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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

quarta-feira, julho 26, 2006

# Novos avós: sem manta nem bengala

Dia Nacional dos Avós
26.07.2006 - 08h22 Kathleen Gomes PÚBLICO
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1265258&idCanal=90

As pessoas têm filhos cada vez mais tarde mas isso não quer dizer que os avós estejam a ficar mais velhos. Pelo contrário. Fazem "aquelas coisas que os pais não podem". E gostam de ir ao McDonald"s (não contem isto aos pais das crianças). Hoje é Dia Nacional dos Avós.

Mariana Lopes Alves está a falar do que costuma fazer com os netos e, a julgar pelo seu sorriso, do que não devia fazer com os netos. Comer com eles no McDonald"s, por exemplo. "Sou pior do que eles", ri-se, como se fossem os netos que acedessem a acompanhar a avó quando lhe apetece um hambúrguer.

Mariana foi mãe tardia - teve a última filha aos 42 anos - e avó em tenra idade, aos 46. Ser mãe tardia é cada vez mais comum, ser avó cedo é cada vez mais raro, e em ambos os casos a causa é a mesma: as pessoas têm filhos cada vez mais tarde. Em Portugal, as taxas de fecundidade abaixo dos 30 anos estão a descer e acima dos 30 estão a aumentar. No início de Julho, uma psiquiatra britânica foi mãe aos 62 anos. É por estas e por outras que, no Financial Times, alguém escreveu: "Pelo caminho que as coisas estão a levar, os meus netos poderão não vir a experimentar a alegria de ser avós." O intervalo entre as gerações está a aumentar. Mas - e esta é a boa notícia - também "a convivência entre as diferentes gerações é mais frequente", refere Karin Wall, socióloga do Instituto de Ciências Sociais cuja área de investigação é a família. Dito de outro modo: "Como as pessoas vivem mais tempo, têm mais hipóteses de estar vivas na altura em que nascem os netos".

Porque a esperança de vida é maior - 81 anos para as mulheres, 74 para os homens, segundo números de 2004 -, os avós modernos são cada vez mais novos. Ou cada vez menos velhos. Como diz Karin Wall, "hoje, uma pessoa de 70 anos ainda pode estar a trabalhar; isso compensa o facto de as pessoas terem filhos mais tarde." Os poucos estudos que existem sobre as gerações mais velhas traçam um perfil dos avós que deita por terra a imagem tradicional do idoso aposentado, de bengala ou manta nos joelhos e com todo o tempo do mundo. Os avós modernos tendem a ser mais activos e mais autónomos. Ou, como diz Mariana Lopes Alves, 56 anos, "aquela avó tradicional, de estar em casa a receber os netos já não existe".

"É como ser mãe novamente"

Avó é ir para a praia à meia-noite e tomar banho com os netos. Como Anabela Santiago, 54 anos, funcionária da Segurança Social, avó há quase 14 anos. "Ao pé deles não sei se me sinto mais nova se me faço mais nova...", diz, em jeito de justificação. Nada a ver com a relação que tinha com os seus próprios avós: a avó paterna, daquelas que ensinavam piano e canto, impôs que os netos a tratassem por "madrinha". "Avó" é que não: "avó" era sinónimo de velhice e ela nunca disse a sua idade.

"Isso era antigamente", declara Maria da Luz Caldeira, empregada de loja num centro comercial de Lisboa. A idade e o facto de ser avó parecem duas coisas improváveis para o seu corpo de miúda - e é justamente por ser inesperado que ela o diz alto e bom som: 47 anos e avó... A filha de 21 anos deu-lhe uma neta há nove meses. Quando a vêem com a pequena "perguntam se é filha". Ela própria, diz, não se lembra de que é avó. "É como ser mãe novamente", resume. Com vantagens: "Uma pessoa quando é nova e tem o primeiro filho não tem experiência nenhuma. Faço coisas com a minha neta que não fazia com a minha filha." Brincar, por exemplo. "Tenho mais tempo e mais paciência."

Mariana Lopes Alves, 56 anos, diz-se "jovial" para explicar a "cumplicidade" que tem com os netos. Mas nem seria preciso dizê-lo: está à vista - no rosto, na forma de vestir, no discurso. Filha de pais separados, cresceu em casa dos avós maternos, a que chamava "o convento" por ter de obedecer "a toda a gente", incluindo criadas. "Eu era o lugar mais baixo da família", ri-se. Compara o ser avó com um monge budista ou um velho índio, "daqueles que se vêem nos filmes e que atiram aquelas frases..."

Porque têm uma "capacidade para entender e alertar" diferente dos pais - "os pais penalizam mais" - e dão mais espaço aos netos para estes errarem (é também essa a imagem que temos dos mestres budistas e dos velhos índios: alguém que observa o outro e o deixa errar, ciente de que assim também se aprende). Um avô pode dar-se ao luxo de não obrigar os netos a comer a sopa. "Depois vamos ao cinema e eles comem dois hambúrgueres. É só disparates", ri Mariana, que se dedica ao voluntariado no bairro lisboeta onde mora.

Ela pode fazer estas coisas sem se sentir culpada: afinal, é avó e os avós fazem coisas "que os pais não podem".

Karin Wall explica que "existe um novo espírito de família centrado nos afectos". Se, no passado, a relação avô-neto era "mais hierárquica" e autoritária, actualmente "os avós podem pensar o seu papel numa lógica de afectividade e companheirismo". A sociologia baptizou-os recentemente de "avós-clube", diz Wall. "Estão mais interessados em fazer coisas com os netos, vêem-se como amigos dos netos."

Anabela Santiago diz-se "100 por cento amiga" dos netos. "Educadora, não. Educar faz parte da amizade. Quando os amigos erram, somos os primeiros a chamar a atenção".

sexta-feira, julho 14, 2006

# Eutanásia

À noite, a minha mulher e eu, sentados na sala, falávamos das coisas da
vida. Abordávamos a temática de viver ou morrer "com dignidade". Na
oportunidade, ocorreu-me dizer-lhe "nunca me deixes viver em estado
vegetativo, dependendo de uma máquina e de uma garrafa de líquidos. Se me
vires nesse estado, desliga as máquinas que me mantêm vivo..."
Ela levantou-se, desligou-me a televisão e despejou a cerveja fora.


Sent by: Bruno Martinho
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quinta-feira, julho 13, 2006

# É triste não ter amigos???

É triste não ter amigos???
Ainda mais triste é não ter inimigos!!!

Porque, quem não tem inimigos,
É sinal que não tem:
Nem talento que faça sombra,
Nem carácter que impressione,
Nem coragem para que o temam,
Nem honra contra qual murmurem,
Nem bens que lhe cobicem,
Nem coisa alguma que invejem..."

Voltaire
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sexta-feira, julho 07, 2006

# Atentados de Londres mudaram precepção do terror e relação com muçulmanos europeus

Um ano depois do ataque à rede de transportes
07.07.2006 - 08h07 Jorge Almeida Fernandes
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1263337

Os atentados de Madrid e Londres, em 2004 e 2005, não se limitaram a confrontar a Europa com o terrorismo islamista. Exacerbaram os fantasmas relativos às suas comunidades muçulmanas. As bombas de Paris, em 1995, estavam já esquecidas ou associadas a um fenómeno circunscrito, o islamismo argelino.

A ligação do massacre de Madrid a redes colaterais da Al-Qaeda era tranquilizadora, pois o terror surgia como um fenómeno exógeno, ligado a um inimigo externo. O 7 de Julho mudou a percepção porque foi uma iniciativa de jovens "imigrantes" de segunda geração: o "terrorismo autóctone" é mais ameaçador.

As redes islamistas europeias combinam excluídos dos subúrbios com jovens educados e das classes médias - e aqui reside outra inquietação. Após a revelação do apodrecimento da multiculturalismo holandês, pelo populista Pim Fortuyn e marcado pelo assassínio do cineasta "blasfemo" Theo van Gogh (2003) por um islamista, estes atentados reactivaram um debate recalcado: o islão na Europa. As comunidades muçulmanas arriscam-se a ser primeiras vítimas. E a Turquia também.

Os fantasmas não nasceram com Madrid ou Londres. Em Julho de 2004, o historiador e arabista americano Bernard Lewis declarou ao diário alemão Die Welt: "No fim deste século, ou até antes, a Europa será islâmica. (...) Tornar-se-á parte da Arábia Ocidental, isto é, do Magrebe." Há dias, o Chicago Tribune titulava: "Na Europa, o islão sobe, o cristianismo declina." Neste raciocínio, às projecções demográficas - a população muçulmana na UE, hoje na casa dos quatro por cento, poderá duplicar até 2025 - acrescentam-se dois outros fenómenos.

Os muçulmanos depressa deixam de ser imigrantes. Em França, o grande movimento de sedentarização verificou-se nos anos 1970, com a chegada em massa das famílias - passou a haver mulheres e crianças, anota o islamólogo francês Gilles Keppel.

O segundo aspecto, a que alude o Chicago Tribune, é a crescente descristianização contraposta ao ardor religioso muçulmano. O jornal lembra que a recristianização da Europa e a recuperação dos valores são a preocupação central de Bento XVI.

Assinala Keppel que muitas vezes os jovens de segunda ou terceira geração não se identificam nem como franceses nem como argelinos ou marroquinos. Nos últimos 15 anos, a religião cresceu como factor de identidade. E, paradoxalmente, os próprios fundamentalistas que revindicam a prática da sharia (lei islâmica) fazem-no na qualidade de "cidadãos europeus" e em nome da liberdade religiosa.

O jornalista americano Bruce Bower, residente na Noruega, publicou em Fevereiro um panfleto alarmante contra os guetos islâmicos, o multiculturalismo e o terrorismo, com um título elucidativo - While Europe Sleeps: How Radical Islam is Destroying the West From Within (Enquanto a Europa dorme: como o islão radical está a destruir o Ocidente a partir de dentro). Em 2002, assinalara na Partisan Review o reverso da moeda: nos países nórdicos, "meio século depois da queda da Alemanha nazi, sobrevive ainda a noção de pureza étnica, pouco articulada, muitas vezes inconsciente, na mente de pessoas que se consideram como bons sociais-democratas".

Mitos da Eurábia

Manifestando-se, em 2004, contra a adesão da Turquia à UE, o comissário europeu Frits Bolkestein (holandês) repetiu o argumento de Bernard Lewis. "As actuais tendências levam a uma conclusão: a América permanecerá a única superpotência, a China está tornar-se num gigante económico e a Europa está a ser islamizada." Se a Turquia entrar, "a libertação de Viena [dos turcos] em 1683 terá sido em vão".

O muçulmano moderado Bassam Tibi, sírio imigrado na Alemanha, equaciona a questão de outro modo: "Ou o islão se europeíza ou a Europa será islamizada." Remete da demografia para os modelos de integração, em que a Europa tem falhado. Depende dos Estados impedir que a religião faça caducar o código civil.

Para o antropólogo e sufi marroquino Faouzi Skali, o problema central do islão é a necessidade de separar religião e política, para salvaguarda da própria fé. E o da Europa é a crise de espiritualidade. De resto, e irreversivelmente, "o islão está na Europa e a Europa está no islão".

Há duas semanas, a Economist, sob o sugestivo título de capa "Eurabia", relativizou os fantasmas europeus. Muçulmanos asiáticos, turcos ou magrebinos não têm o mesmo comportamento face à integração. A taxa de natalidade tende a decrescer entre os imigrantes. E, encoberto pelo radicalismo islâmico, está de facto em curso um gradual processo de integração política. "Pelo menos de momento, a perspectiva da Eurábia parece um espantalho."

No seu último livro, Fitna- Guerre au Coeur de l"Islan, Keppel alude ao caos do Médio Oriente e à guerra dentro do islão, entre regressão comunitária e modernidade. E a batalha joga-se na Europa: "O islão europeu está hoje na vanguarda deste combate, é o modelo no qual estão fixados os olhos dos muçulmanos do mundo que aspiram a viver libertos dos regimes autoritários e dos fantasmas sangrentos dos jihadistas."
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