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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

#A palavra liberdade

"A ideia de liberdade é distintiva da civilização ocidental, de tal forma que a maior parte das línguas não ocidentais não tinham uma palavra para liberdade. Esta aparece em grego (eleutheria) e em latim (libertas), para designar a condição de ser independente, separado e distinto. Os gregos usavam o termo para designar cidades autónomas, tribos independentes ou indivíduos que não eram governados pela vontade de outrem.
Numa palavra, livre era o oposto de escravo.
Com o cristianismo, a liberdade ganhou estatuto central como protecção da consciência individual contra as perseguições ou imposições do poder secular. Mas, na maior parte das culturas não ocidentais, o oposto de escravo não era livre: era, em versão inglesa, «master», o que poderíamos talvez traduzir por «senhor ou dono de escravos». Compreende-se que, nessas culturas, a palavra liberdade fosse difícil de imaginar."
Expresso 060218, Joao Carlos Espada

#Olhar para a frente

"Não é por me sentir culpada pelo mal que fiz que sou boa pessoa, é por tentar corrigir-me quando a situação se repete que me torno melhor."
Ana Luísa Collaço

"O habitante das urbes modernas é um vampiro da velocidade, deseja terapêuticas miraculosas, a cura para todos os males, recusa a responsabilização individual por meio de uma vaga submissão à fatalidade e às leis do acaso."
Augusto Brázio

#Num Dia deVerão

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

Alberto Caeiro

Sent by: Luisa Cardoso

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

#O Norte

Primeiro, as verdades.
O Norte é mais Português que Portugal.
As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde- rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
Estas são as verdades do Norte de Portugal.
Mas há uma verdade maior.
É que só o Norte existe. O Sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
Não haja enganos.
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.
Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.
Mas o Norte é onde Portugal começa.
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.
Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular.
É esta a verdade.
Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.
O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.
O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade.
Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino.
O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.
Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade.
Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi.
Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".
Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.
No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos??

Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

#O futuroserá ter filhos sem fazer sexo?

A pílula permitiu o sexo sem filhos, o futuro será ter filhos sem fazer sexo
DN 060222

Adiar a maternidade poderá deixar de ser um problema para as mulheres, acredita Carl Djerassi. A ciência, tal como lhes permitiu controlar a fertilidade, poderá ajudá-las a ser mães sem risco quando biologicamente isso é já um desafio e um problema.
Cada vez mais as mulheres adiam a maternidade. O que é possível graças à pílula. Mas isto levanta o problema crescente das gravidezes de risco.

DN - O que pensa desta situação?

CD - Biologicamente, a mulher deveria ter filhos aos 18 ou 20 anos e ir para a universidade depois. Mas a vida não é assim e elas acabam por ter que escolher entre ser mães ou terem uma profissão. A maior contribuição da pílula foi tornar possível a independência das mulheres, tornando possível o sexo sem reprodução. A fertilização in vitro (FIV) permite o reverso: reprodução sem sexo. Essa separação já se tornou comum: o sexo é para o amor, curiosidade, divertimento. Mas não para reprodução.

DN - Mas adiar a maternidade pode trazer outros problemas...

CD - Exacto. E não só de fertilidade, mas também problemas genéticos. É por isso que as grávidas com mais de 35 anos fazem amniocenteses, para, em caso de problema, poderem abortar. Mas com os métodos de FIV, é possível ao fim de três dias analisar o embrião, para ver se tem algum problema. Ou seja, antes de ser implantado no útero da mulher. O aborto deixa de ser uma questão. Penso que a FIV pode ser a solução para as mulheres que adiam a maternidade por razões profissionais.

DN - Portanto, o futuro será o de filhos sem sexo, mesmo que não haja problemas de infertilidade?

CD - Sim. Não para todas, mas para algumas. Dentro de 10 a 20 anos, pessoas sem problemas de infertilidade irão usar os métodos de FIV e serão quase exclusivamente mulheres a tomar essa decisão. Por outro lado, temos ainda o facto de a mulher já nascer com um determinado número de óvulos, enquanto o homem está continuamente a produzir espermatozóides. Quando uma mulher tem 35 anos, perdeu 95% dos seus óvulos. E os restantes estão a envelhecer rapidamente. Num futuro próximo, as mulheres poderão colher óvulos aos 20 anos para congelar. Ainda não é possível, mas há muita investigação. Assim, uma mulher poderá guardá-los e ter filhos aos 40 ou 45. Elas têm de ter opção, como os homens. Se um homem de 50 anos tem um filho, tudo bem, mas se for uma mulher...

DN - Isso não é desafiar a natureza?

CD - Sim. Estamos a saltar etapas do processo da evolução. Mas não será o que estamos a fazer com as pessoas inférteis? É possível tratar agora casos de extrema infertilidade, como é o caso dos homens sem espermatozóides.

DN - Mas os filhos desses homens serão igualmente inférteis...

CD - Exacto. Poderíamos dizer a quem sofre de infertilidade que há normalmente boas razões biológicas para não ter filhos. Por exemplo, as pessoas com esclerose múltipla têm graves problemas de infertilidade. Talvez seja um mecanismo da evolução destinado a travar a disseminação da doença. Mas vão dizer isso aos pais... Os Estados acreditam que podem legislar essas matérias. Mas eu não. O sexo e a reprodução são as coisas mais íntimas e as pessoas fazem as suas próprias decisões. Proibir só leva ao turismo médico e isso não é uma resposta ao problema.

#Leis a mais

A condenação de David Irving não é apenas idiota e inoportuna: mostra que há leis que não deviam existir

David Irving é pouco mais do que um pobre diabo, que nem "historiador", com aspas e tudo, se pode intitular, e que há 17 anos - repito: 17 anos - proferiu umas declarações na Áustria negando o Holocausto. A Áustria, onde ter tal interpretação falsa da história é proibido, acaba de o condenar a três anos de prisão. Naturalmente que a justiça, na sua imensa e necessária cegueira, não podia ter proferido a sentença em momento mais oportuno. Se no mundo islâmico se argumenta que o Ocidente trata com dois pesos e duas medidas os seguidos de Maomé e os judeus, nada melhor do que por altura da polémica dos cartoons, defendidos em nome da liberdade de expressão, condenar alguém por ofensa à memória do martírio dos judeus. Ainda para mais um inútil sem qualquer credibilidade que entretanto até já se havia retratado dos disparates proferidos ainda o Muro de Berlim estava de pé.
Esta condenação apenas demonstra que, em termos de liberdade de expressão, a única lei aceitável é não haver qualquer lei. Quando esta começa a ser regulada, cedo ou tarde se chega a estes disparates. Na Áustria como - podia ser de outra forma? - em Portugal. De facto, se David Irving tivesse negado o Holocausto em Portugal violaria o artigo 240 do Código Penal, no qual se estabelece uma pena de prisão até seis anos para os que injuriem qualquer grupo de pessoas, "nomeadamente através da negação de crimes de guerra ou contra a paz e a humanidade". Claro que em Portugal ninguém se leva muito a sério e não há memória de ninguém ter sido perseguido por tais motivos, apesar de me recordar de muitos artigos que, mesmo deixando de parte o Holocausto, negaram ou, pelo menos, contestaram a ocorrências de crimes de guerra, como, por exemplo, os como tal definidos pelas Nações Unidas no caso das guerras que varreram, nos anos 1990, a ex-Jugoslávia.
Mas não só. O nosso Código Penal também prevê penas para quem "publicamente vilipendiar acto de culto de religião ou dele escarnecer", o que significa que todos os jornais que reproduziram os ditos cartoons podem vir a ser perseguidos na justiça.
Felizmente que os nossos procuradores e juízes têm andado distraídos ou ocupados com outros assuntos, deixando que essas matérias sejam apenas discutidas publicamente, onde as opiniões se dividem e confrontam, o que é saudável. Mas não é certo que isso suceda sempre, já que há quem pretenda continuar a legislar nesta matéria, criminalizando todos os que não se expressem de forma politicamente correcta. É o caso do Bloco de Esquerda, cujos deputados, reunidos em jornadas parlamentares, pretendem acrescentar a estes artigos do Código Penal que nem deviam existir mais alguns, estes destinados a combater o que designam como "ódio homofóbico". Não se conhecem os termos exactos da proposta, mas a simples formulação do conceito permite que nos interroguemos se aquilo que podemos definir como uma opinião ou um julgamento moral - e refiro-me aos que defendem que a homossexualidade é imoral, por exemplo - passará ou não a cair na alçada da lei. O facto de se poder discordar radicalmente de tal opinião será que autoriza a sua criminalização? Não, como não devia autorizar que a contestação do Holocausto fosse um crime ou que pudessem ser perseguidos na justiça os que praticam a blasfémia.
Nestas matérias, como em tantas outras, os clássicos ainda nos ajudam, e por isso valerá a pena citar Edmund Burke: "Não é o meu advogado que me diz o que posso fazer, mas o que o meu sentido de humanidade, de razão e de justiça me diz que devo fazer." Burke não precisava de leis, mas de valores. À falta de valores, nós vamos multiplicando as leis. Os resultados estão à vista.

José Manuel Fernandes, PÚBLICO, 060222

#Adversidade

A adversidade é a raiz da felicidade.
A adversidade mostra-nos o que somos, cultiva a força, a vontade de ser feliz e ir mais além.
Somos fracos e moles porque nunca fomos postos à prova. Nunca nos exercitamos. Crescer não se vê nos ponteiros do relógio. O esforço para crescer e vivermos o melhor de nós foi mínimo. Acreditaram que o melhor era tirarem os obstáculos da nossa frente, em vez de nos darem a mão ao encontrá-los e estarem ao nosso lado, deixando as decisões e suas consequências nas nossas mãos. Assim deixamos de decidir, de saber dar prioridade e de saber para onde queremos ir. Simplesmente não aprendemos a decidir. Simplesmente não sabemos por onde passa a nossa felicidade. Ser feliz é duro! Ser feliz está ao alcance de todos! É preciso é querer!
Temos a vida mais fácil (hoje a vida não é tão dura como foi para os nossos avós) e mais complexa de sempre (nunca tivemos tantas solicitações e opções como hoje - o que queremos ser?) e no entanto teimamos em não querer ser felizes na simplicidade e em não querer saber onde está a nossa felicidade.
Onde está a minha felicidade?

Somos seres humanos atrofiados, retiraram-nos a frustração e os desejos não saciados, esconderam-nos a tesoura da poda da nossa vida, e somos meros arbustos que tentam crescer em todas as direcções, tentando abarcar tudo, em vez de sermos árvores que crescem numa direcção, num caminho, com cicatrizes saradas, crescendo para a nossa liberdade e felicidade, tentamos crescer para a direita e para a esquerda, talvez na ideia de que a felicidade se encontra como a sorte, talvez ali, talvez aqui.
Não.
Ser feliz constrói-se, e ou a construímos dia-a-dia ou ela não nos cai no colo, e não vale a pena dizer que hoje estou contente e queremos mascarar contentamento com felicidade. Não aceitemos uma versão menor da vida e de nós mesmos!
Queremos ser um lápis que escreveu léguas de vida, no meu caderno da vida e em especial no dos outros, gasto, desbotado, aparado tantas vezes, com marcas e pequeno?
Ou queremos ser um lápis lindo, reluzente, intocado, que nada escreveu, que nunca cumpriu a sua função?
A maior catástrofe dos nossos dias é acreditar-se que a felicidade é ausência!
Ausência de sofrimento, ausência de problemas, ausência de desejos não saciados! Que felicidade pueril a nossa!
Como se a ausência de chuva torna-se todos os dias cheios e plenos de felicidade...

Jorge Mayer

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

#Recortados


"Faith is taking the first step even when you don't see the whole
staircase. "
Martin Luther King, Jr.

"If you think you are too small to make a difference try sleeping with a
mosquito!"
The Dalai Lama

"Poverty is the worst form of violence."
Gandhi

"A espantosa realidade das coisas.
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é.
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra.
E quanto isso me basta.
Basta existir para ser completo."
Fernando Pessoa

"Para os da filosofia sensualista o amor é essa variável que determina que
a memória do sexo seja ainda melhor que o próprio."
Bruno Sena Martins

#Tanto


Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Camões

Sent by: Mónica Claro

#Educar


"...porque «educar» significa sempre sonegar ao educando uma parte da
informação. O amor é um exercício de liberdade, ou não é nada. Os nossos
filhos têm direito a escolher os seus próprios, íntimos e pessoalíssimos
caminhos; a nossa função é proporcionar-lhes ternura, confiança,
conhecimento e liberdade. Dar-lhes asas, sem lhes definir a rota do voo.
Por muito que nos custe, eles têm direito à paixão e ao erro, à descoberta,
ao riso, às lágrimas, à vertigem da dor e do prazer. Exactamente como nós."

Anónimo

Sent by: Bruno Martinho

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

#Fátima:Evangelizar Deus


Porque é que você, que é bispo, quando vem falar comigo, nunca me fala de
Deus nem da religião, mas do povo, da defesa dos seus direitos e da sua
dignidade??, perguntou o Presidente de Moçambique, Samora Machel, a D.
Manuel Vieira Pinto, então Bispo de Nampula. ?Porque um deus que precisasse
da minha defesa seria um deus que não é Deus. Deus não precisa que O
defendam. Os seres humanos sim?, respondeu o Bispo.
Foi precisamente o antigo bispo de Nampula que me contou que,
encontrando-se um dia em Fátima, se deparou com uma senhora que, de
joelhos, se arrastava a caminho da Capelinha das Aparições. Na tentativa de
demovê-la, pois o Evangelho não é a favor do sacrifício pelo sacrifício ? a
dor é um mal a evitar --, lá lhe foi dizendo que Deus não queria aquilo e
que ele, bispo, até podia substituir a promessa, por exemplo, pela ajuda a
favor de uma obra social. Insistiu, sublinhando-lhe que assumia a
responsabilidade. A senhora, porém, atirou-lhe: ?Vá com Deus, senhor bispo.
Não foi a si que eu fiz a promessa?.
É preciso respeitar o sofrimento das pessoas e manifestar-lhes simpatia
activa na sua dor. Mas é necessário reconhecer também que o que se passa em
Fátima com pregações apelando à penitência e ao sacrifício não está de
acordo com o Evangelho.
De facto, até etimologicamente, a palavra Evangelho significa notícia boa.
O Evangelho segundo São Marcos começa assim: ?Princípio da boa nova de
Jesus Cristo, Filho de Deus. Jesus pregava o Evangelho de Deus e dizia:
completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; mudai de mentalidade e
acreditai na Boa Nova?. Lá está: Evangelho enquanto notícia boa e feliz. E
habitualmente traduz-se: ?fazei penitência?, mas, no original grego, está:
?Metanoeite?, que significa: mudai de mente, de pensamento, de coração".
Não está: ?fazei penitência?. E Jesus proclamava: ?ide aprender o que isto
quer dizer: Deus não quer sacrifícios, mas misericórdia?.
No entanto, frequentemente, talvez porque ao poder e às autoridades
interessa o cultivo do medo, o Evangelho tornou-se de facto uma má notícia.
Deus, que Jesus proclamou como Amor, Liberdade Criadora, Fonte de Alegria e
realização plena, acabou por ficar associado a tristeza, enfado, medo,
castigo, vida tolhida, sentimento de culpa, juízo final, infantilismo.
Para esse ?Disangelho?, como lhe chamou Nietzsche, foi decisiva a
infiltração da ideia de que Deus, para aplacar a sua ira e reconciliar-se
com a humanidade, precisou da morte do próprio Filho na cruz.
E aí está um deus vingativo, cruel e monstruoso!
Mas, se Deus fosse vingativo e cruel, também nós, os seres humanos,
poderíamos exercer vingança e crueldade.
Permito-me, porém, lembrar que o teólogo Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento
XVI, no livro Fé Cristã Ontem e Hoje, traduzido para francês em 1976,
recusou acreditar que Deus se tornou ?misericordioso? só depois de ver
satisfeita a sua ?vingança?. Erguendo-se contra a teologia da ?satisfação?
que situa a cruz ?no interior de um mecanismo de direito lesado e
restabelecido?, rejeitou a noção de um Deus ?cuja justiça inexorável teria
exigido um sacrifício humano, o sacrifício do seu próprio Filho. Esta
imagem, apesar de tão espalhada, não deixa de ser falsa?.
Mesmo correndo o risco de escandalizar alguém, deve também dizer-se que, de
facto, Fátima não faz parte da fé católica, isto é, pode-se ser católico e
não acreditar em Fátima. De qualquer forma, Fátima não é o centro do
catolicismo.
Mas Fátima realmente existe e muitas pessoas poderão fazer lá experiências
boas de Deus. Porque não utilizar então Fátima, evangelizada pelo Deus de
Jesus, que é Amor e Fonte de Vida, Alegria, Perdão e Beleza, como grande
espaço de oração e meditação e mudança de mentalidade e até de encontros
ecuménicos e de diálogo inter-religioso, a favor da justiça, da paz, da
reconciliação entre os homens e da abertura ao Mistério?
A quem receie que o anúncio do Deus-Amor poderia levar ao ?vale tudo? e à
libertinagem seria bom lembrar que quem se sente autenticamente amado com
amor de verdade e sem ingenuidades rousseaunianas fica religado (um dos
étimos de religião é ?religare?, religar) a Deus e ao Bem a partir de
dentro e não por medo.
Quanto ao novo fervor com as relíquias, lembra-se que as únicas relíquias
que Jesus deixou são comunidades cristãs vivas que acreditam, com todas as
consequências, que Jesus, crucificado por e para dar testemunho do amor e
da verdade, está vivo.

Anselmo Borges ao Diário de Notícias
Padre e professor de Filosofia

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

#Gastos em armas


Para 2003, orçamentos anuais em armas.....

USA 405 500 Milhões USD
Japao 40600 Milhões USD
Grã-Bretanha 62 200 Milhões USD
França 30 400 Milhões USD
China 23 070 Milhões USD

Soma dos cinco = 561 800 Milhões de USD! Por ano!!

Que equivalem a 86 500 Milhões de contos...
Mais do que todas as dividas entre países ricos e pobres (80 000 Milhões de
contos)!!!

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Visita de estado à china (Jan 2005)

Rússia é o principal fornecedor de armas
DN
manuel carlos freire
Reuters-Simon Kwong

reforma. Exército de Libertação do Povo vai reduzir os seus efectivos

A China, sujeita a um embargo europeu de armas - abordado ontem pelos
presidentes chinês e português, Hu Jintao e Jorge Sampaio - desde 1989, fez
da Rússia o seu principal fornecedor de armamento ao longo dos últimos
anos.

As compras feitas por Pequim a Moscovo são da ordem dos milhares de milhões
de dólares, envolvendo aviões, submarinos, fragatas ou mísseis. E essa
relação bilateral está em vias de se aprofundar com a realização, no
segundo semestre deste ano e pela primeira vez na história dos dois antigos
rivais, de um exercício militar conjunto (centrado nas componentes naval e
aérea) em larga escala, e no território chinês, que envolverá submarinos e
bombardeiros estratégicos.

Pequim, que divulgou há cerca de duas semanas o último Livro Branco da
Defesa, está empenhada em modernizar o seu aparelho militar para fazer face
às «novas mudanças que estão a ocorrer no equilíbrio de poder entre os
principais protagonistas internacionais».

O documento considera Taiwan como «a mais imediata» das ameaças à sua
soberania e tece críticas aos Estados Unidos pelo seu apoio às autoridades
daquela ilha. Contudo, o ministro da Defesa chinês enviou ontem sinais de
abertura para com Washington, ao afirmar que o seu país espera reforçar os
laços militares bilaterais com os norte-americanos. «É do interesse comum
de ambas as nações desenvolver relações militares bilaterais», afirmou o
ministro Cao Gangchuan depois de receber uma delegação da Câmara dos
Representantes dos Estados Unidos.

Este Livro Branco da Defesa chinês aponta também, como um dos principais
objectivos para os próximos anos, a necessidade de reduzir a dimensão das
suas Forças Armadas, reduzindo a componente da «mão-de-obra» - que é de 2,5
milhões de efectivos - a favor da modernização tecnológica.

Segundo o China Daily, o documento aponta a persistência de antigos
problemas de segurança na região e o surgimento de outros factores de
perturbação a presença militar dos EUA e o reforço das suas alianças com
países vizinhos, as alterações na política de defesa do Japão (que está a
desenvolver um sistema de defesa antimíssil), a ameaça nuclear da Coreia do
Norte.

Verbas. Com um orçamento oficial de 25 600 milhões de dólares para a Defesa
em 2004, a China diz ter umas Forças Armadas centradas na defesa do
território e que não representam uma ameaça para qualquer outro país.

Comparativamente com outros grandes «investidores» na área militar, a China
tinha em 2003 um orçamento (23 070 milhões de dólares) que correspondia a
5,69% em relação ao dos Estados Unidos e 56,78% ao Japão. Quanto aos dois
pilares da defesa europeia, Grã- -Bretanha e França, o orçamento chinês
equivalia a 37,07% de Londres e 75,96% de Paris, segundo dados divulgados
pela imprensa local.

A França (grande produtor mundial de armamento) é, a par da Alemanha, um
dos países que deseja acabar com o embargo de armas da UE à China. O
próprio ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jack Straw, disse
esta semana esperar que essa proibição seja levantada até Julho deste ano.

Sent by: Jorge Mayer

#Felicidade Realista


A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser
magrérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguer, a comida e o cinema:
queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos
conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar
pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente
apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes
inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos
sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinónimo de felicidade. Você
pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um
parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente
quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo,
usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o
suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem
pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, a buscar coisas que
saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de
criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o
estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,
instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está
alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não
se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la
e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e
não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso
coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

Sempre achei que se vêm filmes a mais....
"...deve-se sonhar na vida, mas nunca viver num sonho..."

Mário Quintana

#Canção dos males passados e bem presente


Eis um tempo de mar. Tempo de azul.
De fogo lento cabras maravilha
tempo de me buscar de te buscar
tempo de navegar para essa ilha
que fica sempre um pouco mais ao sul.
Eis um tempo de mar (tempo de amar).

Meu país que já foi. Meu país por fazer.
Eis um tempo de ser eterno em cada instante
um corpo para viver um corpo para morrer
meu porto que eras sempre mais adiante.

Eis um tempo de ser como quem arde
como quem se semeia e se despede
porque antes era cedo ou era tarde
mas este tempo é nosso e não se perde.
Eis um tempo de ser como quem arde
em fogo lento lenha verde.

Quem sabe a cor do acaso e suas leis?
Quem sabe ler o tempo e seus sinais?
Eis o tempo a tecer com seus aneis
um tempo para sempre e nunca mais.

Eis um tempo de ser fiel ao tempo.
As cabras estão no fogo e o sacrifício
é este arder assim dentro do tempo.
Meu altar minha festa meu silício.

Não perguntem por mim: eu estou aqui.
Meu país por fazer. Meu país que já foi.
E não sou de ninguém. E sou de ti.
Eis um tempo de amor num tempo que me dói.
Não perguntem por mim: eu estou aqui.

Não perguntem se volto: eu já voltei.
Estou num corpo de trigo. Estou no vinho.
E nas coisa passadas que passei
como quem fica um pouco no caminho.
Não perguntem se volto: eu já voltei.

Pelos caminhos de me achar e me perder
já meu corpo sofreu os danos e os castigos
tantos foram os laços de me atar e me prender
tantos os riscos tantos os perigos.
Pelos caminhos de me achar e me perder.

Não perguntem por mim.
Dá-me o teu corpo
como se fosse para sempre e nunca mais.
Tu que ficavas mais adiante e és o meu porto
que assim mo disse o tempo e seus sinais.

Manuel Alegre, in "Coisa Amar (Coisas do Mar)", 1976

Sent by: Mónica Claro

terça-feira, fevereiro 14, 2006

#Ao longe o mar


Porto calmo de abrigo
de um futuro maior
ainda não está perdido
no presente temor
não faz muito sentido
já não esperar o melhor
vem da névoa saindo
a promessa anterior

quando avistei ao longe o mar
ali fiquei
parada a olhar

sim, eu canto a vontade
canto o teu despertar
e abraçando a saudade
canto o tempo a passar

quando avistei ao longe o mar
ali fiquei
parada a olhar

quando avistei ao longe o mar
sem querer, deixei-me ali ficar

Madredeus
Letra de Pedro Ayres Magalhães

#My Funny Valentine


My Funny Valentine
Sweet Comic Valentine
You Make Me Smile With My Heart
You're Looks Are Laughable,
Unphotographable
Yet You're My Favorite Work Of Art
Is Your FigureLess Than Greek
Is Your Mouth A Little Weak
When You Open It To Speak
Are You Smart
Don't Change A Hair For Me
Not If You Care For Me
Stay Little Valentine Stay
Each Day Is Valentine's Day

Sent by: Rita Silva

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

#Florbela Espanca


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

Sent by:Flora Cousso

#Cerca de 32.000 japoneses suicidaram-se em 2004


Um total de 91 pessoas morreu ao longo de 2005 no Japão em 34 suicídios
combinados através da Internet, indicou hoje a polícia, precisando
tratar-se de um número recorde.

Segundo a polícia, a maioria das vítimas eram mulheres e tinham entre 20 e
30 anos. Acrescentou que o número de mortes se reduziu desde Outubro,
graças às intervenções da polícia.
O número de suicídios combinados através da Internet triplicaram no Japão
desde 2003. Estes pactos têm sido feitos desde finais dos anos de 1990 em
diversas partes do mundo, embora a maioria dos casos se tenha registado no
Japão, que ostenta o recorde de suicídios.
Cerca de 32.000 japoneses suicidaram-se em 2004.

In: Diariodigital.com

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

#Quase...

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de
um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata
trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase
morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que
se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita
mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor
não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na
distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença
dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons
motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias
seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não
inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz
dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance,
para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,
preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade
de merecer. Prós erros há perdão; prós fracassos, chance; prós amores
impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo
fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade
sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que
sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem
quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Veríssimo

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

#Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas,
Como a poesia ou o amor
(O nome de quem se ama
letra a letra revelado
no mármore distraído
no papel abandonado)

Alexandre O?Neill

Sent by: Rita Silva

terça-feira, fevereiro 07, 2006

#Verbo Ser

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade

Sent by: Luísa Cardoso

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

#Pânico em Manila

Pelo menos 88 pessoas morreram e 200 ficaram feridas num movimento de
pânico em Manila, nas Filipinas.
As vítimas estavam junto a um estádio de futebol, na tentativa de
conseguirem um lugar para assistir a um popular concurso de televisão, que
dá prémios.

Algumas pessoas estiveram dois dias na fila para conseguirem bilhetes e
assistirem ao concurso que oferece dinheiro e carros.
Esta manhã, milhares de filipinos concentraram-se à volta do estádio à
espera de poderem entrar no concurso que seria transmitido em directo pela
televisão.

O que realmente aconteceu está ainda por explicar. Certo é que houve uma
onda de pânico na multidão. As pessoas foram empurradas contra uma vedação
e o portão do estádio.

A maioria das vítimas são mulheres que morreram esmagadas. Os corpos foram
depositados nas ruas, cobertos com jornais, sacos de plástico e roupas
velhas.

Apesar da tragédia, quem escapou ileso não arredou pé da fila tal é a
vontade de participar no concurso televisivo que dá pouco mais de 15 mil
euros em dinheiro. Uma verdadeira fortuna para 40 por cento da população
que vive com menos de dois euros por dia.

http://sic.sapo.pt/online/noticias/ 03/02/2006

#Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

#Sou um Guardador de Rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro

Sent by: Luísa Cardoso

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

# Cartoons deMaomé enfurecem mundo islâmico

Sucedem-se manifestações, fecho de embaixadas e boicote de produtos
Cartoons de Maomé enfurecem mundo islâmico
02.02.2006 - 11h29 Ana Navarro Pedro, (PÚBLICO) e AFP
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1246619

Reivindicando o "direito de caricaturar Deus", o jornal popular francês
"France Soir" publicou ontem 12 caricaturas dinamarquesas do profeta Maomé
que enfureceram o mundo muçulmano. O primeiro-ministro dinamarquês, Anders
Fogh Rasmussen, "deplorou pessoalmente" esta maneira de "representar
símbolos religiosos", mas o modo como geriu o escândalo agravou a
tempestade diplomática: manifestações e um boicote generalizado aos
produtos do pequeno reino no Médio Oriente.

Já hoje, o governo norueguês anunciou o fecho ao público da sua
representação na Cisjordânia, após ameaças por parte de dois grupos armados
palestinianos."Nós levamos as ameaças muito a sério", declarou à AFP Rune
Bjaastad, porta-voz do ministro norueguês dos Negócios Estrangeiros.

O "France Soir", à beira da falência, publicou os desenhos saídos a 30 de
Setembro de 2005 no diário popular dinamarquês "Jyllands-Posten" em nome da
"defesa da liberdade de imprensa". Outros jornais europeus fizeram a mesma
opção. Em Espanha, o "ABC" e "El Periódico". Na Itália, o "La Stampa"
ilustrou um artigo factual com o desenho mais polémico, que mostra Maomé
com um turbante em forma de bomba. Na Suíça, o popular "Blick" publicou
dois desenhos e o "La Tribune", de Genebra, programou para hoje algumas
caricaturas. O alemão "Die Welt" foi o único media de referência europeu a
publicar (ontem, em primeira página) uma das caricaturas, em nome da
"liberdade de expressão".

Estas tomadas de posição ocorrem depois de o "Jyllands-Posten" ter
apresentado desculpas, na segunda-feira, por ter ofendido os muçulmanos. No
começo, o diário (imitado pelo jornal norueguês "Magazinet") tinha
publicado os desenhos num espírito de provocação, reivindicando o direito a
"desafiar, humilhar e blasfemar" o islão, segundo o editorial de 30 de
Setembro de 2005.

As desculpas aconteceram depois de milhares de palestinianos terem
participado num desfile organizado pelo grupo Jihad Islâmica na Faixa de
Gaza, e terem queimado uma foto de Rasmussen, em frente às instalações da
União Europeia. Desfiles muito agressivos decorreram também no Iémen e no
Sudão e por todo o Médio Oriente houve ameaças contra os cidadãos nórdicos,
levando as organizações internacionais a começarem a retirar os seus
colaboradores dinamarqueses e noruegueses destes países.

Em Rabat, foi marcada para amanhã uma manifestação de protesto de
movimentos islâmicos. A polícia dinamarquesa antecipa também uma
manifestação de jovens muçulmanos em Copenhaga, este fim-de-semana, e outra
de movimentos de extrema-direita que ameaçam queimar o Corão nas ruas da
capital.

No começo, o caso tinha um potencial para acalmar, mesmo se revelava um
abismo cultural entre dois mundos. Onze embaixadores árabes em Copenhaga
pediram que Rasmussen sancionasse os caricaturistas, recordando que a
representação de Maomé é proibida pelo islão.

Os diplomatas foram ignorados pela coligação de direita no poder, que "não
se deu ao trabalho de explicar que, no Ocidente, um governo não interfere,
nem sanciona, a liberdade de expressão, mas que as opiniões dos jornais
também não reflectem as posições de todo um povo", disse ao PÚBLICO o chefe
de redacção do diário Politiken, Torgen Seinenfaden, lamentando o "imenso
desperdício desta crise inútil".

A situação diplomática foi apodrecendo, explorada, em paralelo, pela
extrema-direita xenófoba dinamarquesa e por radicais islamistas no Médio
Oriente. Hoje, a tempestade parece fora de controlo. Os apelos ao boicote
dos produtos dinamarqueses já fizeram uma primeira vítima: o grupo de
lacticínios dinamarquês e sueco Arla Foods perde um milhão de euros por dia
no Médio Oriente, e teve de fechar as suas fábricas na região.

No plano diplomático, a Síria chamou ontem a Damasco o seu embaixador na
Dinamarca, imitando a Arábia Saudita e a Líbia. Irão, Iraque, Argélia e
Sudão exigem explicações à Dinamarca. Os ministros do Interior de 17 países
árabes, reunidos em Tunes, pediram ao Governo dinamarquês que "puna
seriamente" os caricaturistas.

O "France Soir", condenado por todas as religiões monoteístas em França,
diz que não agiu por gosto da provocação e sim porque os desenhos estão no
centro da polémica sobre o equilíbrio entre democracia e respeito pelas
crenças religiosas.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

#As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm,
cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Sent by: Flora Cousso