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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

sábado, outubro 13, 2012

# O exemplo de uma menina de 11 anos por um mundo melhor

Paquistão
Malala Yousafzai, a menina que lutou contra taliban, luta agora contra a morte
12.10.2012 - 18:53 Por Cláudia Sobral
http://www.publico.pt/Mundo/malala-yousafzai-a-menina-que-lutou-contra-taliban-luta-agora-contra-a-morte-1567128?all=1


Eram muitas as noites em que Malala Yousafzai sonhava com soldados,
helicópteros ou os taliban, também muitas aquelas em que não conseguia
dormir. Mas tudo ficou ainda pior no dia em que a sharia (lei
islâmica) passou a ser lei no Vale de Swat – uma concessão do Governo
paquistanês para o cessar-fogo com os combatentes na região, em 2009.

Na noite de 14 de Fevereiro o pai pegava no rádio uma última vez para
ter a certeza que nada tinha mudado, num gesto meio ingénuo, quase
ridículo. Na manhã seguinte terminava o prazo dado pelos taliban: mais
nenhuma menina poderia ir à escola. Malala, que já era conhecida pela
sua luta pelo direito das mulheres à educação, foi. Apesar do medo.

"No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido
para a cara, fazer o que entenderem", dizia então ao New York Times,
que a acompanhava para o documentário Class Dismissed. "Mas eles não
podem parar-me, eu vou ter a minha educação." Tinha 11 anos.

No diário que escrevia para o site da BBC Urdu ja nessa altura (que
assinava com o nome Gul Makai), descrevia a vida na sua cidade,
Mingora, controlada pelos taliban. Insurgia-se sobretudo pelo direito
das mulheres à educação. Via outros activistas mortos e exibidos pelas
ruas e praças de Mingora, e sabia que um dia poderia chegar a sua vez.

Quando na terça-feira regressava da escola, apareceram dois homens
armados que a atingiram na cabeça e num ombro. Gravemente ferida, está
em estado crítico num hospital militar em Rawalpindi, a recuperar de
uma operação à cabeça. Os próximos dias serão cruciais, não se sabe se
sobreviverá ou não.

A jovem activista paquistanesa de 14 anos era já um símbolo da
resistência contra os taliban do Paquistão – venceu o National Peace
Award for Youth, no Paquistão, e foi nomeada para o International
Children's Peace Prize, da Dutch Kids Rights Foundation. Mas nos
últimos dias o país esteve como nunca de olhos postos nela.

As orações semanais desta sexta-feira foram dedicadas a Malala por
todo o Paquistão, dois dias antes as escolas tinham estado fechadas. O
Presidente Asif Ali Zadari condenou o ataque, quis que ela fosse
tratada no Dubai. No Vale de Swat são organizados protestos.

Os taliban já garantiram que se sobreviver voltarão a atacar. "Apesar
de ela ser nova e uma menina e de os taliban não acreditarem em
ataques a mulheres, qualquer um que faça campanha contra o islão e a
sharia deve ser morto, segundo a sharia", explicava há dias o
porta-voz do grupo no comunicado em que o ataque foi reivindicado.
"Não é apenas permitido matar uma pessoa assim, mas obrigatório."

"Claro que vão tentar matá-la", escreve o editor de política
internacional da Slate. "Uma adolescente a falar no direito das
mulheres à educação é a coisa mais assustadora no mundo para os
taliban", escreveu. "Ela não pertence a uma ONG estrangeira. Ela é
muito mais perigosa do que isso: uma local, defensora do progresso da
educação e do esclarecimento. Se pessoas como ela se multiplicarem os
taliban não têm futuro."

Pelo Paquistão já outras adolescentes disseram que não deixarão que o
que aconteceu a Malala tenha sido em vão. Os dirigentes políticos
fizeram o mesmo.


Um ícone

"Malala é o nosso orgulho. Tornou-se num ícone para o país", disse o
ministro do Interior, Rehman Malik. O primeiro-ministro, Raja Pervez
Ashraf, foi visitá-la e pediu a todos os líderes paquistaneses que se
juntassem a ele e o chefe das Forças Armadas, Ashfaq Parvez Kayani,
afirmou que chegou a hora de "combater os que propagam esta
mentalidade bárbara e os seus simpatizantes".

Também Bushra Gohar, do Partido Nacional Awami, parte da frágil
coligação governamental com o Partido do Povo do Paquistão (PPP) e no
poder no Vale de Swat, já disse no Parlamento que "o tempo para acabar
com o terrorismo chegou".

Se este levará de facto à tomada de passos concretos na luta contra os
taliban, que mantêm os alguns dos seus santuários no Norte, não se
sabe ainda. Acontecerá o mesmo que em 2009, quando foi lançada uma
grande ofensiva aos taliban depois de um vídeo de uma adolescente a
ser espancada por um combatente? Para já não há movimentações
militares no Vale de Swat, escreve o New York Times citando oficiais
paquistaneses.O ataque contra a jovem activista, explicou num debate
da Al-Jazira o presidente da Associação de Advogados Paquistaneses,
Ahmad Malik, "prejudica a imagem do Paquistão tolerante que Malala
representava". Convidada no mesmo programa, Rubina Khalid, do PPP,
disse que sentiu vergonha. "Não podíamos protegê-la e ela estava a
lutar por aquilo por que devíamos ter sido nós a lutar. Devíamos ter
sido nós na linha da frente, não ela."

Malala dizia que queria estudar para ser médica. Mas esse era o seu
sonho, como explicou numa das entrevistas para o documentário do New
York Times. O pai queria que fizesse carreira na política. "Vejo um
grande potencial nela. Ela pode criar uma sociedade em que um
estudante de medicina possa facilmente tirar o seu doutoramento."

terça-feira, outubro 09, 2012

# A RELIGIÃO TERÁ FUTURO?

Frei Bento Domingues, O.P.

1. Frédéric Lenoir, um conhecido sociólogo da religião, com vários
títulos publicados, é director da revista Le Monde des Réligions. No
editorial do número de Setembro-Outubro 2012 confessa que, há 30 anos,
quando começou os seus estudos de Sociologia e História das Religiões,
a "secularização"- a progressiva autonomia da razão, da natureza e da
liberdade - era o grande tema. A maioria dos especialistas do fenómeno
religioso pensava que nas sociedades europeias, marcadas pela ciência,
pelo materialismo e individualismo, a religião acabaria por se esvair.
Ao julgar que o modelo europeu se difundiria pelo resto do mundo -
globalização dos valores e dos modos de vida ocidentais - a religião
estava condenada. Era só uma questão de tempo.Revelou-se uma
precipitada ilusão. Desde há uma dúzia de anos, o modelo e a análise
inverteram-se. O tema, agora, é a "des-secularização", imposto
sobretudo pelo surto de movimentos religiosos de várias tendências,
alguns marcadamente identitários e conservadores. Peter Berger, o
grande sociólogo americano das religiões, constata que "o mundo
continua tão furiosamente religioso como antes". A Europa, que
figurava como excepção, já não está imune a esta nova vaga. Se, por
outro lado, o ateísmo surge como uma crença, a retórica virulenta dos
novos ateístas militantes (como Dawkins, Dennet, Harris, Hitchens e
outros) tende a reproduzir a do fundamentalismo religioso.

2. Perante este novo clima, F. Lenoir pergunta: qual será o cenário do
futuro? Este tipo de perguntas tende a esquecer o que há de indizível
e impensável no nosso tempo. Mas tendo em conta as tendências actuais,
alguns peritos desenham, na citada revista, um panorama verosímil das
religiões no horizonte do mundo de 2050.O cristianismo acentuará a sua
vantagem sobre as outras religiões, graças não só à demografia dos
países do Sul, mas também ao forte impulso dos movimentos evangélicos
e pentecostais nos cinco continentes. O islão continuará a progredir
pela sua demografia, mas esta abrandará, nomeadamente na Europa e na
Ásia, o que, a prazo, limitará o desenvolvimento da religião
muçulmana, pois suscita muito menos conversões do que o cristianismo.
O hinduísmo e o budismo continuarão mais ou menos estáveis, ainda que
os valores e certas práticas deste último (como a meditação) continuem
a difundir-se, cada vez mais, no Ocidente e na América Latina. À
semelhança de outras religiões muito minoritárias, ligadas à
transmissão pelo sangue, o judaísmo continuará estável ou declinará,
segundo os diferentes cenários demográficos e o número de casamentos
mistos. Para além destas grandes tendências, as religiões continuarão
a transformar-se e a serem marcadas, de formas diferentes, pelos
efeitos da modernidade, do individualismo, da globalização e pela
incerteza inscrita na parte de loucura dos modelos económicos e
sociais do nosso mundo. O recurso às imediatas experiências e emoções
gratificantes, pessoais e de grupo, de carácter sincrético e ao gosto
de cada um, tenta esconder o medo perante a precaridade de tudo. Os
próprios movimentos integristas ou fundamentalistas são o produto de
indivíduos ou de grupos que se julgam chamados a reinventar uma "pura
religião das origens", como garantia de segurança.Enquanto houver
pessoas em busca de sentido, não faltará quem procure caminhos e
referências no vasto património religioso da humanidade. Não será para
continuar uma tradição imutável dentro de um dispositivo institucional
normativo e intocável. O futuro das religiões depende do modo como vão
reinterpretando e recompondo, em novos contextos, a herança do
passado. O bom caminho é o do comportamento ecuménico e
inter-religioso. Sem ele não haverá paz entre as religiões e sem o seu
contributo activo, não haverá paz entre as nações (Hans Küng). É
triste que a regra de ouro, não faças ao outro o que não queres que te
façam a ti, não seja aplicada ao relacionamento entre as diferentes
religiões. Negam o que elas próprias criaram.

3. Compete à religião ser um despertador para a Realidade mais
profunda e duradoira, libertando o desejo daquilo em que gastamos as
nossas energias acossadas pela publicidade dos impérios da finança e
dos seus campos de concentração. A religião que, neste tempo, fechar
os olhos, os ouvidos e a boca diante da negação do futuro a gerações
inteiras, só merece ser esquecida. Pertence à sabedoria descobrir o
que há de eterno no efémero. É próprio da idolatria absolutizar e
eternizar obras das nossas mãos. Em nome do combate ao "império do
relativismo" e da salvaguarda da integridade das verdades fé,
resvala-se para o absolutismo de fórmulas e regulamentos que não
servem nem a esperança nem o amor. A verdade é fruto de uma busca
humilde e do acolhimento da divina graça.Para os católicos do
pós-Vaticano II, isto devia ser óbvio. Sem esse Concílio, no qual a
liberdade religiosa se tornou um imperativo da nossa fé, talvez ainda
hoje estivéssemos a fazer as tristes figuras dos fundamentalistas
islâmicos, que se tornam blasfemos ao apelar à violência contra os
humoristas.

segunda-feira, outubro 08, 2012

# E se trocássemos umas ideias sobre cortes nas despesas do Estado?

Público 2012-10-05 José Manuel Fernandes
Vamos ser sérios: falamos de milhares de milhões de euros, invocar
apenas as "gorduras" é demagogia hoje como foi demagogia no passado
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Portugal gosta de viver de ilusões. Quem ler os jornais ou vir as
televisões, descobrirá que tudo se vai resolver neste rectângulo à
beira-mar plantado no dia em que se cortar nas despesas do Estado. Dos
mais sisudos "senadores" aos mais azougados repórteres, passando por
atarantados deputados, tudo se resolve com um Estado mais pequeno. Ou
seja, parece existir em Portugal um enorme consenso "neoliberal".

Nada mais enganador. Primeiro, porque já se está a cortar imenso na
despesa do Estado mas isso não tem chegado. Depois porque a esmagadora
maioria dos que exigem cortes discordam de todo e qualquer um dos
cortes em concreto.

Na semana passada, o presidente do BPI, Fernando Ulrich, surpreendeu
muita gente ao declarar que devia ser motivo de orgulho para Portugal
"que a despesa primária, sem juros, e sem medidas extraordinárias,
tenha passado de 83,5 mil milhões de euros em 2010, para pouco mais de
70 mil milhões de euros" em 2012. O banqueiro citou aqueles números
para responder ao Financial Times, mas, na verdade, estava a
dirigir-se à cacofonia que parece ocupar todo o nosso espaço público.
Sem surpresa, a generalidade dos órgãos de informação dedicou-lhe uma
breve nota de rodapé: convém não estragar a narrativa estabelecida.

No entanto, estamos a falar de números impressionantes. O corte na
despesa pública, sem juros da dívida, foi de 13,5 mil milhões de euros
em dois anos. Desses, 5,7 mil milhões foram em despesas de
investimento e o restante, 7,8 mil milhões, foi na chamada despesa
corrente primária. 7,8 mil milhões é quase quatro vezes o valor do
corte dos dois subsídios aos funcionários públicos. 7,8 mil milhões é
também mais do que todos os juros que vamos pagar este ano (7,5 mil
milhões) e é quase tanto quanto o que se gastou em educação em 2011
(8,2 mil milhões).

Muitos destes cortes afectaram já a vida dos portugueses. O corte no
investimento, por exemplo, levou à paragem de muitas obras públicas -
e ainda bem, digo eu -, e isso está a ter importantes consequências
nesse sector da economia. Mas não só. Vejamos também o que aconteceu
entre 2011 e 2012 nos principais ministérios comparando a execução
orçamental até Agosto. O Ministério da Defesa cortou mais de 200
milhões de euros - a consequência vimo-la na manifestação de sábado
passado, com as associações de militares a marcharem ao lado da CGTP.
O Ministério da Saúde gastou menos 500 milhões de euros, apesar de ter
pago dívidas em atraso - mas todos sabemos como a redução de custos
neste sector tem gerado protestos e manifestações. E o Ministério da
Educação já tinha conseguido cortar, nesses oito meses, 750 milhões de
euros. Até os encargos líquidos do Estado com as PPP caíram 52 por
cento no primeiro semestre, uma poupança de 586 milhões de euros.

É claro que, para conseguir estes cortes, foi necessário reduzir os
salários dos funcionários públicos, fechar serviços de saúde que eram
redundantes e escolas com poucos alunos, tal como dispensar
professores que ficaram sem turmas para dar aulas, bloquear as
progressões nas carreiras, acabar com os subsídios às empresas, tudo
medidas que afectaram corporações específicas e suscitaram a habitual
onda de críticas contra os "cortes cegos". Mais: sempre que se anuncia
alguma racionalização, mesmo que tímida, mesmo que mal feita e
insuficiente, como a que foi anunciada para as fundações, salta logo
um coro de protestos a justificar o carácter indispensável do
respectivo gasto público.

Mesmo assim, estamos longe dos objectivos. Este ano estão a ser
cortados mais de quatro mil milhões de euros na despesa corrente
primária, para o ano o ministro das Finanças já anunciou que será
necessário cortar outros quatro mil milhões. Se alguém souber como se
cortam sete mil milhões em vez de quatro, que avance: assim evitaremos
o assalto fiscal via IRS.

Portugal tem vivido na ilusão de que todos estes cortes ainda não
ocorreram e que, portanto, basta realizá-los para resolvermos os
nossos problemas. E também na ilusão - que, de resto, foi alimentada
pela actual maioria durante a última campanha eleitoral - de que tudo
se pode fazer tocando apenas nas gorduras do Estado, nas PPP ou nas
fundações. Não era verdade e não é verdade, pois tudo o que se fizer
nessa área, sendo muitíssimo importante (até por razões políticas),
pesa relativamente pouco quando olhamos para os grandes números. Basta
pensarmos que, dos quase 74 mil milhões de euros que o Estado gastou
em 2010 (sem juros nem investimento), mais de 80 por cento foram para
pagar os salários dos funcionários e as pensões sociais.

Todos estes números são públicos, mas mesmo assim há quem insista em
ignorá-los e, sobretudo, quem continue a negar o essencial. Isto é,
que os níveis de despesa públicos atingidos em 2009 e 2010 - mais de
88 mil milhões de euros - não só eram incomportáveis para uma economia
como a nossa, como só foram possíveis por décadas de políticas
erradas, muito populismo e uma enorme falta de coragem.

Em Portugal, ganharam-se muitas eleições a aumentar desmesuradamente
os funcionários públicos - ganhou-as Cavaco, ganhou-as Guterres,
ganhou-as Sócrates. Poucos na altura se incomodaram com isso, quase
todos os "senadores" que hoje saltitam de estúdio de televisão em
estúdio de televisão colaboraram activamente com isso.

Em Portugal, vamos quase em quatro décadas sem alterar devidamente a
lei das rendas, por endémica falta de coragem política, e isso
contribuiu muito para distorcer as prioridades do sistema financeiro,
que se especializou numa actividade não produtiva - o crédito à
habitação - e nunca financiou devidamente a economia. Quantos
"senadores" não foram cúmplices desta inacção?

Em Portugal, nunca nenhum governante deixou de sonhar ser uma espécie
de Fontes Pereira de Melo moderno, espalhando auto-estradas ou
semeando rotundas, criando dívida directa ou dívida através de PPP,
assim contribuindo para que, só em 2007, cerca de 70 por cento do
crédito bancário total concedido a empresas e a particulares fossem
destinados ao cluster da construção civil e imobiliário. Não
surpreende que, com estes comportamentos e distorções, a dívida tenha
crescido e a economia estagnado.

Em Portugal, os governantes sempre gostaram de subsidiar as empresas,
e estas de ser subsidiadas, e, em Portugal, são raros os "senadores"
que não tiveram sinecuras em alguma das grandes empresas do regime, ou
em alguma das instituições públicas ou semipúblicas onde os salários
não estão limitados pelo desagradável tecto imposto aos ministros.

É por todas estas e muitas outras que tenho cada vez menos tolerância
para os conselhos de sapiência de "senadores" que no passado criaram
rendas e hoje dizem que temos de acabar com elas; que querem cortar
nas despesas públicas mas não só nunca o fizeram como, nalguns casos,
beneficiam de pensões superiores a 10 mil euros mensais; que foram
incapazes de fazer reformas decentes, do arrendamento à lei do
trabalho, e agora continuam a criticar as reformas; que inventaram e
encheram o país de PPP mas agora estão muito preocupados com a
corrupção; que pedem cortes na despesa mas só sabem referir as viagens
e as ajudas de custo.

Portugal não chegou onde chegou por ser uma barca que navegou sem
piloto: houve pilotos, houve responsáveis, houve muita gente que
contribuiu, por acção ou omissão, para chegarmos aos intoleráveis 88
mil milhões de despesa pública (e 7,5 mil milhões de despesas anuais
com os juros da dívida). Muita dessa gente tem hoje cabelos brancos e
continua a achar que devia estar no Governo, como se esse fosse um
qualquer direito divino que lhe assistisse. Até o vai dizer a
programas de televisão.

Mas para pior já basta assim. Para esbulho fiscal já chega o
anunciado, não precisamos ainda de mais impostos para pagar ainda
menos cortes nas despesas. Por isso só desejo que a providência nos
livre de quem nos trouxe até aqui e nem isso é capaz de admitir.

terça-feira, outubro 02, 2012

# A arquitectura e o design estão a reinventar a cortiça portuguesa

http://www.publico.pt/Cultura/a-arquitectura-e-o-design-estao-a-reiventar-a-cortica-portuguesa-1565421?all=1
01.10.2012 - 23:20 Por Cláudia Carvalho

O Pavilhão de Portugal na Expo 2010 de Xangai foi todo revestido a
cortiça (Aly Song/Reuters)
Não se pode dizer que o mundo da arquitectura e do design tenha
descoberto agora a cortiça portuguesa porque não seria verdade. Basta
para isso lembrar o sucesso do Pavilhão de Portugal na Expo 2010, em
Xangai, todo revestido a cortiça, ou os produtos portugueses que há
muito chegaram à loja do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Mas se em 2010 a cortiça era especialmente usada por portugueses, em
2012 parece ser a aposta de artistas e arquitectos de todo o mundo.

Depois de ter sido o material escolhido pela dupla de arquitectos
Herzog & de Meuron com o artista Ai Weiwei para o pavilhão de Verão
deste ano da Serpentine Gallery, em Londres, e de ter sido o motivo de
um concurso de design do Vitra Design Museum, não será de estranhar se
a partir de agora começarmos a ver a cortiça cada vez mais associada a
projectos internacionais.

Com esta aposta surgem novas aplicações do material. Começou como uma
tendência para as peças de mobiliário e decoração, como mesas, cómodas
e cadeiras, mas hoje já tudo, ou quase tudo, é possível. Candeeiros,
roupa e calçado, acessórios de moda como colares, pulseiras e cintos,
auscultadores e colunas, malas, guarda-chuvas, cadernos. A lista do
que já existe é longa mas a das possibilidades parece ser ainda maior,
como se comprovou no concurso de Verão do museu alemão Vitra Design
Museum que, em parceria com o Domaine de Boisbuchet e a Corticeira
Amorim (CA), desafiou jovens designers de todo o mundo a conceberem
novas aplicações de cortiça. A resposta foi massiva e das 367
propostas destacou-se a de Ana Loskiewicz, designer polaca que venceu
o concurso com uma colmeia de cortiça pensada para os grandes centros
urbanos.

"Fiquei surpreendida com as possibilidades da cortiça, que além de ser
um material realmente bonito é muito fácil de trabalhar", diz ao
PÚBLICO a jovem polaca, que venceu o prémio no valor de dez mil euros
e que ajudará a tornar a sua ideia num projecto comercializável. "Este
é um projecto complicado, ainda é preciso fazer alguns testes,
perceber como se dão as abelhas com esta colmeia, e provavelmente
fazer algumas melhorias, mas é claro que o objectivo é que seja
produzido em grande escala", explica a designer, que quer continuar a
trabalhar com a cortiça. "É incrível como quase não há desperdício no
processo de produção, além de ser um material que mostra como as
pessoas podem usar a natureza de uma forma equilibrada e sustentável."

A sustentabilidade é, aliás, o argumento mais utilizado por Carlos
Jesus, director de Marketing e Comunicação da CA e membro do júri que
premiou Ana Loskiewicz. "A cortiça tem algo que o design e a
arquitectura precisam, é um produto inovador que comporta
sustentabilidade para as obras dos seus criadores e é por isso que
vamos ver cada vez mais projectos com este material", diz ao PÚBLICO
Carlos Jesus, que garante que "isto não é uma questão de moda". "É
resultado de um longo trabalho de educação", explica, defendendo que
num momento em que a preocupação ambiental é cada vez mais importante,
a escolha dos materiais tem de ser mais cuidada.

Projectos de todo o mundo

É por isso que, diz, concursos como o que do Vitra Design Museum são
uma montra de possibilidades, uma prova de como a arte se consegue tão
bem reinventar. "O que vimos por lá foi incrível, não foi fácil
decidir porque tivemos propostas de todos os tipos, o que dá uma ideia
da abrangência da cortiça, da diversidade de mercados que pode
atingir", conta Carlos Jesus.

Essa abrangência é notória nas menções honrosas: uns headphones, uma
geleira, uma tomada eléctrica, uma linha de cadeiras, e tecido de
cortiça. "E mais poderiam estar nesta lista, a verdade é que estamos a
olhar para vários projectos que vimos neste concurso e que têm muito
potencial", revela o responsável, explicando que algumas das ideias
estão a ser estudadas para chegarem ao mercado nos próximos tempos.
"Pela sua qualidade e interesse, alguns projectos vão ser
comercializados porque há de certeza mercado para isso", garante.

Mas para Carlos Jesus o mais surpreendente do concurso foi mesmo a
quantidade de candidaturas de países tão distintos como o Irão, o
Japão, a Nova Zelândia, o Brasil, a Grécia ou os Estados Unidos.
Portugal foi dos países com mais propostas, ao lado de Espanha. "Isto
demonstra o potencial e o interesse dos artistas pela cortiça, é que
mesmo aqueles que não têm uma tradição com este material conseguiram
agarrá-lo."Não será, no entanto, por acaso que nos últimos tempos a
cortiça se tornou a nova coqueluche da arte. Quando, em 2010, Xangai
recebeu a Expo, o Pavilhão de Portugal foi um dos que mais deu que
falar. O motivo? A sua arquitectura e o material usado. "O pavilhão,
todo revestido com cortiça, foi um dos mais visitados e acabou
premiado, e convenhamos que numa Expo como aquela Portugal não era o
destaque", diz Carlos Jesus, lembrando que os visitantes chegavam até
a tirar pedaços do edifício como recordação.

"Será por acaso que dois anos depois do sucesso na China, um artista
chinês [Ai Weiwei] escolheu a cortiça para o seu projecto na
Serpentine? É coincidência? Nunca saberemos, porque este é um impacto
difícil de medir, mas a verdade é que estamos a crescer", assegura.
Esta utilidade da cortiça não foi descoberta agora. O que está a
acontecer, diz, é que a estamos a descobrir novamente. "Estamos a
recuperar algo que Frank Loyd Wright já utilizava nos anos 1930.
Parece é que depois o mundo se esqueceu e a modernidade passou a ser o
plástico. Felizmente, estamos a voltar para a cortiça e a renovar a
sua utilidade."

Carlos Jesus garante que também não é por acaso que a Corticeira
Amorim tem apoiado todas estas iniciativas, assumindo que a empresa
quer estar do lado do design e da arquitectura. "São duas áreas muito
importantes para nós e nas quais queremos continuar a apostar."

É, por isso, provável que mais projectos sejam anunciados em breve.
"Há uma série de projectos com designers e arquitectos de renome
internacional em que estamos a trabalhar."