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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quinta-feira, setembro 28, 2017

# O anexo

http://observador.pt/opiniao/o-anexo/

André Alvim e José Miguel Pinto dos Santos

27/9/2017, 11:58

O proprietário precisa de autorizações por tudo e por nada, mas o
inquilino pode fazer o que quiser, até construir um anexo, sem pedir
autorização a ninguém. É assim o nosso socialismo-não-coletivista

Nas repúblicas socialistas, na URSS por exemplo, a propriedade estava
em grande medida coletivizada. Isto não quer dizer que fosse de todos,
mas que pertencia ao Estado. Pertenciam ao Estado, direta ou
indiretamente, quase toda a terra agrícola e não agrícola, maquinaria
e estruturas. À coletivização da propriedade não correspondia, no
entanto, igualdade ou equidade na posse e uso. Assim, enquanto Leonid
Brezhnev (1906—1982), família & associados tinha acesso a casas de
luxo, dachas no Mar Negro, objetos de arte, automóveis e outros bens
supérfluos que, não sendo deles, lhes permitiam ter um nível de vida
semelhante a milionários texanos, a grande massa do povo trabalhador
vivia em apartamentos exíguos e miseráveis, deslocava-se em
transportes públicos, e para comprar manteiga tinha de ir para uma
fila às quatro da manhã.

Se a Rússia já pôs de lado este modelo económico por opressivo,
injusto e burocrático, Portugal ainda continua, há já quase duas
gerações, cega e obtusamente a "abrir caminho para uma sociedade
socialista" com o objetivo de construir "um país mais livre, mais
justo e mais fraterno" (preâmbulo da Constituição da República
Portuguesa (CRP)), como se o socialismo não fosse historicamente a
antítese da liberdade, da justiça e da fraternidade. Tal como na
Rússia de há um século, esta sociedade socialista implica uma
redefinição na posse e uso das coisas. Mas, ao contrário do que
aconteceu na Rússia, e porque seguimos uma "via original para o
socialismo", entre nós a redistribuição da posse e uso faz-se sem se
alterar a propriedade, mas transformando-a num instituto do direito
irreal.

Vejamos um caso concreto. O proprietário de um imóvel antigo e
degradado numa zona central em Lisboa, edifício com cinco pisos, todos
alugados, recebe mensalmente em rendas cerca de 200 euros brutos, que
não líquidos. A Sra. Josefina*, a empreendedora inquilina do
rés-do-chão, que paga atualmente 37 euros de renda, construiu há
tempos no quintal, sem dizer nada a ninguém, um anexo com quatro
quartos e casa de banho, que aluga a terceiros, e que se estima lhe
rendam perto de 1000 euros mensais. De notar que, neste caso, para
além de brutos, os 1000 euros também são líquidos. Diga-se, de
passagem, que Sra. Josefina, que é reformada, tem visto a renda que
paga aumentar anualmente, dentro dos limites permitidos pela
legislação nacional, em 20 ou 30 cêntimos, para grande escândalo do
Bloco. A renda que cobra aos seus inquilinos, essa flutua de acordo
com as condições do mercado livre e não regulamentado, tal como se
fosse nas Ilhas Caimão.

Devido ao mau estado da fachada, no início deste ano, a CML fez uma
vistoria ao prédio. No decurso da visita, não só constatou a
degradação da fachada, mas também descobriu a existência do anexo no
quintal. O Sr. Silva*, o proprietário, que se encontrava presente, foi
imediatamente informado que a nova estrutura não estava de acordo com
a planta camarária, pelo que foi intimado a demoli-lo. "Mas porquê eu,
se não fui eu que a construí?" perguntou, "e como?, se não posso lá
entrar sem a autorização da Sra. Josefina?" E acrescentou: "Mas seria
muito bom se os senhores, que representam a autoridade camarária, lhe
comunicassem o que me disseram agora." Aqui, os zelosos representantes
camarários deixaram cair o assunto. Terá sido por considerarem que o
pátio constitui uma parcela das Ilhas Caimão e que a jurisdição da CML
lá não chega? Umas semanas depois o proprietário recebeu um ofício a
intimá-lo a fazer obras, que um empreiteiro orçamentou em quase vinte
mil euros.

Esta situação espelha o socialismo português. Por um lado, o dono do
prédio tem a propriedade e todos os ónus que com ela vêm, como pagar
impostos, obedecer a regulamentos camarários, e receber vistorias que
o obrigam a obras de vinte mil euros num edifício que lhe rende 200
euros mensais before taxes (reparar que é taxes e não tax). Por outro
lado, ficou privado de todos os direitos, ditos "reais", que a
doutrina tradicionalmente associa à propriedade: não tem direito a
usar, não tem direito a negociar livremente a renda, não tem direito a
terminar um contrato que é objetiva e claramente lesivo dos seus
interesses, nem tem direito a vender livremente a sua "propriedade" a
terceiros.

Pode-se argumentar que a Sra. Josefina necessita de proteção, porque é
idosa e pobre, e que o seu direito à habitação é-lhe assegurado pela
CRP, art.º 65, 1, e art.º 72, 1. Mas a quem incube a obrigação de
assegurar o direito à habitação? Ao Estado, ou ao, literal e
metaforicamente, pobre Sr. Silva? Pode ser que o Estado necessite do
prédio do Sr. Silva na prossecução da sua obrigação constitucional. Se
determina que tem necessidade dele de modo permanente poderia
"coletivizar" o prédio do Sr. Silva, expropriando-o; se, por outro
lado, considera que apenas precisa dele de modo temporário, enquanto
arranja uma solução mais permanente para a Sra. Josefina, poderia
requisitar o prédio. Porque o não faz? Será porque "a requisição e a
expropriação … só podem ser efetuadas … mediante o pagamento de justa
indemnização"? (CRP, art.º 62, 2) Mas que poderes dá a Constituição ao
Estado para impor ao Sr. Silva que ele seja, contra sua vontade,
prestador de habitação social?

Para além de ser um socialismo que não coletiviza a propriedade, o
socialismo português tem uma outra originalidade: cria paraísos
fiscais dentro do país. Pois não se chama paraíso fiscal à geografia
onde o rendimento está totalmente isento de todos os impostos? E o
facto é que os lucros dos investimentos que a Sra. Josefina fez no seu
quintal são absolutamente tax free, tão tax free como os que ela
fizesse no Panamá ou Ilhas Caimão. E não se argumente que a Sra.
Josefina só não paga impostos sobre os rendimentos obtidos no quintal
porque o Estado não sabe. O Estado sabe, mas não quer saber. Porquê?
Porque a Sra. Josefina não é proprietária do quintal. Alguém duvida
que se o anexo fosse construído e gerido pelo Sr. Silva ele não
receberia uma intimação das Finanças logo a seguir à vistoria da CML e
ainda antes de ter tempo para o legalizar junto dos serviços
competentes?

Mais: não é só isenções à legislação fiscal que o nosso socialismo dá
à sua nomenclatura. Para além das isenções fiscais os
não-proprietários estão, na prática, isentos de uma parte do normativo
nacional, quanto mais não seja, das regras relativas ao ordenamento
urbano. Um proprietário precisa de autorizações por tudo e por nada,
mas um inquilino pode fazer o que quiser, até construir um anexo!, sem
pedir autorização a ninguém.

Finalmente, o nosso socialismo-não-coletivista tem outra
originalidade, também ausente na teoria económica de Marx & Engels:
achar não só razoável, mas até justo, que a parcela possa gerar mais
rendimento que a totalidade de um ativo: enquanto os 200 euros pelo
prédio todo do Sr. Silva, que é proprietário, são excessivos, os 1000
euros da Sra. Josefina, que é arrendatária, não só estão bem, mas são
intocáveis. O segredo para se poder pensar assim, sem notar nenhuma
incongruência, está no uso do conceito de classe: a classe dos
proprietários é parasitária; logo, a classe dos arrendatários merece
todas as proteções, benesses, privilégios e imunidades.

A construção do socialismo nacional continua, anexo a anexo, até à
irrelevância final do art.º 62 da CRP!

*para proteger a privacidade é usado nome fictício

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quarta-feira, setembro 27, 2017

# Mais solitários do que supomos

http://observador.pt/opiniao/mais-solitarios-do-que-supomos/

Laurinda Alves 26/9/2017, 0:01

Passamos a vida ligados e raramente nos conseguimos desligar. Temos
muitas razões para isso e muitas delas extraordinariamente válidas,
mas também sabemos que facilmente exageramos. Acontece a todos.

Multiplicam-se os vídeos e as campanhas sobre o uso excessivo dos
telemóveis e das redes sociais, fazem-se caricaturas cómicas e
sketches divertidos, publicam-se avisos sérios e advertências máximas,
elevam-se as multas e legislam-se pontos agravantes nas cartas de
condução, mas nada parece funcionar. Somos capazes de ler estas mesmas
anedotas enquanto guiamos e somos capazes de responder a longos feeds
de whatsapps quando estamos sentados à mesa, em família, ou quando
estamos com o nosso círculo de amigos.

José Tolentino Mendonça, poeta, sacerdote, professor e cronista acaba
de lançar um novo livro de pequenos grandes textos, todos eles para
ler e reler demoradamente, e um deles tem como título precisamente
este que agora também fiz meu. Num dos seus escritos fala deste uso e
abuso e refere a "síndrome da hiperconectividade" para marcar o seu
ponto e sublinhar o direito de nos desconectarmos.

"À força de estarmos conectados, numa disponibilidade indistinta e sem
horário, acabamos por nos desconectar das pessoas a quem mais
queremos. O resultado é este: ficamos mais próximos dos desconhecidos
e mais desconhecidos dos que nos são próximos".

Passamos a vida ligados e raramente nos conseguimos desligar. Temos
muitas razões para isso e muitas delas extraordinariamente válidas,
mas também sabemos que facilmente exageramos. Acontece a todos, aliás.
Penso que ninguém está imune nem é alheio a realidades tão frequentes
como estar na presença real de pessoas reais e, mal toca o telemóvel,
automaticamente dar a prioridade a quem ligou. Ou seja, por mais
amigos que sejamos das pessoas reais, que temos connosco e com quem
podemos estar a conversar, se o telemóvel toca nem hesitamos em
deixá-los pendurados enquanto atendemos a chamada.

Claro que há prioridades imperativas e claro que o telemóvel também é
um instrumento de trabalho que nos mantém ligados e nos exige uma
disponibilidade imediata. Graças à net, aos telemóveis, tablets,
computadores e afins podemos trabalhar de casa ou a distâncias outrora
impensáveis, mas nem tudo é trabalho, e nem todas as chamadas são
urgentes. No entanto acontece com demasiada frequência deixarmos os
presentes suspensos a meio de uma conversa para atendermos os que nos
ligam e, esses sim, poderiam esperar.

Choca-nos sempre sermos trocados por outros que chegaram depois de
nós, e se nos indigna tanto que nos façam isso numa simples fila de
espera, porque é que não somos sensíveis ao ponto de nos abstermos de
fazer o mesmo na cara daqueles com quem estávamos a falar antes de o
telemóvel tocar? É um mistério, mas na verdade todos o fazemos.

"Mensagem chama mensagem, e com uma urgência que se sobrepõe a tudo",
escreve Tolentino. Interpela-nos a certeza de que hoje em dia
facilmente trocamos as prioridades e confundimos as urgências.
"Gasta-se um tempo precioso a responder, replicar, retorquir tontices
por monossílabos, alimentando a ilusão de que diante de um ecrã nunca
se está sozinho. Mas aí estamos solitários mais vezes do que supomos".

Sem moralismos nem pregações, Tolentino Mendonça põe o dedo numa
ferida aberta que corre o risco de não cicatrizar. Há cada vez mais
pais a entreterem os filhos pequenos com ipads e écrans do que com a
sua presença real, as suas conversas, as suas brincadeiras e jogos. É
fácil ver em restaurantes pais e filhos muito calados à mesa, cada um
absorvido com o seu programa, no seu ipad.

Há muito pouco tempo vi uma destas cenas: mãe, pai e filho com cerca
de dois anos, os três sentados à mesa de um restaurante da moda, todos
a almoçar em silêncio. O bebé passava as páginas do ipad com o
indicador como se tivesse nascido para lidar com écrans tácteis; os
pais liam cada um as suas coisas. Posso garantir que durante todo o
almoço nenhum trocou uma única palavra e o bebé portou-se lindamente.
No fim pediram a conta, desligaram os ipads e foram embora.

Ninguém tem (nem pode ter) nada contra o uso de gadgets e, muito
menos, da net, mas textos como o de Tolentino têm que nos interpelar.
O que escreve bate certo e obriga-nos a repensar pois é verdade que a
nossa primeira atitude devia ser afirmar o direito a
desconectarmos-nos. Nem sempre, nem nunca, como se costuma dizer, mas
tomando consciência dos excessos. A começar pelos que usam e abusam
das mensagens e chamadas enquanto guiam sem kit mãos livres.

Ninguém muda por decreto e nem sequer por pagar multas pesadas, pois
quase todos reincidimos no erro de atender chamadas e consultar a net
ao volante. Só os que já passaram por acidentes graves ou situações
dramáticas é que se abstêm de o fazer. Tenho absoluta consciência de
que eu própria só não o faço por ter passado pela terrível situação de
ver um filho em risco de vida por ter sido atropelado por alguém que
ia a trocar msgs enquanto guiava. E se não ia a escrever, ia mais
atento ao telemóvel do que à estrada e à condução, de acordo com a
versão das testemunhas do acidente. Felizmente no seu caso a embolia
pulmonar decorrente da fractura grave (e consequente cirurgia) foi
reversível, mas podia não ter sido.

Associações como a Novamente e a Associação de Cidadãos
Auto-Mobilizados, entre outras, foram criadas a partir de acidentes
que fizeram vítimas mortais e deixaram muitas pessoas altamente
condicionadas, cheias de sequelas para a vida. Nem todos os acidentes
foram provocados por pessoas distraídas com os telemóveis, como é
evidente, mas há cada vez mais situações destas. Os mortos na estrada,
os choques em cadeia e os desastres na cidade decorrem cada vez mais
de distracções com chamadas, msgs e apps, mesmo que sejam aplicações
de GPS ou para consultar o trânsito e ver como evitar engarrafamentos.

Voltando a Tolentino e ao seu novo livro "O Pequeno Caminho das
Grandes Perguntas", cheio a transbordar de escritos que elevam o nosso
olhar acima das circunstâncias e que toca o concreto das nossas vidas
de uma forma transformadora, penso que o sentido da sua escrita, nesta
crónica particular, nem sequer era o de evitar vítimas na estrada.
Tolentino sabe que as primeiras vítimas somos nós próprios, sempre que
morremos na praia de uma conversa que ficou a meio, ou ficou mesmo por
ter, só porque o telemóvel tocou na altura errada. Tolentino sabe que
matamos em nós e nos outros a esperança todas as vezes que nos
alheamos do essencial para nos desperdiçarmos em trocas de mensagens
fúteis, torrenciais e compulsivas. Penso que o luto que Tolentino
pretende evitar quando escreve o que escreve, é este da solidão mais
solitária de todas que acontece quando nos desligamos da presença dos
que estão à nossa volta e quando deixamos de existir para os que
amamos só porque o telemóvel toca ou há net e ficamos presos na rede.

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# Ao fim de 15 anos, sai de estado vegetativo. E solta uma lágrima

http://observador.pt/2017/09/26/ao-fim-de-15-anos-sai-de-estado-vegetativo-e-solta-uma-lagrima/

26/9/2017, 15:48 Tânia Pereirinha

Uma terapia inovadora devolveu sinais de consciência a um homem há 15
anos em estado vegetativo persistente. Investigadores dizem que
resultado levanta questões éticas relativamente à eutanásia.

Ao fim de 15 anos, a estimulação do nervo vago devolveu um estado de
consciência ao homem de 35 anos

Tinha 20 anos quando sofreu um acidente de carro que o deixou em
estado vegetativo persistente (EVP). Agora, 15 anos depois, o homem
recuperou pela primeira vez "sinais de consciência". A revelação foi
publicada na revista médica Current Biology pela responsável pela
aplicação da terapia de estimulação do nervo vago, Angela Sirigu,
diretora do Instituto de Ciências Cognitivas Marc Jeannerod, em Lyon,
França.

Ele continua paralisado e sem conseguir falar, mas consegue responder.
Agora ele está consciente", explicou ao The Guardian a investigadora,
especialista em neuropsicologia. O paciente, cuja identificação não
foi divulgada, foi submetido a uma pequena cirurgia de 20 minutos em
2016, durante a qual lhe foi colocado, na zona do pescoço, um pequeno
implante, capaz de estimular através de descargas elétricas o nervo
vago, que liga o cérebro a praticamente todos os órgãos vitais.

Depois de cerca de duas semanas de estimulação, durante as quais o
paciente foi mantido sob observação permanente e filmado com uma
câmara de infra-vermelhos, os cientistas obtiveram finalmente
resultados: ao ouvir a sua música preferida, o homem, vegetativo há 15
anos, soltou uma lágrima. "Quando vimos uma lágrima a escorrer-lhe
pela bochecha abaixo foi… emocionante. Foi simplesmente…", voltou a
emocionar-se Sirigu, entrevistada pela Wired.

Não foram os únicos sinais que o paciente deu: primeiro começou a
seguir objetos com o olhar, depois passou a manter-se acordado
enquanto lhe liam histórias, uma vez abriu mesmo os olhos num esgar de
surpresa, quando a investigadora aproximou o rosto do seu. Com o
decorrer dos meses, passou mesmo a conseguir responder a pedidos
simples, como virar a cabeça para um ou para outro lado, sempre de
forma lenta, muitas vezes demorando mais de um minuto. O registo de
atividade cerebral também revelou melhorias substanciais, nomeadamente
o aumento da comunicação elétrica entre zonas do cérebro e uma maior
atividade em áreas relacionadas com o movimento, sensação e
consciência. Esta técnica de estimulação nervosa também já é utilizada
com sucesso no tratamento da epilepsia e da depressão.

O paciente, em estado vegetativo persistente há 15 anos, não foi
escolhido ao acaso, explicou Angela Sirigu. "Se lhe mostrar o cérebro
deste paciente, conseguirá ver que o hemisfério esquerdo está
completamente danificado. Ele não consegue falar nem mexer-se porque a
parte do seu cérebro responsável pelo movimento está lesionada. Ele
era o paciente em estado mais grave que tínhamos. Sabíamos que se
conseguíssemos observar o que quer que fosse nele, não seria por acaso
ou coincidência. Escolhemos para nós próprios esta situação estranha.
Mas, no nosso caso, foi libertador. Porque antes da estimulação ele
não respondia a um único estímulo externo, e depois dela passou a
responder."

Ou seja: o paciente era tão grave — o protocolo médico estabelece que
após 12 meses em estado vegetativo persistente não é expectável que os
pacientes melhorem — que se a estimulação fosse bem sucedida nele,
poderia sê-lo também em qualquer outro doente, com prognóstico menos
reservado.

Apesar das portas que potencialmente abre, este método inovador traz
também algumas questões aos investigadores e às famílias de doentes em
estado vegetativo persistente. Uma delas: é assim tão vantajoso para
um doente que nunca poderá voltar a andar, falar ou interagir com
terceiros recuperar a consciência? "Não posso responder a essa
pergunta. Pessoalmente acho que é preferível estar consciente, mesmo
que numa má condição, ter noção do que se está a passar. Assim pelo
menos podes tomar uma decisão sobre se queres continuar assim ou se
queres…", disse Sirigu ao The Guardian. A outra questão, prende-se
exatamente com a palavra que a investigadora não chegou a proferir:
eutanásia.

Também ao jornal britânico, Niels Birbaumer, da Universidade de
Tübingen, na Alemanha, especialista em interfaces cérebro-computador
para pacientes com distúrbios neurológicos, disse que estes resultados
levantam problemas éticos relacionados com a morte assistida,
defendida por muitos como solução válida para os doentes em estado
vegetativo persistente. "Muitos destes pacientes podem ter sido, e
outros foram mesmo, negligenciados, e a eutanásia passiva acontece
frequentemente em estados vegetativos. Este artigo é um aviso para
todos os que acreditam que, após um ano, este estado é irreversível."

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quinta-feira, setembro 21, 2017

# TED Talk: Como queres que te agradeçam?

https://www.ted.com/playlists/81/ted_in_3_minutes?utm_source=linkedin.com&utm_medium=social&utm_campaign=tedspread

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quarta-feira, setembro 20, 2017

# Video sobre Pedrógão feito pelo jornal inglês Guardian

https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v=9nu4Z9qIRIU

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terça-feira, setembro 19, 2017

# A ilha de lixo do Pacífico (de área maior que França) quer ser reconhecida como país

http://observador.pt/2017/09/19/a-ilha-de-lixo-que-quer-ser-reconhecida-como-pais/

HÁ 2 HORAS

No meio do Pacífico Norte, há um gigantesco amontoado de plástico que
já é maior do que França. Agora uma organização ambiental quer que o
território seja reconhecido como país. Um sinal de alerta.

O Oceano Pacífico tem um grande problema – um amontoado de lixo que já
é é maior do que todo o território francês. Para atrair atenção
internacional para a questão, o grupo ambiental Plastic Oceans
Foundation uniu-se ao site de informação e entretenimento LadBible e
juntos criaram uma campanha que tem como objetivo tornar a ilha de
lixo num país oficial.

Segundo a campanha, o artigo 1º da Convenção de Montevideu de 1993
sobre os direitos e deveres dos Estados diz que um país deve ser capaz
de: definir um território, formar um governo, interagir com outros
Estados e ter população permanente. As Ilhas de Lixo – o nome que é
dado ao "país" – têm fronteiras e é simples criar um governo e
instituições para interagir com outras.

E um nome muito famoso já pediu a cidadania. Al Gore, candidato à
presidência dos Estados Unidos em 2000 e Prémio Nobel da Paz, é o
cidadão nº 1 das Ilhas de Lixo. Outras 100 mil pessoas já assinaram a
petição para pedir a cidadania oficial e a campanha já entregou a
candidatura às Nações Unidas, para que o Estado das Ilhas de Lixo seja
reconhecido como o 196º país do mundo.

O passaporte de Al Gore, o cidadão nº 1 da Ilha de Lixo

O projeto tem a preciosa ajuda dos profissionais de marketing Michael
Hughes e Dalatando Almeida que, em conjunto com o designer Mario
Kerkstra, criaram uma bandeira, um passaporte, unidade monetária (que
se chama escombros) e selos.

As Ilhas de Lixo estão a ser tratadas como um país sob a teoria do
estatuto de Estado, que diz que a existência política do mesmo é
independente do seu reconhecimento pelos demais – por esta definição,
por exemplo, Taiwan seria reconhecido como um Estado. Não é claro se
isto seria suficiente para constituir legalmente um país sob a lei
internacional.

E mesmo que a campanha falhe, foi uma excelente estratégia para atrair
atenção para o problema. O plástico no oceano prejudica os animais e
transforma-se em micropartículas que se alojam nos peixes e que nós,
humanos, acabamos por ingerir. É esperado que em 2050 a quantidade de
plástico nos oceanos seja maior do que a quantidade de peixe. E
enquanto as Ilhas de Lixo ficam no Pacífico norte, um amontoado muito
semelhante foi descoberto no Pacífico sul, em julho.

O mote para a campanha é simples: "se acha que tudo isto é ridículo,
então considere a ideia de que há uma área do tamanho de França feita
inteiramente de plástico no meio do mar".

Veja as imagens do passaporte, da unidade monetária e dos selos das
Ilhas de Lixo.

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# Bebé canadiano, o primeiro sem designação de sexo

http://observador.pt/2017/07/04/bebe-canadiano-o-primeiro-sem-designacao-de-sexo/

4/7/2017, 18:30

Searyl Atli, um bebé de oito meses, nascido no Canadá, recebeu um
cartão de saúde sem definição de género, um caso único no mundo.

O cartão de saúde do bebé tem a letra U no espaço dedicado ao 'sexo',
que pode ser 'indeterminado' ou 'não atribuído'

Um bebé de oito meses, nascido no Canadá, recebeu um cartão de saúde
sem definição de género, um caso que pode ser único no mundo. Kori
Doty, a mãe, é uma pessoa não-binária transgénero, ou seja que não se
identifica nem com o género masculino nem com o feminino, e quer dar a
oportunidade ao seu bebé de poder descobrir o próprio género ao longo
da vida.

O cartão de saúde do bebé tem a letra U no espaço dedicado ao 'sexo',
que pode ser 'indeterminado' ou 'não atribuído'. Doty está a lutar
para que o espaço do género seja mesmo omitido da certidão de
nascimento. Doty argumenta que uma inspeção visual no nascimento não
determina o género de uma pessoa para o resto da sua vida.

O bebé, Searyl Atli, nasceu em novembro do ano passado em casa de um
amigo, na província canadiana de British Columbia.

Estou a educar Searly de uma maneira que 'eles' [o bebé] tenha o senso
de auto comando do vocabulário e possa definir-se enquanto pessoa.
Reconheço que 'eles' é um bebé e tento dar-lhe todo o amor e apoio
para que 'eles' sejam a pessoa mais completa fora das restrições que
acompanham a definição de menino e menina", afirmou à CBC citado pela
BBC.

Kori Doty, que faz parte do Gender-Free ID Coalition, disse que
aqueles que se sentem diferentes da sua designação sexual, atribuída
no nascimento, enfrentam dificuldades durante toda a vida, ao tentarem
mudar os documentos.

Quando eu nasci, os médicos olharam para os meus genitais e assumiram
aquilo que eu iria ser, e essas presunções perseguiram-me a vida
inteira. Esses pré-conceitos estavam errados e tive de fazer muitos
ajustamentos desde aí", disse Doty.

No caso do bebé Searly, as autoridades recusaram-se a elaborar o
certidão de nascimento sem a designação do género e tiveram de iniciar
uma revisão judicial de todo o caso.

Barbara Findlay, a advogada da família que prefere que o seu nome seja
escrito sem letras maiúsculas, disse à Global News: "A designação
sexual na nossa cultura é feita quando um médico abre as pernas e olha
para os genitais do bebé. Mas, nós sabemos que o género do bebé poderá
não corresponder à sua identidade e não se desenvolver durante alguns
anos".

Os media canadianos reportaram que a certidão de nascimento deste bebé
poderia ser a primeira no mundo a não ter designação sexual.

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# A estratégia para acabar com os rapazes e as raparigas

http://observador.pt/opiniao/a-estrategia-para-acabar-com-os-rapazes-e-as-raparigas/

Pedro Afonso 19/9/2017, 9:26

A agenda política do Bloco é promover a ambiguidade da identidade
sexual e considerar normal aquilo que, na maioria dos casos, é
patológico, pelo que são muitos os perigos desta aberração
legislativa.

Já há muitos anos que tem vindo a ser implementada em Portugal (e
também noutros países) uma ideologia que se designa por "ideologia do
género". Esta teoria assenta na ideia radical de que os sexos
masculinos e femininos não passam de uma construção mental, cabendo à
pessoa escolher a sua própria identidade de género (já existem
identificadas mais de 30!). Trata-se de um movimento cultural com
impacto na família, na política, na educação, na comunicação social e
que reclama a utilização de uma nova linguagem.

A Assembleia da República discute um projeto-lei do Bloco de Esquerda
que permite a mudança de sexo aos 16 anos e, no caso de os pais se
oporem a esta ideia, possibilita que os menores possam intentar
judicialmente contra estes. A agenda política do BE é a seguinte:
promover a ambiguidade da identidade sexual e considerar normal aquilo
que, na maioria dos casos, é patológico. Convém alertar as pessoas
para os perigos desta aberração legislativa, pois os deputados não
sabem de medicina, nem tão-pouco de psiquiatria. Os casos de
perturbação de identidade sexual (disforia de género) são complexos e
levam por vezes os jovens ao suicídio, pelo que este assunto deve ser
tratado com uma enorme prudência. Considerar que estes casos se
resolvem com um pacote legislativo, é uma visão simplista, redutora e
perigosa deste problema.

A estratégia por detrás desta mutação social, que agora se pretende
implementar pela via legislativa, é fazer crer que a a ideologia de
género é cientificamente correta. As teses desta ideologia são
apresentadas como um dado científico consensual e indiscutível, mas
isto é absolutamente falso. A natureza tem regras, cabe à ciência
compreendê-las e descodificá-las. Portanto, compete à ciência elaborar
as teorias que ajudem a desvendar a realidade e não o contrário, como
acontece na ideologia do género: elaborou-se uma teoria e para a
validar procura-se alterar a realidade.

As consequências deste conflito estão à vista. Nunca como hoje se
baralhou e confundiu tanto a mente de crianças e adolescentes. E isto
não tem nada a ver com liberdade, mas com uma doutrinação promovida
por alguns partidos que se apoderaram ideologicamente do Estado e que
desejam proceder à reeducação das massas. Neste contexto, esta
proposta legislativa não poderia ser mais tirânica: os pais são
expulsos do processo educativo, os psiquiatras e psicólogos são
totalmente desvalorizados, sendo-lhes retiradas competências, e os
menores passam a ser "propriedade" do Estado que, no plano educativo e
legislativo, lhes impõe um novo sistema de valores baseado na
ideologia do género.

É espantoso assistir-se a uma indolência perante uma ideologia que se
entranhou na sociedade como se fosse um dogma de fé. Mas esta
ideologia não exprime a verdade da pessoa humana. Trata-se afinal de
uma aventura ideológica, inspirada pelo desejo do Homem controlar a
natureza; neste caso, o Homem decidiu declarar guerra à natureza.

Na identidade sexual não é sensato defender a supremacia absoluta da
dimensão biológica sobre a dimensão psicológica/sociocultural. O ideal
é que haja uma harmonia entre ambas, não sendo ético provocar
desordens psicopatológicas artificiais, através da difusão de uma
ideologia radical destinada a criar um "homem novo". Considero uma
irresponsabilidade que Estado fomente, seja de que forma for, a
ambiguidade da identidade sexual dos adolescentes, deixando-os ficar
entregues a si próprios, através de um projeto-lei leviano e
irresponsável.

Como psiquiatra oponho-me a esta iniciativa legislativa do Bloco de
Esquerda, pois ela não respeita a ciência médica. Não podemos permitir
que os adolescentes sejam objeto de experiências de engenharia social.
É necessário criar condições para que as crianças e os adolescentes
possam crescer livres e mentalmente saudáveis, respeitando o direito
que os pais têm de dar a formação moral que considerarem melhor para
os seus filhos.

Os casos de disforia do género devem ser referenciados para a
psiquiatria, de modo a serem acompanhados pelos vários profissionais
de saúde competentes, pois as doenças não se tratam por decreto-lei.
Além disso, a história ensina-nos que sempre que a medicina se
subjugou à ideologia, os resultados foram desastrosos para a
humanidade.

Médico Psiquiatra

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quinta-feira, setembro 14, 2017

# Um coração alegre

http://snpcultura.org/um_coracao_alegre.html

Esperamos com demasiada frequência que a alegria venha a nós, quando a
verdade é que a alegria é algo por cuja criação devemos assumir a
responsabilidade, não só em nosso favor, mas também em favor dos
outros.

A beleza da alegria é que, tal como um vitral através do qual a luz se
decompõe numa miríade de cores, esta nos permite ver como a vida é
boa, mesmo quando parece não o ser.

A alegria não é um acontecimento; é a atitude que uma pessoa saudável
adota em cada situação da vida: trabalho, família, vida social, e até
em momentos de tensão pessoal.

Fala de esperança e de abertura, de possibilidades fascinantes e da
convicção profunda de que aquilo que nos é dado na vida é-nos dado
para nosso próprio bem.

A pessoa espiritualmente madura confia na presença de um Deus de amor
que fará com que este momento, seja ele de que tipo for, amadureça na
alma. É através da lente da alegria que devemos aprender a olhar para
tudo na vida. Tudo isso é bom, mas nem sempre o reconhecemos, quando
acontece.

Para sermos pessoas verdadeiramente santas, devemos deixar de pensar
na alegria como um acidente da natureza e começar a fazer dela uma
prioridade. «Lembra-te sempre que a alegria não é acidental na tua
busca espiritual. É vital», ensinava "rebbe" Nachman de Breslov.

E os antigos recordam-nos: «Não há santos tristes.» Nunca confundas
santidade com rigidez, morbidez ou mau humor. Estes provêm da
preocupação com o ego, não de uma qualquer perceção da presença de
Deus.

Joan Chittister
In "Os tempos do coração", ed. Paulinas Publicado em 11.09.2017

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quarta-feira, setembro 06, 2017

# Ajudem a renascer a Esperança

AO 06.09.17 Dário Pedroso, sj

Continuam as notícias acerca de fogos, catástrofes, terrorismo que
mata, crimes, guerra, violências, fraudes, raptos, etc. etc. Enchem os
jornais e os telejornais de desgraças que deprimem e angustiam o povo.
Há tanta coisa boa no mundo, tanto dom e serviço, tanta maravilha de
amor, beleza, atenção e dedicação aos outros, experiências espirituais
e lúdicas fabulosas, dignas, sérias, alegres. Parece que não há
interesse, atenção, gosto em dar a conhecer essas maravilhas.

Chega de andarmos deprimidos por tanta desgraça. Ajudem-nos a fazer
renascer a esperança no futuro, o entusiasmo pela vida, o gosto de
servir e amar. Basta de notícias só de misérias, de desgraças, de
atentados à natureza e à vida humana. Precisamos todos que nos ajudem
a viver a autoestima, a alegria, o entusiasmo para olhar o futuro com
esperança.

É digno e justo louvar e agradecer o esforço dos muitos bombeiros, de
outros agentes, de tantos voluntários generosos e sacrificados. Como é
digno e justo rezar pelas vítimas, pelas famílias, pelos que ficaram
sem nada. Acompanhar em oração as horas, os dias e noites de
"inferno".

É urgente condenar os atos de terrorismo e gritar que Deus, que Alá,
não quer mortes de ódio, de vingança. É preciso condenar os processos
de exploração humana e sexual de tantas mulheres e jovens e gritar que
a vida é um dom precioso e digno, que tem de ser respeitado.

Como é de louvar o serviço dedicado de tantos militares da Guarda
Nacional Republicana que, no Mediterrâneo, têm salvo centenas de
refugiados. Como é encantador ver o serviço dedicado de tantos médicos
sem fronteiras e de tantas centenas de voluntários que vão servir
pobres e doentes em países onde há muita miséria, fome, doenças.

Tudo isto tem de ser feito e mostrado com moderação. Não deem cabo de
nós e das crianças e adolescentes que veem televisão e choram quando
veem casas a arder e pessoas a gritar de terror. Poupem-nos. Não
precisamos de andar semanas a ver fogos, uns atrás dos outros, com
ruína e todo o sofrimento que comportam.

Não só os cristãos, mas todas as pessoas de outras religiões e todos
os que sentem "boa vontade", temos de nos unir para ajudar a renascer
a esperança. Olhar o futuro com otimismo, confiados no amor de Deus e
na boa vontade dos homens. Fazer renascer a esperança, ser sentinelas
da esperança que gritam aos corações que há muito bem à nossa volta,
que há muita gente boa, que há muitas possibilidades de crescer na
verdade e na justiça.

Precisamos de conhecer exemplos bons de dom e serviço, de construção
de paz e concórdia, de sonhos que comandam a vida na direção certa, ou
seja, no amor, no gosto de viver, no dom que faz os outros mais
felizes. Não desistamos de viver a esperança como experiência interior
que pacifica e alegra, que anima e conforta.

Nos meus quarenta e três anos de sacerdócio, tenho encontrado muita
gente boa, dedicada, santa, capaz de se doar para fazer os outros mais
felizes. Tenho encontrado muitos e muitos sacerdotes exemplares,
castos e pobres, obedientes ao seu bispo e à Igreja, homens que não
são funcionários do sagrado, mas que vivem uma dedicação a toda a
prova, uma doação generosa ao seu povo, à Igreja, a Jesus Cristo.

Mas sempre que há um pequeno escândalo de algum que por fraqueza
cometeu algo mau ou menos bom, temos longos discursos malévolos nos
telejornais, repetidos vezes sem conta, como insinuações criminosas e
difamatórias.

Olhemos o bem, o positivo, o muito que há de bom e de santo, de
dedicação e de serviço generoso. Sejamos homens e mulheres de
esperança, vivamos a alegria que nos vem da entrega e da doação
generosa.

http://apostoladodaoracao.blogs.sapo.pt/ajudem-a-renascer-a-esperanca-35841

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segunda-feira, setembro 04, 2017

# Porque é que há florestas que não ardem

[Ver Fotos online]

http://www.noticiasmagazine.pt/2017/porque-e-que-ha-florestas-que-nao-ardem/

26/07/2017 Texto Ricardo J. Rodrigues | Fotografias Rui Oliveira/Global Imagens

Há em Portugal modelos alternativos de prevenção e combate aos
incêndios. Esta é a história da aldeia que comprou fardas e viaturas
para combater ela própria as chamas quando a ajuda tarda, dos corpos
privativos que guardam fábricas e eucaliptais das empresas de
celulose, da corporação de sapadores criada de propósito para defender
o maior tesouro natural do país. E da máxima que todos repetem sem
cessar: o investimento compensa.

Depois de Pedrógão Grande em Junho de 2017, que fez 64 mortos, e da
serra de Sintra em 1966, que vitimou 25 soldados, o incêndio mais
mortífero de que há registo em Portugal aconteceu a 14 de junho de
1986 nas encostas serranas do concelho de Águeda. Nessa noite, 16
homens perderam a vida para o fogo que lavrava no Caramulo e que
acabaria por engolir 8500 hectares de terreno.

Na aldeia de Belazaima do Chão, ninguém esquece a catástrofe, toda a
gente conhecia alguém apanhado pelo inferno. Mas a dúvida que se
colocava nos dias seguintes, com o verão prestes a começar e os
bombeiros depauperados, era esta: que será dos que sobreviveram à
catástrofe se o fogo se lembrar de descer o vale do Vouga? E foi aí
que Manuel Antunes de Almeida, tão comovido como todos os outros,
proferiu a alto e bom som: «Pois se não há meios de combate para nos
defender tem de ser o povo a arranjá‑los.»

Depois do grande incêndio de 1986, o povo de uma aldeia de Águeda
decidiu tomar o combate aos incêndios nas próprias mãos.

Manuel tinha 35 anos e nem sequer possuía terra, mas desde os 15 que
se habituara a ir para a guerra sempre que o eucaliptal ateava. «O
fogo mexia‑me com as entranhas, a mim e a todos os que viviam aqui. E,
depois daquela tragédia, tínhamos de fazer alguma coisa.» E fizeram.

Primeiro foi um peditório na freguesia, para comprar o primeiro
dispositivo de ataque ao fogo, «que se montava e desmontava em cima
dos tratores e demorava tempo a chegar à mata». Perceberam logo que
era solução escassa, precisavam de um carro que chegasse rápido aos
incêndios. E então começaram a reforçar os pedidos de contribuições, a
organizar quermesses, rifas e festas.

Em 1987, ele e os três mais empenhados fundavam a Associação de
Proteção Civil de Belazaima do Chão, compravam um veículo de combate a
incêndios e organizavam o povo da aldeia para o combate voluntário aos
fogos da região. «Se viesse desgraça tocávamos a rebate o sino da
igreja e o povo juntava‑se todo. Era o alerta.»

Passadas três décadas a associação tem dez viaturas – três
autotanques, quatro veículos ligeiros de combate a incêndios e três
veículos florestais, que perfazem uma capacidade de mobilidade de 35
mil litros de água. E garantem haver corporações de bombeiros no país
com menos meios.

Os 45 voluntários vivem todos na freguesia, e ainda se juntam a rebate
do sino. Na verdade, nenhum deles tem formação de bombeiro. Estão
equipados com fardamento antifogo, dos capacetes às botas, mas vestem
amarelo e preto. A lei diz que não podem usar as cores das autoridades
oficiais. A lei diz que não podem combater as chamas. A lei foi criada
20 anos depois de a população andar a proteger as matas.

Belazaima do Chão é um exemplo do lado menos conhecido da prevenção e
combate aos incêndios em Portugal. Por todo o país, há empresas,
grupos de cidadãos e iniciativas públicas que investem na guerra ao
fogo com sistemas complementares ao Estado. São bombeiros privativos,
agentes especiais de prevenção, trabalhadores contratados para limpar
as matas, vigiar as florestas e fazer‑se às chamas em propriedades
privadas ou em matas protegidas.

São «os amarelos». Reforçam com homens e material o corpo nacional de
proteção civil na defesa dos seus interesses específicos – áreas que
não ardem, custe o que custar. Representam um investimento avultado,
mas todos dizem que o que se gasta no reforço é compensado largamente
pelo que se poupa em prejuízo. Matas que não ardem, equipamentos onde
o fogo não chega, eucaliptais que permanecem intactos.

O modelo dos amarelos

«Se eu tiver um polícia em casa 24 por horas por dia tenho menos
possibilidades de ser assaltado», diz Patrícia Cerdeira, porta‑voz do
Ministério da Administração Interna (MAI). O governo sabe que estes
modelos alternativos existem, que são eficazes e não é raro usa‑los
como reforço aos dez mil bombeiros que estão operacionais em Portugal
na Fase Charlie – a época crítica de incêndios, que normalmente dura
de julho a setembro, mas que este ano começou mais cedo, a 17 de
junho.

«É verdade que as áreas que eles protegem ardem menos, mas temos de
ver que o trabalho destes homens está designado a territórios muito
específicos, enquanto ao MAI cabe a administração estrutural do
socorro em todo o país», defende o ministério. «Uma coisa que pouca
gente sabe é que no dia da tragédia de Pedrógão, por exemplo, houve
outros 156 incêndios em Portugal que precisaram de ser apagados.»

Para Fernando Curto, presidente da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais (ANBP), a questão não é assim tão simples. «Temos por
exemplo grandes áreas de eucalipto das empresas de celulose que nunca
ardem. E isso diz‑nos o quê? Que as empresas não deixam desleixar o
seu património.» As mesmas medidas são mais difíceis de aplicar em
zonas de minifúndio, que é o grosso da floresta do país.

As associações de bombeiros têm uma pergunta para o Ministério da
Administração Interna: se os privados conseguem salvar a floresta
porque é que o Estado não o faz?

«Ainda assim, o Estado é completamente displicente. Os prejuízos com
os incêndios em Portugal são em média de 200 milhões de euros por mês,
e neste ano serão muito mais avultados. Com um investimento de 500
milhões anuais teríamos em todo o país as mesmas condições que existem
nesses eucaliptais privados.»

Jaime Marta Soares, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP),
alinha pela mesma bitola e até aponta as urgências: «É imperativo que
cada corporação de bombeiros tenha uma equipa especial de intervenção.
É urgente que o Estado comece a investir para evitar custos
acrescidos. É preciso limpar as matas, vigiá‑las, ordenar o
território.»

«Eu sei que os eucaliptos e os pinheiros não votam, que é preciso
coragem política para tomar medidas impopulares. Mas estas gestões
alternativas e estes modelos privados só nos mostram que há soluções e
que elas funcionam. Os governantes continuam a ignorar as florestas e
com isso estamos a perder vidas, estamos a perder o nosso petróleo
verde, por puro desleixo dos governantes. O comportamento do Estado é
pura e simplesmente criminoso.»

Hoje sai um autotanque amarelo de Belazaima do Chão, Vasco Oliveira e
Manuel Serra seguem para um eucaliptal perto da aldeia, o dia está
quente e é melhor vigiar a mata antes que venha tragédia. O primeiro é
presidente da junta, e por isso cabe‑lhe a gestão da Unidade Local de
Proteção Civil (ULPC).

Quando a Lei‑Base da Proteção Civil foi aprovada, em 2006, o Estado
estabeleceu que podiam criar‑se ULPC nas freguesias. «Até aí, a
relação com os bombeiros era mais tensa», admite o homem. Trabalhavam
sozinhos, à margem das autoridades. «A autarquia percebeu a vontade de
autoproteção do povo e promoveu o diálogo entre a nossa associação e a
corporação de Águeda. Aceitámos as regras, mudámos o nome e pintámos
tudo de amarelo para nos diferenciarmos. Hoje sabemos que não podemos
ser a primeira linha, temos de servir de reforço. Mas, quando os
incêndios acontecem no nosso território, somos os primeiros a chegar.»

Apesar de a lei não definir competências claras, Marta Soares, da LBP,
é perentório: «As ULPC não podem intervir nos incêndios senão para
apoio ao rescaldo e para prevenção. Não têm formação de bombeiros e
podem tornar‑se um risco acrescido em cenários já por si perigosos.»

Vasco Oliveira admite que, hoje, obedecem às indicações do comando,
mas também avisa que não vai deixar mato arder ao pé de casa. «De dez
em dez anos, um hectare de eucalipto dá sete a dez mil euros ao seu
proprietário. Foi a floresta que travou a desertificação nesta zona do
país e, se temos os meios para nos proteger, não deixaremos de o
fazer.»

Oficialmente, estas unidades não podem atuar sozinhas, são o reforço
do sistema estatal. E no entanto muitas delas nasceram porque as
populações não se sentiam seguras com as instituições. Contactada pela
NOTÍCIAS MAGAZINE, a Autoridade Nacional de Proteção Civil diz não
saber quantas ULPC existem em Portugal: «Não temos esses registos
compilados.»

Gestão privada, benefício público

De todos os modelos alternativos que existem em Portugal na defesa
contra o fogo o maior é provavelmente a Afocelca – Prevenção e Combate
e Incêndios Florestais. Nascida em 2002 para proteger as propriedades
das principais empresas de celulose do país (Portucel, Soporcel, Celbi
e Silvicaima), acompanhou as alterações empresariais dos grupos
económicos e está hoje ao serviço da The Navigator Company e do Grupo
Altri, dois gigantes do setor.

Dispõe de um dispositivo de 300 homens, três dezenas de viaturas
ligeiras de combate a incêndios, 24 carros pesados e três helicópteros
com brigadas aerotransportadas. «Temos a nosso cargo a defesa de 220
mil hectares de floresta, de norte a sul do país», diz João Pedro
Costa, chefe de operações. «Estamos distribuídos de modo a que, em 30
minutos, possamos estar em qualquer teatro de operações. Mas metade
das intervenções que operamos não são em terrenos nossos, são de apoio
aos comandos de bombeiros. Sobretudo com os meios aéreos.» Não é um
serviço pago, mas o protocolo com o Estado diz que é o MAI a assegurar
essas despesas.

Metade dos homens que combatem incêndios nos eucaliptais dasempresas
de celulose são os mesmos que limpam as matas no Inverno.

A sala de comando fica na Figueira da Foz, um espaço com três enormes
mapas a ocuparem toda a parede. Um do Norte do país, outro do Centro,
outro do Sul. No pico da Fase Charlie, estão ali sete pessoas em
permanência. «Em cada comando distrital de operações de socorro temos
um agente de ligação que nos avisa por telefone se existir incêndio
que represente perigo para as nossas propriedades.»

É o que acontece agora, há fogo na zona de Odemira e a primeira coisa
a fazer é marca‑lo no mapa. Nos computadores, analisam‑se as
variáveis: direção e intensidade do vento, temperatura, perigosidade.
«Vamos mandar um veículo ligeiro, por enquanto não há grande risco»,
anuncia João Pedro. Ocorrências como estas repetem‑se várias vezes ao
dia, e as equipas sabem que o trabalho funciona 24 horas. Por ano,
registam seis mil ocorrências.

Os operacionais no terreno não são, para efeitos oficiais, bombeiros,
antes sapadores florestais. Mas a maneira como atuam, e as ações que
desempenham em nada divergem do trabalho das entidades homologadas
como tal. Recebem formação na empresa, em vez de faze‑lo na Escola
Nacional de Bombeiros.

«Há dias em que estamos no lodo, com múltiplas ocorrências e não temos
por onde nos virar», diz João Pedro Costa. «Mas o pior que nos pode
acontecer é o pior que pode acontecer aos bombeiros – ver algum dos
nossos ficar ferido.»

Em 15 anos de atuação, sete trabalhadores da Afocelca perderam a vida
para as chamas. «No ano passado tivemos um ferido grave, um dos nossos
supervisores, que é meu sócio e um grande amigo. O carro despistou‑se
e caiu de uma ravina para o meio do incêndio. Ainda está no hospital.
É duro.»

Uma das bases de meios aéreos da empresa está instalada em Abrantes,
onde as empresas de celulose detêm uma das suas principais manchas de
eucalipto. Bruno Freitas é o supervisor da equipa, e hoje tem outro
colega com idênticas funções no terreno, Horácio Ferreira. «A nossa
grande vantagem em relação aos bombeiros é a velocidade com que
conseguimos atuar. É muitíssimo frequente sermos os primeiros a chegar
ao fogo», diz o primeiro, e o segundo concorda.

Há eucaliptos por todo o lado, depois uma casa tipicamente ribatejana,
onde uma brigada aerotransportada se mantém em alerta permanente. Um
piloto, mais cinco homens que seguem por meios aéreos para os
incêndios quando é preciso. Rafael Marques, que se estreia neste ano
na Afocelca, é bombeiro há vários anos. «Aqui damos por nós a
extinguir o fogo com muito mais eficácia. As matas estão limpas, há
caminhos abertos, têm alguns pontos descontínuos. É o que faz a
diferença.»

Todos aqueles homens vivem na região, e isso é uma vantagem. Conhecem
o terreno, entendem os ventos, sabem que os mapas nem sempre estão
atualizados. «Enquanto os bombeiros têm de recrutar reforços de outras
regiões, nós trabalhamos com gente que conhece o terreno», diz Horácio
Ferreira.

Daí a minutos há de sair para visitar uma brigada terrestre, que faz
vigilância a toda a floresta que se estende de Constância a Tomar. Os
homens são seis, andam ali de binóculos a observar as copas das
árvores, qualquer sinal de fumo e fazem‑se ao caminho no autotanque.

Todos eles trabalham para as mesmas empresas de celulose no inverno, a
limpar a vegetação rasteira e as bermas das estradas, localizar pontos
de água. «Já muitas vezes nos safámos por conhecermos bem as zonas
onde operamos. Quando o fumo retira a visibilidade, não foi uma nem
duas vezes que indicámos aos bombeiros onde podiam abastecer água»,
diz um deles.

Como guardar um tesouro

Esta história pode muito bem seguir para norte, porque desde o início
de julho que há uma novidade no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Para
proteger o maior tesouro natural do país, o Ministério do Ambiente
decidiu criar dez equipas de proteção da floresta, duas por cada
concelho com área de jurisdição no Parque (Arcos de Valdevez, Melgaço,
Montalegre, Ponte da Barca e Terras de Bouro).

«Depois do incêndio do ano passado no Soajo, onde arderam 6800
hectares, era preciso fazer alguma coisa», diz Jorge Dias, engenheiro
florestal do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas
(ICNF), que coordena as equipas em Terras do Bouro, um dos municípios
com mais área protegida.

O Gerês dispunha de 14 vigilantes para 70 mil hectares de área
protegida. Agora chegou um corpo especial de 50 homens, para que a
floresta não arda.

Estão dez homens a trabalhar na estrada da Pedra Bela, mesmo no
coração da Mata Nacional do Gerês. Limpam fetos e giestas, vinte
metros para cada margem do alcatrão. Há dias, fizeram o mesmo ao redor
de algumas casas ali próximas, que tinham pinheiros a roçar‑lhes as
paredes. Um perigo.

«Isto é a primeira lufada de ar fresco em muitos anos», confessa Tomás
Azevedo, que trabalha para o ICNF há 24 anos. Foi sapador, vigilante
da natureza, entretanto estudou e hoje é engenheiro florestal.
«Durante décadas, fomos perdendo gente e meios e agora há um reforço
de 50 homens, o que para nós é extraordinário. Veja, até aqui só
tínhamos 14 vigilantes para cobrir uma área de 70 mil hectares. Agora
podemos prevenir os incêndios, em vez de combate‑los.»

O projeto‑piloto do Ministério do Ambiente pode aparentemente
representar um gasto, mas todos aqui acreditam que ele significará
poupança. E que se expandirá a outras áreas protegidas. Além das
equipas humanas, a que formalmente se chama Corpo Nacional de Agentes
Florestais, também foram instaladas várias antenas de
telecomunicações, para permitir uma espécie de SIRESP privativo do
parque.

Nos próximos meses, além de limpar matas, os homens vão lutar contra
invasoras, substituir o arvoredo resinoso pelas folhosas endémicas do
país, vigiar e atacar os incêndios à primeira faísca. «Na floresta,
muitas vezes, é preciso andar três horas a pé para se chegar às
chamas», diz Jorge Dias.

Estes homens caminham com dorsais em que cabem 30 litros de água,
podem atacar antes de os bombeiros chegarem. Mas a ideia nem é essa. A
ideia é que o fogo não chegue. «É no inverno que se luta contra os
incêndios. Enquanto não houver gente na floresta, enquanto o mato
estiver entregue à sua sorte, as tragédias continuarão a acontecer.»

Os bombeiros antes dos bombeiros

Na Beira Litoral, pode contar‑se uma história diferente. Os Bombeiros
Privativos da Vista Alegre foram a primeira corporação privada do país
e nasceram antes do aparecimento de qualquer quartel estatal no
distrito de Aveiro. A empresa foi fundada em 1824, e desde essa altura
que alguns trabalhadores tinham funções de lutar contra as chamas.

Há relatos de combate a grandes incêndios no centro de Ílhavo e do
Governo Civil de Aveiro ainda antes da fundação oficial, em 1880. São
várias as empresas, entre fábricas e aeroportos, a adotar um modelo
semelhante para se autoprotegerem dos incêndios. Além da segurança, um
corpo privativo de bombeiros representa uma enorme poupança junto das
seguradoras.

Antes de existir alguma corporação de bombeiros no distrito de Aveiro,
já o corpo privativo da Vista Alegre operava em Ílhavo.

A Autoridade Nacional de Proteção Civil, responsável pelo registo
destas corporações, não conseguiu responder numa semana, apesar de
múltiplas tentativas, quantas unidades funcionam no país. A Liga dos
Bombeiros tem registadas nove, embora admita que possam existir mais.

Estes homens frequentam a Escola Nacional de Bombeiros, nada os
distingue das restantes autoridades, simplesmente estão afetos às suas
empresas. No caso da Vista Alegre, o único incêndio realmente grave
dentro das instalações da empresa aconteceu na década de 1980, nas
oficinas de pintura.

Luís Pelicano, que comandou o quartel de 1966 a 2000, recorda‑se bem
desse dia. «Não estávamos bem equipados, mas conseguimos conter as
coisas a tempo. A maior parte das ocorrências a que demos assistência
aconteceram fora da empresa.» Ao seu lado, o antigo adjunto, João
Rocha, que todos conhecem por Custódio, vai fazendo uma lista com os
dedos. Uma fábrica de colchões em Vagos, um incêndio no regimento de
Infantaria 10, em Aveiro, ou um incêndio que destruiu o quartel de
bombeiros de Vagos.

As instalações dos bombeiros privativos está hoje cheia de relíquias,
verdadeiras peças de museu. Há carros e escadas que um dia foram
puxados a cavalo, há uma ambulância feita a partir de uma carrinha pão
de forma, e depois há um par de veículos mais atuais, que são os que
estão em uso.

«Já se sabe como são as empresas», diz Pelicano, «só gastam com o que
for preciso. Então com o refugo das loiças começámos a organizar
quermesses para comprar material, instalar postos de água, modernizar
o que conseguíamos.» O homem tem 80 anos e guarda orgulho pelo
trabalho feito. Os 600 trabalhadores da fábrica de Ílhavo, acredita
ele, estão a salvo.

A corporação conta hoje com 17 bombeiros, liderados por João Machado e
o seu adjunto, Rui Jorge. Um trabalha no armazém de expedição das
loiças, outro na olaria, se os alarmes soarem abandonam o posto e
partem para o socorro.

«Estamos mais preparados para incêndios industriais, claro, mas
apoiamos sempre que nos pedem em missões na floresta. E, sabe»,
reflete o comandante, quase como se falasse com os seus botões,
«antigamente não havia tanto fogo. Havia menos gente aflita. Nós
sempre fizemos vigilância ao fim de semana, e gostávamos de continuar
a fazer, mas agora parece que não nos querem no terreno. Não é bem
isso. O que parece é que é tudo feito à pressa, sem grande
coordenação. Ao menos nós aqui, olhe, estamos organizados. E também
queremos ajudar. O país não pode continuar a arder assim.»

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