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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, maio 30, 2011

# Duas em cada cinco crianças vivem em situação de pobreza

30.05.2011 - 11:00 Por Andreia Sanches
http://www.publico.pt/Sociedade/duas-em-cada-cinco-criancas-vivem-em-situacao-de-pobreza_1496617?p=2

Não são apenas as crianças que vivem com rendimentos abaixo do limiar
de pobreza que são pobres. São também aquelas cujo bem-estar é
afectado por condições de vida "deficientes" - e que, por isso mesmo,
se considera que estão "em privação". É com base nesta abordagem que
uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Economia e
Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa, conclui que cerca de 40 por
cento das crianças portuguesas vivem em "situação de pobreza".

Cortes nos apoios sociais são ameaça para o futuro de muitas crianças
(Adriano Miranda)

Um estudo encomendado pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, a que o PÚBLICO teve acesso - e que será apresentado depois de
manhã, Dia Mundial da Criança, no ISEG -, mostra que as crianças até
aos 17 anos são o grupo mais vulnerável à pobreza, tendo ultrapassado
o dos idosos.

Diferentes dados estatísticos, relativos ao período que vai de 2004 a
2009, são explorados. Amélia Bastos, Carla Machado e José Passos não
se limitaram a contabilizar quantas pessoas se encontram em pobreza
monetária - algo que é periodicamente calculado pelo Eurostat, o
departamento de estatística da União Europeia. Até porque este é um
indicador que consideram ter "fragilidades" já que, dizem, "a pobreza
não se confina nem se esgota na escassez de recursos monetários".

Analisaram também as condições de vida - através do Inquérito às
Condições de Vida e Rendimentos, feito anualmente, e do Inquérito às
Despesas das Famílias, levado a cabo de cinco em cinco anos, ambos
pelo Instituto Nacional de Estatística. Os dados mostram, por exemplo,
que não há nenhuma criança que por razões económicas esteja privada de
televisão. Mas que 23 por cento vivem em alojamentos sobrelotados e
que cinco por cento estão inseridas num agregado que não faz uma
refeição de carne ou peixe (ou equivalente vegetariano) pelo menos de
dois em dois dias. E não faz porque não tem dinheiro.

Vai piorar?

Mas vamos por partes: uma em cada quatro crianças (23 por cento)
estava, em 2009, inserida em famílias com rendimentos abaixo do limiar
de pobreza; 27 por cento viviam uma situação de privação, tendo em
conta 12 indicadores (ver entrevista). E mais de uma em cada dez (11,2
por cento) acumulava a forma mais gravosa de pobreza - estava em
privação e, ao mesmo tempo, os seus agregados dispunham de rendimentos
abaixo do limiar de pobreza.

Olhando para trás a evolução está longe de ser brilhante: em 2004,
havia quase tantas crianças em situação de pobreza grave como em 2009
(a percentagem era de 11,9 por cento); e o número de miúdos que
atingido por algum tipo de pobreza (monetária, privação ou ambas) era
apenas 1,2 pontos percentuais inferior.

E o futuro? "O momento presente deixa-nos algumas interrogações
adicionais. Os recentes cortes nos apoios sociais não permitem antever
um futuro promissor para estas crianças...", são as últimas palavras
deixadas num estudo que alerta ainda para o facto da pobreza infantil
ter "uma gravidade acrescida relativamente aos restantes estratos da
população", uma vez que as suas consequências se fazem sentir "no
curto e no médio e longo prazos" do país. No curto, "por via das
privações diárias a que as crianças pobres estão sujeitas", no médio e
longo prazo "através do grau de escolaridade/qualificação
profissional, da inserção no mercado de trabalho, da capacidade de
participação e intervenção social" que terão.

Para já, revela-se, e olhando exclusivamente para a pobreza monetária,
apenas uma em cada três não esteve em situação de pobreza pelo menos
um ano, no período de 2005 a 2007.

Os mais penalizados

Há grupos de crianças para quem os últimos anos foram particularmente
pesados. Por exemplo: em 2004, 39,7 por cento das que estavam
inseridas em agregados onde ninguém trabalhava encontravam-se
simultaneamente em privação e pobreza monetária; em 2009 a percentagem
subiu para 45,3 por cento.

O facto de haver emprego na família não é, contudo, garantia de
bem-estar. "Cerca de 35 por cento das crianças incluídas em famílias
onde pelo menos um elemento está a trabalhar estão ora em pobreza
monetária ora em privação." Os baixos salários explicarão. Tal como a
precariedade, diz Amélia Bastos, coordenadora do estudo.

As crianças em famílias de maior dimensão (dois adultos e três ou mais
crianças) também foram particularmente penalizadas: 29,5 por cento
acumulavam em 2009 pobreza e privação. "Ter crianças significa ter
mais custos e se o rendimento é baixo ter crianças diminui a
capacidade financeira e o nível de bem-estar do agregado familiar",
diz Amélia Bastos. Mais vulneráveis estão também as crianças mais
velhas (16-17 anos) e as mais novas (até cinco anos). O que "pode
antecipar alguma deterioração na situação de pobreza global no curto
prazo".

Os autores assumem que a escassez de estatísticas sobre a infância é
"uma forte limitação à análise efectuada". Até porque a generalidade
dos dados que existem não são recolhidos especificamente para as
crianças - a unidade de observação é o agregado familiar. Amélia
Bastos admite que se mais dados específicos existissem para avaliar a
pobreza infantil, as conclusões até podiam ser diferentes. "Mas menos
gravosas duvido que fossem."

sexta-feira, maio 20, 2011

# Procuradora que conduzia alcoolizada foi detida pela polícia e libertada por colega

Magistrado considerou detenção feita pela Polícia Municipal ilegal
20.05.2011 - 08:28 Por PÚBLICO

Uma magistrada do Ministério Público foi detida em Cascais por um
agente da Polícia Municipal por estar a conduzir em contramão e com
uma taxa de alcoolemia de 3,08g/litro de sangue, o que constitui
crime. No entanto, mais tarde foi libertada por um procurador seu
colega, noticia o Correio da Manhã.
A procuradora tinha uma taxa de alcoolemia de 3,08g/litro de sangue
(Foto: Nelson Garrido/arquivo)

O magistrado que anulou a detenção de Francisca Costa Santos, adianta
o mesmo jornal, alterou a prática corrente da comarca e ignorou um
parecer de 2008 da Procuradoria-Geral da República que considera
legítimas as detenções feitas pela Polícia Municipal em flagrante
delito, como foi o caso.

A anulação da detenção e do termo de identidade e residência aconteceu
na passada terça-feira de manhã, poucas horas depois da magistrada ter
sido interceptada a conduzir em contramão na rua Alexandre Herculano,
em Cascais.

A procuradora foi sujeita a um teste que revelou uma elevada taxa de
álcool no sangue, tendo o agente consumado a detenção e posterior
libertação, notificando a magistrada a apresentar-se no Tribunal de
Cascais na manhã seguinte.

A procuradora compareceu perante o seu colega que considerou a
detenção ilegal, tendo anulado tanto a detenção como o termo de
identidade e residência. O processo baixou a inquérito e a procuradora
saiu em liberdade.

Nenhum dos envolvidos quis comentar o caso ao Correio da Manhã.

terça-feira, maio 17, 2011

# O ESCÂNDALO DA CRUZ

Gonçalo Portocarrero de Almada
Público, 2011-05-17

Colin Atkinson está a passar as passas do Algarve em terras da sua
graciosa majestade britânica. Com efeito, foi-lhe instaurado um
processo disciplinar pela Wakefield and District Housing, de que é,
desde 2006, funcionário. O motivo é insólito, porque este electricista
não falta ao trabalho, não é incompetente, não desrespeita os patrões,
não implica com os colegas, não é indelicado com os clientes. O crime
de Atkinson é ser cristão e ter o atrevimento de usar uma singela cruz
no parabrisas do carro de serviço. Se fosse uma figa, uma ferradura ou
um peluche, ninguém se incomodaria, mas uma cruz é, pelos vistos,
intolerável e, por isso, Colin Atkinson corre sérios riscos de ser
posto na rua, mas desta vez sem a viatura.
É da praxe, em certos veículos pesados, a exibição de «posters» de
muito mau gosto, mas ninguém fica perturbado pelo facto, nem é razão
para uma sanção laboral. Que uma pessoa ande escandalosamente trajada
na via pública – seja uma mulher de barriga ao léu, ou um rapaz de
cuecas à mostra – não é tido por indecente. Mas se um crente usar um
discreto símbolo religioso, é logo acusado de agredir o próximo,
nomeadamente quantos não professam a sua religião. Para a responsável
Jayne O'Connell, a pequena cruz que Colin Atkinson usa no seu carro
poderia ofender as pessoas e é política da Wakefield and District
Housing «ser respeitosos com todas as confissões e pontos de vista».
Menos o cristão, claro.
Diga-se de passagem que tem o seu quê de absurdo este dogma laicista.
Porque carga de água uma cruz há-de ser insultuosa para os não
cristãos, se nenhum cristão se sente ultrajado por um crescente, ou
por uma estrela de David? E porque não entender que um amuleto é
também ofensivo, não apenas para a fé, mas também para a razão? E as
orquestras, não serão acintosas para os surdos? E os museus, não são
também, vistos por esse prisma, desrespeitosos para com os invisuais?
Será que as fotografias dos familiares do anfitrião são indelicadas
para os seus convidados, só porque não são os parentes deles? Ou seria
desejável que o dono da casa retirasse todos os retratos de família,
cada vez que recebe alguém?
No Restelo, há uma escultura de Mohandas K. Gandhi, por onde passo com
frequência e confesso que nunca me senti ofendido por aquela estátua.
Agrada-me esta merecida homenagem ao insigne apóstolo da paz, embora
não siga a sua espiritualidade, não partilhe a sua opção vegetariana,
nem concorde com algumas das suas atitudes morais. Não creio que a
ninguém lhe cause incómodo a efígie do Mahatma na via pública, a não
ser que a singeleza do seu trajar provoque, em pleno inverno, alguns
arrepios aos transeuntes mais friorentos. Mas isso não quer dizer que
a sua imagem seja agressiva para os amantes de mais tépidas
temperaturas, como também o facto de não ser cristão o não faz
insolente para quantos o somos, graças a Deus.
A ideia de que qualquer opção cultural, religiosa ou não, que não seja
politicamente correcta, deve ser ocultada e suprimida é, na sua
essência, totalitária. A proibição de manifestações externas de culto,
mais do que um ataque às religiões, é um atentado à liberdade. Não é
por acaso que os inimigos da liberdade o são também da presença
pública de símbolos religiosos. Por isso, Estaline arrasou inúmeras
igrejas e Salazar não permitiu que a sinagoga de Lisboa fosse visível
da via pública.
Há menos de um século, um tresloucado líder político europeu propôs-se
erradicar da face da terra a raça judaica. Chamava-se Hitler, Adolf
Hitler. Temo que os modernos inimigos do divino crucificado, também
ele judeu, sejam uma nova modalidade do mesmo ódio. Depois de
proibirem todas as manifestações públicas da fé cristã, é provável que
se proponham também exterminar o povo que tem, por seu Senhor e
Mestre, a Jesus de Nazaré e, por bandeira, a sua santa cruz.

segunda-feira, maio 16, 2011

# Trabalhar menos horas e mais anos num país de velhos

Portugueses poderão ser menos quatro milhões até 2100
15.05.2011 - 09:53 Por Natália Faria
http://www.publico.pt/Sociedade/trabalhar-menos-horas-e-mais-anos-num-pais-de-velhos_1494216

Assim, o melhor é começar já a pensar em diferentes formas de
organização social, sugerem vários demógrafos ouvidos pelo PÚBLICO a
propósito das mais recentes projecções da ONU que apontam para um
Portugal reduzido a 6,7 milhões de habitantes em 2100. Menos quatro
milhões do que os actuais 10,6 milhões.

Pelo menos no tocante ao envelhecimento, a fecundidade e a imigração o
melhor que podem fazer é abrandar ligeiramente o ritmo de um processo
"inelutável", segundo Maria João Valente Rosa. "Pensar que o
envelhecimento pode ser evitado é uma ilusão", avisa a demógrafa, para
quem, mais do que verificar a iminente falência de um modelo pensado
para uma população com uma estrutura etária jovem, o país já devia
estar a pensar em alternativas. "As barreiras que existem baseadas na
idade e que levam a que a primeira fase da vida seja dedicada à
formação, a segunda - a chamada idade activa - a jornadas de trabalho
muito intensas e a terceira à reforma e ao lazer estão totalmente
desfasadas", diz. Soluções? "Por que não dedicar mais tempo da idade
activa ao lazer, à formação e à família, até porque é nessas idades
que os filhos são pequenos, compensando depois com um prolongamento do
período de actividade até idades mais avançadas?", pergunta.

Nas projecções da ONU, o peso da população com 65 ou mais anos de
idade duplica em 90 anos: dos actuais 17,9 para 30,6 idosos por jovem
até 15 anos. Isto acreditando que, em média, cada mulher em idade
fértil terá 1,99 filhos, em vez dos actuais 1,32. Mas o cenário pode
piorar. Se a natalidade se mantiver no valor actual, o peso dos
indivíduos com 65 ou mais anos sobe para 41,2 por cento.

Nestas projecções, que não contemplam o saldo migratório, a população
portuguesa entra em declínio já a partir de 2015. Com um saldo natural
que, em 2009, atingiu valores negativos e um saldo migratório a
ameaçar entrar também no vermelho (há autores que asseguram que isso
já aconteceu, apesar de essa realidade não surgir ainda espelhada nas
estatísticas oficiais ), Jorge Malheiros, professor no Instituto de
Geografia da Universidade de Lisboa, concorda que o país precisa de
assumir que não conseguirá evitar o envelhecimento: "Vamos envelhecer
inevitavelmente e é bom que metamos isso na cabeça", diz. Sem
dramatismos. "É sinal que vamos viver mais tempo e o importante é que
não andemos todos com Parkinson e Alzheimer mas que consigamos manter
uma vida activa e produtiva". Não, não significa que as reformas devam
ser adiadas até aos 75 anos, mesmo que, nas projecções, a esperança de
vida ultrapasse os 87 anos em 2100 (90,4 anos no caso das mulheres).
"A transição da vida activa para a inactiva não deve ser brusca. Pode
haver um período de transição, em que as pessoas começam a trabalhar
progressivamente menos, o que permite diminuir a dependência, quer
para as finanças públicas, quer a nossa", sugere. Valente Rosa arrisca
dizer que "o mais natural será as pessoas passarem a ter várias
carreiras e actividades ao longo da vida".

Soberania enfraquecida

Mas, afinal, o que seria Portugal com 6,7 milhões de habitantes?
Declínio populacional é o mesmo que declínio civilizacional? "Com 6,7
milhões, Portugal seria mais velho, mais cansado, menos inovador e
isso seria sinónimo de menor dinâmica", prevê Malheiros. Para Mário
Leston Bandeira, ex-presidente da Associação Portuguesa de Demografia,
retroceder aos 6,7 milhões, valores próximos da população portuguesa
em 1920, deixaria o país muito debilitado no contexto europeu.
"Portugal ficaria sem capacidade de concorrência no plano económico,
político e social, etc. A questão demográfica é, no fundo, uma questão
política. Aliás, basta lembrar toda a discussão em torno do Tratado de
Lisboa, quando a Polónia reclamou mais votos por causa do número de
habitantes e a Alemanha também se quis impor porque era o país mais
populoso da União Europeia", recorda. Na mesma projecção a 90 anos, em
que a França cresce 18 milhões e em que a Espanha perde apenas um
milhão, "Portugal veria enfraquecida a sua soberania", reforça Leston
Bandeira, para quem "o défice democrático é mais grave do que o défice
financeiro". Maria João Valente Rosa discorda. "Termos seis milhões
não é nada aterrador. O número de habitantes de um país não é
indicador de desenvolvimento e a prova disso são a Finlândia e a
Dinamarca, com menos de seis milhões, e a Suécia e a Bélgica, com
cerca de dez milhões".

Reforçar voluntariado

Há um aspecto em que os três especialistas estão de acordo. Só por
meio da fecundidade e do saldo migratório se conseguirá abrandar o
ritmo do declínio populacional. Abrandar, não travar. E pela via da
atracção dos imigrantes, mais do que pelo reforço da fecundidade.
"Mesmo que os níveis de fecundidade voltassem a aumentar para cima dos
2,1 filhos por mulher em idade fértil, isso não faria mais do que
aligeirar o envelhecimento. E não é expectável que voltemos a esse
cenário de descendências numerosas, porque entretanto houve uma franca
modernização da sociedade portuguesa e os estilos de vida
alteraram-se", descrê Maria João Valente Rosa. Não quer isto dizer que
o país deva desistir de apostar na natalidade. Ao contrário. Até
porque no cenário mais pessimista da ONU (em que a fecundidade desce
até aos 0,86 filhos por mulher em idade fértil para depois recuperar
ligeiramente e acabar o século nos 1,49) a população portuguesa fica
reduzida a uns escasos 3,7 milhões. Assim, há que assegurar com
carácter de urgência um apoio mais eficaz às famílias. "Em Lisboa é
muito difícil encontrar uma creche que seja acessível a muitos pais
porque as públicas estão cheias e as privadas são muito caras",
critica Jorge Malheiros. Num cenário de crise económica e em que o
desemprego ameaça atingir 13 por cento da população, "a aposta poderia
passar por ter um serviço de voluntariado mais forte, em que os pais
desempregados, em vez de pagarem a creche, seriam convidados a,
acompanhados de um técnico, ajudar a assegurar a guarda das crianças
para lá do horário normal", exemplifica ainda Malheiros.

Valorizar os emigrantes

Recentemente, um painel europeu sobre famílias demonstrava que as
mulheres com um contrato de trabalho sem termo tinham "duas vezes mais
possibilidades e probabilidades de ter um filho", segundo Leston
Bandeira. Que conclui, por isso, que promover a natalidade "é
incompatível com a flexibilização do despedimento e com a
instabilidade no emprego". "Quem defende esse tipo de medidas está
apenas a pensar naquilo que é mais imediato e, sobretudo, nos
interesses de um certo patronato. E o futuro do país vai ser uma
desgraça se não conseguirmos criar condições para que os jovens se
possam estabelecer e criar uma família", vaticina, reclamando dos
políticos "uma escala de prioridades que contemple a questão
demográfica e a luta contra o envelhecimento".

Jorge Malheiros assume que as próximas duas décadas serão de emigração
para os jovens portugueses. E que Portugal terá forçosamente que parar
de fingir que não tem emigrantes. "Nos últimos anos houve uma
relutância enorme em reconhecer que Portugal continuava a ter saídas
de emigrantes. Agora, o país tem mesmo de deixar de encarar a
emigração como um drama e garantir que a ligação destes emigrantes ao
país se mantém, não só por via das remessas, mas proporcionando, por
exemplo, que os emigrantes funcionem como pontas-de-lança entre as
empresas e entre as universidades estrangeiras e as portuguesas: num
mundo interdependente e globalizado, isto pode ter efeitos muito
importantes". Do lado das entradas, resta a Portugal propagar a imagem
de um país acolhedor. "Não é uma coisa de somenos", lembra Malheiros.
"Quando os alemães quiseram, há uns anos, atrair técnicos da Índia,
ofereciam programas interessantes. Mas não foram bem-sucedidos porque
os indianos tinham a ideia de uma sociedade alemã muito xenófoba".
Quanto a Portugal, é pouco provável que se repita o boom de imigração
dos anos 1990. Ainda assim, lembra Maria João Valente Rosa, "os
imigrantes podem continuar a ser a chave para aligeirar o processo de
envelhecimento pelo seu duplo efeito: do reforço da população em idade
activa, por um lado, e dos nascimentos, por outro".

# Aumentam casos de mulheres que se prostituem para sustentar filhos

15.05.2011 - 10:18 Por Lusa
http://www.publico.pt/Sociedade/aumentam-casos-de-mulheres-que-se-prostituem-para-sustentar-filhos_1494217

As técnicas da Associação O Ninho aperceberam-se a partir de 2009 que
começavam a aparecer nas ruas de Lisboa novas mulheres, com histórias
de vida semelhantes: mães sozinhas, inteiramente responsáveis pelo
sustento do lar.

"São mulheres de todas as idades que se prostituem para pagar as
contas", contou à Lusa Inês Fontinha, presidente daquela instituição,
que trabalha com prostitutas há cerca de 40 anos.

Algumas estavam sem trabalho, outras tinham empregos precários e mal
pagos que deixaram de ser suficientes no momento em que o companheiro
as abandonou e deixou de ajudar financeiramente a família. Com baixas
habilitações literárias, a prostituição surgia como uma solução
"temporária".

"Estas mulheres só o fazem para resolver um problema do momento,
porque a ideia é abandonar aquela vida. Mas não é fácil porque muitas
vezes não encontram alternativas. Nos últimos tempos, temos tido
várias mulheres que recorrem a nós pedindo-nos ajuda porque não querem
continuar", lembrou Inês Fontinha, admitindo que são casos complicados
de solucionar.

Mais de 300 mil famílias são de mães com filhos

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2010 havia mais
de 346 mil famílias em Portugal com apenas um progenitor e, segundo a
socióloga Karin Wall, as famílias monoparentais "são as mais
vulneráveis à situação de pobreza".

A investigadora lembrou ainda o facto de "as mães com filhos, que
representam mais de 300 mil famílias, serem mais vulneráveis que os
pais sozinhos com filhos".

Parte dessa fragilidade advém do facto de as mulheres continuarem a
ser discriminadas no trabalho: ganham menos que os homens, têm
profissões mais desclassificadas, e "em épocas de crise as situações
de discriminação tendem a agravar-se", lamentou Manuela Goias, da
União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), sublinhando que "a
pobreza tem um rosto feminino".

"O desemprego cria situações muito graves e há cada vez mais mulheres
que passam a recorrer à prostituição para ajudar a família. Vivem em
grande sofrimento", acrescentou Maria Teresa Costa Macedo, presidente
da Confederação Nacional das Famílias.

Quando os homens saem de casa, a situação complica-se, principalmente
quando eles deixam de ajudar a família. E os casos de falta de
assistência paterna têm vindo a aumentar, havendo cada vez mais mães a
recorrer ao Fundo de Garantia, um apoio financeiro criado pelo Governo
para substituir os pais que não pagam as pensões de alimentos.

"As mulheres estão desesperadas. Aqui há uns anos pediam ajuda à
família, mas hoje nem a família pode ajudar", sublinhou Inês Fontinha,
lembrando que estas mulheres vivem entre o medo de ter como cliente um
vizinho do bairro ou de serem rejeitadas por um filho que descobre o
que andam a fazer.

quarta-feira, maio 11, 2011

# É hoje

Público, 2011-05-10  Miguel Esteves Cardoso
 
Borges dizia que o esquecimento era tão importante como a memória mas levei até ontem a perceber que ele dava importância de mais à memória - e ao esquecimento.
Ocupar o presente - que é a única coisa que realmente temos - com o passado (a memória e o esquecimento) ou com o futuro (o medo, ansiedade, ambição, esperança, ignorância e esquecimento) é mesmo perder tempo. Lembrar ou antecipar é roubar presentes ao presente. Em vez de oferecer presentes ao presente - a começar por um simples obrigado por estar aqui, nem morto nem com vontade de morrer -, criamos-lhe dívidas, por não ser tão bom como certos passados ou incertos futuros que se imaginam.
A saudade funciona para trás e para a frente. O amanhismo é uma ilusão horrenda - pensar que tudo vai acabar bem, em vez de dar graças por aquilo que se tem. Acabamos todos mortos e o risco é perdermos o entretanto, pensando mais no nascimento, na vida e na morte do que no maravilhoso expediente de estarmos vivos e estúpidos de não sabermos nem querermos saber o que se segue.
Mas o ontemismo - "dantes é que era bom" - que afecta mais os portugueses, romenos e outros (poucos, graças a Deus, para bem deles), nostómanos, fetichistas da nostalgia, também suga muito contentamento ao prazer evidente do presente. De que doenças não padecemos? Quais são as catástrofes que, de momento, não nos ocorrem? Ainda estamos vivos? Ainda sabe bem queixarmo-nos?
É bom sinal. A terra prometida é o presente; é agora.

sexta-feira, maio 06, 2011

# O nosso país e os finlandeses

Vale bem a pena! (6min)

quarta-feira, maio 04, 2011

# Frase do dia

A violência pode matar um assassino, mas não o assassinato. A
violência pode matar um mentiroso, mas não a mentira. A violência pode
matar uma pessoa odiosa, mas não o ódio.
A escuridão não pode extinguir a escuridão. Só a luz o pode fazer.
Martin Luther King (1929-1968)

terça-feira, maio 03, 2011

# O sentimentalismo

Na maneira de actuar, o seu exemplo era admirável. Dava-se bem com todos. Fazia-o de tal modo que, à primeira vista, parecia o mais fácil e natural deste mundo. Parecia ser muito feliz — notava-se no optimismo à prova de fogo — e era evidente que não procurava essa felicidade no estreito mundo do egoísmo. Todos — sem excepção — pareciam cair-lhe bem e ele, sem grande esforço, era estimado por quase toda a gente.
Um dia, um amigo perguntou-lhe como era possível que gostasse com tanta facilidade de todas as pessoas que tinha à sua volta. Isso não parecia muito "normal" nem era, nos dias que correm, uma atitude comum. Como era possível que ninguém o irritasse de vez em quando. Como era possível que não cedesse, alguma vez, ao espírito crítico — espírito que nos acompanha sempre: desde o momento em que tomamos consciência de quem somos até ao último dia da nossa vida.
A sua resposta deixou o amigo pensativo. «Como te deixas levar pelo simplório erro de pensar que eu sempre me sinto bem com toda a gente? Claro que não. No entanto, a estima pelos outros não é uma questão de sentimentos. A caridade genuína não se sente: põe-se em prática».
E então, como quem sabe aquilo que diz porque o vive, acrescentou com simplicidade: «Actuar é sempre a melhor forma de querer as pessoas como são. Se ajudamos os outros de verdade — sem interesses ocultos ou segundas intenções — acabamos de facto por gostar deles. Apercebemo-nos da grandeza do seu modo de ser que, em todo o ser humano, é sempre único e irrepetível».
Esta sábia resposta faz-nos chegar a uma natural conclusão: não é possível gostarmos de verdade dos outros se nos deixamos levar somente pelos sentimentos. Porque o vento dos sentimentos é muito instável: ora sopra para um lado, ora sopra para o outro, ora não sopra; ora é impetuoso, ora é ameno; ora é uma brisa, ora é uma tempestade.
É verdade que o amor autêntico possui, muitas vezes, manifestações sentimentais. Nunca gostaremos verdadeiramente de ninguém se cultivamos um modo de ser frio e distante — um modo de ser egoísta. São infelizes aquelas pessoas que parecem não ter coração. Mais tarde, descobrimos que possuem um coração raquítico que ficou assim por estar centrado somente neles próprios. O caminho do egoísmo pode apresentar-se, na aparência, como uma estrada ampla e confortável. Contudo, não nos enganemos nem nos deixemos ludibriar: o egoísmo termina sempre num beco sem saída.
No entanto, também é verdade que seria um erro funesto confundir o amor com o sentimento. A essa confusão, comum hoje em dia, chama-se sentimentalismo. O sentimentalismo é uma deformação do amor bastante perigosa. Leva uma pessoa a pôr o emocional por cima do racional; a pensar com o coração em vez de pensar com a cabeça.
Algumas vezes, os sentimentos posicionam-se contra o verdadeiro amor — e mentem com quantos dentes têm na boca: e têm muitos. O amor genuíno nunca mente; os sentimentos, sim, podem mentir. Nesse caso, amar de verdade significa não nos deixarmos conduzir por esses sentimentos desordenadas do nosso coração.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria