/* Commented Backslash Hack hides rule from IE5-Mac \*/

PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, janeiro 30, 2017

# Serviços de saúde em Portugal superam Espanha e Reino Unido

http://observador.pt/2017/01/30/servicos-de-saude-em-portugal-superam-espanha-e-reino-unido/

30/1/2017, 16:06 Ana França

Pela primeira vez desde 2005, os serviços de Saúde em Portugal superam
Espanha e Reino Unido. Melhorias na prevenção, tratamentos e direitos
dos pacientes explicam a subida em ranking europeu.

Segundo os próprios utilizadores do SNS, os direitos dos pacientes, o
tratamento de doenças e sua prevenção estão melhores do que em 2015

E se um estudo avaliar os serviços de Saúde do ponto de vista de quem
os utiliza? É isso que faz a Health Consumer Powerhouse (HCP), uma
empresa sueca de análise de mercado, que avalia o desempenho dos
sistemas de saúde em 35 países europeus através da perspetiva do
consumidor e dos dados fornecidas pelas Direções-gerais de Saúde dos
diferentes países.

No último relatório, publicado esta segunda-feira, a avaliação dos
utentes portugueses coloca Portugal em 14.º lugar, com 763 pontos em
mil possíveis. A escalada de seis lugares é destacada no estudo e
coloca o Sistema Nacional de Saúde (SNS) à frente dos serviços do
Reino Unido e de Espanha, pela primeira vez desde 2005, quando a HCP
começou a realizar este estudo. Isto apesar de os períodos de espera
(por consultas ou tratamentos), o acesso a especialistas (em especial
de medicina dentária) e o número de intervenções autorizadas, como
cesarianas, merecerem nota negativa por parte de quem avalia.

O desempenho de Portugal neste ranking tem-se revelado um pouco
instável – passou do 25.º lugar, em 2012, para o 16.º no ano seguinte,
subindo para o 13.º em 2014 e caindo para o 20.º lugar, em 2015 – o
país aparece agora seis lugares acima da sua classificação que,
segundo o estudo, "se ficou a dever a um descontentamento da população
com os períodos de espera".

A acessibilidade continua a gerar, sem surpresas, as maiores queixas.
O acesso direto a um especialista é mais demorado em Portugal porque é
necessário, primeiro, ser visto por um médico de família. O longo
tempo de espera nas urgências e a dificuldade em marcar uma consulta
oncológica em menos de 21 dias também prejudicou a boa classificação
de Portugal.

Os portugueses também não são os melhores na "diversidade e
abrangência dos serviços prestados", uma pasta onde constam as
avaliações dos utentes à equidade no acesso aos melhores cuidados, ao
acesso gratuito à medicina dentária (apenas na Letónia a situação é
pior), à percentagem de diálise realizadas fora dos centros
hospitalares, e ao número de cesarianas autorizadas. Os utentes
portugueses deram nota negativa a todos estes indicadores.

O que está a correr bem

Mas então porque é que Portugal subiu tantos degraus? Porque, apesar
de alguma insatisfação, são mais os indicadores "no verde", ou seja
que denotam uma melhoria em relação ao ano passado. É o caso da área
dos direitos dos doentes, dos resultados dos tratamentos e da
prevenção.

Portugal aparece a verde em vários indicadores, como a queda na
mortalidade por enfarte, o rácio de cirurgias às cataratas na
população idosa (logo a seguir à França) e a boa taxa de vacinação. Os
portugueses revelam-se mais satisfeitos este ano com o nível de acesso
aos seus dados médicos, com os mecanismos de escolha dos médicos, com
o leque de profissionais disponíveis para procurar uma segunda opinião
e com o acesso a linhas de informação 24 horas.

Na edição de 2016, a Holanda voltou a ser o país que reuniu mais
pontos nos 48 indicadores avaliados, conseguindo uma classificação de
927 em 1000. Do outro lado do espectro está a Roménia, que se ficou
pelos 497 pontos. Portugal está, porém, à frente do vencedor (em 10º
lugar) no fator a que o HCP chama "Bang for the buck", ou seja, uma
análise do custo-eficiência dos cuidados de saúde, que analisou a
relação entre os gastos em saúde e a qualidade de tratamentos que
conseguimos obter com esse montante.

A organização conclui que os sistemas de saúde europeus estão a
melhorar apesar de muitos terem passado por um "banho de aço", que os
imobilizou durante os piores anos de contenção orçamental. O estudo
destaca, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil, que já foi um
dos maiores problemas dos países estudados. Há uma década apenas nove
países estavam "no verde", agora são 24 – o que quer dizer que na
grande maioria dos países estudados morrem apenas quatro crianças por
cada 100 mil nascimentos.

Catarina Sena, da Direção-Geral da Saúde, disse ao jornal Público que
Portugal ficou à frente de Inglaterra e de Espanha "porque está melhor
classificado no que respeita à acessibilidade, sendo, entre outros
aspetos, valorizada a possibilidade de marcação de uma consulta nos
cuidados de saúde primários no próprio dia".

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, janeiro 25, 2017

# Testemunhos de passagem de uma portuguesa por um campo de refugiados na Grécia

Ler, ajuda-nos a compreender, a ser mais próximos, a agir!

https://hotelglobo.net/2017/01/13/diario-de-chios-1/
https://hotelglobo.net/2017/01/14/diario-de-chios-2/
https://hotelglobo.net/2017/01/14/diario-de-chios-3/
https://hotelglobo.net/2017/01/14/diario-de-chios-4/
https://hotelglobo.net/2017/01/14/diario-de-chios-5/

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

terça-feira, janeiro 24, 2017

# Votar está a dar cabo da democracia. Sim, leu bem

http://observador.pt/especiais/votar-esta-a-dar-cabo-da-democracia-sim-leu-bem/

22 Janeiro 2017 Edgar Caetano

Em "Against Elections" ("Contra as Eleições"), o belga David van
Reybrouck lança uma proposta, no mínimo, desafiante. Acabar com as
eleições pode salvar a democracia. A alternativa? É bem antiga.

Uma votação a uma volta, por maioria simples (isto é, por um voto se
ganha e por um voto se perde), tirou o Reino Unido da União Europeia
(UE) numa quinta-feira de junho. No dia seguinte — "o Dia da
Independência" para os impulsionadores do Brexit — 48,1% dos
britânicos acordaram para a realidade de que iriam deixar de ser
membros da UE, vencidos numa consulta popular em que ambos os lados
recorreram à desinformação e a táticas do medo. "Foi um ponto de
viragem na História das democracias ocidentais. Nunca o destino de um
país — de um continente inteiro, na verdade — foi decidido por tal
golpe de machado, desferido por cidadãos desencantados e mal
informados", lamentou David van Reybrouck.

Van Reybrouck é um intelectual belga e autor de Tegen
Verkiezingen,traduzido para o inglês Against Elections (Contra as
Eleições). Em julho de 2016, no rescaldo do Brexit e quando alguns já
adivinhavam uma vitória de Trump nas eleições de novembro, escreveu
que "estes são tempos turbulentos" e potencialmente "explosivos". Isto
porque vivemos numa época em que "existe um grande interesse pela
política mas pouca fé nos políticos e nas instituições", o exato
inverso do que existia há 50 anos, por exemplo — um agricultor e a sua
mulher tinham pouco interesse na política mas uma confiança natural na
democracia. Agora, "temos, em simultâneo, paixão e desconfiança",
escreve Reybrouck. Tipicamente, essa não é uma boa mistura — e Van
Reybrouck explica porquê.

Os referendos como o que levou ao Brexit já têm levado a um grande
debate sobre se estes podem ser perigosos para a democracia. Mas
Reybrouck vai mais longe: muito mais longe. Para o belga, toda e
qualquer eleição é um péssimo instrumento para nortear a vida
democrática das sociedades — o belga diz que é quase uma "heresia
perguntar se as eleições, no seu modelo atual, são uma forma obsoleta
para converter a vontade coletiva dos povos em governos e políticas".
É quase uma "heresia", mas é precisamente isso que o autor flamengo,
de 45 anos, defende em Against Elections, cuja argumentação o
britânico The Times considerou "muito persuasiva".

Alguns meses depois do referendo do Brexit, após uma longa campanha
absolutamente visceral, Donald Trump até nem foi o mais votado entre
os norte-americanos. Porém, no sistema eleitoral dos EUA, obteve mais
votos no Colégio Eleitoral do que Hillary Clinton. Numa terça-feira de
novembro, Trump venceu uma corrida à Casa Branca que se baseou mais
num concurso de popularidade dos candidatos e telegeniado que num
debate de ideias e propostas para o país. Foi mais um caso que ilustra
na perfeição a tese central de Reybrouck: o sistema eleitoral que
tomamos como garantido e inquestionável não é um garante da
democracia, da liberdade e da proteção contra derivas autoritárias. As
eleições estão, na realidade, por se terem tornado em teatros de
manipulação e calculismo, a ameaçar a confiança dos cidadãos no
processo democrático,argumenta o belga.

Gosta-se da democracia, mas desconfia-se dela

A democracia é uma boa forma de governar? Sim, concordaram quase 92%
dos inquiridos num estudo internacional que ouviu mais de 73 mil
pessoas em 57 países (o World Values Survey). "A percentagem de
população global que tem uma atitude positiva em relação ao conceito
de democracia nunca foi tão grande como é hoje", escreve David van
Reybrouck logo no início do livro, lembrando que no final da Segunda
Guerra Mundial havia apenas 12 democracias no mundo, com o resto a
dividir-se entre governos fascistas, comunistas e colonialistas.
"Nunca houve tantas democracias no mundo e nunca houve tantos
apoiantes desta forma de governo", diz Van Reybrouck.

Mas há estatísticas que nos lançam num aparente paradoxo. Segundo
dados analisados pelo autor belga, em 1999 havia 33,3% de inquiridos
nesta mega-sondagem a defender a escolha de um líder forte que não
tivesse de incomodar-se com eleições ou com um parlamento. Na edição
seguinte da sondagem, feita entre 2005 e 2008, as percentagem de
pessoas que achariam isso boa ideia subiu para 38,1%. Já lá vão quase
10 anos, pelo que será interessante acompanhar a próxima sondagem que
faça esta mesma pergunta — é legítimo suspeitar que a percentagem terá
continuado a subir.

Outro dado interessante revelado na sondagem de 2005-2008 é que mais
de metade (52,4%) disseram ter pouca ou nenhuma confiançano seu
governo, mais de 60% disseram o mesmo sobre os seus parlamentos
nacionais e uns impressionantes 72,8% mostraram ter muito pouca
confiança nos partidos políticos, entidades basilares para a vida em
democracia eleitoral como a conhecemos. "Ainda que uma certa dose de
ceticismo seja uma componente essencial de uma cidadania crítica, é
justo perguntar quão generalizada é que esta desconfiança pode ser e,
também, quando é que um ceticismo saudável se transforma numa aversão
efetiva", pergunta o autor, a páginas tantas.

É comum falar-se numa desafetação dos cidadãos em relação à política,
um desinteresse que se comprova, por exemplo, com as elevadas taxas de
abstenção. Mas esse diagnóstico não convence o autor belga, que cita
estudos feitos na Europa que demonstram que as pessoas têm, na
realidade, mais interesse pela política do que no passado. "É certo
que há uma grande parte da população que tem pouco interesse nas
questões políticas, mas isso sempre aconteceu. Não houve qualquer
declínio recente a esse respeito, na realidade estudos recentes
mostram que as pessoas discutem mais sobre política com amigos,
família e colegas, do que no passado".

Mas isto não é, necessariamente, uma coisa boa. "Há sempre qualquer
coisa de explosivo nas eras em que o interesse pela política sobe, ao
mesmo tempo que a confiança nas instituições desce", escreve o autor.

O que pensa sobre aquilo em que não pensou?

Na campanha do Brexit, um dos rostos pela saída, o ex-ministro Michael
Gove, disse à população que não se devia dar ouvidos aos alertas dos
especialistas (em temas como Economia) e que se devia votar naquilo
que se acreditasse, lá no fundo, ser a coisa certa a fazer. Nos EUA, a
população elegeu para Presidente um magnata que se recusou a
apresentar uma simples declaração de rendimentos e património e que
vive numa penthouse banhada a ouro em Nova Iorquemas, ao mesmo tempo,
fez campanha a dizer que as "elites" estavam a esquecer-se dos
cidadãos mais desfavorecidos.

David Van Reybrouck alerta que algo está mal com este quadro e que, a
prazo, a coisa tem tudo para correr mal. Vejamos o caso do referendo
britânico: "Pedimos às pessoas que nos digam o que pensam sem que se
tenha assegurado que elas pensaram alguma coisa sobre o assunto —
ainda que tenham sido bombardeadas com variadíssimas formas de
manipulação nos meses anteriores à votação".

Vote por isto. Ou vote por aquilo. Já está? OK, agora vamos
contar-vos, a uns e aos outros, e tirar todo o tipo de conclusões
imagináveis: votou assim por isto; votou assado por aquilo; votou
assim mas só o fez porque achou que o outro lado ia ganhar facilmente;
votou assado mas arrependeu-se na manhã seguinte; votou assim porque
está zangado; votou assim porque vive em dificuldades; votou assado
porque é um idiota; votou assim porque é contra a globalização, contra
os imigrantes, contra o establishment, contra que chova ao fim de
semana. A manipulação não termina no dia do voto.

"Síndrome de Fadiga Democrática" é a expressão usada por Van Reybrouck
para descrever o terreno fértil em que o populismo tenderá a crescer,
sobretudo na era das redes sociais, e em que a política terá cada vez
menor capacidade para atrair o tipo certo de pessoas. Tudo isto está
relacionado com um conceito que Van Reybrouck lamenta: "As palavras
eleições e democracia são, hoje em dia, vistas como sinónimos. Alguém
nos convenceu de que a única forma de escolher um representante é
através de um voto inserido numa urna". Será mesmo assim? Não
conseguiremos pensar numa alternativa melhor?

Democracia = Eleições. What else?

Os direitos básicos e a forma prática como um deles deve concretizar-se

Van Reybrouck pergunta: "Não é notável que a Declaração Universal dos
Direitos do Homem contenha uma definição tão precisa de como a vontade
popular tem de ser expressa? Por que razão é que um texto tão conciso,
sobre direitos básicos, que tem menos de 2.000 palavras, presta uma
atenção especial à execução prática de um desses direitos? É como se
as pessoas que criaram a Declaração, em 1948, tenham olhado para o
método específico como um direito básico, como se o procedimento, em
si, fosse sagrado".

David van Reybrouck estranha este enfoque nas eleições, legitimado até
pela Carta Universal dos Direitos do Homem de 1948, que refere
especificamente o voto como forma de garantir a democracia. "Há quase
três mil anos que os povos têm experimentado variadas formas de
democracia e só nos últimos dois séculos é que a prática foi,
exclusivamente, eleições. Apesar disso, tomamos as eleições como o
único expediente válido para organizar uma democracia". O belga
pergunta: curioso, não é?

Desde o momento em que os apoiantes das Revoluções Americana e
Francesa propuseram as eleições como uma forma de aferir a vontade do
povo, muito mudou: na altura não havia partidos políticos, entretanto
foi introduzido o sufrágio universal, a sociedade civil
organizadatornou-se mais sofisticada, o espaço público foi inundado
por meios de comunicação social de índole comercial e, mais
recentemente, as redes sociais "vieram dar voz aos clamores das
pessoas" — sendo estas redes tudo menos sociais, já que Facebook e
Twitter são tão ou mais comerciais do que a CNN e a Fox, "com a
diferença que os donos das primeiras querem que veja e ouça e os donos
das segundas querem que escreva e partilhe".

Van Reybrouck defende que eleições parlamentares foram uma forma ótima
de criar cidadãos e virar a página do absolutismo do Antigo Regime do
século XVIII, mas as coisas mudaram muito desde então. Hoje, na
opinião do autor de Against Elections, estas não são mais do que um
mecanismo de perpetuação de uma aristocracia política que só se
distingue da aristocracia tradicional por não estar (tão) associada à
hereditariedade. É através das eleições que uma elite economicamente
favorecida cria uma ilusão de livre-arbítrio nas sociedades e, assim,
preserva o seu poder.

A situação atual assemelha-se mais à "pós-democracia" que foi descrita
pelo sociólogo britânico Colin Crouch, em 2004, citado na obra de
David van Reybrouck:

"Ainda que as eleições certamente existam e tenham a capacidade de
mudar governos, o debate público eleitoral é um espetáculo exiguamente
controlado, orientado por equipas rivais de especialistas
profissionais nas técnicas da persuasão e limitado à pequena gama de
temas escolhidos por essas equipas. A generalidade dos cidadãos têm um
papel passivo, dormente, até apático, não fazendo mais do que reagir a
sinais que lhes são transmitidos. Por detrás do espetáculo que é o
jogo eleitoral, a política é, na realidade, definida nos bastidores
numa interação entre governos eleitos e elites que representam os
interesses empresariais".

A política é demasiado importante para ser deixada aos políticos

Against Elections lê-se numa penada, mas o diagnóstico é bem suportado
por pesquisa e pontos de vista invulgares. Mas David Van Reybrouck não
se fica pelo diagnóstico, por relembrar a História e por alertar para
os riscos no horizonte: o belga deixa algumas propostas para promover
a eficácia e a (verdadeira) legitimidade dos cargos públicos. Porque o
problema não está na democracia, está nas eleições — a certa altura
foram elas que tornaram a democracia possível mas hoje são um
obstáculo.

Existem formas muito melhores (e mais ajustadas aos dias de hoje) de
deixar as pessoas falar do que um referendo ou eleições periódicas.
Parte de um esquema alternativo pode ser o regresso ao princípio
central da democracia ateniense, da Grécia Antiga: a escolha aleatória
de cidadãos para serem representantes do povo. Foi o que foi feito em
várias cidades-Estado do Renascimento, como Veneza e Florença, recorda
David Van Reybrouck. E como o cinema norte-americano não se cansa de
retratar, em muitos casos é assim que se faz Justiça, isto é,
sorteando um conjunto de cidadãos que irão debruçar-se sobre um dado
julgamento e irão produzir uma deliberação — é só uma questão de
aplicar o mesmo princípio à escolha de líderes democráticos.

"Com a escolha aleatória, não se está a pedir a um grande número de
pessoas para votarem sobre algo que apenas alguns compreendem, mas
está-se a selecionar uma amostra aleatória da população e assegurar-se
que essas pessoas se responsabilizam por obter um conhecimento
aprofundado sobre as questões, de forma a tomar uma decisão
fundamentada", defende o autor belga de Against Elections.

Esquemas deste género já foram experimentados nos EUA, na Austrália e
na Holanda. E David van Reybrouck aponta o caso da Irlanda, que em
2012 promoveu uma revisão de alguns artigos da Constituição e os
participantes não eram apenas uma comissão de deputados a trabalharem
à porta fechada. Havia uma mistura de políticos e cidadãos comuns: 33
políticos e 66 cidadãos, sorteados aleatoriamente mas assegurando uma
diversidade de idades, género e origem graças ao trabalho prévio de
uma agência independente. O resultado do trabalho deste grupo, que se
reunia um fim de semana por mês (ao longo de mais de um ano) para
ouvir especialistas de várias áreas, foi um conjunto de recomendações
que foram ao parlamento e, depois, aí sim, foram votadas em referendo.
Mas já foi uma forma inovadora de decidir algo, em democracia.

"Os cidadãos escolhidos aleatoriamente podem não ter o domínio da
política que têm os políticos profissionais, mas contribuem com uma
coisa absolutamente essencial para o processo democrático: liberdade.
Afinal de contas, eles não precisam de ser eleitos ou reeleitos",
resume o autor.

Esta é a base da proposta de David van Reybrouck, que no livro sugere
um sistema bi-camarário em que políticos e cidadãos trabalham em
conjunto para tomar decisões. A crítica que o autor ouve mais
frequentemente à sua proposta está relacionada com uma suposta
"incompetência" das pessoas que viessem a formar este tipo de
organismos plenários.

"É certo que um conjunto de representantes eleitos terá mais
competências técnicas do que um grupo escolhido ao calhas. Mas qual é
a utilidade de um parlamento cheio de advogados altamente qualificados
se poucos deles sabem quanto custa uma broa de pão?", pergunta o
autor. Para David van Reybrouck, críticas como estas são comparáveis
às críticas que se fizeram a quem, a certa altura, propôs que os
plebeus também pudessem votar. E, depois, que a classe trabalhadora
também pudesse votar. E, mais tarde, que as mulheres também pudessem
votar.

David van Reybrouck pergunta: "Precisamos de democratizar a
democracia. Do que é que estamos à espera?"

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Mais de 260 mil pessoas receberam o RSI em dezembro

http://observador.pt/2017/01/20/mais-de-260-mil-pessoas-receberam-o-rendimento-social-de-insercao-em-dezembro/

20/1/2017, 17:01 JOSE SENA GOULAO/LUSA

Mais de 260 mil pessoas receberam o Rendimento Social de Inserção em
dezembro, segundo dados da Segurança Social, tendo aumentado não só os
beneficiários, mas também as famílias que recebem esta prestação
social. De acordo com os dados mais recentes do Instituto da Segurança
Social (ISS), atualizados a 1 de janeiro de 2017, em dezembro do ano
passado havia 216.061 beneficiários do RSI, mais 2.322 (1,08%) do que
no mês de novembro e mais 7.893 (3,79%) do que em dezembro de 2015.

Em termos de distribuição geográfica, o distrito do Porto continua a
ser o que tem mais beneficiários do RSI, 62.466, logo seguido de
Lisboa (36.581) e de Setúbal (18.640). Já no que diz respeito às
famílias, no mês de dezembro houve 96.906 beneficiárias, mais 681 do
que no mês anterior e mais 2.225 do que no período homólogo.

Também aqui a distribuição geográfica faz-se da mesma forma, com uma
prevalência entre os distritos do Porto (28.628), Lisboa (16.541) e
Setúbal (8.390). O valor médio mensal teve pouca oscilação entre os
meses de novembro e dezembro, no que diz respeito aos beneficiários,
estando nos 111,07 depois de ter estado nos 111,32 euros. O mesmo
aconteceu com o valor médio que as famílias receberam que passou de
252,70 euros em novembro para 252,21 euros em dezembro.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, janeiro 18, 2017

# Governos portugueses estão entre os executivos europeus com “melhores desempenhos no cumprimento de promessas”

http://observador.pt/2017/01/17/investigacao-guterres-foi-o-que-mais-promessas-eleitorais-cumpriu/

Investigação. Guterres foi o que mais promessas eleitorais cumpriu

17/1/2017, 10:12 Miguel Santos

De acordo com uma investigação do ISCTE, o primeiro Governo de António
Guterres foi o executivo que mais promessas cumpriu nos últimos 20
anos da democracia portuguesa.

Os governos portugueses dos últimos 20 anos, de 1995 a 2015, cumpriram
cerca de 60% das promessas inscritas nos programas eleitorais. Os
dados são avançados por um estudo pioneiro conduzido pelo ISCTE —
Instituto Universitário de Lisboa, que mereceu o destaqueda TSF.

De acordo com esta investigação, liderada por Ana Maria Belchior, os
dados recolhidos parecem contrariar a perceção negativa que a
generalidade dos portugueses têm em relação ao empenho da classe
política no cumprimento das promessas políticas. Ainda assim, existe
um dado a reter: se é verdade que a maioria das promessas é cumprida,
as que não são, como o não aumento de impostos, a criação de emprego
ou o respeito pelo salários em pagamento, são as que de facto importam
aos portugueses e as que influenciam verdadeiramente a perceção dos
eleitores.

É isso mesmo que sugere a investigadora Maria Belchior, em declarações
à TSF. "Suponho que [esta perceção negativa] tenha a ver com o facto
de que algumas promessas que não são cumpridas serem aquelas que
verdadeiramente interessam aos cidadãos. Há um contágio e não há um
cumprimento daquilo que é realmente importante para os indivíduos".
Perante o incumprimento, as pessoas "extrapolam que tudo o resto
também não é cumprido", nota a investigadora.

Feita esta ressalva importante, os números: de 1995 a 2015, os
sucessivos governos cumpriram cerca de 50% das promessas inscritas nos
programas eleitorais na sua totalidade, enquanto as restantes 10%
foram cumpridas apenas parcialmente.

Em destaque está António Guterres, que, segundo estes dados, foi o
primeiro-ministro que mais cumpriu, com cerca de 85% de promessas
cumpridas total ou parcialmente durante primeiro Governo minoritário
(1995-1999). Segue-se José Sócrates, com 80% das promessas cumpridas
durante o primeiro mandato como primeiro-ministro (2005-2009).

Em terceiro lugar está Pedro Passos Coelho, que durante os quatro anos
de mandato — e mesmo com a intervenção da troika — cumpriu cerca de
60% das promessas eleitorais.

O segundo governo de Guterres e os dois executivos PSD/CDS de Durão
Barroso e Santana Lopes apresentam números bem mais modestos no que
diz respeito ao cumprimento de promessas, com valores perto dos 45% e
30%, respetivamente. Ainda assim, recorde-se que estes governos não
cumpriram os mandatos até ao fim, o que pode explicar, pelo menos em
parte, este currículo.

A mesma investigadora destaca também o facto de os governos
portugueses estarem entre os executivos europeus com "melhores
desempenhos no cumprimento de promessas". Isto, apesar de os eleitores
portugueses estarem entre os europeus que mais desconfiança nutrem
pela classe política.

Ana Maria Belchior acrescenta ainda o facto de os governos
minoritários, sobretudo o primeiro de António Guterres, estar
apresentarem os melhores resultados nesta matéria, uma tendência que
se regista noutros estudos europeus semelhantes. A investigadora
avança com uma explicação: "Os governos minoritários, que têm de
negociar, tendem a ter um desempenho particularmente bom no
cumprimento de promessas e melhor do que os governos de coligação".

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

# Oito bilionários têm tanto como metade da população mundial junta

http://observador.pt/2017/01/16/oito-bilionarios-tem-tanto-como-metade-da-populacao-mundial-junta/

16/1/2017, 9:12 Nuno André Martins

As oito pessoas mais ricas do mundo têm tanta riqueza como metade da
população mundial. Os 1% mais ricos têm uma riqueza superior à do
resto do mundo. Seja qual for a forma escolhida para olhar para esta
questão, de acordo com a Oxfam, o resultado é sempre o mesmo: a
desigualdade está a aumentar.

Num trabalho preparado para ser apresentado no Fórum Económico Mundial
— que junta os mais ricos do planeta esta semana em Davos, na Suíça, a
partir de hoje à noite –, a Oxfam, uma confederação de 18 organizações
de solidariedade que tem como principal missão a redução da pobreza,
revela que as desigualdades têm vindo a aumentar, apesar do
compromisso dos líderes mundiais para a combater.

Os dados compilados pela Oxfam mostram que existe um desequilíbrio
cada vez maior entre os mais ricos e o resto do planeta e essa
discrepância tenderá a aumentar nos próximos anos. Entre os principais
dados citados, a Oxfam diz que:

Desde 2015 que os 1% dos mais ricos detinham mais riqueza que o resto
do planeta.
Oito pessoas têm agora tanta riqueza como a metade mais pobre da
população mundial.
O rendimento dos 10% mais pobres aumentou menos de três dólares por
ano entre 1988 e 2011, enquanto o dos 1% mais ricos aumentou 182 vezes
este valor.
O presidente de uma empresa que esteja no principal índice da Bolsa de
Londres ganha tanto por ano como 10 mil trabalhadores de uma fábrica
no Bangladesh.
No Vietname, o homem mais ganha mais num dia que a pessoa mais pobre
ganha numa década.
Nos próximos 20 anos, 500 pessoas irão deixar aos seus herdeiros cerca
de 2,1 biliões de dólares, uma soma maior que a economia da índia, ou
mais de 10 vezes maior que a economia portuguesa.

Segundo a Oxfam, a culpa da crescente desigualdade deve-se aos
constrangimentos que têm sido colocados, de forma agressiva, sobre o
crescimento dos salários mais baixos, à evasão fiscal e ao controlo
cada vez mais agressivo dos custos, que esmagam os os produtores, com
a confederação a acusar as empresas de estarem demasiado concentradas
em dar rendimentos mais elevados aos seus accionistas.

Por tudo isto, o grupo dos oito mais ricos – composto por Bill Gates,
Amancio Ortega (fundador da Zara), Warren Buffet, Jeff Bezos (da
Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Elison (Oracle) e Michael
Bloomberg -, têm agora mais riqueza acumulada que a metade mais pobre
da população mundial.

Em 2016, era necessário juntar a riqueza dos 62 mais ricos para chegar
a este número, mas o maior concentração de riqueza entre os mais ricos
e novos dados sobre a pobreza na China e na Índia mostram que a
situação é pior do que se pensava, o que faz com que os 50% mais
pobres estejam ainda em pior situação do que o que se calculava antes,
mais ainda quando se compara com o grupo dos principais bilionários.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Zygmut Bauman: sobre os laços humanos

--

---
Recebeu esta mensagem porque subscreveu ao grupo "Pensantes" do Grupos do Google.
Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, visite https://groups.google.com/d/optout.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

# The American Food Paradox: Growing Obese and Going Hungry

http://hbswk.hbs.edu/item/the-american-food-paradox-growing-obese-and-going-hungry?cid=spmailing-14064049-WK%20Newsletter%201-11-2017%20(1)-January%2011,%202017

One third of the US population is obese, even as 50 million Americans
often struggle to find enough to eat. And all that in a country where
40 percent of the food made and purchased each year is thrown away,
and in which food needs are expected to more than double over the next
few decades. Professor Jose Alvarez discusses how the former president
of Trader Joe's is boiling these difficult problems down into one
elegant solution in a pilot store in Dorchester, Massachusetts, and
blazing a trail toward sustainability in the process.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, janeiro 11, 2017

# Islamismo, liberdades, roupas e natação

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considerou que as raparigas
muçulmanas devem participar nas aulas de natação mistas nas escolas e
não ficar isentas por motivos religiosos

http://observador.pt/2017/01/10/raparigas-muculmanas-devem-ter-aulas-de-natacao-mistas/


Marrocos proíbe fabrico e venda de burqa

http://observador.pt/2017/01/10/marrocos-proibe-fabrico-e-venda-de-burqa/

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

terça-feira, janeiro 10, 2017

# Faleceu Zygmunt Bauman, grande filósofo do século XX

--

---
Recebeu esta mensagem porque subscreveu ao grupo "Pensantes" do Grupos do Google.
Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, visite https://groups.google.com/d/optout.

segunda-feira, janeiro 09, 2017

# Tocar piano debaixo das bombas na esperança da paz

http://snpcultura.org/tocar_piano_debaixo_das_bombas_na_esperanca_da_paz.html

«Quando comecei a tocar o piano nas ruas de Yarmouk, entre os palácios esventrados pelas bombas, fi-lo porque vivíamos numa situação terrível e as pessoas, sobretudo as crianças, precisavam de escutar o som da música e não apenas o das explosões. Todos precisávamos de nos agarrar a uma esperança. É certo que então não imaginava que conseguiria fugir daquele pesadelo. Para dizer a verdade, pensava que talvez pudesse tocar por dois, três dias e que depois a minha vida, de repente, acabaria debaixo das ruínas de um qualquer edifício atingido por uma bomba.»

Quem fala é Aeham Ahmad, o pianista de Yarmouk; os vídeos dos seus concertos entre as ruínas, há dois anos, tornaram-se virais na internet e deram a volta ao mundo. Agora é ele - que há mais de um ano vive em Wiesbaden, na Alemanha - que dá a volta ao mundo. Também publicou o primeiro álbum das suas composições, que intitulou "Music for hope" ("Música para a esperança"), dedicado aos sírios «que querem viver livres mas não têm qualquer voz». Encontrou-se com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do país, Joachim Gauck, e venceu o prémio Beethoven pelo seu empenho em favor dos direitos humanos.

Todavia, o mais importante para ele foi ter conseguido fazer chegar a Wiesbaden a mulher e os dois filhos que foi obrigado a deixar às portas de Damasco, quando fugiu, em 2015, depois de os militantes do autodenominado Estado Islâmico terem queimado o seu piano. «Segui aquela que vós chamais a rota balcânica e fi-la, mas para a minha mulher e as crianças teria sido demasiado perigoso».

Se em Yarmouk, onde nasceu há 28 anos numa família de deslocados palestinianos, a sua música era uma forma de resistência à guerra, um instrumento para dar alívio ao estrondo dos bombardeamentos, os seus concertos são hoje um testemunho. «Eu toco e canto a tragédia da Síria. Não apenas aquelas que contam os jornais sobre os combates entre o Estado Islâmico, a Frente Al-Nusra, o exército de Assad, os russos: eu canto sobretudo a resistências da gente que quer viver, que gostaria de sair do horror em que caiu há anos. A minha é uma música de inspiração clássica - nas ruas comecei a tocar Beethoven, que estudei no Conservatório de Damasco - juntamente com os versos e as melodias do canto árabe, mas as palavras das minhas composições narram um drama atual e terrível».

Algo de terrível, também, está a acontecer hoje fora da Síria: o Estado Islâmico e outros grupos terroristas estão a exportar a violência, falam de vingança, cometeram atentados sanguinários nas últimas semanas em Berlim e Istambul. Aeham Ahmad teve um concerto na igreja da Recordação, que se ergue na praça onde estava o mercado de natal atacado por um homem ao volante de um camião na capital alemã. «Sou contra qualquer forma de terrorismo e de violência. Sou muçulmano mas não me reconheço em quem usa o nome do islão para cometer atrocidades. Os meus irmãos cristãos e os meus irmãos judeus são como eu e têm os mesmos direitos. Durante dois mil anos vivemos lado a lado na Síria. O problema não é religioso. Não é uma guerra de religião. A religião deve ser mantida fora desta guerra. Aliás, nenhuma guerra se pode fazer em nome da religião.

Para Aeham Ahmad a Síria é o terreno de confronto de interesses estratégicos, económicos e políticos. «Eu vi isso com os meus próprios olhos no inferno de Yarmouk. A guerra não é do povo sírio, é contra o povo sírio. As pessoas normais querem viver em paz. Aqueles que combatem são grupos financiados e enquadrados por potências externas, mas aqueles que morrem são os sírios. Nós somos as primeiras vítimas do terrorismo e da violência. E a trágica contabilidade do conflito demonstra-o, ainda que dos mais de 400 mil mortos não se fale muito nos jornais. Para isolar os terroristas é preciso interromper o fornecimento de armas, prestar atenção aos tráficos de petróleo, não subvalorizar o papel dos combatentes estrangeiros, que são milhares. Um grande erro é a ilusão de poder manipular grupos de milicianos: um dia é certo que eles se virarão contra quem os apoiou. Disso sabe algo a Turquia, que é vítima desta lógica perversa». Mas a música pode ajudar num drama destas proporções? «Talvez a música não chegue. Mas também a música pode servir para fazer compreender a tragédia que se está a consumar. Pelo menos é esta a minha esperança: a mesma esperança que me impelia a tocar o piano montado na carreta do meu tio debaixo das bombas nas ruas devastadas de Yarmouk».

https://youtu.be/EPySYTNbU0A
https://youtu.be/5JFCvLAJPns

Rossella Fabiani
In "L'Osservatore Romano"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 08.01.2017

--

---
Recebeu esta mensagem porque subscreveu ao grupo "Pensantes" do Grupos do Google.
Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, visite https://groups.google.com/d/optout.

sexta-feira, janeiro 06, 2017

# Como é que o Japão está a substituir os empregados por robôs?

http://observador.pt/2017/01/06/como-e-que-o-japao-esta-a-substituir-os-empregados-por-robos/

O Japão está a realizar experiências para que robôs substituam não só
os processos de produção, mas também os próprios trabalhadores de
escritórios, que têm um trabalho mais manual, por inteligência
artificial. Até então, as máquinas estavam focadas para alterar os
segmentos de produção das indústrias mas, agora, o Japão quer ir mais
além, conta o The Guardian.

As experiências estão a ser realizadas na companhia de seguros Fukoku
Mutual Life Insurance, que a partir deste mês vai implementar uma
plataforma de inteligência artificial que irá substituir 34
trabalhadores da equipa administrativa da empresa. O objetivo desta
iniciativa é aumentar a produtividade da empresa em 30%, recuperando o
investimento da plataforma em menos de dois anos.

A função dos empregados, que agora vão ser substituídos por robôs, era
a digitalização e leitura de documentos de registos hospitalares e
históricos médicos, como fim de estabelecer pagamentos e detetar
fraudes. O novo sistema de inteligência artificial tem uma "tecnologia
cognitiva que pode pensar como um ser humano" e que, por sua vez, lhe
permite "analisar e interpretar todos os dados, incluindo texto não
estruturado, imagens, áudio e vídeo", conta a empresa, segundo o The
Guardian.

Para a instalação do sistema, a empresa irá gastar, aproximadamente,
1,7 milhões de dólares (cerca de 1,6 milhões de euros), além da
manutenção, que terá um valor de 128 mil dólares por ano, cerca de 120
mil euros. Em contrapartida, irá ser feita uma economia nos salários
que seriam necessários para pagar às pessoas que vão ser substituídas
pelos robôs, que são cerca de 1,1 milhões de dólares.

Segundo dá conta o jornal japonês The Mainichi, existem outras três
empresas de seguros a estudar esta possibilidade. Claro está que, um
dos principais debates sobre o tema é a ameaça da extinção efetiva de
muitos postos de trabalho. Aliás, existe já o perigo desta
inteligência artificial ser implementada não apenas no ramo dos
seguros. No próximo mês, conta o El Mundo, o Ministérios da Economia,
Comércio e Indústria, irão implementar um teste de inteligência
artificial com o intuito de ajudar os ministros a escrever respostas
durante reuniões ou até sessões parlamentares. Desta forma, haveria
uma diminuição dos burocratas que passam horas a escrever as respostas
dos ministros. Caso a experiência corra bem, a medida pode ser
implementada noutros órgãos do Governo.

A Casa Branca publicou também um artigo intitulado "Inteligência
artificial, automatização e economia", onde alerta que, só nos Estados
Unidos, estão em risco entre 2,2 e 3,1 milhões de empregosdevido à
automatização consequente da inteligência artificial, nomeadamente
pela forma como estes 'robôs' conseguem facilmente resolver problemas
e aprender de forma rápida sem muita interação humana. No relatório,
pode ler-se que, ainda que seja difícil prever as consequências
económicas da inteligência artificial, cinco delas são quase
'garantidas':

1- Consequências positivas para o crescimento da produtividade;

2 – Mudanças nas competências exigidas pelo mercado de trabalho,
nomeadamente por uma exigência maior nas habilidades técnicas de nível
superior;

3 – Distribuição desigual do impacto, através das indústrias, a nível
salarial, a nível da educação e dos próprios tipos de trabalho e
locais;

4 – Agitação no mercado de trabalho: postos extinguidos e outros criados;

5 – A perda de postos de trabalho para alguns trabalhadores a curto
prazo e, possivelmente, mais, dependendo das respostas políticas.

Ainda assim, o relatório confirma que existem muitos parâmetros que
ainda pairam na incerteza.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

quarta-feira, janeiro 04, 2017

# Suécia. Reduzir horas de trabalho saiu caro

http://observador.pt/2017/01/04/suecia-reduzir-horas-de-trabalho-saiu-caro/

A Toyota aplicou a medida em 2002 e não tem queixas: pessoal mais
motivado, redução das baixas médicas, menos despedimentos e aumento
dos lucros. Mas a ideia idílica de um dia de trabalho de seis horas,
em vez de oito, uma bandeira das políticas sociais na Suécia, pode
estar em risco, pelo menos a curto-prazo. Há mais custos que
benefícios, revelam as mesmas avaliações.

Estudos preliminares conduzidos num lar de idosos na cidade de
Gotemburgo, que reduziu o horário dos seus 68 enfermeiros para as seis
horas diárias sem que isso se traduzisse numa redução salarial,
mostram que a redução do horário laboral obrigou à contratação de mais
17 pessoas e a um custo adicional 12 milhões de coroas suecas (1,3
milhões de euros).

Apesar do aumento de custos, o estudo sublinha que os empregados do
lar se sentiram mais saudáveis ao longo dos dois anos do estudo, tendo
as faltas por motivos de doença sofrido uma redução para metade. Mais
importante: o cuidado com os pacientes melhorou. Mesmo assim, a cidade
não deverá avançar com a redução permanente do horário de trabalho
neste lar nem estender os testes a outros setores de atividade.

"A medida está directamente associada a um aumento de custos", disse
Daniel Bernmar, um político local, da ala esquerda, responsável pelo
setor de cuidado aos cidadãos idosos de Gotemburgo, admitindo ainda
que "é demasiado caro estender esta medida a toda a cidade, pelo menos
a curto-prazo".

Esta não é a primeira vez que a Suécia experimenta a redução do
período de trabalho. Além do caso de sucesso da Toyota, a medida está
a ser testada em várias empresas e startups na Suécia, como se pode
ler na BBC. Durante os anos 90 e o início do novo milénio, o setor
público juntou-se aos testes, sendo que o mais famoso foi conduzido na
cidade industrial de Kiruna, onde as mulheres que trabalhavam em casas
de assistência a idosos viram o seu dia reduzido para seis horas, um
horário que complementava o dos seus maridos, na sua maioria mineiros.
O projeto foi abandonado depois de as autoridades locais não terem
apresentado dados que conseguissem provar os benefícios da medida para
a cidade.

Uma das desvantagens deste esquema é também um dos seus pontos
positivos: o facto de as autoridades locais de Gotemburgo terem sido
obrigadas a contratar mais pessoal reduziu em 4,7 milhões de coroas
suecas (cerca de 500 mil euros) os custos do Estado com o subsídio de
desemprego na cidade.

Daniel Bernmar disse ainda à Bloomberg que acredita "em dias de
trabalho mais pequenos como uma solução a longo-prazo" porque "à
medida que o país se torna mais rico é preciso que consigamos
aproveitar essa riqueza de outras formas que não passem
necessariamente por comprar um carro novo ou adquirir mais bens
materiais".Esta ideia não é nova e pode mesmo ser irreversível. Há
muito tempo, já John Maynard Keynes conseguiu prever que a
automatização do trabalho e os avanços tecnológicos levariam
inevitavelmente a semanas de trabalho mais curtas. Seriam o "novo
normal" em 2030. Vamos ver.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

terça-feira, janeiro 03, 2017

# Avanço da poluição do ar em Pequim em 12 segundos!

Em 20 minutos a cidade fica dentro de nevoeiro espesso, isto foi
condensado num vídeo de 12 segundos!

A China está a tomar medidas fortíssimas em mudar a economia para
energias renováveis, e neste vídeo percebe-se bem porquê!

https://www.youtube.com/watch?v=csyERUfMqfE

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

segunda-feira, janeiro 02, 2017

# O segredo de Francisco: tempo para o ócio silente

Anselmo Borges in DN 31.12.2016

Deixo aqui os meus melhores votos para o novo ano, desejando a todos
saúde, paz, realizações felicitantes e também o que me parece de
suprema urgência: ao longo do ano todo, algum tempo para o ócio
silente.

Uma das características da nossa época, que causa estragos sem fim, é
a agitação geral e frenética, consumista, que tudo devora. O nosso
tempo não tem lugar para o ócio, aquele ócio de que fala a scholê
grega. Vivemos, como dizia o grande bispo do Porto D. António Ferreira
Gomes, na "agitação paralisante e na paralisia agitante", isto é, não
vivemos verdadeiramente. Porque o autenticamente humano está
recalcado. Vivemos na dispersão agitada e agitante, sem encontro
autêntico connosco e, portanto, também com os outros e com o essencial
da vida. A net contribui frequentemente para fazer aumentar esta
agitação alienada e alienante, e até estupidificante, pois todos podem
agora, escondidos no anonimato cobarde, pronunciar-se sobre tudo,
mesmo desconhecendo completamente as temáticas e as suas
complexidades, ou, mediante manipulações algorítmicas a favor de
interesses, enganar. Na presente agitação e atomização temporal,
submersos pelo tsunami informativo e pela competição tóxica, é muito
difícil erguer uma identidade pessoal integrada, íntegra e
consistente. Também por isso, não vejo as pessoas mais felizes, pelo
contrário, aumentam as depressões. Realmente, para se alcançar a
felicidade, é essencial o apaziguamento e a serenidade interiores, o
estar de bem consigo. Hoje são conhecidos, através da imagiologia
cerebral, os efeitos benéficos da meditação no cérebro, concretamente
sobre o stress e a ansiedade. Significativamente, o verbo mederi, com
o radical "med-", que significa "pensar, medir, julgar, tratar um
doente, curar", está na base etimológica de três palavras: meditação,
moderação e medicina. O reconhecer-se, a presença de si a si mesmo não
significam de modo nenhum narcisismo, pois, quando se pára, se pensa e
reflecte, lá no mais profundo, encontramos o mistério da Fonte donde
tudo provém e a que estamos religados, em interconexão com todos e com
tudo.

Então, de que é que precisamos? De parar, para que tenham lugar e
tempo a contemplação, a meditação, a oração. E isso só se cumpre com o
ócio. A palavra ócio (em latim, otium, que significa tempo de repouso,
vagar, ócio, retiro, solidão, paz) é solidária com a palavra grega
scholê, donde procede a nossa "escola" e significa ócio, o ócio para a
actividade dos homens livres, a liberdade para pensar e governar a
pólis. O ócio da scholê nada tem a ver com a preguiça, que é um vício
e que devemos todos condenar, pois preguiçoso é aquele que não quer
trabalhar, que vive na indolência, à custa dos outros, encostado ao
Estado, sem cumprir diligentemente os seus deveres. O ócio, esse tem a
ver com concentrar-se, contemplar, ser si mesmo, viver. Para lá da
agitação devoradora e da banalidade rasante, parar, ser e estar e
viver no melhor, no Divino, na Beleza, na Vida. Fazer silêncio,
precisamente para ouvir o silêncio e o que só no silêncio se ouve: a
voz da consciência e do sentido. Eu vejo o ócio essencialmente como um
parar. Para se poder viver na Vida, no essencial. Tem a ver com o
saborear o instante do vivido, o milagre do ser e de se ser, do viver.
Quando é que se vive? Agora. Viver é fim em si mesmo, na alegria do
viver na plena consciência. A vida não pode esgotar-se, como acontece
tão frequentemente, num meio para outra coisa, para atingir um fim ou
fins.

Entendo o ócio naquele sentido profundo de "tempo" para meditar,
pensar, recentrar-se, ir ao essencial, viver na profundidade. Sem o
ócio no sentido da scholê grega, portanto, da liberdade para poder
pensar, não há pensamento autêntico. Hoje, o que é que temos?
Exactamente o contrário do ócio, pois tudo está transformado em
negócio (neg/ócio), predominando os interesses e esquecendo os
valores. No contexto e na rede dos negócios, calcula-se, vale o
mensurável, está-se no uso e domínio da razão calculadora, da razão
instrumental, de que fala a Escola Crítica de Frankfurt, não se pensa
propriamente. Já não há pensamento, porque os negócios, que ocupam
todo o espaço e tempo, são da ordem do cálculo. Foi neste sentido que
o filósofo M. Heidegger preveniu, dizendo que a técnica não pensa. Não
pensa, porque é da ordem do mensurável e do cálculo. Esta é também uma
das razões fundamentais para explicar a situação actual da política e
dos políticos, que tanto têm descido na consideração pública: a
cumplicidade entre a política e os negócios. Tudo se tornou negócio e
os políticos não encontram tempo-ócio para ler, para meditar, para
reflectir sobre o essencial. O que lhes interessa fundamentalmente,
nesta sociedade-espectáculo, é estar "armados" com respostas rápidas e
imediatas e em consonância com os seus interesses e com o que
consideram serem as expectativas dos seus eleitores, quando lhes
aparecer pela frente uma qualquer televisão ou microfone. No meu
entender, e considero isto essencial, eles têm de encontrar tempo,
fazer pausa, para reflectir, meditar, ler o fundamental. Se quiserem
de facto passar a estadistas e estar à altura do momento
verdadeiramente histórico, tão complexo, ameaçador e dramático, que
vivemos.

O Papa Francisco, que, neste nosso mundo global, talvez seja o líder
político-moral mais amado e é um dos mais influentes, levanta-se muito
cedo todas as manhãs. Para quê? Para, no ócio silente e criador, antes
de todas as suas tarefas, poder rezar, contemplar, encontrar-se
consigo no mais profundo de si, lá onde se encontra com o mistério da
Presença enquanto Fonte, Deus. Este é o seu segredo: "Entrar no
mistério significa capacidade de assombro, de contemplação; capacidade
de escutar o silêncio e sentir e ouvir o sussurro desse fio de
silêncio sonoro no qual Deus nos fala."

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.

# Ter melhores jornais

http://observador.pt/opiniao/ter-melhores-jornais/
Alexandre Homem Cristo 2/1/2017, 7:20

Com a emergência dos populismos, ficou evidente que os jornais estão
aquém do que deles se pede e exige: um olhar crítico sobre o discurso
político, que o confronte com factos e esclareça os leitores.

A história é triste, encantadora e simples de contar. Todos os anos em
Dezembro, Eric Schmitt-Matzen, engenheiro norte-americano de 60 anos,
incarna a figura de Pai Natal para alegrar crianças desejosas de
prendas e conselhos de vida. É, digamos, mais um membro do pelotão de
São Nicolaus que enche centros comerciais e festas infantis. Só que,
este ano, relatou à imprensa um episódio vivenciado especialmente
distinto. Convocado por uma enfermeira pediátrica, foi visitar uma
criança de cinco anos, doente terminal, cujo desejo último era
conhecer o Pai Natal. Encheu heroicamente o peito e assumiu a missão,
perante o olhar emocionado da família. Conversou com a criança.
Deu-lhe consolo. E, num momento de genuína comoção, abraçou-a e
sentiu-a morrer nos seus braços.

Como disse, a história é triste e encantadora. Mas sofre de um
problema fundamental: é falsa. E ainda de outro problema: apesar de
falsa, foi difundida abundantemente pela imprensa internacional, que
não resistiu à história da "criança que morre nos braços do Pai
Natal". A mim, o assunto chegou através de um alerta lançado por Diogo
Queiroz de Andrade (director-adjunto do jornal Público), na sua página
do Facebook. Só em Portugal, caíram na armadilha (pelo menos) Diário
de Notícias, Correio da Manhã, Semanário Sol, Jornal de Notícias, TVI
24 e SIC Notícias– ou seja, centenas de milhar de leitores e
espectadores que, confiando nestes órgãos de comunicação social,
tomaram como verdade uma mentira.

São estes os tempos em que vivemos. Cada vez mais informação e cada
vez menos tempo para a processar e escrutinar. E, portanto, cada vez
mais espaço para que as mentiras se confundam com as verdades, como
aconteceu nesta história inócua que tantos jornais repetiram
acriticamente. O ponto é, contudo, que tudo isto vai muito além de
histórias inócuas.

Quem segue o debate público assistiu, nos últimos anos, à perda de
importância dos factos, substituídos por manipulações nas redes
sociais, mentiras ou apelos emocionais e afectivos – em bom rigor, o
fenómeno não tem nada de novo, apesar da amplificação de Donald Trump.
Como é que se chegou até aqui? Pela mesma via de repetição acrítica
nos jornais, onde não se verificam fontes e se difundem com igual
tratamento as verdades e as mentiras que saem do discurso político.
Sim, é fácil apontar o dedo aos políticos e ao fenómeno que se
convencionou chamar de "pós-verdade". Mas isso seria não perceber que
os jornalistas, primeiro, têm responsabilidades nesta situação e,
segundo, têm aqui também uma oportunidade a agarrar.

A responsabilidade é simples de explicar. Se há políticos que fogem
dos factos para influenciar o debate público à medida dos seus
preconceitos, então é porque isso lhes traz benefícios. Se isso lhes
traz benefícios, então é porque não são devidamente denunciados e
desmentidos por quem, não fazendo parte do combate político e
partidário, recentre o debate público nos factos. E se não surge essa
denúncia atempada, então é porque os jornais – a quem se confiou essa
missão de informar através dos factos (e não apenas de difundir o que
acontece ou é dito) – estão hoje aquém do que deles se pede e exige:
um olhar crítico sobre o discurso político, que o confronte com os
factos e esclareça os leitores do que é verdade e do que é mentira.

Aceitar este diagnóstico é reconhecer aqui uma oportunidade. Com os
populismos a ganharem terreno político e mediático, nunca como hoje
foi tão necessário confiar em fontes de informação credíveis para
orientar o debate público a partir de factos. Afinal, quanto menos
rigoroso o discurso político, maior a necessidade de verificar as
informações, de confrontar os políticos com as suas mentiras, de
resgatar os factos para conduzir o debate público. Ou seja, os jornais
são cada vez menos necessários para dar notícias (há dezenas de fontes
gratuitas e a televisão a fazerem-no) e cada vez mais importantes para
explicar as notícias e cruzá-las com verificação de factos e
investigação. Depois de tantos anos em queda, estes perigosos tempos
de populismos ofereceram aos jornais a oportunidade de se reerguerem.
Saibam eles aproveitá-la.

--

---
Recebeu esta mensagem porque está inscrito no grupo "Pensantes" dos Grupos do Google.

Para anular a subscrição deste grupo e parar de receber emails do mesmo, envie um email para pensantes1+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, consulte https://groups.google.com/d/optout.