vez lançadas, podem provocar consequências que de modo
nenhum estavam nas intenções dos seus autores e até lhes são
totalmente opostas.

Neste contexto, Lutero defendeu a doutrina dos dois Reinos,
distinguindo bem a esfera temporal e a esfera espiritual, o reino da
política e o reino da salvação, de tal modo que a liberdade cristã
fica separada da transformação social deste mundo. Assim, dizer que a
liberdade trazida por Cristo é incompatível com a servidão, como
afirmavam os camponeses rebeldes em Os Doze Artigos, "significa tornar
a liberdade cristã uma liberdade completamente carnal". "O Evangelho
não tolera nunca a rebelião." Subordinou a Igreja à autoridade do
Estado, de tal modo que o príncipe ou o senhor pode ser "o funcionário
da justiça de Deus e o servidor da sua ira." A liberdade e a igualdade
cristãs não são para este mundo. Assim, Lutero, que, num primeiro
momento, pedira aos príncipes "Por amor de Deus, cedei um pouco face
ao furor dos camponeses", pouco tempo depois, com base na "matança de
Weinsberg", pôs-se completamente do lado dos príncipes e "contra os
camponeses, ladrões e assassinos; nisto, molho a minha pena em sangue:
apelo aos príncipes que matem os ofensivos camponeses como cães
raivosos, que os apunhalem, os estrangulem e destruam como melhor
puderem... Não quero opor-me às autoridades que, podendo e querendo
fazê-lo, reprimam com todo o vigor e castiguem esses assassinos sem
oferta prévia de alcançar um acordo equitativo, mesmo quando essas
autoridades não forem tolerantes em relação ao Evangelho".

Thomas Münzer, que fora discípulo de Lutero mas se distanciara dele
por causa da opressão a que estavam sujeitos os camponeses, não se
contentava com a libertação interior e queria estabelecer o Reino de
Deus mediante uma ordem social justa. Na batalha de Frankenhausen, em
1525, foi feito prisioneiro, torturado e decapitado. Os conflitos
causaram a morte a mais de cem mil camponeses.

3 São incontáveis na história os efeitos positivos de Lutero como
testemunha de Cristo e do Evangelho: a leitura e a difusão da Bíblia,
a tomada de consciência pelos cristãos do sacerdócio universal e da
sua radical igualdade em Cristo, a reforma da(s) Igreja(s), a
afirmação da subjectividade e da liberdade, a educação, a promoção da
mulher, a força da música na liturgia, os seus catecismos... Mas há
ainda outra dimensão marcante nas suas contradições: depois de ter
defendido uma coabitação amigável com os judeus, fez um volte-face e
pediu, em 1543, a sua expulsão, o confisco dos seus bens, o incêndio
das sinagogas: "Primeiro, incendeie-se as suas sinagogas e cubra-se de
terra e sepulte-se o que recusar arder, a fim de que ninguém possa ver
o seu mínimo traço por toda a eternidade."

4 Lutero morreu na sua cidade natal, Eisleben, em 1546, invocando
Jesus Cristo. Numa nota escrita na véspera da morte estão estas
palavras: "Wir sind Bettler, das ist wahr" (somos mendigos, é
verdade).

https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/interior/lutero-somos-mendigos-8939851.html

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quinta-feira, novembro 23, 2017

# Há mais adolescentes deprimidos desde que apareceram os smartphones

http://observador.pt/2017/11/23/ha-mais-adolescentes-deprimidos-desde-que-apareceram-os-smartphones/

23/11/2017, 0:44

Um estudo revela que o número de adolescentes americanos com depressão
tem estado a aumentar desde 2012, quando o número de pessoas com
smartphones também começou a aumentar.

As gerações que nasceram depois de 1995 têm maior probabilidade de ter
sentimentos ou pensamentos depressivos ou suicidas do que as gerações
anteriores, revela um estudo publicado na Clinical Psychological
Science. O estudo baseia-se em dados recolhidos entre a população dos
norte-americanos, que indicam que o número de adolescentes com
depressão tem estado a aumentar desde 2012, quando o número de pessoas
com smartphone também começou a disparar.

Entre 2010 e 2015, diz um artigo da Business Insider da autoria de uma
das investigadoras do estudo, o número de adolescentes que sentiu
sentimentos de depressão como inutilidade ou ausência de felicidade
aumentou 33%. As tentativas de suicídio aumentaram 23% e o número de
suicídios de adolescentes entre os 13 e os 18 anos aumentou 31%.

Esta tendência verificou-se em adolescentes de todas as classes
sociais, etnias e regiões dos Estados Unidos e, segundo os
investigadores, está relacionado com o aumento da utilização de
smartphones: em 2012, mais de 50% das pessoas já tinha um; e em 2015,
a percentagem de adolescentes com smartphones era de 73%.

O tempo que os adolescentes passam online também está ligado a
sentimentos de depressão e suicídio. Adolescentes que passam 5 horas
ou mais ligados à internet têm maior propensão a ter pelo menos um
fator de risco suicida do que aqueles que estão online apenas uma hora
diariamente.

Os investigadores descartam a possibilidade de que possam ser os
sentimentos depressivos e suicidas a causar um aumento de tempo online
e não o oposto, baseando-se em três estudos. Dois deles, segundo a
Business Insider, descobriram que mais tempo online se traduz em mais
infelicidade, mas que mais infelicidade não se traduz em mais tempo
online. O terceiro estudo desafiou algumas pessoas a abandonar o
Facebook durante uma semana. As que o fizeram sentiam-se menos
deprimidas no final da semana do que aquelas que não o fizeram.

Se fosse a depressão a fazer com que adolescentes passassem mais tempo
online, dizem os investigadores, isso significaria que não haveria
nenhuma razão lógica para terem ficado deprimidos.

O estudo não diz que o tempo passado na internet afeta diretamente a
saúde mental dos adolescentes. Contudo, o facto de passarem mais tempo
online resulta numa menor socialização presencial com outras pessoas,
um fator que dizem ser fundamental na felicidade humana. Além disso,
mais tempo online também faz com que os adolescentes durmam menos — e
pouco sono é um fator de risco para depressão.

Ainda não há dados que comprovem que smartphones e internet são causa
direta de depressão, mas podem ter exponenciado sentimentos
depressivos e suicidas em adolescentes que, se não fossem esses
fatores, não os teriam tido. A solução passa por uma redução de tempo
online a cerca de duas horas por dia, algo que não teria grandes
consequências ao nível da saúde mental, segundo o estudo.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

terça-feira, novembro 21, 2017

# Solidão na era digital: nunca estivemos tão conectados e tão sós

http://observador.pt/especiais/solidao-na-era-digital-nunca-estivemos-tao-conectados-e-tao-sos/

05 Novembro 2017 Ana Cristina Marques

O que veio primeiro, a internet ou o isolamento social? Numa era em
que estamos cada vez mais conectáveis há quem, no final do dia, se
sinta sozinho e conte os "gostos" que vêm do ecrã.

A partir desta segunda-feira estão 60 mil pessoas em Lisboa para falar
de tecnologia mas, o mais provável, é que nunca tenhamos estado tão
sozinhos como agora. Às portas da Web Summit, a maior conferência de
empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa, questionamo-nos se
o futuro da solidão não será online.

Filipa Jardim da Silva e João Faria já receberam casos de "solidão
digital" nos respetivos consultórios, em Lisboa. Apesar de ambos os
psicólogos trabalharem muito com adolescentes, esta não é uma questão
com balizas etárias, antes uma espécie de "epidemia" dos tempos
modernos. A chegada e a expansão da internet trouxeram consigo a
promessa do contacto e do fim da solidão, mas o ritmo de vida e as
novas formas de falar uns com os outros vieram impactar o dia a dia.
Se um individuo se consegue sentir sozinho no coração de uma multidão,
o que garante que isso não aconteça à frente de um computador ou de
smarpthone na mão?

Um estudo recente mostrou que passar mais de duas horas por dia em
redes como Facebook, Twitter ou Snapchat duplica a probabilidade de
alguém se sentir isolado. "Não sabemos o que veio antes, se o uso de
redes sociais ou a sensação de isolamento social", chegou a dizer
Elizabeth Miller, professora de Pediatria da Universidade de
Pittsburgh, à BBC. Para a coautora do estudo, que envolveu 2 mil
adultos com idades compreendidas entre os 19 e os 32 anos, talvez seja
o uso cada vez mais intenso das redes sociais o responsável por um
crescente isolamento face ao mundo real.

A preocupação não é propriamente recente, mas está na ordem do dia. A
título de exemplo, a revista The Atlantic lembrou-se de perguntar, em
maio de 2012, se o Facebook nos estava a deixar solitários e, três
anos depois, o The Guardian tentou descobrir se era possível encontrar
intimidade em identidades online cada vez mais mutáveis e num ambiente
de permanente vigilância. Em Portugal, as mais recentes investigações
orientadas por Ivone Patrão, psicóloga na consulta de comportamentos e
dependências online da Clínica ISPA (Instituto Superior de Psicologia
Aplicada), mostram que 25% dos jovens portugueses, entre os 12 e os 30
anos, estão viciados em tecnologia e 14% são dependentes dos
smartphones.

"Desligava o telefone e chorava muito"

Em abril deste ano, a psicóloga Rosário Carmona e Costa alertava para
o facto de as redes sociais estarem não só a mudar o que fazemos, mas
também quem somos. Para fazer crescer o ponto de vista, Carmona e
Costa cita no seu livro, "iAgora? Liberte os seus Filhos da
Dependência dos Ecrãs", a apresentação "The Innovation of Loneliness"
de Shimi Cohen: "Usamos a tecnologia para nos definir, compartilhando
pensamentos e sentimentos à medida que eles acontecem, e chegamos a
criar experiências para termos o que partilhar, como se acreditássemos
que estar sempre ligados nos fará sentir menos sós".

Nem mais. Segundo diz Filipa Jardim da Silva ao Observador, a"solidão
na era digital é uma forma de solidão acompanhada". Em causa está uma
mesma premissa, isto é, a insatisfação pessoal com o tipo de suporte
que se tem a nível social, mas também as interações superficiais que
mantemos diariamente, ainda que estejamos rodeados de pessoas (física
ou virtualmente falando). Mas há mais. As identidades mutáveis fazem
parte da equação: nas redes sociais é fácil mostrarmos apenas o que
queremos, uma versão otimizada de quem somos, o que, em última
análise, impossibilita a criação de relações autênticas. "Uma relação
social só é verdadeira se acedermos à pessoa num todo", continua a
psicóloga, referindo que, atualmente, corremos o risco de viver a vida
em permanente modo personagem. "No fundo, sou aquilo que as pessoas à
minha volta querem que eu seja. No final do dia há uma sensação de
vazio. Há solidão."

Vânia Duarte que o diga. Ultrapassada a barreira dos 30 passou por uma
fase em que esteve dependente dos elogios virtuais e dos "gostos" que
ia recebendo na conta de Instagram, como se estes funcionassem como
uma espécie de aprovação social. Era importante mostrar a barriga
inexistente e os abdominais definidos, conseguidos à custa de uma
dieta rigorosa e restrita — peixe, batata doce, frango, bróculos e
omeletes de claras –, mas também de muitas horas dedicadas ao ginásio.
Para isso, chegava a tirar mais de 20 fotografias até encontrar aquela
que, depois de muitos filtros, corresponderia ao seu ideal de beleza.

A designer digital chegou a acreditar que assim combateria os
complexos corporais de que há muito era vítima. "Recebia muitos
elogios, muitos likes, mas nunca me sentia assim, como eles me viam.
Desligava o telefone e chorava muito. Não me identificava. Sentia-me
muito incompleta, apesar de as pessoas me elogiarem muito", conta ao
Observador. Vânia sentia-se sozinha e foi preciso ir parar à cama de
hospital com uma anemia severa para perceber que, neste caso, as redes
sociais eram suas inimigas ao possibilitarem comparações constantes e
irrealistas. "Estamos constantemente sujeitos a estímulos, a acharmos
que o outro é melhor, sobretudo na área de fitness. Há cada vez
pessoas mais infelizes."

Curiosamente, um inquérito realizado recentemente pela britânica Royal
Society for Public Health, feito a 1.500 adolescentes e jovens
adultos, mostrou que o Instagram é a "pior rede social considerando
saúde mental e bem-estar". Apesar de somar pontos por promover a
expressão individual e a identidade em si, a plataforma de fotografia
está a associada a elevados níveis de ansiedade, depressão, bullying e
até FOMO — sigla inglesa para "fear of missing out". Mas é importante
não diabolizar as redes sociais, que tantas barreiras da comunicação
já destronaram, até porque também há estudos que sugerem que o
Instagram é muito utilizado para partilhar histórias sobre depressão e
inseguranças pessoais.

Considerando o culto da imagem descrito, quase parece que vivemos uma
adolescência tardia, no sentido em que queremos constantemente agradar
o outro. Filipa Jardim da Silva concorda: "Quando o número de gostos
começa a ser sinónimo de aceitação é quando começamos a perder o chão.
É uma armadilha que não é assim tão óbvia quanto isso".

Ao relato de Vânia, que atualmente vai contando a sua história no
blogue Lolly Taste, junta-se o de Constança Portugal, hoje com 21
anos, que tentou como muitas pessoas, antes e depois dela, criar um
blogue de sucesso. A pressão para ter milhares de seguidores era tanta
— e tão cobiçada por marcas que assim mediam o sucesso de uma
determinada página — que a estudante de gestão começou a prestar
demasiada atenção ao Instagram. "Senti que tinha de criar uma imagem
de Instagram muito cuidada e cheguei ao ponto em que transmitia uma
falsa felicidade muito grande", conta. Certo dia, e para contrariar a
tendência, decidiu fotografar-se mal acordou: descabelada, com unhas
por arranjar e maquilhagem por aplicar. "Ao contrário do que poderia
pensar, tive uma receção muito positiva e recebi muitas mensagens." A
experiência de Constança, que garante existirem vários casos
semelhantes ao seu no mundo da blogosfera, trouxe-lhe um ensinamento:
"Sentimo-nos muito mais sozinhos quando transmitimos essa falsa
felicidade".

Comunicação, ansiedade e hostilidade online

Em 1995, Sherry Turkle, professora na área dos estudos sociais sobre
ciência e tecnologia no MIT, publicava um livro que a colocaria na
capa da revista Wire: "Life on Screen" era um retrato positivo do
impacto do digital nas nossas vidas. Mais de 15 anos depois, Turkle
mudou de opinião e a Wire virou-lhe as costas, quando em 2011 o livro
"Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each
Other" chegou ao mercado. Na obra a autora escreve que, hoje em dia, o
facto de sermos inseguros nas nossas relações e ansiosos perante o
conceito de intimidade faz com que procuremos na tecnologia formas de
estar em relações e, ao mesmo tempo, formas de nos proteger dessas
mesmas relações. O problema da intimidade digital, garante, é que ela
é incompleta: "Os laços que formamos através da Internet não são, no
final, os laços que nos unem".

"Estou a pensar no sistema do iPhone, naquela nuvem que aparece quando
alguém está a responder a uma mensagem", diz João Faria ao Observador.
"Só esse mecanismo, que permite ver se a outra pessoa está a escrever,
se demora ou não, desencadeia mecanismos negativos nas pessoas." A
imagem criada permite ao psicólogo especializado em perturbações da
ansiedade associadas à utilização da internet, que trabalha no Centro
para as Perturbações do Desenvolvimento (PIN), traçar uma comparação
com o passado, numa altura em que um telefonema simplesmente não era
atendido. O assunto ficava arrumado.

João Faria considera que os jovens vivem uma ansiedade muitas vezes
potenciada pelas novas formas de comunicar, eles que chegam a trocar
"milhares de mensagens por dia". É o caso de um paciente seu que, aos
15 anos, tem uma "fortíssima dificuldade" em se desligar das redes
sociais. Por ser particularmente insatisfeito com a sua versão
offline, procura no universo online uma espécie de consolo e
bem-estar. O maior receio, por mais ilógico que possa parecer, é
perder o quer que seja de todas as vezes que não está conectado —
voltamos ao FOMO. "Nestes casos, a ansiedade torna-se quase
patológica".

Um artigo publicado no The Guardian em abril de 2015 explorava a ideia
de que a solidão no futuro possa estar precisamente na forma como hoje
estabelecemos e mantemos relações. Uma pessoa sozinha sente
necessidade de ser "vista, aceite e desejada", ao mesmo tempo que se
torna extremamente cautelosa com a exposição pessoal. O mesmo artigo
citava uma investigação da Universidade de Chicago, que mostra que o
sentimento de solidão é capaz de desencadear a "hipervigilancia do
tecido social". Quer isto dizer que uma pessoa nestas circunstâncias
fica muito alerta à rejeição e suscetível de entender as interações
sociais de uma forma hostil.

"A ansiedade pode, de facto, ser gerada pela ideia da avaliação
permanente", reitera Filipa Jardim da Silva. A psicóloga clínica não
tem dúvidas de que a internet fomenta fenómenos de ampliação, ao mesmo
tempo que garante que as partilhas online são "o novo cadastro
vitalício". João Faria partilha da mesma opinião, quando diz que a
Internet aumenta exponencialmente as experiências negativas que um
indivíduo possa ter e que, por isso, é mais fácil encontrar círculos
de rejeição. Nem de propósito, a Linha Internet Segura, que funciona
de forma gratuita desde 2011, existe para entrar e sair do universo
online de forma segura (800 21 90 90).

A "hostilidade online" é uma realidade cada vez mais presente, tanto
que até existe uma campanha do Conselho da Europa nesse sentido. A "No
Hate Speech", cujo nome também funciona como um slogan, não deixa
grande margem para dúvidas: a ideia é combater o discurso de ódio na
internet. "Os comentários negativos são os que proliferam mais. Nós
somos particularmente atentos à crítica, ao rebaixar. É também uma
questão cultural", argumenta João Faria.

Ao ritmo (louco) da solidão

Algures na imprensa internacional encontramos a frase "a solidão
tornou-se na 'doença' mais comum do mundo moderno", uma ideia que o
psicólogo João Faria não só entende, como aceita — embora não
considere a solidão uma doença, antes um sintoma de condições tão
graves como a depressão. "As pessoas estão mais sozinhas do que nunca
e, ao mesmo tempo, têm muita facilidade em comunicar umas com as
outras", diz como se ainda lhe custasse a acreditar. Para ele, o
sentimento de solidão é exacerbado pelo mundo cada vez mais rápido em
que vivemos, no qual não há tempo para sentir saudades ou para nos
encontrarmos cara a cara. A isso alia-se o facto de estarmos a perder
a capacidade de esperar.

Ao telefone com o Observador, João Faria conta um exercício que fez
numa sala de aula com miúdos a chegar aos 5 anos de idade. O psicólogo
pediu aos alunos que levantassem a mão quando estivessem aborrecidos,
enquanto João ligava um antigo jogo de computador, da sua infância. "O
jogo demora 4 minutos a carregar. Os miúdos meteram a mão no ar ao fim
de um minuto. Estavam aborrecidos."

A vida cada vez mais imediata está a roubar-nos a capacidade de
gerirmos as nossas emoções, bem como a tolerância em lidar com o que
sentimos, e ao consultório de João Faria chegam cada vez mais pessoas
que se sentem sozinhas, embora não saibam reconhecer essa mesma
solidão. "O marcador de quem não sabe que está a sentir-se sozinho é,
por exemplo, o facto de procurar incessantemente conexão virtual."

"Garantidamente que a situação não se esgota nesta faixa etária. É
expetável que se alastre até aos idosos. De qualquer das maneiras, as
crianças de hoje serão os adultos e os idosos de amanhã. Não sou nada
otimista nisto, para ser sincero."
João Faria, psicólogo

Ivone Patrão, coordenadora de estudos sobre dependências tecnológicas
com o cunho do ISPA, tem um discurso semelhante. Considerando a
investigação que a permitiu perceber que 14% dos jovens, entre os 12 e
os 30 anos, estão dependentes do smartphone, a psicóloga garante que
as pessoas mais dependentes da internet sentem-se isoladas
socialmente, mas não emocionalmente. "Nestes casos, se lhes retirarmos
a internet, estas pessoas deixam de ter apoio emocional, ficam sem
nada", explica ao Observador, ao mesmo tempo que deixa ficar a
seguinte ideia: apesar de se sentirem acompanhadas, são pessoas que
não se apercebem que dependem de uma ferramenta para comunicar e que
há um interesse mútuo por detrás dos likes no Facebook e dos jogos
online.

Há quatro meses, Mark Zuckerberg escrevia na rede social que criou que
a comunidade do Facebook contava oficialmente com 2 mil milhões de
pessoas mensalmente. Em setembro de 2017, o site Techcrunch escrevia
que o Instagram alcançara os 800 milhões de utilizadores mensais e os
500 milhões de utilizadores diários. E quantas aplicações existem para
conhecer pessoas em contextos mais e menos românticos?

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Eduardo Sá. “Contentamo-nos nas relações, com medo que não venha mais ninguém”

http://observador.pt/especiais/eduardo-sa-contentamo-nos-nas-relacoes-com-medo-que-nao-venha-mais-ninguem/

19 Novembro 2017 Ana Cristina Marques

Divórcios a suaves prestações e solidões assistidas. Ao Observador, e
por causa do novo livro, Eduardo Sá diz que somos preguiçosos nas
relações e não sabemos amar. Morremos para a vida e não de amor.

Estamos a viver uma "solidão assistida" porque desaprendemos ou não
sabemos amar. Entregamo-nos à rotina dos dias e aos gestos
indiferentes. Divorciamo-nos em "suaves prestações". Devia haver uma
agenda de namoro, uma espécie de "namorário" que, tal como o
calendário da escola dos filhos, devia morar colado à porta do
frigorífico. Estas são apenas algumas das ideias de Eduardo Sá, o
psicólogo clínico que já quase dispensa apresentações.

Em entrevista ao Observador (depois de em 2014 ter-nos dito que "os
bons filhos são aqueles que nos trazem problemas"), o também
psicanalista e professor na Universidade de Coimbra e no ISPA fala
sobre como "fomos muito mal educados para as relações amorosas" e como
nos contentamos com medo de que não venha mais ninguém.

A propósito do novo livro — "Quem nunca morreu de amor" (Lua de Papel)
–, Eduardo Sá explica ainda que o amor dá trabalho e deve ser sempre
vivido como se fossemos adolescentes, mas também como hoje somos muito
mais sinceros nas lides do coração: "Acho isso importante, que as
pessoas se divorciem. Acredito sinceramente que as pessoas só se
divorciam porque querem amar."

Há verdades absolutas no amor?
Não, não. Acho que o amor é provavelmente a mais fantástica
demonstração das imperfeições humanas, isso é fascinante. Imaginá-lo
com verdades absolutas era tudo o que faria dele outra coisa que não
amor. O grande desafio do amor é que, independentemente de sermos
todos muito parecidos, todos ficamos a ferver por dentro de paixão e
gelados de medo. Todos fugimos do amor. Quando nos cruzamos com alguém
que acende muitas luzes — e que sentimos que, de alguma forma, pode
ser o nosso amor –, o nosso impulso não é correr atrás dela, mas sim
fugir, como se as pessoas com quem sonhamos só existissem no nosso
desejo e não fossem palpáveis, não tivessem um rosto e não fossem como
nós. De repente, há alguém que nos adivinha por dentro, há alguém que
somos capazes de intuir de uma forma tão fina que até parece que
criamos as coincidências e que adivinhamos o pensamento dessa pessoa.

O livro consegue ser o espelho de vários problemas nas relações. Mesmo
não havendo verdades absolutas há, de facto, situações que podem ser
comparáveis?
A minha vida faz-se a olhar para dentro dos outros e, por mais que as
pessoas sejam muito diferentes, quando olhamos para dentro delas e
decompomos os seus comportamentos percebemos que têm muitos "mínimos
denominadores" comuns. Por mais que não haja verdades absolutas, há
manifestações muito semelhantes perante experiências que são
razoavelmente vizinhas na forma como gerimos as relações amorosas e na
forma como podemos usar verdades mais ou menos feitas para gerirmos
momentos dolorosos numa relação amorosa. Não se trata de fazer disto
uma leitura uniforme, mas sim de perceber que, perante amores muito
diferentes, por dentro somos deliciosamente semelhantes.

Ao longo de cerca de 200 páginas fala muito sobre pessoas que não amam
ou que não sabem amar. Que tipo de pessoas são estas?
Acho que todos nós fomos muito mal educados para as relações amorosas.
Acho sinceramente que, da forma possível, que todos fomos
razoavelmente muito bem amados e, portanto, temos algumas fasquias que
servem para nos orientarmos em relação àquilo que esperamos de um
amor. Mas à medida que fomos crescendo, fomos criando a ideia de que
as relações entram num patamar muito semelhante às atividades
curriculares. Tenho a noção de que só aprendemos a descobrir as
pessoas que são importantes na nossa vida, que ocupam o lugar na fila
da frente do nosso coração, quando morremos de amor. Precisamos de
morrer algumas vezes de amor para percebermos o que queremos da pessoa
ao nosso lado e o que é que temos para lhe dar. Há pessoas que, ou
porque já estão muito fragilizadas por diversos motivos ou porque se
sentem sós, preferem estar mal acompanhadas. Talvez não sejam assim
tantas as pessoas que se sentem bem amadas. Às vezes, quando olhamos
para as relações de casal sentimos que já não são relações amorosas —
passaram a ser amizades coloridas e pouco mais.

Parece uma coisa dolorosa de se ler…
Quando chamo à atenção disto não é para estar de dedo esticado, longe
de mim. É no sentido de dar a entender que as relações amorosas
começam, na esmagadora maioria das vezes. Depois, há um corrupio de
coisas que fazem com que adormecemos em serviço. Quando não namoramos
todos os dias, de repente, há pequenas porções das pessoas que se
tornam sombrias e que passamos a não gostar, o que faz com que, a
determinada altura, o nosso amor esteja mais ou menos devoluto.
Precisamos desesperadamente de amar para que a nossa vida tenha
sentido. Por vezes, há uma discrepância tão grande entre aquilo que
esperamos e aquilo que as pessoas que estão ao nosso lado são capazes
de nos dar que, no fundo, tecnicamente, estamos acompanhados mas a
viver uma espécie de solidão assistida. Uma relação amorosa é só o
grande projeto de toda a vida. Há uma diferença entre morrer para a
vida e morrer de amor: só não morre para a vida, quem morre de amor.

Como é que podemos contrariar esse modo "piloto automático"?
Quando temos noção que temos de lutar por determinada pessoa somos
imensamente cuidadosos nas mensagens e nos pequenos gestos que demoram
poucos segundos. Quando uma relação se instala, poupamos nas
mensagens. Já não fica muito claro a última vez que duas pessoas
trocaram um abraço ou uma surpresa. Não fica claro as vezes que
disseram "amo-te" uma à outra com o coração, não só com a boca. E
quando entramos por esta espécie de rotina de gestos em que, de
repente, os dias parecem ser todos indiferentes, estamos a
divorciar-nos a suaves prestações.

Mas como é que podemos contrariar isso?
Namorando todos os dias.

Parece fácil…
Não é. Nós somos batoteiros. Temos uma agenda absolutamente
esclarecida para os nossos compromissos profissionais e um calendário
das atividades dos nossos filhos, de preferência num frigorífico
qualquer lá de casa. Mas, depois, não temos uma agenda de namoro, sem
a qual vamos ficando infelizes devagarinho. Não vejo porque é que as
atividades de fim de semana devem estar à frente do namoro dos pais.
Não consigo perceber porque é que num dia qualquer da semana,
sexta-feira por exemplo, os pais não deixam as crianças com os avós.
Precisamos de quebrar rotinas para nos sentirmos um pouco mais
próximos. Acho que devia haver um agenda de namoro, uma espécie de
"namorário". Acho que as pessoas começam a separar-se devagarinho
quando assumem que em primeiro lugar estão sempre os filhos. Os pais
são sempre excelentes pessoas, mas excelentes pessoas mal amadas são
sempre piores pais.

Namorar dá trabalho?
Dá trabalho e ocupa tempo. A ideia não é magoar as pessoas, só
chamá-las à atenção: as relações mais importantes são profundamente
frágeis, porque estão sempre debaixo de um sufrágio muito apertado da
nossa parte. Esperamos dessas pessoas o que não esperamos de mais
ninguém. Se facilitamos nestas relações, que são absolutamente
indispensáveis, abrimos feridas muito difíceis de cicatrizar. Acho que
somos muito demissionários das pessoas que nos são mais importantes.

É por isso que escreve que somos preguiçosos em relação ao amor?
Acho uma delícia que haja sempre alguém ao pé de nós que, quando cai
uma estrela cadente, diz "agora pede um desejo, mas não o reveles".
Parece que os desejos têm uma logística fantástica, no sentido em que
não precisamos de trabalhar para que se concretizem. Temos uma posição
um pouco infantil em relação ao amor. À medida que vamos tendo uma
atividade profissional e uma vida familiar há rotinas que se tornam
irrespiráveis e é preciso dar um safanão. É preciso perguntarmo-nos
como é que devemos furar este cerco para conhecer pessoas novas.
Encontrar um amor ao virar da esquina nunca é coincidência, precisamos
de trabalhar para isso. Às vezes, contentamo-nos com uma primeira
relação a sério, não porque estejamos completamente contentes com ela,
mas porque temos um pouco de medo de que… não venha mais ninguém.

Curiosamente, diz que ninguém ama sem comparar. Porquê?
Sim. Acho que no nosso coração vivem todas as pessoas que, de alguma
forma, já tiveram uma importância no nosso amor — desde aquela pessoa
que era importante para nós aos 4 anos, às que entraram e saíram de
uma forma muito repentina na nossa vida. Isto não é trágico.

Hoje em dia parece mais difícil duas pessoas viverem juntas para o
resto da vida, ao contrário do que acontecia em gerações anteriores…
Acho isso importante, que as pessoas se divorciem. Acredito
sinceramente que as pessoas só se divorciam porque querem amar.
Atualmente, os compromissos profissionais são repartidos e a autonomia
de um e de outro tem uma consistência que não tinha há uns anos. Nós,
hoje, somos muito mais verdadeiros no amor.

Mas as relações não são, hoje em dia, mais erráticas e caóticas?
Não são obrigatoriamente mais erráticas e mais caóticas. Uma coisa é
sermos tão preciosistas que nunca estamos satisfeitos com ninguém,
outra é termos uma convicção e uma aprendizagem que se torna em
sabedoria — muitas vezes por ensaio e erro, claro –, ao tentarmos de
todas as formas aproximarmo-nos de alguém que represente no essencial
aquilo que achamos importante. Durante muitas gerações era
razoavelmente comum as pessoas estarem casadas por fora e divorciadas
por dentro. Dava-se a ideia de que estarem casadas por fora e
divorciadas por dentro era, de alguma forma, mais protetor para os
filhos, como se os filhos fossem profundamente distraídos e não
aprendessem, também no amor, com os bons e os maus exemplos dos pais.
Muitos de nós, contrariamente à vontade e à intenção dos nossos pais,
fomos tendo uma atitude aparentemente errática em relação ao amor
porque, ao contrário de tudo o que eles desejavam, deram-nos muito
menos bons exemplos do que estavam a imaginar quando, se era o caso,
estavam casados por fora e divorciados por dentro. Acho de uma coragem
imensa e absolutamente comovente que duas pessoas que amam
perdidamente os filhos lhes digam por outras palavras "agora vou-te
magoar porque, no limite, acredito que tenho a obrigação de te
demonstrar que lutar pelo amor é só o que de mais importante há na
vida". Eu sei que visto de fora parece tudo meio descartável, não é
verdade. Um divórcio é de uma dor imensa. Não estou a dizer que não
pode haver relações para sempre, pode. Mas não são a maioria.

Mas ainda há amores para a vida inteira?
Acho que há pessoas que são capazes de se reinventar intimamente e que
são capazes de cuidar de forma dedicada uma da outra — percebem que
nada substitui a relação que foram capazes de construir. Mas também é
verdade que, quando uma pessoa vai à procura de alguém que tenha
sentido na sua vida, está, de facto, a lutar em nome do amor e é uma
luta para a qual é precisa uma coragem tão grande e uma convicção tão
inabalável que ler isto só pelo número de divórcios não é justo e não
é verdadeiro.

Já disse que somos mal educados em relação ao amor. Acha que se
discute pouco o amor?
Acho que não falamos dele, pura e simplesmente. Lidamos com o amor de
uma forma estranha, como se estivéssemos todos mais ou menos
esclarecidos, como se tivéssemos uma experiência tão bem sufragada
pela vida que, de repente, não temos dúvidas nem inseguranças. Mais
facilmente falamos da sexualidade do que do amor e eu acho isso uma
catástrofe. Não acho que algum dia seja demais falar do amor.

Até nas escolas?
Até nas escolas. Tenho muito respeito pela escola. Tenho medo que
estejamos a exigir à escola aquilo que muitas vezes nós, pais, não
fazemos — quando não queremos discutir determinados assuntos achamos
que a escola tem a responsabilidade de o fazer por nós. É a verdade
que a maneira como amamos é, de facto, o grande manual de instruções
para o amor dos nossos filhos, todavia, também reconheço que os pais
não se sentem à vontade em pôr palavras nos sentimentos. Acho que era
importante falar-se, de vez em quando, do amor de uma forma séria,
porque os adolescentes percebem-no dessa forma. Os adolescentes são
lindíssimos na maneira como vivem as relações amorosas. Ao contrário
do que os adultos dão a entender, não são o exemplo das relações
descartáveis. Vivem-nas com uma convicção e uma seriedade fora do
vulgar. Não quero que haja um manual de instruções para as relações,
muito menos uma educação tecnocrática, mas não me repugna que se fale
de relações amorosas.

Temos o direito e a capacidade de amar como os adolescentes em
qualquer fase da vida?
Durante toda a vida amamos como se fosse o fim do mundo, sempre.

Não parece…
Pois é. Somos todos uns engasgados em relação a isso. Acho que em
relação aos adolescentes temos uma postura paternalista que é perigosa
e, por vezes, um pouco invejosa — como se acreditar no amor fosse como
ter acne durante a adolescência. Acho que baralhamos as coisas: é
muito mais importante o namoro do que o trabalho.

O nosso dia a dia está-nos a roubar a capacidade de amar?
Está. É dramático.

No livro escreve que precisamos de alguém, que não somos completos sozinhos…
Acho brilhante como se fazem alguns slogans ["Se eu não gostar de mim,
quem gostará] e como, de uma forma hábil, justificamo-nos com eles.
Quando pomos as coisas dessa forma é como se estivéssemos a dizer que
a outra pessoa da nossa vida, a quem à priori estamos a conceder a
importância das importâncias, afinal não é tão importante assim — é
como dizer que a outra pessoa não é o protagonista na nossa vida,
antes uma personagem secundária.

Diz que a primeira missão de todas, antes de encontrar o grande amor,
é não perdê-lo. Mas isso é, por vezes, inevitável. Como é que se
encara isso?
Morre-se de amor e tenta-se nascer outra vez. Mais importante do que
encontrar um grande amor é nunca o perder. Mas é mais difícil também.
Em relação ao amor, acho que somos todos operários em construção.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

sexta-feira, novembro 17, 2017

# António Barreto. Este é um tempo de crise ou um tempo de mudança?

http://observador.pt/especiais/antonio-barreto-este-e-um-tempo-de-crise-ou-um-tempo-de-mudanca/

04 Novembro 2017

"Tempo de Escolha" é o novo livro de António Barreto. O Observador faz
a publicação de um excerto do prefácio, no qual o autor mostra uma
visão preocupada sobre a actualidade em Portugal e no mundo.

Este é o mais recente livro de António Barreto, que reúne artigos
publicados no Diário de Notícias entre 2015 e 2017 e entrevistas
feitas entre 2012 e 2017. O Observador publica um excerto do prefácio
no qual o autor apresenta uma visão preocupada sobre a actualidade
social, económica e política, em Portugal, na Europa e no mundo.

"É um tempo sombrio, cuja definição é difícil. Será crepuscular e
decadente? Ou será uma crise de transformação, uma metamorfose? Ou um
pouco dos dois? Estes dois anos, com uma extraordinária sucessão de
eleições e referendos (Áustria, Itália, Espanha, Grã-Bretanha, França,
República Checa e Alemanha, aos quais se deveriam acrescentar, por
razões óbvias, os Estados Unidos da América), estão a definir o futuro
da União, da Europa e do Ocidente. É patente a enorme dificuldade em
reorganizar uma União que consiga evitar o agravamento da crise actual
e que seja capaz de assegurar a igualdade entre Estados e nações,
quando a desigualdade é crescente e a Alemanha, quarta potência
económica do mundo, consolida a sua hegemonia.

À diferença entre Estados é ainda necessário acrescentar a
desigualdade social e económica a crescer em quase todos os países
ocidentais, mesmo se todos os grupos e classes conhecem melhoramentos
da sua condição. Os países ricos e os ricos de todos os países vêem as
suas fortunas aumentar quase sem limites, o que, graças ao trabalho, à
inteligência e ao esforço, pode ser justo, mas que se traduz
frequentemente numa atitude de desdém pelos menos ricos, os
remediados, os pobres e os miseráveis. Se é verdade que as
desigualdades podem ser motores da História e do progresso, não é
menos certo que também podem ser a causa da explosão social. A União
Europeia tem diante de si dilemas impossíveis. Tem de escolher entre a
igualdade e a hegemonia. Como tem de decidir entre a coesão e a
fragmentação. Só se salvará se escolher o mais difícil: a
flexibilidade.

Uma Europa que tentou garantir a uniformidade e a coesão não soube
garantir a diversidade e a flexibilidade. O mito da igualdade a todo o
preço ruiu, quando percebemos que a uniformidade com assimetria é mais
violenta para os mais pobres e os mais fracos. Ao querer forjar uma
igualdade artificial, a União expôs as fragilidades de vários países e
várias regiões, levando a situações quase dramáticas.

Pertencer à União, mesmo com as dificuldades que esta atravessa, é
mais uma maneira de eventualmente contribuir para o seu melhoramento.
Não para a sua dissolução ou para o abandono, como pretendem os
nacionalistas de direita e de esquerda. Mas para o seu melhoramento.
Por isso é importante estar dentro e ter algo a dizer.

Portugal partilha todas estas preocupações, faz parte dos problemas e
bom seria que também fizesse parte das soluções. Ou pelo menos que
fizesse ouvir os seus interesses nas soluções europeias. Continuo
convencido de que é vantajoso para Portugal permanecer na União e
manter o Euro. Não tenho a certeza de ambas as hipóteses. Até porque
as questões económicas e financeiras ganharam uma tal complexidade e
dependem de tantas circunstâncias internacionais, que uma opinião
firme pode ser simplesmente crença teimosa. Mas parece-me que uma
saída de Portugal do Euro seria, pelas consequências comerciais e
sociais, pela incerteza e pela imprevisibilidade, um desastre
económico. Mais ainda, uma saída da União seria dramática. A ideia de
que não existe alternativa é evidentemente errada. Trata-se em geral
de postulado inventado por quem defende um ponto de vista e não quer
encarar a hipótese de outros pensarem de modo diferente. Existem
alternativas à União Europeia. E, se fosse necessário, Portugal
encontraria caminho alternativo. Mas, com o que se sabe hoje, esse
caminho traria mais pobreza, mais incerteza e menos liberdade.
Pertencer à União, mesmo com as dificuldades que esta atravessa, é
mais uma maneira de eventualmente contribuir para o seu melhoramento.
Não para a sua dissolução ou para o abandono, como pretendem os
nacionalistas de direita e de esquerda. Mas para o seu melhoramento.
Por isso é importante estar dentro e ter algo a dizer.

Ter uma voz na Europa transformou‑se numa esperança de todos, dos que
querem essa voz para melhorar a nossa posição ou para diminuir os
inconvenientes da integração, mas também dos que a querem para
contrariar tudo quanto a União é e representa. "Ter uma voz na Europa"
parece ser hoje um fenómeno de pensamento mágico: basta falar com a
voz grossa! Basta falar alto com a Europa e as potências europeias,
dizem uns! O que é preciso é dar um murro na mesa, afirmam outros! É
preciso dizer não em voz alta e bom‑tom, garantem todos! Parece que,
se Portugal fizer estas piruetas junto de Bruxelas, na Alemanha ou no
FMI, venceremos! Esta espécie de voluntarismo adolescente é totalmente
inútil, tem efeitos exclusivamente retóricos, alegra o eleitorado,
contenta os fãs e inquieta todos os outros. Sendo certo que a
submissão e a tibieza nunca são boas, a verdade é que a voz grossa não
substitui o trabalho de casa, o pagamento das dívidas, a organização
económica, a paz social, o apoio da população e a qualidade da
sociedade em que se vive! Os Portugueses têm escolhas, mas estas não
são entre a voz grossa e a voz fina! São entre cumprir os seus deveres
ou não, governar com decência ou não, combater a corrupção ou não! Os
Portugueses não podem escolher entre a tempestade e o bom tempo, mas
podem, isso sim, em caso de tempestade, escolher quem os dirige, quem
os pode orientar e ajudar a atravessar a tempestade. Podem escolher a
frota, os navegantes e a rota. Mas têm de estar preparados para a
borrasca.

Tanto em Portugal como na Europa e no resto do mundo, estes dois anos
(o tempo destes artigos aqui coligidos) foram particularmente ricos em
acontecimentos, bons e maus. Os maus são tantos e tão medonhos que
quase nos habituámos, naquela que é uma real perversão da natureza
humana: acostumámo‑nos ao horror, já não temos sensibilidade ao
sofrimento e até somos capazes de pensar que a violência tem
qualidades estéticas! As guerras no Próximo Oriente, os caudais de
refugiados e de miseráveis que atravessam ou morrem no Mediterrâneo e
o terrorismo islâmico por todo o sítio foram constantes neste tão
curto período. Ofereceram‑nos imagens e relatos de arrepiar, como as
cidades destruídas de Mossul ou de Alepo, os adolescentes assassinados
numa sala de concertos em Manchester ou os barcos preparados para
fazer flutuar e de vez em quando afundar milhares de refugiados, de
modo a desencadear emoções e solidariedade.

O mundo ocidental, os prósperos Estados Unidos e a culta e pacífica
Europa vivem dias difíceis e instáveis. A França vive há mais de um
ano em "estado de urgência" e a eleição surpreendente de um novo e
inesperado Presidente da República ainda não é suficiente para alterar
o caminho inquietante dos últimos tempos. A Grã‑Bretanha decidiu sair
da União Europeia. Em vários países, os movimentos contra o Euro e a
UE ganham robustez. Também as manifestações contra a democracia ou
contra os estrangeiros se sucedem. Há países em cuidados financeiros
intensivos, sempre na iminência do colapso, sem que se preveja o fim
da emergência.

Pior do que tudo, evidentemente, o terrorismo sob todas as suas
formas: colectivo, organizado, solitário, premeditado ou espontâneo.
Com apoio de Estados, de partidos, de religiões, de empresas, de
traficantes ou de bandidos. Visando tudo e todos, sobretudo civis,
gente indefesa, trabalhadores, empresários, políticos e turistas. Com
e sem conotação religiosa, nacional, étnica ou sexual. Na origem,
também pode variar, mas é o terrorismo islâmico, particularmente cruel
e feroz, que marca os anos em curso.

Bem podemos afirmar, nervosamente, que não nos rendemos, que não nos
deixaremos derrotar e que não faremos o que "eles" querem, isto é, não
deixaremos de viver como queremos e entendemos, nem abdicaremos das
nossas liberdades. Repetiremos essas profissões de fé com força. Mas
sabemos que mudámos e que já não vivemos como gostávamos. Temos medo e
razão para o ter, só os políticos e os irresponsáveis, por motivos
diferentes, afirmam não ter e criticam quem tenha. Receamos os autores
do terrorismo, como receamos as reacções que o terror desencadeia.
Estamos conscientes de que as fronteiras das liberdades individuais,
da discrição e da privacidade recuaram e foram tantas vezes
injustamente atravessadas. E não acreditamos que seja possível voltar
a viver períodos de tranquilidade despreocupada. Até porque não é
apenas o terrorismo que ameaça a serenidade ocidental. São também a
instabilidade política, a incerteza social, a desigualdade crescente,
o elevado desemprego e as crises económicas em cada esquina! Os anos
dourados do período que se iniciou depois da guerra terminaram há
muito, duas ou três décadas. E os anos dourados do pós‑comunismo nunca
chegaram a acontecer.

Vai ser preciso muito mais do que só habilidade empírica, sorte e
clima económico favorável. Em meados de 2017, o crescimento é
insuficiente e o investimento é ainda escasso. O endividamento e o seu
serviço são muito grandes. A poupança é reduzida. O desemprego ainda é
elevado.

Em Portugal, depois de quase vinte anos sem crescimento e de seis de
austeridade, parece haver, nas novas circunstâncias europeias e
nacionais, uma pausa nas dificuldades, mesmo antes de haver
recuperação consolidada e hipótese de desenvolvimento. Se é verdade
que muitos dos grandes problemas portugueses existentes antes do dito
programa de assistência (vulgo acordo com a troika) se mantêm, também
é certo que o governo da direita conseguiu resultados valiosos, já
visíveis em 2015. E que o governo da esquerda obteve indiscutível
êxito, nomeadamente orçamental e muito especialmente no domínio da paz
social. Mas sabemos que os grandes problemas ainda estão aí, quase
intactos. Vai ser preciso muito mais do que só habilidade empírica,
sorte e clima económico favorável. Em meados de 2017, o crescimento é
insuficiente e o investimento é ainda escasso. O endividamento e o seu
serviço são muito grandes. A poupança é reduzida. O desemprego ainda é
elevado. Se o governo de esquerda conseguisse, nos próximos dois anos,
melhorar significativamente todos estes aspectos hoje francamente
negativos, teria um sucesso inesquecível. Mas o essencial seria que,
esquerda e direita, uma parte essencial da esquerda e da direita,
poder e oposição, com ajuda do Parlamento e do Presidente da
República, se entendessem em determinar regras de conduta que
permitissem que o país não tivesse de voltar aos procedimentos por
défices excessivos, aos programas de austeridade e assistência
financeira internacional e aos resgates que anunciam a bancarrota.
Foram três vezes, em cerca de trinta anos! É de mais e ficam na
História como certidões de falhanço de uma geração de dirigentes
políticos e económicos.

No centro destes problemas, bem no âmago das nossas dificuldades
presentes, está o endividamento individual, familiar, empresarial,
privado e público. Este último, olhado tantas vezes com tolerância e
até festejado como virtude, foi e é actualmente uma das grandes
ameaças à democracia. A maior parte dos Estados apoiou e encorajou o
endividamento. Os bancos estimularam. A perversão foi tão longe que os
devedores, hoje, continuam a afirmar que a dívida é um direito, que
quem deve tem razão de se endividar e que os credores têm a obrigação
de dar, de pagar e de perdoar!

É sabido que os problemas mais urgentes são económicos e financeiros.
Mas estão longe de ser os únicos. A gravidade da situação na justiça é
de igual dimensão e valor. Os últimos dois anos, tal como os passados
sete, ou ainda como os últimos dez ou quinze, confirmaram um sistema
de justiça que, sendo eventualmente capaz de solucionar mil casos de
rotina, é absolutamente incapaz de resolver satisfatoriamente os
grandes processos que envolvem nomes sonantes da sociedade, casos de
corrupção e negócios de Estado e fenómenos de promiscuidade entre
política e negócios públicos e privados.

Ao abrigo desta ineficácia, talvez não por coincidência, grande parte
da chamada "ética republicana" é fachada ou ilusão. Há decisões
políticas que são tomadas em função dos negócios promissores, favores
a amigos, partido ou parentes, ou que criam direitos e mandam fazer
obras inaceitáveis, erradas ou prejudiciais, mesmo se lícitas. As
grandes empresas públicas de serviços, comunicação, banca ou indústria
foram utilizadas para obter lucros indevidos em benefício de políticos
e empresários e para favorecer grupos privados nacionais ou
estrangeiros aquando dos processos de privatização.

Os processos de inquérito, de investigação e de instrução esticam-se e
prolongam-se, fazem hoje parte da paisagem política nacional. Já não
há jornais nem serviços noticiosos de televisão sem tais processos,
que alimentam a intriga e a suspeita ou estimulam o boato e a
desconfiança. Passam-se anos de eventual inquérito sem que os
prováveis arguidos vejam os seus direitos assegurados. Podem decorrer
anos de investigação sem acusação. E até, como se viu em vários casos
célebres, podem anos de prisão preventiva nada significar, a não ser
matéria-prima para a maledicência. Sem meios à altura, sem direitos
nem deveres suficientes, as autoridades e as entidades especializadas
em investigação procuram o que encontram, em vez de encontrar o que
procuram. Daí o uso intensivo e seguramente abusivo das escutas e da
interferência no correio e outras formas de comunicação. Com direitos
frágeis e deveres incertos, é a liberdade individual que está em
causa. Sem justiça à altura, é a liberdade que está em crise.

Reconheçamos que não é fácil viver num país onde, em dez ou quinze
anos, um primeiro-ministro, ministros e secretários de Estado, líder
de grupo parlamentar, deputados, directores-gerais, presidentes de
instituições públicas, chefes de polícia, banqueiros, empresários,
inspectores de várias polícias e dirigentes de clubes de futebol foram
presos, investigados, escutados, interrogados, arguidos, julgados (nem
todos…) e condenados (muito poucos…). Consta que praticamente ninguém
viu o seu processo transitado em julgado, isto é, definitivamente
terminado. As acusações, quando as há, cobrem todo o espectro do
banditismo dito de colarinho branco, do roubo e da fraude, à corrupção
pessoal e partidária mais brutal, passando pelo favoritismo descarado,
pelo infame nepotismo e pelo enriquecimento ilícito. O clima moral em
que se vive, nestas circunstâncias, é deprimente. O exemplo dado por
quem deveria saber mais e melhor é desprezível. Pior ainda, estes
comportamentos não punidos transformam-se em incitamento. A democracia
também é, infelizmente, o regime da pulhice para todos, não só da
virtude.

No momento actual, em que se debate e questiona a democracia e suas
tradições, verificámos que até a coincidência entre Europa e
democracia pode estar em discussão. Na verdade, há sinais de que nem
sempre a comunidade europeia ou a União conseguem salvaguardar e
reforçar a democracia e as liberdades individuais e públicas. Parece
que surgiram clivagens ou brechas na relação entre a União e os
Estados nacionais.

É verdade que a democracia está ligada à nação e ao Estado. Há
qualquer coisa de territorial na democracia, tal como existe
território na nação e no Estado. O território significa identidade e
reconhecimento, assim como estabelecimento de população. O território
quer também dizer limite da comunidade e seus sinais. O que implica
necessariamente fronteiras. O nacionalismo e o patriotismo modernos
estão ligados à democracia e à participação crescente das massas, dos
povos e dos cidadãos na vida política. O poder político, dependente do
voto e das opiniões dos cidadãos, pode ser influenciado pelos povos
democráticos. E por ideais nacionalistas e patrióticos.

Durante as últimas décadas, com a ajuda do dinheiro, das obras e do
desenvolvimento, o cosmopolitismo europeu levou de vencida os
nacionalismos. Mas nunca a questão das nações, dos cidadãos e da sua
identidade foi resolvida definitivamente ou pelo menos
satisfatoriamente. Quando se fala, com crescente frequência, da
distância entre a União e os cidadãos, aquilo de que se está a falar é
também do conflito possível entre União e nação, entre UE e os
Estados, entre União e as identidades nacionais.

O regresso do nacionalismo, pela mão das elites ou por via dos povos,
é perigoso e poderá mesmo ser um retrocesso da liberdade e da
civilização. Mas esquecer as nações e comportar-se como se não
houvesse nacionalidades ou como se estas fossem apenas nefastas é um
gravíssimo erro!

Mais complexo ainda é o facto de que, cada vez que há crise, uma das
primeiras reacções ser de carácter nacional. A UE, seriamente
adversária das nações, preferiu sempre ignorar, afastar ou mascarar o
problema nacional e a questão nacional. Chama‑se a isso "afogar o
peixe"… Há certas coisas que, quando se afastam ou se escondem, voltam
sempre. A questão nacional é uma delas!

O regresso do nacionalismo, pela mão das elites ou por via dos povos,
é perigoso e poderá mesmo ser um retrocesso da liberdade e da
civilização. Mas esquecer as nações e comportar-se como se não
houvesse nacionalidades ou como se estas fossem apenas nefastas é um
gravíssimo erro! Que pode ser contraproducente. Afastar a nação pode
ser simplesmente provocar o nacionalismo. Com essa designação ou com a
outra, aparentemente menos inquietante, de patriotismo, a ressurreição
do nacionalismo não anuncia nada de bom. Mas, repita-se, a ignorância
pura e simples da questão das identidades nacionais é um erro
imperdoável. De graves consequências, quanto mais não seja o alimento
assim dado ao nacionalismo.

É possível afirmar que Portugal está tão mal quanto a Europa há já
bastantes anos. Pouco ou menor crescimento. Muito desemprego.
Desenvolvimento de forças políticas e opiniões extremistas, radicais e
antiliberais. Ou a tolerância com o endividamento. Há muitos países
europeus, entre os quais a poderosa França, por exemplo, onde se
detectam tão maus sinais quanto em Portugal. Tudo isso é verdade. Mas
Portugal faz pior do que a Europa. Por causa dos "choques
assimétricos" (quando os outros estão bem, nós estamos melhor ou
igual; quando os outros estão mal, nós estamos muito pior…). Por causa
da fragilidade estrutural, mas sobretudo por causa dos Portugueses. De
todos, em especial dos políticos, dos governantes, dos banqueiros, dos
empresários e dos sindicatos. Em muitos aspectos, podíamos estar
melhor, podíamos ter feito melhor. Na justiça, por exemplo. Na luta
contra a corrupção. Na educação. Nos negócios de Estado, incluindo as
PPP, os swaps e outras variedades imaginativas. Na gestão das grandes
empresas públicas ou com participação pública. Na banca e no sistema
financeiro. E nas decisões ruinosas e erradas (estradas, pontes,
aeroportos, parques industriais, etc.). E mais, certamente, onde não
eram precisos muitos meios nem capitais inexistentes. Se em muitos
aspectos nos podemos queixar também da Europa e da globalização, em
muitos outros só nos podemos queixar de nós. Dez ou quinze anos de
crescimento nulo são principalmente culpa nossa!

E vinte de crescimento insignificante não são culpa de ninguém a não
ser nossa! A desculpa externa, o bode expiatório externo, a culpa que
vem do exterior sempre funcionou em Portugal. Inimigos, riscos e
perigos vêm sempre de fora. O que corre mal, para quem está no poder,
vem de fora. Comunistas, terroristas, colonizadores, imperialistas,
exploradores, extorsão financeira, exploração, ágio e ideias
subversivas: vêm todos do exterior. Mas a verdade, em última linha,
com excepção da agressão pura e simples, é a de que a culpa vem sempre
de nós, das nossas falhas, das nossas insuficiências, dos nossos erros
e das nossas dívidas. E a dificuldade em encontrar quem reconheça as
suas faltas, as nossas faltas, a fim de as corrigir e evitar no
futuro, fundamenta um pessimismo de rigor.

O meu optimismo é nulo. Quase absolutamente nulo. Não há sinais
suficientes que estimulem o optimismo. Invenções, clima de paz,
cooperação, investimento, emprego, imaginação criativa nos negócios,
educação a progredir, serviço de saúde a melhorar todos os dias, os
volumes de impostos a descer, a racionalidade das decisões a aumentar,
a poupança a crescer, a participação política a aumentar, o Parlamento
a legislar devagar e competentemente, a justiça a funcionar melhor, as
filas de espera nos serviços públicos a diminuir, nada… É possível que
haja, nos meses recentes e nos futuros, alguns sinais anunciadores.
Mas que é isso de fundar a alegria em meses, quando o que precisamos é
de anos constantes de trabalho e disciplina?

Aqui e ali, há uns sinais de tranquilidade, por motivos de
circunstância e oportunidade, ou mesmo oportunismo, mas não sabemos
quanto tempo duram… A relativa paz social, muito relativa, cria um
clima propício à cooperação, mas estamos muito longe de uma situação
estável nas tensões e dinâmica na criatividade. O governo das
esquerdas conseguiu dar um contributo para essa paz social. Mas
sente-se que há em permanência uma tensão para que os partidos mais
radicais queiram mais e estejam a forçar o andamento. Uns sinais
débeis de melhoramento económico na Europa e em Portugal dariam algum
conforto. O clima de distensão inaugurado pelo Presidente da República
tem ajudado também. Mas estamos a falar de pequenos sinais, de luzes
bruxuleantes… Ora, precisamos de anos de desenvolvimento e de
investimento. De gerações de cientistas e empresários. De uma multidão
de técnicos e profissionais. Esses sinais essenciais, essa massa
crítica humana, estão em falta e só a estabilidade, a constância e a
disciplina lhes podem dar vida.

O único factor que alimenta algum optimismo é simplesmente a
esperança. Quem já viu tanto, da ditadura à pobreza, do analfabetismo
à doença, da desigualdade ao racismo, quem já viu tudo e também viu
que se pode impedir, mudar e cessar não pode senão pensar, com
esperança, que os seres humanos sejam capazes, com os formidáveis
meios que têm ao seu alcance, de rever e reavaliar, de repensar e
corrigir."

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Quarter-life crisis? You’re not alone

According to a LinkedIn research, 75% of 25-33 year olds have
experienced a quarter-life crisis, often related to feeling as if they
were at a crossroads in their career. Women and men alike have
experienced it (73% vs. 76%, respectively), with 85% of those in Arts
& Culture having had a quarter-life crisis, followed closely by IT &
Telecoms, at 84%. The average age of a quarter-life crisis is 27 years
old. Globally, nearly 80% of those aged 25-33 have felt under pressure
to succeed in relationships, career or finances before hitting 30.
Finding a job or career that they're passionate about is the top
reason this age group feels anxious (61%), even more so than about
finding a life partner (47%) or dealing with student debt (22%).
Nearly half (48%) of respondents feel anxious when comparing
themselves to others. The online survey was conducted by Censuswide on
behalf of LinkedIn from Oct. 31-Nov. 3, among 6,014 respondents across
the United States, United Kingdom, India and Australia.

https://www.linkedin.com/search/results/content/?keywords=Quarter-life+crisis%3F+You%E2%80%99re+not+alone&origin=FED_EMAIL&anchorTopic=88714&midToken=AQEqxNsjzbQZmg&trk=eml-email_feed_ecosystem_digest_01-hero-1-null&trkEmail=eml-email_feed_ecosystem_digest_01-hero-1-null-null-hrl0j%7Eja34324g%7Erq-null-neptune%2Fsearch%2Eresults%2Econtent&lipi=urn%3Ali%3Apage%3Aemail_email_feed_ecosystem_digest_01%3BkGaRq0AbSBGVpA6IacBtxA%3D%3D

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, novembro 15, 2017

# Free Money: The surprising effects of a Basic Income supplied by the government

https://www.wired.com/story/free-money-the-surprising-effects-of-a-basic-income-supplied-by-government/?mbid=nl_111317_daily_list1_p2

SKOOTER MCCOY WAS 20 years old when his wife, Michelle, gave birth to
their first child, a son named Spencer. It was 1996, and McCoy was
living in the tiny town of Cherokee, North Carolina, attending Western
Carolina University on a football scholarship. He was the first member
of his family to go to college.

McCoy's father had ruined his body as a miner, digging tunnels
underneath lakes and riverbeds, and his son had developed a faith that
college would lead him in a better direction. So McCoy was determined
to stay in school when Spencer came along. Between fatherhood,
football practice, and classes, though, he couldn't squeeze in much
part-time work. Michelle had taken an entry-level job as a teacher's
aide at a local childcare center right out of high school, but her
salary wasn't enough to support the three of them.

Then the casino money came.

Just months before Spencer was born, the Eastern Band of Cherokee
Indians opened a casino near McCoy's home, and promised every one of
its roughly 15,000 tribal members—among them Skooter and Michelle—an
equal cut of the profits. The first payouts came to $595 each—a nice
little bonus, McCoy says, just for being. "That was the first time we
ever took a vacation," McCoy remembers. "We went to Myrtle Beach."

Once Spencer arrived, the checks covered the family's car payments and
other bills. "It was huge," McCoy says. He graduated college and went
on to coach football at the local high school for 11 years. Two
decades later, McCoy still sets aside some of the money the tribe
gives out twice a year to take his children—three of them, now—on
vacation. (He and Michelle are separated.) And as the casino revenue
has grown, so have the checks. In 2016, every tribal member received
roughly $12,000. McCoy's kids, and all children in the community, have
been accruing payments since the day they were born. The tribe sets
the money aside and invests it, so the children cash out a substantial
nest egg when they're 18. When Spencer's 18th birthday came three
years ago, his so-called "minor's fund" amounted to $105,000 after
taxes. His 12-year-old sister is projected to receive roughly twice
that.

McCoy is now general manager of the Cherokee Boys Club, a nonprofit
that provides day care, foster care, and other services to the tribe.
At 41, he has a shaved head and wears a gray Under Armour T-shirt over
his sturdy frame, along with a rubber bracelet around his wrist that
reads, "I can do all things through Christ who strengthens me."

The casino money made it possible for him to support his young family,
but the money his children will receive is potentially life-altering
on a different scale. "If you've lived in a small rural community and
never saw anybody leave, never saw anyone with a white-collar job or
leading any organization, you always kind of keep your mindset right
here," he says, forming a little circle with his hands in front of his
face. "Our kids today? The kids at the high school?" He throws his
arms out wide. "They believe the sky's the limit. It's really changed
the entire mindset of the community these past 20 years."

These biannual, unconditional cash disbursements go by different names
among the members of the tribe. Officially, they're called "per capita
payments." McCoy's kids call it their "big money." But a certain kind
of Silicon Valley idealist might call it something else: a universal
basic income.

The idea is not exactly new—Thomas Paine proposed a form of basic
income back in 1797—but in this country, aside from Social Security
and Medicare, most government payouts are based on individual need
rather than simply citizenship. Lately, however, tech leaders,
including Facebook founders Mark Zuckerberg and Chris Hughes, Tesla's
Elon Musk, and Y Combinator president Sam Altman, have begun pushing
the concept as a potential solution to the economic anxiety brought on
by automation and globalization—anxiety the tech industry has played
its own role in creating.

If robots and offshoring take all the jobs, or at the very least
displace the low-skilled ones, the thinking goes, there may come a
time when there simply aren't enough jobs to go around. What then? In
the aftermath of Donald Trump's election, which some have attributed
to this very tension, questions about how to support the so-called
working class have only grown. Politicians have latched on too. In her
new book, What Happened, Hillary Clinton writes that she considered
rolling out a basic income policy during her 2016 campaign. In
September, Silicon Valley congressperson Ro Khanna introduced a bill
calling for a $1.4 trillion expansion of the earned income tax credit,
which would effectively create a small basic income for low-income
working people via tax credits. And the mayor of Stockton, California,
recently announced that beginning in August 2018, the city plans to
give some of its 300,000 citizens $500 a month, an experiment being
funded by Hughes's organization, the Economic Security Project.

The Eastern Band of Cherokee isn't the only group whose members get
unconditional cash: The Alaska Permanent Fund has been giving $1,000
to $2,000 a year to its citizens for decades, and other Native
American tribes have also divided up casino revenues. But the Cherokee
example is among the most researched. Back in the 1990s, scholars at
Duke were studying the mental health of Cherokee children in the
region; then the casino was built, creating the conditions for a
natural experiment. Three decades of longitudinal research backs up
McCoy's anecdotal evidence that the money has had profound positive
effects.

As the richest people in America fixate on how to give money to the
poorest, the Cherokee program is a case study of whether a basic
income is in fact a practical proposal for alleviating economic
inequality or just another oversimplified, undercooked Silicon Valley
fix to one of the most intractable problems our society faces. Or
maybe it's both.

THE QUALLA BOUNDARY, a 56,000-acre tract in western North Carolina, is
the designated home of the Eastern Band of Cherokee, who have lived in
the region for hundreds of years. The landscape is beautiful but
dotted with signs of neglect. Along the stretch of road that spirals
its way through the majestic, fog-capped Blue Ridge Mountains, each
hairpin curve reveals a single-story motel, ramshackle gas station, or
abandoned barbecue stand. Mobile homes sit idly along the roadside
accumulating rust. Although the land is held in trust for the
Cherokee, many white people, especially poor whites, live there too.
The median household incomes in the counties of the Qualla fall well
below the national figure. In Swain County, where the Boys' Club is
based, 24 percent of people live below the poverty line, about 12
percent higher than the national median.

Asheville, with its craft breweries and art galleries, is about an
hour's drive east of the town of Cherokee. "Downtown" in Cherokee
refers to a mile-long section of Tsali Boulevard lined with log cabin
souvenir shops that hawk handwoven baskets and black bear figurines
made in China.

It was here, in the quiet shadow of the mountain range, that a team of
researchers including Jane Costello, a professor of psychiatry and
behavioral sciences at the Duke Institute for Brain Sciences, decided
to ground the Great Smoky Mountains Study of Youth. Costello wanted to
find out about the need for mental health and psychiatric services for
children in rural America, and in 1993 the researchers began studying
1,420 children, 350 of whom were members of the Eastern Band of
Cherokee Indians. They divided the group into three age
cohorts—9-year-olds, 11-year-olds, and 13-year-olds—and gave their
parents thick, detailed personality surveys called the Child and
Adolescent Psychiatric Assessment, which were completed every year
until the kids turned 16 and then again every few years until they
turned 30. Looking for indicators of behavioral or emotional troubles,
the researchers asked questions about whether the children ever
engaged in physical fights and whether they had trouble being away
from home.

Costello and her team also recorded household data like parents'
occupations, history of domestic violence, and, crucially, income.
When the study began, about 67 percent of the American Indian kids
were living below the poverty line. It wasn't until after the casino
opened that Costello began to notice that household income among the
Cherokee families was going up. It was subtle at first, but the trend
turned sharply upward as time went on, eventually lifting 14 percent
of the Cherokee children in the study above the poverty line.
Household income for those families who were not Cherokee, meanwhile,
grew at a slower rate.

It was an awakening for Costello, who had accidentally stumbled onto
an entirely new line of inquiry on the impact of unconditional cash
transfers on the poor. "I suddenly thought, 'Oh my god,'" Costello
remembers.

In 1995, the tribe opened its first casino, a controversial decision
among locals, who worried that gambling might attract unsavory
characters to the area. It was Joyce Dugan, the tribe's only female
chief and a former teacher, who suggested that if the tribe were to
benefit from its new casino, then every one of its members ought to
get a cut too. The tribal council agreed.

The casino started as a glorified arcade, filled with electronic poker
and bingo machines, but it has now grown into the 21-story Harrah's
Cherokee Casino. All glass and stone, it juts out of the earth like
one of the mountain's many towering peaks. Inside, the casino floor is
dotted with thick pillars, designed to look like giant trees, a
reminder that the great outdoors is just beyond the cigarette smoke
and zombie-themed slot machines.

Harrah's, which operates the casino, takes 3 percent of the $300
million annual profits. The bulk is funneled back into the community,
covering infrastructure, health care for every tribal member, and the
college education fund. Casino funds have paved roads and paid for a
new $26 million wastewater treatment plant. Half of the profits go
toward the per capita payments. The casino has become the tribe's most
precious resource.

The Eastern Band's change in fortunes also shifted the course of
Costello's research. "We thought it'd be interesting to see if it made
any difference" to the children's mental health, she says. They also
started comparing the younger Cherokee children, whose families
started accruing money earlier in their lives, to the older ones. They
wanted to answer a simple question: Would the cash infusion benefit
these kids in measurable ways?

The answer defied Costello's initial hypothesis. "I thought, 'There's
such a pit of poverty there that this isn't going to make any
difference; it's trivial,'" she remembers. "But it wasn't." Now the
body of research that she and other academics have built has become a
favorite point of reference for universal basic income advocates,
providing some of the most compelling evidence yet of the positive
effects of bestowing unconditional sums of cash on the poor.

In two studies, one published in 2003 and a follow-up in 2010,
Costello compared children who were lifted out of poverty after the
casino opened to those who had never been poor. She scored them based
on the presence of what researchers referred to as emotional
disorders, like depression and anxiety, as well as behavioral
disorders, including attention deficit hyperactivity disorder (ADHD).

Before the casino opened, Costello found that poor children scored
twice as high as those who were not poor for symptoms of psychiatric
disorders. But after the casino opened, the children whose families'
income rose above the poverty rate showed a 40 percent decrease in
behavioral problems. Just four years after the casino opened, they
were, behaviorally at least, no different from the kids who had never
been poor at all. By the time the youngest cohort of children was at
least 21, she found something else: The younger the Cherokee children
were when the casino opened, the better they fared compared to the
older Cherokee children and to rural whites. This was true for
emotional and behavioral problems as well as drug and alcohol
addiction.

Other researchers have used Costello's data to look at different
effects of the casino payments. One fear about basic income is that
people will be content living on their subsidies and stop working. But
a 2010 analysis of the data, led by Randall Akee, who researches
public policy at UCLA's Luskin School of Public Affairs, found no
impact on overall labor participation.

Of course, the casino also brought jobs to the area, and the majority
of the roughly 2,500 people the casino employs are tribal members.
This would seem to confound the question of whether the tribal payment
or casino income made the difference in the children's lives, but Akee
looked into this too. He found that, among the parents in Costello's
study, employment didn't go up or down after the opening of the
casino.

Akee also looked at the effects of the money on education and found
that more money in the household meant children stayed in school
longer. The impact on crime was just as profound: A $4,000 increase in
household income reduced the poorest kids' chances of committing a
minor crime by 22 percent.

All of this amounted to substantial financial benefits for the
community as a whole. "This translates to fewer kids in jail, fewer
kids in in-patient care," Costello says. "Then there are the other
costs you can't calculate. The cost of people not killing themselves?
That's a hard one."

Costello has been at the center of the research showing the effects of
the casino payments, but during all the time in Qualla Boundary she
says she had never even heard the term basic income. That is, until
she started getting phone calls from people who were interested in the
topic. People like Chris Hughes.

HUGHES GREW UP about a three-hour drive from Cherokee, in Hickory,
North Carolina, where his mother worked as a public school teacher and
his father was a traveling paper salesman. But that's not what
attracted Hughes to Costello's work. He was interested in basic income
primarily because at just 33 years old, Facebook has made him filthy
rich—he's worth roughly $430 million—and he's still grappling with
how, exactly, that happened 1.

"I'm proud of the work we did at Facebook, but I've also been very
clear that the financial rewards I got were disproportionate to the
work we put in," Hughes says. He's sitting cross-legged in a leather
chair inside NeueHouse, a Manhattan warehouse that's been converted
into a swanky coworking space (top-tier membership costs $3,500 a
month). "In human history, you have not had self-made wealth among
twentysomethings on the order of magnitude we have today," Hughes
continues. "What's making that possible? Because whatever it is, is
happening at the same time median household wages have barely budged."

It's true. Since 1980, average income for the top .01 percent of
Americans has more than tripled. For the bottom 90 percent, it's
basically flat-lined. Hughes is among those who view the disparity as
a national crisis. And so he recently launched the Economic Security
Project, a two-year effort to invest $10 million from Hughes and
others into research on universal basic income.

This investment comes amid a sudden wave of interest in universal
basic income in the tech industry. Y Combinator, the Palo Alto–based
startup accelerator, announced in early 2016 that it was starting its
own basic income experiment in which a small number of Oakland
residents would receive a cash payment and be compared to a control
group. Tesla's Elon Musk, meanwhile, has warned about the rise of the
robots, arguing at the World Government Summit earlier this year that
a basic income is "going to be necessary." And when Mark Zuckerberg
delivered his commencement speech at Harvard in May, he advocated for
a basic income, saying it would provide people with "a cushion to try
new ideas."

According to Ro Khanna, who represents California's 17th congressional
district in the heart of Silicon Valley, the 2016 election woke
techies up to the country's glaring economic inequality. "They don't
want a populist backlash," he says. "They don't want a country divided
by place."

Hughes called Costello while he was looking for basic income studies
that the Economic Security Project might like to finance. The goal of
the organization is to provide the money so that researchers can
investigate the impact of a basic income on people's lives. While
Hughes has not funded Costello's research, his group has contributed
$1 million to Stockton, California's basic income experiment, as well
as to GiveDirectly, a Google-backed charity that is studying the
impact of unconditional cash transfers in Kenya, and other projects.

The Economic Security Project team also recently conducted its own
survey of more than 1,000 Alaskans who receive roughly $2,000 per
person, per year, through the Alaska Permanent Fund, which is drawn
from oil revenues. It found that when faced with a choice between
lowering taxes or keeping their cash payments, 71 percent of Alaskans
say they want to keep the payments.

"It feels like security," Hughes says, "and in an economy that zigs
and zags and has more part-time jobs, security is hard to come by."

Hughes is no basic income purist. He believes, for instance, that for
this economic moonshot to be politically palatable, it would have to
be tied to work. "Not just because it seems more intuitive for
people," he says, "but because work is a key source of purpose in our
lives." But the changing nature of work, particularly among top tech
employers, is still a critical problem for the American workforce. One
illuminating New York Times article illustrated how the men and women
who scrub toilets and do other low-skilled work for companies like
Apple are hired from contracting companies which set the terms of
their employment. Those workers are cut off from the benefits and
upward mobility that the company's engineers and marketers enjoy.
Because the workers are contractors, the big tech companies feel no
pressure to raise their wages, and aren't responsible for offering
health-care coverage. In 2015, Facebook's bus drivers voted to
unionize in order to secure themselves the kind of worker protections
that the social networking giant refused to provide.

Looked at in this light, the tech-led efforts to push a basic income
can appear hypocritical. In a new economy that mints billionaires
overnight, giving millions of dollars away for experimentation is the
easy part. It's taxpayers, after all, not individual tech companies,
who would have to pay for a basic income should one ever come to pass.

A legislated basic income is in the realm of fantasy at the moment.
Even among its proponents there is almost no agreement about the
fundamentals, starting with how much money would be an optimal basic
income. Ioana Marinescu, a professor at the University of
Pennsylvania's School of Social Policy and Practice, who researches
basic income, says that research on the Alaska fund is enlightening,
but not dispositive. "We know $2,000 a year makes a real difference to
many people," Marinescu says. "But would something lower still make a
difference? We don't know."

Others argue that the problem with a universal basic income is the
"universal" part. In a world in which every American gets a check,
some of that money would necessarily be squandered on rich people.
Some libertarian groups like the Cato Institute support the idea,
seeing it as a way to replace the country's existing social safety net
programs like Medicare, Medicaid, and food stamps, an idea liberals
deplore. "When resources for antipoverty policies are scarce and
dwindling, especially in this Congress, we need to be careful about
our targeting," says Jared Bernstein, a senior fellow at the Center on
Budget and Policy Priorities and the former chief economist and
economic adviser to Vice President Joe Biden.

Bernstein prefers something like an expansion of the earned-income tax
credit, such as the one Silicon Valley's Khanna has introduced, which
he says would put extra money where it is needed—in the pockets of
working people. He concedes, however, that Khanna's bill, the Grow
American Incomes Now Act, is essentially on a hopeless path in the
current Congress. "An idea like Ro's is going to take a long runway,"
Bernstein says. "It ain't going to happen soon, but that doesn't mean
that if we were strategic it won't happen later."

Even in a fever dream scenario in which a basic income could pass in
Congress, there is so far little evidence that it would help the
"forgotten men and women" whom Trump described in his campaign—the
people whose plight supposedly woke Silicon Valley up to this problem
to begin with. After all, $2,000 a year hardly feels like an adequate
substitute for a disappeared $50,000 union job at the local steel
mill.

Even in Cherokee country, where the additional income is quite
sizable, the payments are not enough to live on. That suggests a basic
income may not be the life raft for working class adults that its
proponents suggest it would be. But it could be something different:
It could be an investment in their children's future.

DURING HIS 11 years as a high school football coach, and now working
at the Boys' Club, Skooter McCoy has seen just about every way that
the casino money can be wasted. He remembers two football players who,
after graduation, flew from Asheville to Key West and then road
tripped their way back up the coast, stopping in beach town after
beach town, and burning through tens of thousands of dollars of their
newfound wealth.

"I said, 'Boys, you had an opportunity with this money to take care of
yourselves for the majority of your lives. What do you have to say for
yourselves?'" McCoy remembers. "They said, 'Well, it was one hell of a
month, coach.'"

The money hasn't exempted the community from the drug epidemic that
has swept through so much of Appalachia, either. In fact, according to
McCoy, when the checks come out twice a year, there seems to be an
uptick in overdoses. "There are times when some people say members
don't even get a check, because they're indebted to a dealer," McCoy
says. "When they get their check, they hand it right over."

As with any program, there are infinite opportunities for abuse and
bad decisionmaking. But over time, the tribe has made tweaks to try to
prevent recklessness. The tribal council recently passed legislation,
for instance, that staggers the minor's fund payouts. Now the tribe
will give members $25,000 when they turn 18, $25,000 when they turn
21, and the rest when they're 25.

Spencer McCoy is now 21. Like his father, he has a square jaw and deep
brown eyes, and he talks readily about the importance of Christianity
in his life. He followed his dad to Western Carolina University, where
he played football, before transferring to Mars Hill University, where
he is pursuing a marketing degree. Like Skooter, Spencer imagined a
different life for himself. But there's one crucial difference between
them: Unlike his father, Spencer says, he never doubted that he could
have that life. "In my grandpa's time, nobody from my area was going
to college. My dad accepted a football scholarship, but without it I
doubt he would have been able to go," Spencer says. "Now we can go to
school practically anywhere in the country, and they pay for it.
That's a really big deal."

When Spencer first got his "big money," he says, "I'd get online and I
was looking for trucks and stuff, but I thought at the end of the day,
it wasn't really worth it." Aside from a used bass boat he bought to
take out fishing, Spencer has stashed most of the money away in hopes
of using it to start his own business one day.

The true impact of the money on the tribe may not really be known
until Spencer's generation, the first born after the casino opened, is
grown up. For the techies backing basic income as a remedy to the
slow-moving national crisis that is economic inequality, that may
prove a tedious wait.

Still, if anything is to be learned from the Cherokee experiment, it's
this: To imagine that a basic income, or something like it, would
suddenly satisfy the disillusioned, out-of-work Rust Belt worker is as
wrongheaded as imagining it would do no good at all, or drive people
to stop working. There is a third possibility: that an infusion of
cash into struggling households would lift up the youth in those
households in all the subtle but still meaningful ways Costello has
observed over the years, until finally, when they come of age, they
are better prepared for the brave new world of work, whether the
robots are coming or not.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.