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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quarta-feira, junho 28, 2006

# A cada dia caem várias torres gêmeas em silêncio...

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=11233&busca=
Entrevista a Frei Betto: A cada dia caem várias torres gêmeas em silêncio

Adital - Suíça - Sergio Ferrari* para Adital - Amigo pessoal e estreito conselheiro do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não duvidou, no início do ano passado, em deixar sua fraternidade dominical de São Paulo para se transladar para Brasília. Não como funcionário,,nem como ministro, senão como simples militante. Na Capital, Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, é o responsável de Mobilização Social do Programa Fome Zero, que tenta reduzir este flagelo e bate em 45 milhões de brasileiros. Diálogo aberto com um homem de esquerda, ex-preso político, jornalista, escritor de aproximadamente 50 livros, religioso e, além disso, um dos padres da Teologia da Libertação latino-americana.

A fome faz distinção de classes

Adital - Qual a base conceitual que sustenta a campanha Fome Zero, que vem sendo implementada pelo governo brasileiro em nível nacional?

Frei Betto - Muita gente pensa que são três as causas principais de mortes no mundo: a guerra, o terrorismo e a Aids. Não é verdade! O que mais mata é a fome. 842 milhões de seres humanos vivem em situação de desnutrição crônica. As estatísticas falam em 100 mil mortes diárias por essa causa, das quais, 30 mil crianças em idades que variam de zero a cinco anos. Várias torres gêmeas a cada dia! Mas, são mortes anônimas. Ninguém as chora, poucos se indignam, não há monumentos com seus nomes. Existem 45 milhões de pessoas com Aids no mundo. E é importante fazer campanhas. Mas a fome mata 20 vezes mais do que a Aids. Por que não há, proporcionalmente, tantas campanhas contra a fome?

Adital - Tem a resposta?

Frei Betto - Tenho só uma, um tanto cínica. A fome faz distinção de classes. Os ricos não são atingidos, portanto não se preocupam. Por isso, Lula impulsiona o programa Fome Zero e, no plano internacional, promove a criação de um Fundo sobre a base de aplicação de uma espécie de Taxa Tobin sobre as relações comerciais nos paraísos fiscais (ou sobre a compra-venda de armas).

O assistencialismo do Norte

Adital -Paradoxalmente, essa proposta foi bem recebida por alguns
governantes, dentre eles alguns europeus, que não são muito "sociais", nem
progressistas.

Frei Betto - Não temos nenhum preconceito. Aceitamos todo aquele que queira aderir para enfrentar a pobreza e a fome. Uma coisa sim que me preocupa, é a concepção assistencialista que há na Europa. Combater a fome não é doar comida aos "pobres". Essa é a pior maneira de combatê-lo porque desestimula a produção local; incentiva a corrupção de muitos políticos que negociam alimentos em troca de apoio eleitoral; e justifica os subsídios no Norte.

Adital - Como conseguir então, por exemplo, que Fome Zero não caia nesse
mesmo desvio?

Frei Betto - O Fome Zero não é assistencialista, mas um programa de inclusão social. Procura criar condições de sustentabilidade. Não é uma proposta de distribuição de alimentos, mas de inserção social através de uma redistribuição dos ingressos. A partir de fomentar, paralelamente, o cooperativismo, o microcrédito, a educação cidadã, a reforma agrária.

Adital - ¿ Um esforço por aumentar a consciência e a organização dos
beneficiados pelo programa?

Fray Betto - Perfeitamente. Temos estruturado uma rede organizada em todos os estados de Brasil, que se lhama "Talher", que em português faz referência aos instrumentos para comer e à capacitação. Contamos já com 540 educadores formados e com 10 funcionários do Governo Federal, que trabalham no escritório, implementando a pedagogia de Paulo Freire.

Adital - Como se implementa esse enunciado pedagógico num programa como o que o senhor coordena?

Frei Betto - Quando chegamos a uma família e damos-lhe um cartão magnético - que se chama cartão cidadão - para tirar a cada mês seu dinheiro do banco federal, exigimos que não haja nenhum analfabeto (e se houver, deveria começar de imediato sua alfabetização); que as crianças assistam às aulas; que participem de um programa de saúde, de classes de cooperativismo ou micro-créditos. Aí entra a educação popular e cidadã. Um esforço para que a gente adquira consciência sobre os direitos da família, de planejamento familiar - que não é controle de natalidade! Toda uma estratégia integral. A este exercício lhe chamamos condicionalidade. Um conceito criado pelos políticos para complicar as coisas (remarca jocosamente), mas que fala em nosso caso de direitos e deveres.

Adital -Houve críticas sobre uma certa lentidão para aplicar o Fome Zero. Pelo que o senhor diz tudo marcha bem?

Frei Betto - Este ano que terminou tem sido um grande sucesso. Pensamos em favorecer um 1 milhão de famílias em 1 mil municípios. Chegamos a 3 milhões 615 mil famílias em 2.340 municípios, mais da metade dos que existem no Brasil. Foram prioritárias as regiões quase desérticas do Nordeste; aldeias indígenas; grupos de sem terra; habitantes de aterros sanitários; e as comunidades quilombolas. Conseguimos unificar todas as políticas estatais ligadas ao combate contra a fome. E, adicionalmente, quando se beneficia a um grupo humano, chegam os agentes de nosso programa para promover a saúde pública, a educação, as hortas comunitárias e domésticas, a educação nutricional etc. Agora, promovemos também a construção de uma cisterna em cada casa beneficiada. Um método muito simples inventado por um camponês, que permite recuperar, ainda nas zonas mais secas, até 16 mil litros de água de chuva do teto da moradia. Cada uma custa 450 dólares, tem uma vida útil de 40 anos e é construída pelo mesmo grupo familiar.

As resistências às mudanças

Adital -Há resistências no Brasil ao programa Fome Zero?

Frei Betto - Não ao programa. Mas sim às reformas estruturais que devem ser implementadas e sem as quais o Fome Zero não pode ter sucesso. Refiro-me especialmente à reforma agrária.

Adital -Que segue sendo muito lenta na sua aplicação tal como o indicam algumas vozes críticas de trabalhadores sem terra.

Frei Betto - Existe já um plano para assentar 530 mil famílias em quatro anos. O Movimento dos trabalhadores rurais sem Terra (MST) pedia 1 milhão. De imediato, o governo assegura um pouco mais da metade dessa demanda. Este ano serão 115 mil famílias. Nisso, não queremos pecar pela demagogia e promessas que não podem ser cumpridas.

Adital -Quem se opõe realmente a essa reforma?

Frei Betto - No país, há cerca de 600 milhões de hectares cultiváveis. Desse total, um terço pode afetar ir para a reforma agrária porque são terras ocupadas por proprietários ilegais, grandes latifundiários.

Adital -Quando se fala do tema da terra, vem automaticamente uma pergunta sensível: a relação do governo com os movimentos sociais. Continua vigente o "casamento" que se produziu quando Lula chegou ao governo em janeiro do 2003?

Frei Betto - O que continua vigente é uma relação crítica entre contrapartes. Em todo este tempo, nenhum movimento social rompeu com o governo de Lula. Existem críticas que consideramos positivas. Mas, é indiscutível que Lula vem desses movimentos e conhece na carne própria a miséria. E é muito claro na sua idéia de evitar dois erros que seriam terríveis. Um, o "capitalista", que seria criminalizar ao movimento social. O outro, o "socialista", que seria considerar aos movimentos sociais como correias de transmissão da política de Estado, o que atentaria contra sua necessária autonomia.

Adital - É mantida a paciência desses movimentos apesar de que as mudanças sejam mais lentas do que se esperava? Há setores que tem rompido com o Partido dos Trabalhadores no governo.

Frei Betto - São mantidas as expectativas. As primeiras pesquisas indicavam que a gente dava ao Governo um crédito de dois anos. Até agora, só dois ou três setores, sem contar a extrema direita ou a oposição , tem se distanciado. Uns poucos parlamentares de extrema esquerda e alguns intelectuais.

Fome Zero, versão política do milagre bíblico

"Em termos do Evangelho o pão e a fé estão intimamente ligados. Acredito em Deus que diz que é o pão e a vida", enfatiza Frei Betto ao explicar seu novo compromisso próximo as esferas do poder. Apesar dessa proximidade, "não tenho mudado em nada nas minhas convicções e prática. Sigo trabalhando com a gente mais pobre e o considero como um trabalho pastoral".

"Para mim é a versão política da multiplicação dos pães e peixes feita por Jesus". Não podemos esquecer, remarca Betto, que "a oração que nos ensinou Jesus tem dois refrães: Pai nosso e pão nosso. Posso chamar a Deus como Pai se luto para que o alimento seja não somente meu senão de todos"

Tensões internas e corrupção

Em novembro do 2003, quatro parlamentares nacionais - três deputados e uma senadora - foram expulsos do Partido dos Trabalhadores (PT). A origem dessa medida, suas vozes críticas contra a lei de aposentadoria da função pública e seus votos negativos no Parlamento contra medidas que consideraram "anti-populares". Foi o primeiro sinal da tensão interna desde que Lula chegara ao governo em janeiro do 2003. Sobre o tema, Frei Betto mostra-se cauto e um pouco distante: "Eu não sou militante do PT e me custa opinar sobre uma instituição à que não pertenço", enfatiza. Para acrescentar de imediato: "penso que, em qualquer estrutura, se não se aceita a decisão democrática da maioria, tem que sair. Não haveria maneira, por exemplo, de seguir na igreja se não estivesse de acordo com o que ela determina". Inclusive, se houve uma maioria qualificada na Diretoria Nacional do PT para exigir a disciplina do grupo parlamentar, a posição do partido significou uma mudança de fundo, tal como ressaltou a senadora dissidente Heloísa Helena. Durante o governo precedente de Fernando Henrique Cardoso, o PT teria se oposto radicalmente a iniciativas como as que depois votou o ano passado, provocando a tensão interna.

Com respeito ao recente e mais falado caso de corrupção que envolve a Waldomiro Diniz, a posição do teólogo-militante é radical. "É um caso isolado. Pela informação que disponho trata-se de um homem corrupto. Foi imediatamente afastado. Já foi exonerado de sua responsabilidade por Lula e agora será julgado pela Justiça. Não podemos tolerar este tipo de fato. A ética não é só um principio básico senão um signo distintivo do governo de Lula. Qualquer caso de corrupção deve ser exemplarmente investigado. Penso que a imprensa tem feito muito bem seu trabalho, de denunciar e comprovar os fatos"

* Sergio Ferrari é jornalista e colaborador de Adital na Suíça.
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sexta-feira, junho 23, 2006

# PP desafia PS a acabar com os feriados religiosos

23.06.2006 - 12h57 Lusa

O CDS-PP desafiou hoje a maioria parlamentar do PS a levar a laicidade do Estado até às últimas consequências e acabar com o cargo de bispo das Forças Armadas, com a bênção em inaugurações e com os feriados religiosos.

No debate em plenário de projectos sobre o protocolo do Estado, o líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Melo, reclamou um lugar de destaque para a Igreja Católica "pelo que representa e pelo que faz em tantas áreas" em Portugal e insurgiu-se contra o laicismo do PS.

"Se quiserem ser coerentes com essa visão assim restrita do laicismo não poderão ficar por aqui. Terão também de acabar com as figuras do vigário Castrense, bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, equiparado a general de duas estrelas", declarou.

"Não há outra alternativa. Para não falar dos feriados religiosos, todos eles relativos ao cristianismo, que o Estado supostamente laico manda respeitar e cumprir", prosseguiu Nuno Melo, questionando também se o PS acabará com as bênçãos em inaugurações.

Insurgindo-se também contra a exclusão, pelo PS, dos descendentes da antiga família real das cerimónias oficiais, o líder parlamentar do CDS-PP afirmou que "a História portuguesa não começou em 1910" e desafiou a maioria socialista a dar nomes republicanos como Ordem de 5 de Outubro às ordens de Cristo ou de Santiago.

O PS, que já tinha feito a sua intervenção no debate sobre o protocolo do Estado, não respondeu ao desafio lançado por Nuno Melo, mas a deputada do Bloco de Esquerda Ana Drago comentou ironicamente que o democrata-cristão "diz que vão terminar as prendas de Natal e os ovos da Páscoa".
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segunda-feira, junho 19, 2006

# Amnistia denuncia duplicidade na guerra contra o terrorismo

http://dn.sapo.pt/2006/05/24/internacional/amnistia_denuncia_duplicidade_guerra.html

Patrícia Viegas

Os governos dos países mais poderosos - como os Estados Unidos e o Reino Unido - revelaram no ano passado uma duplicidade de discursos e critérios em nome da guerra contra o terrorismo. Manipularam instituições internacionais e fecharam os olhos a violações brutais dos direitos humanos como a tortura.
Esta é uma das principais conclusões a retirar do relatório 2006 da Amnistia Internacional (AI) sobre a situação dos Direitos Humanos em 150 países. "Os governos, colectiva e individualmente, paralisaram as instituições internacionais e sacrificaram princípios" em nome do combate ao terrorismo, afirmou ontem a secretária-geral daquela ONG, Irene Khan, na apresentação oficial do documento em Londres.

O relatório de 400 páginas, que analisa o ano de 2005 e o define como um misto de duplicidade e de esperança, tece duras críticas a Washington e a Londres. No primeiro caso, por causa da detenção de centenas de pessoas sem acusação no Iraque e noutras zonas, no segundo, pelas tentativas de delimitar os direitos fundamentais após os atentados terroristas de 7 de Julho.

Medidas como a extensão do prazo de detenção sem culpa formada de suspeitos de terrorismo, a assinatura de acordos de extradição de suspeitos para países como a Jordânia, mas também a permissão do uso do seu território e espaço aéreo por aviões da CIA (tal como outros Estados europeus), são alguns dos pontos negros do Reino Unido.

No que diz respeito aos EUA, a AI tem o encerramento do centro de detenção da base de Guantánamo como um dos seu principais objectivos para este ano, a par do fim das violações dos direitos humanos na região de Darfur (Oeste do Sudão), palco de um conflito há três anos.

A ONG fundada em 1961, que também denuncia neste documento violações em larga escala noutros países como a Rússia, a China e a Colômbia, reconhece que é em África e no Médio Oriente que residem os maiores desafios para quem defende aqueles direitos. A "impunidade" dos militares e dos colonos israelitas implicados nos "homicídios ilegais" de palestinianos também é realçada.

Apesar de tudo, existem algumas razões para optimismo, enumeradas por Irene Khan em entrevista à agência AFP: "Estamos optimistas porque vemos uma mudança na opinião pública. Os governos, até os mais poderosos, são chamados a dar contas".

A responsável da AI julga importante que muitos Estados tenham sido obrigados a fornecer dados sobre os voos da CIA, que tenha havido uma redução de conflitos armados em África e, ainda, que a justiça internacional tenha registado progressos, tais como a emissão dos primeiros mandados de captura pelo Tribunal Penal Internacional.
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quarta-feira, junho 07, 2006

# Poesia de crianças

"A minha vida é uma memória"
(João Pedro Vitorino, 3 anos)

"A poesia é uma coisa que não é a mesma coisa mas é igual"
(Beatriz Antunes, 4 anos)

"O coração é uma bolinha pequenina que faz barulho"
(Ana Carolina Gargalo, 3 anos)

"Eu tenho letras
Que andam no meu nome"
(Jorge Nunes, 4 anos)

"O silêncio é um bocadinho de boca"
(Silvana Cravide, 2 anos)

"O amor é o dobro"
(João Cassola, 5 anos)

"Onde foi a luz quando apaga-se?"
(Mariana Dionísio, 2 anos)

"Os adultos, mal ouvem uma coisa que não gostam ficam logo com a coisa que estava combinada
que já não é"
(Cláudia Inês Guerra, 4 anos)

[poemas citados por Miguel Somsen, no artigo de quinta-feira no jornal Metro]
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terça-feira, junho 06, 2006

# Profissão Mãe...

Ana foi renovar a sua carta de condução. Pediram-lhe para informar qual era
a sua Profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.

"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário." Claro que
tenho um trabalho", exclamou Ana. "Sou mãe". "Nós não consideramos 'mãe' um
trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente. Não
voltei a lembrar-me desta história até ao dia em que me encontrei em
situação idêntica...

A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura,
eficiente, dona de um título sonante.

"Qual é a sua ocupação?" Perguntou. Não sei o que me fez dizer isto; as
palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: "Sou Doutora em
Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas." A funcionária fez uma
pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem
diz que não ouviu bem... Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras
mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com
tinta preta, no questionário oficial.

Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente?"
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em
laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa).
Sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro
projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma
mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia
(para não dizer 24 horas). Houve um crescente tom de respeito na voz da
funcionária que acabou de preencher o formulário, levantou-se e,
pessoalmente, foi abrir-me a porta.

Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida
pela minha equipa: Uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de
cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a
testar uma nova tonalidade de voz. Senti-me triunfante.

Maternidade... que carreira gloriosa!

Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento
Infantil e em Relações Humanas". As bisavós "Doutora-Executiva-Sénior". E as
tias "Doutora-Assistente".

Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras.
Doutoras na Arte de fazer a vida melhor!!

"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe."


Sent by: Maria João Tavares
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segunda-feira, junho 05, 2006

# Educação: insistir num modelo sem futuro?

Em Espanha, a propósito da alteração da Lei da Educação, os professores denunciaram os quatro mitos que consideram responsáveis pelo fracasso do sistema:

- O mito de aprender fazendo; o mito da igualdade; o mito do professor amigo; o mito da educação sem memória.

Declararam-se também, maioritariamente, simplesmente fartos:

- Da falta de esforço; da falta de autoridade na aula; do excesso de especialização; da integração sem meios; da deterioração do ensino público.

Interrogo-me se, em Portugal, os professores (não só os "pedagogos", não os teóricos, não os sindicatos) não dariam do sistema português, dos seus mitos e ameaças, uma imagem aproximada.

Fiz toda a minha aprendizagem em escolas públicas. Descontando o muito que aprendi em minha casa, é-me hoje possível confirmar sem sombra de dúvida, o quê e o quanto me foi ensinado nessas salas de aula.

A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.

É certo que eram ainda muitos os que não chegavam lá. E se "chegarem todos lá" se tornou justamente um objectivo, a questão que se coloca é a factura a pagar por uma massificação sem qualidade e com os fracos resultados que conhecemos.

Os meus filhos passaram todos pelo ensino público que continuei a mitificar como uma experiência indispensável num processo escolar. Deram-se bem.

A última vez que fui a uma reunião de pais, o progenitor da pior aluna explicou-me que o facto de a minha filha ter boas notas se devia a nós termos uma biblioteca em casa e ele não. Pareceu-me uma justificação simplista mas elucidativa de um estado de espírito autojustificativo que marca, em grande parte, o conformismo dos pais em relação aos seus filhos estudantes.

Nos últimos 30 anos, a educação tem sido campo de experiências sucessivas, com leis e meias reformas, tornando cada geração uma grande cobaia, na qual se testam teorias e teimosias. Simultaneamente caíram intramuros escolares novos e agudos problemas sociais que deviam ter resposta a montante e a jusante, mas não têm.

A escola transformou-se num espaço multifunções, exigindo-se que faça tudo menos ensinar: intervenção social, psicologia, tratamento da pré-deliquência, substituição da rede familiar, prevenção da violência doméstica, remédio para o abandono, a subnutrição, a doença e ainda o esforço diário de contrariar uma cultura de irresponsabilidade e laxismo.

A classe dos professores é tida como uma das mais relevantes socialmente e, paradoxalmente, é uma das mais desrespeitadas. Para o que se lhes pede, são escassos os instrumentos de que dispõem para, com autoridade e eficácia, responder aos problemas daquele quotidiano.

Para quem, como eu, trabalha com os sistemas sociais no combate à reprodução geracional da pobreza e da exclusão, o qual só é possível num quadro de equidade no acesso a competências que permitam uma progressiva e efectiva autonomização pessoal, para que o filho de um pobre não seja fatalmente pobre, o filho de um imigrante cresça integrado, um filho da droga não se drogue, a filha de uma mãe adolescente não tenha um filho aos 14 anos, etc., etc., sabe bem que o sistema de educação é determinante.

Mas o sistema de educação é determinante para educar, para dar competências, preparando para a vida e para a autonomia, no saber pensar e no saber fazer, as novas gerações. Não é determinante para substituir a família, o atendimento social, o centro de saúde, a ocupação dos tempos livres ou as comissões de protecção de menores.

Tem sido assim. Os nossos indicadores são péssimos. Os resultados estão à vista, com bolsas de pobreza mais persistentes e um país no geral mal preparado para competir.

Estão à vista na nossa economia e nas nossas finanças públicas, nas nossas estatísticas e na nossa falta de norte e de inovação. Porquê, então, insistir neste modelo sem futuro que compromete todos os dias o mesmíssimo futuro português? 

Maria José Nogueira Pinto - Jurista - DN, 060603
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