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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

terça-feira, abril 21, 2015

# Portugal no top 20 mundial no Índice de Progresso Social de 133 países

Portugal melhora no Índice de Progresso Social e entra para o top 20 mundial

20/4/2015, 23:14
http://observador.pt/2015/04/20/portugal-melhora-no-indice-progresso-social-entra-top-20-mundial/

Portugal subiu quatro lugares no Índice de Progresso Social e passou a
fazer parte do top 20 mundial, deixando para trás países como Espanha,
França e Itália.

O acesso à educação superior é uma das questões onde o mundo demonstra
estar pior

Autor Marlene Carriço

Portugal subiu quatro posições no Índice de Progresso Social ocupando,
em 2015, o 18.º lugar, à frente de países como Espanha, França e
Itália. Em causa estão indicadores relacionados com necessidades
humanas básicas, bem-estar e oportunidades, que permitem perceber a
qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.

Os indicadores onde Portugal melhor pontua são os da água e
saneamento, acesso ao conhecimento básico e direitos individuais. Já
no que toca às condições das moradias, Portugal "tem oportunidade de
melhorar", assim como no que diz respeito à sustentabilidade dos
ecossistemas e ao acesso à educação superior. É este o resumo que é
feito sobre Portugal, pela ONG norte-americana Social Progress
Imperative.

Este Índice classifica 133 países, de acordo com o seu desempenho
social e ambiental, medindo o progresso social de 99% da população
mundial, através de 52 indicadores. Desenvolvido para medir o
progresso social independentemente do Produto Interno Bruto (PIB), o
Índice de Progresso Social permite perceber se os cidadãos têm acesso
a um vasto conjunto de indicadores de progresso, incluindo serviços
básicos, direitos e liberdades, oportunidades, saúde, educação,
habitação e segurança.

A Noruega ocupa o lugar cimeiro, seguida da Suécia (2.º), Suíça (3.º),
Islândia (4º.) e Nova Zelândia (5.º). O Canadá (em 6.º no ranking) é o
país dos G7 com o melhor desempenho, com uma pontuação superior à dos
Estados Unidos (16.º). No extremo oposto, Zimbabué, Vietname e
Turquemenistão surgem como os países pior classificados.

Onde o mundo demonstra estar pior classificado neste Índice é nos
indicadores da "tolerância e inclusão", "direitos individuais",
"acesso à educação superior" e "sustentabilidade do ecossistema".
Estas são questões onde até mesmo os países mais avançados podem ter
dificuldade em alcançar uma pontuação elevada, diz a Deloitte em
comunicado.

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segunda-feira, abril 20, 2015

# Desde 2006 abandono escolar em Portugal caiu para menos de metade, sendo a melhor redução da UE!

Portugal com 4ª maior taxa de abandono escolar precoce da UE, mas a melhorar

http://observador.pt/2015/04/20/portugal-4a-maior-taxa-abadono-escolar-precoce-da-ue-melhorar/

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Portugal, com 17,4%, tinha em 2014 a quarta maior taxa de abandono
escolar precoce da União Europeia (UE), mas com a maior redução face a
2006, divulga o Eurostat esta segunda-feia.

Segundo o gabinete oficial de estatísticas da UE, a Espanha (21,9%) é
o Estado-membro com piores resultados no que se refere à taxa de
abandono escolar precoce, seguindo-se Malta (20,4%), Roménia (18,1%),
Portugal (17,4%) e Itália (15%).

Segundo o Eurostat, Portugal foi o país que mais reduziu o indicador,
sendo que os 17,4% do ano passado são menos de metade dos 38,5% de
2006.

O objetivo nacional português é de ter um máximo de 10% de abandono
escolar precoce, o mesmo que o da UE.

No extremo oposto – com as menores percentagens de estudantes que
abandonam prematuramente os estudos – estão a Croácia (2,7%), a
Eslovénia (4,4%), a Polónia (5,4%), a República Checa (5,5,%) e a
Lituânia (5,9%).

A média da UE era, também o ano passado de 11,1%, que compara com os
15,3% de 2006.

Em geral, são mais os rapazes que as raparigas que abandonam
precocemente os estudos, tendo, no ano passado, a proporção em
Portugal sido de 20,7% face a 14,1% (12,7% de homens e 9,5% de
mulheres, na média europeia).

A única exceção a esta tendência verifica-se na Bulgária por uma
décima: 12,8% de homens contra 12,9% de mulheres que em 2014
abandonaram precocemente os estudos.

Quinze Estados-membros atingiram já os objetivos nacionais para 2020
neste indicador: a República Checa, a Dinamarca, a Alemanha, a Grécia,
a França, a Croácia, a Itália, Chipre, a Letónia, a Lituânia, o
Luxemburgo, a Áustria, a Eslovénia e a Suécia.

Outro objetivo definido no âmbito da estratégia da UE para o emprego e
crescimento Europa 2020 é a do aumento do número de licenciados.

Portugal teve, no ano passado, 31,1% de pessoas entre os 30 e os 34
anos que terminaram com sucesso o ensino superior, que compara com
12,9% de 2002 e 30% de 2013.

A média da UE para este indicador é de 37,9%, face aos 23,6% de 2002 e
aos 37,1% de 2103.

O objetivo nacional para 2020 é de 40%, o mesmo que o da média da UE.

Em 2014, mais de metade da população entre os 30 e os 34 anos concluiu
o ensino superior na Lituânia (53,3%), no Luxemburgo (52,7%), em
Chipre (52,5% e na Irlanda (52,2%).

No outro extremo da tabela estão a Itália (23,9%), a Roménia (25%),
Malta (26,6%), a Eslováquia (26,9%) e a República Checa (28,2%).

Doze Estados-membros já atingiram os seus objetivos nacionais para
este indicador: Dinamarca, Estónia, Grécia, Chipre, Letónia, Lituânia,
Hungria, Holanda, Áustria, Eslovénia, Finlândia e Suécia.

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# País de papel

Helena Matos | Observador | 19/4/2015, 11:54

Dentro de dias teremos as cerimónias do 25 de Abril. Simultaneamente
temos a evocação dessa Assembleia Constituinte eleita precisamente há
quarenta anos.

O país descobre agora detalhes dessas eleições e histórias desse
parlamento que ainda antes de nascer já sofria do pecado original de
ser burguês. Não por acaso, aquilo a que nos últimos anos temos
chamado contestação é quase invariavelmente o desfile do que resta
desse país em que a legitimidade da rua, das assembleias de oficiais,
sargentos e praças e dos pactos MFA-partidos era vista como moralmente
superior à do parlamento: militares agora como então incapazes de
produzir um discurso coerente antecipando golpes de estado (em 1975
após umas assembleias nocturnas, agora após o almoço, que a idade não
perdoa), sindicatos de representatividade mediática inversamente
proporcional à sua representatividade laboral funcionando como uma
espécie de milícias da esquerda comunista, só que agora com reformados
no lugar dos antigos operários fardados (quero acreditar que em alguns
casos são os mesmos, mas com mais 40 anos e dando o braço e o abraço
aos socialistas), líderes políticos e jornalistas agora como então
empolgados com a força revolucionária da rua.

E, claro, muito falar de fome, de Salazar (por sinal morto em 1970 e
incapacitado desde 1968), da revolta… enfim o costume como se não
tivessem passado 40 anos, não estivesse tudo mais velho, mais gordo e
a contar o tempo das performances da indignação até que as televisões
partam e consequentemente as corporações do regime possam dar por
terminada a encenação da revolta popular.

Mas para lá deste aspecto quase folclórico e invariavelmente cruel das
imagens, e independentemente de todas as discussões que se possam ter
sobre a Constituição (sim é um programa de governo, sim é de esquerda,
sim é frequentemente desrespeitada), o que esteve em causa nesta crise
foi o país de papel, esse país que se desenhou decreto a decreto,
portaria a portaria, artigo a artigo nesse ano de 1975 e, para sermos
justos, nos que se lhe seguiram. É esse um mundo em que não existe
qualquer relação entre o que materialmente se promete e os meios
existentes. É um mundo onde se legisla unicamente em função do
presente e em que, desde as portarias sobre a bolacha Maria ("de
consumo muito generalizado, em especial pelas classes de menores
rendimentos" segundo a Portaria 653/74, de 10 de Outubro que lhe fixou
os preços máximos) às questões da propriedade e do trabalho, somos
confrontados com o imaginário de um país em que no papel se há-de
compensar tudo o que não fomos capazes de fazer.

É um mundo onde qualquer lei é precedida de magníficas peças
introdutórias onde, após se desenhar um mundo de trevas herdado do
passado, se traça o luminoso resultado que todo aquele articulado vai
produzir no imediato. É um país adolescente, em que a culpa é sempre
dos outros que estiveram antes, em que daquele momento em diante tudo
funcionará simplesmente porque agora são eles os protagonistas.

Paulatinamente o jargão revolucionário foi sendo substituído por
aquele linguarejar dos programas, dos eixos dinamizadores, da dimensão
solidária, do impacto das políticas de crescimento… mas o imaginário
sobre o poder abracadabrante da legislação não só se manteve intocável
como até se reforçou pois sempre era uma alternativa civilizada à
gritaria da rua.

Até que chegou 2011 e a crise amarrotou o país de papel. Ou melhor
ficou desbotado e antigo como as fotografias em Kodacolor que fazíamos
há quarenta anos e que agora já não fazemos mas entrevemos como quem
folheia um velho álbum em cada acórdão do Tribunal Constitucional e em
cada declaração anti-austeridade. Quatro décadas depois, o país das
promessas no papel começou a esboroar-se não porque tenhamos deixado
de ser socialistas (não deixámos) mas tão só porque se percebeu que os
únicos a pagar o que se escreve no papel somos nós.

E isso faz toda a diferença. Uma diferença bem mais profunda que
qualquer revisão constitucional. O país de papel promete-nos a riqueza
e a perfeição há quarenta anos. (Que nos prometa tudo isso sob o
sistema socialista é apenas um detalhe dessa ficção pois o socialismo
acabou quando acabou o dinheiro e o estatismo mágico ocupou o lugar
outrora reservado à luta de classes.) Mas o que se torna evidente a
cada crise é que ou somos capazes de confrontar o país de papel com a
realidade, questionando o âmbito das medidas, a sua sustentabilidade,
os seus efeitos ou acabaremos na discussão sobre o meu decreto-lei vai
mais longe que o teu. Que é o mesmo que dizer que cairemos ainda mais
pobres numa outra crise mas rodeados de decretos, leis, portarias,
disposições e programas onde se enumeram objectivos ainda mais
perfeitos.

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sábado, abril 18, 2015

# 7 filmes que nos ensinam grande lições de filosofia

http://www.theguardian.com/film/2015/apr/14/force-majeure-films-philosophy-memento-ida-its-a-wonderful-life

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quarta-feira, abril 15, 2015

# Patrão corta no seu salário para subir o de todos os trabalhadores para 70 mil USD

http://observador.pt/2015/04/15/nesta-empresa-ninguem-recebe-menos-70-mil-dolares-ano-nome-da-felicidade/

Nesta empresa ninguém recebe menos de 70 mil dólares por ano. Em nome
da felicidade

Dan Price está a ser visto como o melhor patrão do mundo. Depois de
ler um estudo sobre felicidade, resolveu aumentar os salários na sua
empresa para uma meta mínima de 70 mil. Como? Reduzindo o seu.

Autor Rita Dinis

Dizem que o dinheiro não traz felicidade, mas a verdade é que a falta
dele também não. Foi com base nesta ideia que o jovem norte-americano
Dan Price, presidente executivo da empresa Gravity Payments, resolveu
revolucionar as práticas salariais da empresa que fundou em Seattle há
mais de dez anos. E tomou uma decisão: aumentar nos próximos três anos
o salário de todos os seus trabalhadores para 70 mil dólares anuais
(cerca de 66 mil euros por ano, mais de 5 mil por mês).

Como? Cortando o seu próprio salário, que passa assim de um milhão de
dólares igualmente para o patamar dos 70 mil.

Tudo começou quando leu um artigo sobre felicidade, que dizia
basicamente que para as pessoas que ganhavam menos de 70 mil dólares
anuais, um dinheiro extra fazia uma grande diferença nas suas vidas.

E tomou a decisão. A notícia foi recebida pelos seus 120 colaboradores
primeiro com um pesado silêncio de incredulidade, depois com uma onda
de euforia por parte da maioria. É que, segundo o porta-voz Ryan
Pirkle, o salário vai duplicar para 30 pessoas e aumentar para cerca
de 70. A média dos salários era, até aqui, de 48 mil dólares por ano.

A ideia, diz, é fazer com que os seus colaboradores tenham a
possibilidade de viver o velho 'sonho americano', comprar casa,
constituir famílias, e poder providenciar uma boa vida e educação para
os filhos.

Mas a forma de concretizar a ideia simples é que foi mais complicada.
"Deixou-me realmente nervoso", admitiu, porque tinha de encontrar uma
solução que não passasse por aumentar os preços dos serviços aos
clientes nem diminuir a oferta. Por isso a solução de cortar o seu
próprio salário durante os próximos anos foi a que lhe "pareceu mais
justa".

Se tudo correr como previsto, só terá de manter o seu salário em baixo
até a empresa voltar aos lucros que tinha antes do aumento salarial,
que espera que leve apenas três anos.

Se foi um golpe de publicidade, está a dar certo, já que a notícia do
anúncio depressa correu mundo, mas também lhe vai custar caro. Dan
Price, que fundou aquela empresa de processamento de pagamentos com
cartão de crédito há mais de dez anos, quando tinha apenas 19, além de
se preparar para cortar o seu próprio salário milionário vai ainda ter
de usar cerca de 75 a 80% do valor que foi antecipando como sendo o
provável lucro da empresa este ano (2.2 milhões de dólares).

"Os salários estabelecidos no mercado para mim enquanto CEO [diretor
executivo] em comparação com os estabelecidos para um funcionário são
ridículos, são absurdos", terá dito, citado pelo New York Times, o
jovem de 30 anos que conduz um Audi com 12 anos e que diz que as suas
principais extravagâncias são fazer snowboard e pagar a conta da mesa
toda no bar ou no restaurante.

Certo é que os Estados Unidos têm uma das maiores diferenças salariais
entre chefias e funcionários, com os gerentes de topo a ganharem cerca
de 300 vezes mais do que os trabalhadores regulares.

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# Nova Estratégia Económica para Portugal?

http://observador.pt/opiniao/nova-estrategia-economica/

João Salgueiro

14/4/2015, 13:42

O sucesso de nova estratégia económica só depende da nossa capacidade
para encorajar e atrair investimentos produtivos, em concorrência com
as localizações alternativas hoje disponíveis.

1. A economia e a sociedade portuguesa vêm defrontando há vários anos
situações de crise económica e social, com estagnação e declínio do
produto e do investimento e com os graves custos humanos associados ao
desemprego, à quebra de rendimentos e ao agravamento da carga fiscal,
tudo conduzindo a sério declínio das expectativas.

As atenções têm estado centradas sobre o difícil programa de
assistência financeira resultante da rotura no acesso aos mercados,
mas, face à acelerada mutação do quadro mundial e à necessidade de
revitalizar os objectivos e as instituições europeias, não pode
considerar-se como objectivo apenas o regresso às condições
anteriores.

Sem viabilizar um processo de desenvolvimento económico não será fácil
corrigir o desemprego, normalizar a carga fiscal, nem assegurar a
sustentação das políticas sociais. Tem demorado excessivamente a
configuração de estratégias capazes de mobilizar o potencial de
crescimento nacional.

É hoje mais evidente a necessidade de um autêntico virar de página
indispensável para assumir novos desafios, clarificar objectivos e
definir, com realismo, verdadeiras respostas e, antes de tudo, é
indispensável compreender melhor a natureza da própria crise e não
confundir as consequências com as suas causas.

A política comercial da UE configurava uma estratégia de
especialização das economias europeias em produtos de alto valor com a
redução do peso das actividades de mão de obra intensiva e baixos
salários, possibilitando, assim, manter elevados rendimentos do
trabalho e sistemas avançados de segurança social.

2. A queda do Muro de Berlim alterou radicalmente a natureza
geoestratégica do espaço europeu e da sua situação no Mundo, e
conduziu a inevitáveis reconfigurações económicas e políticas:

– a reunificação da Alemanha, com a adesão da RDA à UE, por decisão
unilateral da RFA, sem verdadeiras negociações de pré-adesão ao espaço
europeu;
– a implosão do Pacto de Varsóvia e da própria União Soviética;
– sucessivos quatro novos alargamentos – abrangendo 18 Países do Leste
Europeu e do Mediterrâneo;
– a desaparição dos sistemas de planeamento central e a adopção da
economia de mercado – mesmo nos países que mantêm governos comunistas,
pondo termo à competição entre sistemas económicos alternativos.

Em poucos anos, generalizou-se o sistema de mercado como único modelo
para organização das economias nacionais e das relações económicas
internacionais, opções fundamentais que conduzem à globalização
assente nos mecanismos de concorrência e livre formação dos preços.

3. A reconfiguração do quadro económico internacional, para maior
dependência dos mercados, tinha, aliás, começado quase duas décadas
antes. Com a reacção aos bloqueamentos criados pela stagflashion
abandonou-se o sistema de Bretton Woods. Desvalorizou-se, também, o
recurso às políticas de gestão da despesa global para combater o
desemprego e a inflação. Valorizou-se pelo contrário o estímulo das
capacidades de oferta, pela promoção da concorrência, da desregulação,
das privatizações e da livre circulação de capitais.

Com a mesma inspiração, decidiu-se em 1986 a criação doMercado Único
Europeu, anulando a compartimentação dos espaços nacionais, com a
eliminação de formalidades fronteiriças, diferentes regimes normativos
e preferências nacionais nas compras públicas bem como o estímulo da
concorrência nos sectores de serviços e a adopção do sistema monetário
europeu, precedendo a criação da moeda única.

A política comercial da UE assumiu, também, na prática, o objectivo de
desmantelamento das fronteiras externas, favorecendo os interesses dos
países membros mais competitivos, facilitando as importações para
assegurar, em contrapartida, fácil acesso aos mercados dos países em
vias de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, combater as pressões
inflacionistas, pela maior disponibilidade de bens de consumo de baixo
custo. Configurava uma estratégia de especialização das economias
europeias em produtos de alto valor com a redução do peso das
actividades de mão de obra intensiva e baixos salários,
possibilitando, assim, manter elevados rendimentos do trabalho e
sistemas avançados de segurança social.

Não é demais sublinhar o alcance de tão profundas alterações no
ordenamento económico mundial, ainda mal assumidas em muitas
instâncias europeias, mantendo ainda a ilusão do papel do
eurocentrismo e insuficiência de competitividade para assegurar o
autodesignado modelo social europeu.

A curto prazo, foram os países periféricos da UE – os mais atingidos
por esta evolução, registando elevadas taxas de desemprego nos seus
sectores tradicionais. A médio prazo, avanços de competitividade dos
países emergentes, particularmente os Tigres Asiáticos e, de forma
mais decisiva a República Popular da China, conduzem à necessidade de
ajustamentos estruturais mesmo nos países europeus já
industrializados.

Nos últimos anos, a Europa tornou-se o continente com piores
indicadores económicos e difícil confronto, não só com os países do
terceiro mundo mas também com os EUA.

4. A partir de 2008, defrontaram-se na União Europeia novas
dificuldades, com o desequilíbrio dos sectores financeiros,
esgotamento da expansão das actividades imobiliárias e menor
sustentabilidade das finanças públicas. Em geral, atribui-se essa
crise às consequências da especulação imobiliária e bancária nos
Estados Unidos – com os incumprimentos do subprime, perda de confiança
nos produtos derivados e colapso dos mercados interbancários. Mas a
Europa defrontava também os efeitos da crescente perda de
competitividade, provocada pelos avanços económicos e tecnológicos dos
países emergentes.

Nos últimos anos, a Europa tornou-se o continente com piores
indicadores económicos e difícil confronto, não só com os países do
terceiro mundo mas também com os EUA. Os progressos da economia
americana evidenciam os efeitos conjugados de políticas monetárias
mais activas, menor burocracia regulamentar e menores custos de
energia. Pelo contrário, a Europa defronta as consequências negativas
da rigorosa consolidação das finanças públicas e da desalavancagem
bancária, a somar aos efeitos duradouros da sua evolução demográfica e
da menos eficaz capacidade de integração das comunidades de
imigrantes.

A criação do mercado único europeu – como também a globalização do
mercado mundial – permitiu melhor aproveitamento de economias de
escala, estímulo de concorrência e difusão de inovações. Mas não se
tem ponderado com realismo, na medida necessária, os efeitos negativos
da polarização que provoca crescente concentração nas regiões com
melhores vantagens de competitividade, agravando a desigualdade nas
condições que são oferecidas às actividades económicas e às
populações. Tem-se procurado compensar essas consequências negativas
com políticas nacionais de desenvolvimento regional, estímulos fiscais
e financeiros, e transferência de recursos orçamentais. Mas há um
deficit de actuação a nível europeu.

Em Portugal, não se percebeu, em tempo útil, a dimensão e o alcance
das transformações em curso na Europa e no mundo e prolongou-se,
assim, grave incapacidade de resposta aos novos desafios, acumulando
crescentes desequilíbrios.

Nas fases iniciais do processo de integração promoveram-se
simultaneamente o princípio da liberdade de concorrência e o princípio
da coesão económica e social com o reforço de fundos estruturais. De
facto, valorizava-se activamente a coesão e a convergência das
condições económicas e sociais nos diferentes países membros. Enquanto
o sistema de economia de mercado competia com o sistema de planeamento
central, procurava-se assegurar que a generalização dos progressos
económicos contribuísse para assegurar base política de apoio ao
projecto europeu. No quadro da concorrência global, as prioridades da
integração europeia não assumem hoje o mesmo significado.

5. Em Portugal, não se percebeu, em tempo útil, a dimensão e o alcance
das transformações em curso na Europa e no mundo e prolongou-se,
assim, grave incapacidade de resposta aos novos desafios, acumulando
crescentes desequilíbrios.

Já em estado de necessidade e sem autêntica negociação, o pedido de
assistência financeira, em 6 Abril de 2011, configurou, para Portugal,
um verdadeiro choque com a realidade. O programa foi acordado, com a
UE, o FMI e o BCE, ignorando a verdadeira dimensão dos apoios que a
realidade exigia, nomeadamente, não contemplando os desequilíbrios do
sector empresarial do Estado. Assim – face à impossibilidade de
reafectar o crédito atribuído às empresas públicas – agravaram-se as
dificuldades financeiras das pequenas e médias empresas, contribuindo
para muitos encerramentos e agravamento do desemprego. Por outro lado,
o que constitui limitação mais essencial, o Programa foi inspirado por
uma estratégia de equilíbrio macro-económico de curto prazo, visando a
correcção dos desequilíbrios das finanças públicas e da balança
externa, sem suficiente ponderação da rigidez institucional e social
dos estrangulamentos vigentes. No pressuposto da perfeita mobilidade
dos factores produtivos, não contemplou de forma consistente uma
estratégia de desenvolvimento, desvalorizando o desafio central da
nossa estagnação económica.

O pedido de ajuda internacional não resultou apenas de crise
conjuntural mas confirmou, de facto, a falência do modelo de política
económica vigente até então, que assentava em pressupostos já sem
qualquer fundamento real.

Com efeito, entendeu-se então – sem fundamento real – que se tratava
apenas de mais um desequilíbrio que importava corrigir, quando, de
facto, se defrontava a exigência de um profundo reajustamento de
estruturas e políticas, após as radicais transformações no quadro
internacional, posteriores a 1989. Os programas de ajuda do FMI, em
1978 e 1983, visavam essencialmente corrigir o desequilíbrio externo
português decorrente do forte agravamento dos preços das importações
de petróleo, que quadruplicaram, em 1973, e duplicaram, de novo, em
1979. As medidas adoptadas em ambos os casos – que beneficiaram também
dos efeitos do forte crescimento dos preços internos – rapidamente
tornaram possível corrigir o excesso de despesa face ao desequilíbrio
da balança com o exterior, reduzindo as importações e estimulando as
exportações. Em 2011, a crise resultava não só de desfazamentos
estruturais, que punham em causa a competitividade futura de largos
sectores das nossas actividades produtivas, mas também a necessidade
de reconsiderar os próprios objectivos e instrumentos da nossa
política económica.

6. O pedido de ajuda internacional – face a bloqueios, infelizmente só
reconhecidos com atraso de quase duas décadas – não resultou apenas de
crise conjuntural mas confirmou, de facto, a falência do modelo de
política económica vigente até então, que assentava em dois
pressupostos já sem qualquer fundamento real. Por um lado, a ilusão de
que a "crise" poderia ser ultrapassada com o relançamento da economia
e do emprego através do aumento da despesa pública – de qualquer modo
já entretanto inviabilizado pelo excessivo agravamento da nossa dívida
externa. Por outro lado, a convicção de que, face às nossas
dificuldades, sempre seria possível recorrer à solidariedade europeia,
o que se tornara irrealista desde 1990, após a queda do Muro de
Berlim, e o termo da ameaça da URSS, que tornava menos essencial a
estabilidade solidária do espaço integrado da Europa Ocidental.

Inevitavelmente, a nova realidade expunha Portugal a uma diferente
ordem europeia e internacional, o que, infelizmente, está ainda longe
de ser assumido pela maior parte das nossas lideranças políticas e da
opinião pública. A correcção da crise que defrontamos não permitirá
voltar à "normalidade anterior aos novos desafios", nem será possível
encontrar as soluções apenas pela contenção da despesa e pelo
reequilíbrio dos preços relativos. O desafio essencial é,
inevitavelmente, o de assegurar condições de desenvolvimento, de
afirmação e de progresso para a economia portuguesa no espaço alargado
europeu e, também, no espaço global, face aos novos países emergentes.

Os indicadores relativos a 2014, com o modesto crescimento do PIB de
0,9%, podem indiciar o princípio do fim dos desequilíbrios de curto
prazo. Mas é indispensável recordar que desde o início do milénio até
ao desencadear da recente crise financeira, a média do nosso
crescimento anual foi apenas cerca de 0,6%.

Os indicadores relativos a 2014, com o modesto crescimento do PIB de
0,9%, podem indiciar o princípio do fim dos desequilíbrios de curto
prazo. Mas é indispensável recordar que desde o início do milénio até
ao desencadear da recente crise financeira, a média do nosso
crescimento anual foi apenas cerca de 0,6%.

É difícil imaginar como tão fraco desempenho não provocou preocupação
generalizada, nem encorajou o debate sobre as razões do insucesso, nem
vontade de encontrar novas políticas económicas. Portugal registou,
nesse período, o pior conjunto de indicadores económicos dos países da
área do euro, ao mesmo tempo que acumulava forte crescimento da dívida
nacional – do Estado, das empresas e dos particulares – e suficientes
indícios de problemas no mercado de trabalho.

7. Face à falência das estratégias anteriores e à mediocridade dos
resultados conseguidos, tornam-se indispensáveis outros quadros
mentais, capazes de compreender e assumir os desafios, as
oportunidades e ameaças que defrontamos. Não parece razoável esperar
que se retroceda no caminho da crescente globalização, face aos
interesses dos principais protagonistas que a têm tornado possível.
Pelo contrário, assistiremos, provavelmente, a avanços da globalização
que, não existindo qualquer Governo mundial, será a que resulta dos
mercados e da concorrência, tanto para as decisões de curto como de
médio prazo, decisões de consumo e de investimento. Não serão
certamente as nossas dificuldades que justificarão melhores condições
oferecidas pelos mercados, mas sim a coerência e a confiança que as
estratégias económicas e a coerência política inspirarem.

Também não se pode ignorar a inevitável aceleração da mudança quando
milhões de investigadores, em todos os ramos da ciência, alargam o
espaço dos saberes. Maior número de investigadores do que o somatório
de todos os que viveram em séculos anteriores, dispondo agora de
instrumentos de pesquisa sem confronto com os que estavam ao alcance
dos cientistas de outras épocas, níveis de precisão até agora
desconhecidos, redes de telecomunicações, computadores e bases de
dados contribuem para avolumar o fluxo de inovações tecnológicas e
institucionais. Também pela primeira vez é hoje possível trabalhar em
rede, acelerando a difusão dos conhecimentos e das tecnologias, que a
concorrência e a mobilidade das empresas e capitais generaliza e
amplifica no espaço global.

Nada permite concluir que só os países de maior dimensão podem
progredir. Pelo contrário, na Europa como na Ásia, foram países de
menor dimensão que primeiro conseguiram assegurar progressos
significativos e sustentados.

8. Não parece que a resposta portuguesa se possa encontrar com simples
recurso a medidas dispersas. É indispensável nova visão que permita
ultrapassar os imobilismos, os equívocos e os complexos que, há mais
de duas décadas, comprometem os diagnósticos e as estratégias
nacionais.

Desde logo, as hipotéticas limitações de Portugal, como País pequeno e
periférico, que dificultariam o nosso desenvolvimento económico. Nada
permite concluir que só os países de maior dimensão podem progredir.
Pelo contrário, na Europa como na Ásia, foram países de menor dimensão
que primeiro conseguiram assegurar progressos significativos e
sustentados.

Também não é possível considerar que a localização do País corresponda
a uma posição periférica no espaço da economia global. Certamente,
beneficiamos de uma posição mais favorável do que dispunham os tigres
asiáticos em relação aos dois principais mercados mundiais – América
do Norte e Europa Ocidental – e dispomos ainda de vantagens relativas
face a África e América Latina e ao seu potencial de crescimento.

É igualmente indispensável erradicar os complexos de dependência que
têm comprometido o nosso progresso: dependência das empresas face ao
Estado, para prolongar a sobrevivência de estruturas e práticas
inviáveis; e dependência do País face à UE, com a subalternização
de"bom aluno europeu", para configurar estratégias de afirmação
nacional no espaço europeu e nos mercados mundiais.

Uma parte do nosso insucesso é consequência de se ter prolongado tempo
demais a vontade de construir o futuro pela defesa e sobrevivência de
estruturas e opções do passado, de qualquer modo inviabilizadas pela
inevitável "destruição criativa"

Infelizmente, uma parte do nosso insucesso é consequência de se ter
prolongado tempo demais a vontade de construir o futuro pela defesa e
sobrevivência de estruturas e opções do passado, de qualquer modo
inviabilizadas pela inevitável"destruição criativa". Pelo contrário, é
necessário conceber e concretizar respostas à medida das oportunidades
que o futuro hoje já torna possíveis. Esperar a reposição das
condições e do enquadramento da nossa economia anterior a 2007 não faz
sentido. Importa olhar para novas actividades e para a reconfiguração
das já existentes, avaliando o potencial de inovação à luz das
experiências alheias de sucesso.

9. Um novo modelo económico implica, por sistema, uma metodologia de
benchmarketing. Procurar avaliar o exemplo das economias que têm
conseguido melhores resultados, economias em vários continentes e de
dimensão diversificada, como a Alemanha ou Dinamarca, Singapura, a
Coreia ou a China. Na diversidade de condições e de recursos, esses
Países têm em comum terem sido capazes de criar sistemas que encorajam
e atraiam investimento produtivo.

Não ocorre melhor estratégia do que tornar Portugal uma localização de
referência no espaço económico global para novos projectos e
localização de empresas. À escala da economia portuguesa, são
praticamente ilimitados os recursos ao nosso alcance – novos
projectos, capitais e competências técnicas – que, constantemente, se
reorientam pela procura das melhores vantagens relativas das
diferentes localizações.

O sucesso de nova estratégia económica só depende da nossa capacidade
para encorajar e atrair investimentos produtivos, em concorrência com
as localizações alternativas hoje disponíveis. Constitui a única forma
de assegurar o nosso progresso sustentado – de criar empregos
qualificados, aliviar a carga fiscal e suportar os encargos sociais.

O benchmarking das experiências de sucesso económico – em Países de
diferente dimensão e diversos continentes – evidencia quais as
melhores condições para encorajar o investimento produtivo:

– estratégia de desenvolvimento credível e estável;
– sistema de justiça que garanta o respeito da lei e a resolução de
conflitos, em tempo útil;
– erradicação da burocracia, com uma Administração Pública amigável,
transparente e inovadora;
– avaliação, rigor e disciplina das finanças públicas, fundamento da
moderação fiscal
– sistema de ensino e investigação, formador de competências e
favorável ao investimento e ao emprego;
– encorajamento do espírito de iniciativa, pela valorização dos
mercados de concorrência, para os factores de produção e para os
produtos.

Em democracia as nossas escolhas têm dependido, em última análise, da
cultura dominante na "sociedade de direitos", que desvaloriza a
construção do futuro, absorvida pelo imediatismo das facilidades.

10. Na realidade, a atracção e encorajamento de novos projectos
depende da conjugação de instituições e políticas que valorizem
Portugal e os nossos recursos humanos e materiais no confronto
internacional. Trata-se de orientações que correspondem, aliás, a
reformas estruturais já reconhecidas em Portugal como indispensáveis
desde 1979, mas sempre adiadas.

Interessa clarificar qual a causa dos sucessivos adiamentos: mau
enquadramento institucional? Erradas prioridades das lideranças
políticas? Alheamento dos eleitores e da opinião pública? De facto e
em democracia as nossas escolhas têm dependido, em última análise, da
cultura dominante na"sociedade de direitos", que desvaloriza a
construção do futuro, absorvida pelo imediatismo das facilidades.

Repetem-se protestos quanto às consequências dos fracos resultados
conseguidos mas não se evidencia igual vontade de corrigir as suas
causas e de configurar verdadeiras alternativas. Continua a não se
reconhecer qualquer estratégia nacional capaz de corresponder às
expectativas dos portugueses, nem sequer de aproveitar as
oportunidades ao nosso alcance.

Importa responder, sem bloqueamentos mentais, aos desafios que hoje
defrontamos, na Europa e no Mundo, clarificando objectivos e assumindo
as decisões necessárias para os alcançar. Após 40 anos de promessas
mal cumpridas, é necessário reconhecer que o nosso maior obstáculo não
reside, talvez, na ignorância dos desafios que defrontamos, dos
desequilíbrios e dos bloqueios nacionais. Reside, antes de tudo, na
incapacidade de mudança, continuando a aceitar-se adiamentos e a
preferir a defesa das Instituições do passado à construção de
respostas para vencer no novo quadro de competências e de concorrência
mundial. É necessário garantir novas oportunidades efectivas, pelos
avanços de desempenho e pela reconfiguração do enquadramento nacional
para assegurar, sem álibis, a atracção e criação de valor que garanta
competitividade, novos empregos e solidariedade sustentável.

11. A economia portuguesa beneficia neste momento de uma conjugação
excepcional de condições favoráveis, com a desvalorização da nossa
moeda em relação ao dólar, a descida do preço do petróleo, as baixas
taxas de juro e à abundância de liquidez proporcionada pelo BCE bem
como, provavelmente, alguma reanimação da actividade económica
europeia e do mercado ibérico.

Não podemos, no entanto, ignorar que este novo quadro nos obrigará a
ponderar os seus efeitos nos países produtores de petróleo com quem
mantemos importantes relações. Mais decisivamente, não podemos
esquecer que se trata, provavelmente, de oportunidades conjunturais
descontinuáveis em qualquer momento. Expostos aos prováveis riscos de
overshooting nos mercados mundiais, importa consolidar credibilidade
que suporte a confiança dos investidores e valorize a imagem do País,
dos nossos activos e dos produtos nacionais.

Só depende de nós o melhor aproveitamento dos recursos ao nosso
alcance. Em diversos sectores, temos vindo a registar significativos
progressos, que poderiam ter tido lugar muitos anos atrás: valorização
dos produtos da pesca, da agricultura (azeite, vinho, fruta, legumes…)
e das industrias tradicionais (calçado, têxteis, metalomecânicas,
mobiliário…). Assiste-se também à criação de novas empresas pelo
aproveitamento de oportunidades tecnológicas associadas aos avanços de
qualidade das Universidades e de centros de investigação.
Consolida-se, ainda, o aumento das exportações, a valorização e
diversificação da oferta turística e exportação de novos serviços de
engenharia e sistemas de informação.

Um Desígnio Nacional que concilie mais ambição e mais urgência. Mais
ambição para garantir progresso económico, capaz de assegurar
recuperação de soberania, sustentação de emprego qualificado e avanços
sociais.

Ao mesmo tempo está à vista o potencial existente em alguns dos nossos
portos – e muito em especial o caso de Sines – e também o potencial
que resultaria de melhores ligações ferroviárias de mercadorias à
Europa. E também o potencial ao nosso alcance na exportação de
projectos de engenharia, serviços de saúde e educação e os que devem
resultar da mais estreita ligação universidade-empresas e do reforço
de novosclusters industriais e centros tecnológicos. Continuamos
também a manter a esperança e responsabilidade adiada quanto ao
aproveitamento dos recursos da plataforma marítima continental, o que
depende de fortes avanços de conhecimentos e de tecnologia, da
concretização sem adiamentos de parcerias internacionais, e da
capacidade negocial correspondente aos nossos interesses essenciais
que evite repetir a abdicação de soberania acordada com o Tratado de
Lisboa.

Em última análise o que está em causa é substituir políticas
governamentais e novas competências da Administração – instáveis e
excessivamente descontinuadas – por uma estratégia integrada de
desenvolvimento, capaz de configurar autêntico Desígnio Nacional que
envolva os nossos principais agentes de mudança: associativismo
empresarial mais competitivo, sindicalismo de progresso, competências
dos dirigentes autárquicos, dos agentes culturais e de comunicação e,
acima de tudo, a participação dos portugueses, da sua ambição,
capacidade de diagnóstico e acompanhamento crítico.

Um Desígnio Nacional que concilie mais ambição e mais urgência. Mais
ambição para garantir progresso económico, capaz de assegurar
recuperação de soberania, sustentação de emprego qualificado e avanços
sociais. Mais urgência de todos os que não ignoram a aceleração das
mutações no espaço global e que querem estar presentes na criação do
futuro da Europa e do Mundo.

* Texto da conferência proferida a 14 de Abril de 2015 na abertura do
ciclo de colóquios "Relançar Portugal – Bloqueios e Desafios",
organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da UCP e pela SEDES.

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terça-feira, abril 14, 2015

# Documentários interessantes da história de Portugal

Documentário "Caravelas e Naus um Choque Tecnológico no século XVI"

https://www.youtube.com/watch?v=7xUEZt0_osc

Documentário - Como os espanhóis viram a ocupação de Portugal de 1580 a 1640

https://www.youtube.com/watch?v=UYTKDOmEJgw
https://www.youtube.com/watch?v=xy1nwB4ohoc
https://www.youtube.com/watch?v=UYTKDOmEJgw

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# Debate nas NU sobre robots armados actuarem autonomamente

Robots armados a operarem sozinhos, sim ou não?

http://observador.pt/2015/04/14/robots-armados-operarem-sozinhos-sim-nao/

Até sexta-feira a ONU reúne peritos em armamento para decidir se é, ou
não, criado um tratado que proíba o desenvolvimento de armas com
capacidade autónoma para escolherem e atacarem alvos.

Peritos em armas, cientistas, engenheiros e políticos estarão reunidos
até sexta-feira, 17 de abril, em Genebra, na Suíça

Autor Diogo Pombo

Robots munidos com armas, sejam eles caminhantes ou voadores, sim ou
não? Eis a questão que, na segunda-feira, começou a dividir os líderes
dos países reunidos na Convenção sobre Certas Armas Convencionais
(CAC) da ONU, que se realiza até sexta-feira em Genebra, na Suíça,
pois nem toda a gente pretende que se coloque um travão no
desenvolvimento de Sistemas Autónomos de Armamento Letal (Laws, na
sigla inglesa). Ou seja, há países a quererem prosseguir o
desenvolvimento de armamento que não requeira a intervenção direta de
um humano.

Um deles é o Reino Unido que, de momento, "não vê qualquer necessidade
de proibir a utilização de Laws", pois a "lei humanitária
internacional já prevê regulação suficiente nesta área". A
justificação chegou através de um porta-voz do Ministério dos Negócios
Estrangeiros, citadopelo The Guardian, que ainda garantiu que o
território "não está a desenvolver armas autónomas letais" e "haverá
sempre supervisão humana sobre os sistemas de armamento" britânicos.

A convenção reúne políticos, peritos em armamento, engenheiros,
advogados, cientista e representantes de organizações de direitos
humanos.

Mas, afinal, o que são Sistemas Autónomos de Armamento Letal? São
drones, por exemplo, e também pode ser robots controlados à distância,
ou sistemas de artilharia antiaérea, como a Cúpula de Ferro (Iron
Dome), criada por Israel para detetar e intercetar automaticamente
mísseis num raio de 250 quilómetros. Um dos objetivos da convenção das
Nações Unidas é chegar a um consenso para criar uma definição concreta
do que tipo de armas que possam ser consideradas como Laws.

Depois existem as perguntas éticas: A dependência em robots e sistemas
autónomos na sociedade contribuiu para a sua aceitação em cenários
militares? A capacidade dasLaws protegerem vidas humanas em conflitos
armados tornaria a sua utilização eticamente aceitável? Como é que uma
máquina sem emoções humanas seria útil numa situação de combate? E é
aceitável que uma máquina tenha poder de decisão sobre a vida de um
humano? Estas, e muitas outras, são abordadas na convenção liderada
por Michael Biontino, representante alemão.

O debate justifica-se pois, como sublinhou Peter Asaro,
vice-presidente do Comité Internacional para o Controlo de Armas
Robóticas, ao diário El Mundo, "a tecnologia para fabricar este tipo
de armamento já existe, e não o desenvolver depende da vontade dos
países e exércitos". Jody Williams, vencedora do Prémio Nobel da Paz
em 1997, defendeu ao mesmo jornal que "já é tempo de falar sobre este
tema e tomar medidas". Pascoal Campoy, professor do Centro de Robótica
da Universidade Politécnica de Madrid, explicou que hoje "já é
possível desenvolver um programa [informático] que tome decisões em
função de dados que lhe sejam dados". A pergunta é, prossegue, "qual é
o critério que se dá à máquina e, sobretudo, quantos e quais dados lhe
são fornecidos".

Depois existem as vozes e entidades que são contra a utilização e
desenvolvimento deste tipo de armamento. "Deveria ser óbvio que
qualquer arma deve permanecer sob o controlo humano", defendeu Thomas
Nash, cofundador da Stop Killer Robots (Acabem com os Robots
Assassinos, em tradução literal), antes de realçar que "qualquer
ataque militar devia passar pela deliberação humana". Caso não o seja,
o especialista teme que "a próxima fase seja permitir que seja a
própria máquina a [tomar a decisão de] iniciar um ataque".

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sexta-feira, abril 10, 2015

# Um discurso de Páscoa realmente diferente

Rui Tato Lima | Observador | 9/4/2015, 21:15

Video do David Cameron:
https://www.youtube.com/watch?v=G1qo1gd4klc


Somos certamente filhos do cristianismo, o que transforma o discurso
do primeiro-ministro britânico num claro apelo a todo o mundo
Ocidental para se unir na ajuda aos cristãos do Médio Oriente.
David Cameron quebrou no passado fim de semana o silêncio do Ocidente
relativamente aos massacres do mundo Islâmico. Fê-lo sem
meias-medidas, com uma assertividade e elegância muito british,
quebrando o politicamente correcto, tomando posições, comprometendo-se
e arriscando um discurso com fortíssimas implicações políticas. Em
suma, fez em dois minutos e meio o que nenhum outro líder ocidental
ousou fazer desde o despontar do Estado Islâmico.
A coragem do primeiro-ministro britânico ao assumir "devíamo-nos
sentir orgulhosos em dizer: 'Este é um país Cristão.'" é rara nos dias
que correm, pode parecer algo singelo, auto-evidente até, mas é tudo
menos isso. À ditadura do relativismo em que vivemos, repugna tal
firmeza de posições, endeusa-se antes o consenso e a neutralidade. A
generalidade dos nossos líderes políticos vive no medo de excluir,
desagradar ou afastar. O simples receio de ser atacado por lobbies ou
acusado de intolerância religiosa, sectarismo, etc., afastaria o mais
audaz de declarações semelhantes. Ora, este banho-maria ideológico,
que nada afirma com medo de tudo negar, pode até ser sustentável em
tempos pouco conturbados, mas quando o preço da inacção que promove
começa a ser demasiado alto, mostra o seu vazio e incapacidade de
fazer frente a reais problemas.
A pressão sobre os EUA e UE aumenta ao ritmo de cada novo massacre. A
crescente indignação da sociedade civil, dos media e organizações
humanitárias, começa a por a ridículo o impasse de quem foi eleito
para tomar decisões. Questiona-se por toda a parte se não existem
afinal dois pesos e duas medidas no que diz respeito a operações
militares no Médio Oriente. Na ausência de poços de outra natureza, a
obrigação moral de auxilio aos mais desprotegidos, tão usada no
passado como razão maior de inúmeras intervenções, parece ser hoje um
buraco onde ninguém se quer meter.
Cameron cortou com tudo isto. Sozinho entre iguais, decidiu abrir o
jogo. Afirmou, sem rodeios, a identidade cristã do Reino Unido e
lembrou a obrigação britânica de auxiliar aqueles que, mesmo
distantes, partilham essa mesma identidade. Sobrou-lhe ainda tempo
para numa tirada democrática brilhante na sua simplicidade e clareza,
explicar que o respeito pela diversidade religiosa não pode nunca
conduzir à negação daquilo que é, não só um património cultural,
histórico e civilizacional, mas também, o simples espelho de uma
realidade: a esmagadora maioria da população Britânica é cristã.
A relevância do acto do primeiro-ministro britânico reside no facto
desta identidade ser partilhada por todo o mundo ocidental. Não só
mais de 70% dos habitantes da Europa e EUA se afirmam como cristãos,
como a herança histórica e cultural judaico-cristã que recebemos
rodeia-nos inevitavelmente. Pensamos de forma cristã, defendemos
valores cristãos e o nosso Direito e modelos económicos revelam de
forma inegável esse cunho. Ignoro se o leitor ou Obama se vêm como
filhos de Deus, para o caso, o que interessa, é que somos certamente
filhos do cristianismo, o que transforma o discurso do
primeiro-ministro britânico num claro apelo a todo o mundo Ocidental
para se unir na ajuda aos cristãos do Médio Oriente.
Para que se tenha uma ideia, nos primeiros três meses de 2015, grupos
extremistas Islâmicos massacraram mais de 7,000 cristãos em países
como o Iraque, Nigéria, Egipto, França, Paquistão, Líbia, Síria,
Quénia ou Filipinas. Mais do dobro das vítimas do 11 de Setembro.
Homens, mulheres e crianças mortos em nome da fé que o Ocidente
professa. Se o Ocidente não lhes estender a mão, quem o irá fazer?
Seria fundamental que a atitude de Cameron fizesse escola junto dos
restantes líderes Ocidentais, que Europa e EUA se unissem para por
termo à barbárie. Muitos dirão que as palavras de Cameron não passam
disso mesmo, palavras. Contudo, creio haver motivos para esperança. É
possível discursos não levarem a qualquer acção, mas em política é
difícil conceber acções sem um prévio enquadramento que as justifique.
Cameron já deu esse passo. Resta-nos esperar que o seu "We stand with
you" não seja apenas para inglês ver.

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quinta-feira, abril 09, 2015

# Tecnologia e regulação - Menos regras e mais juízo?

JOSÉ MIGUEL PINTO DOS SANTOS Público, 07/04/2015

Nos depoimentos prestados no âmbito de inquéritos a escândalos
financeiros, onde quer que seja, nota-se uma constante: todos estavam
a cumprir regulamentos ou ordens dos reguladores, e a culpa ou é do
sistema ou dos computadores.
A tecnologia afeta o comportamento humano. Não é aditiva: é
modificadora. Não sou eu mais capacidades adicionais que a máquina ou
a app me proporcionam. Sou um eu diferente. E a diferença nem sempre é
para melhor.
Todos conhecemos pessoas compostas e cordatas que, numa porta, dão
sempre passagem, mas que num cruzamento, e com um volante na mão,
fazem valer os seus direitos de passagem até ao milímetro. E a
gravidade dos acidentes que daqui resultam é relação direta entre esta
intolerância legalista multiplicada pela potência da tecnologia.
Da observação desta relação, Hans Monderman (1945-2008), um engenheiro
de tráfego, tirou uma conclusão revolucionária: dado que a tecnologia
não irá desaparecer, para tornar as ruas e as estradas mais seguras é
necessário reduzir a ilusão de que o meu direito se sobrepõe ao
direito dos outros e à realidade concreta da situação. Monderman podia
ter-se voltado para Cristo e para o Evangelho, mas optou por uma via
paralela. Se as proibições e os limites dão ilusão de segurança,
acabem-se com eles, ou pelo menos reduzam-se ao mínimo. Nas cidades e
aldeias de Friesland, na Holanda, Monderman tirou os sinais, os
semáforos, e até as linhas de demarcação da via. Onde pôde até
eliminou as demarcações físicas entre o espaço para peões e o espaço
para veículos. Tudo isto resultou num aumento da ambiguidade e da
incerteza. E a consequência foi uma alteração de comportamentos:
conduta mais cuidadosa individualmente, maior cooperação
coletivamente, e consequente redução drástica de acidentes. Um estudo
realizado pelo Transport Research Laboratory-UK concluiu que só a
eliminação das linhas separadoras das faixas de rodagem reduzia
acidentes em 35%.
Não que Monderman fosse contra todos os sinais e regras. Percebia que
um sinal indicador de curva apertada cumpre uma função. Entendia é que
sinais e regras em excesso fecham os condutores nos seus direitos e
tornam-nos mais agressivos na sua condução, e portanto o seu uso devia
ser limitado e ter carácter mais informativo que prescritivo.
Algo de semelhante se passa nas outras áreas de atividade humana:
regras e algoritmos desresponsabilizam quem devia ser mais prudente.
Nos depoimentos prestados no âmbito de inquéritos a escândalos
financeiros, onde quer que seja, nota-se uma constante: todos estavam
a cumprir regulamentos ou ordens dos reguladores, e a culpa ou é do
sistema ou dos computadores. Na regulação financeira estamos a
precisar de mais Monderman e menos Sarbanes-Oxley, de mais juízo e
menos regras.

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segunda-feira, abril 06, 2015

# É em Sábado que vivemos

por ANSELMO BORGES

Diário de Notícias 04ABR2015

1. Ele há daquelas coisas contraditórias e perturbadoras que envenenam
e arruínam a vida. Aqui, estou a referir-me ao que ao longo da
história se fez de Deus. E nem sequer estou a pensar no "deus" do
autoproclamado Estado Islâmico, em nome do qual se mata, decapita,
degola, viola, se enterra gente viva. Penso no que se fez ao Deus de
Jesus, quando foi transformado num deus sádico. Como foi possível?

Arranjou-se um pecado dos primeiros pais, Adão e Eva, pobres criaturas
que, com o seu pecado original, foram os causadores de todo o mal do
mundo. Esse pecado constituiu uma ofensa infinita a Deus, que só por
um acto de valor infinito podia ser reparada. Por isso, Deus mandou ao
mundo o seu Filho para que, pela morte na Cruz, pagasse a dívida
infinita da humanidade para com Ele e, assim, fosse aplacado na sua
ira e se reconciliasse com a humanidade resgatada.

Evidentemente, um Deus assim seria pior do que nós, pois nenhum pai
humano são exigiria a morte de um filho para reconciliar-se com os
outros filhos. Esta doutrina, que tolheu de medo a vida de muitos e
faria de nós também vingativos, masoquistas e sádicos, é contraditória
com a única tentativa de "definir" Deus no Novo Testamento, na
Primeira Carta de São João: "Deus é amor incondicional."

Jesus fez uma experiência avassaladora de Deus cujo ser é amor
libertador. O seu único interesse, ao criar, são pessoas livres,
plenamente realizadas e felizes. Jesus viveu a sua vida totalmente
enraizado neste Deus que quer a vida em plenitude para todos, agindo
em consequência: pregou o Reino de Deus por palavras e obras, aquele
Reino onde Deus reina e não há opressores nem oprimidos, o Reino da
inclusão, Reino para os pobres, humilhados, marginalizados, os das
periferias geográficas e existenciais, como repete o Papa Francisco.

Era claro para Jesus que este anúncio e actuação poderiam terminar na
sua condenação e numa morte violenta. Porque há aqueles que são de
outro reino - o da exploração religiosa, económica, social, política -
e o viam abalado. Jesus poderia ter "negociado" a sua mensagem,
evitando perigos e ameaças. Mas não o fez. Foi até ao fim. Para dar
testemunho da verdade e do amor: Deus é amor para com todos.

Foi condenado pela religião oficial como blasfemo e pelo poder
imperial como subversivo social e político. Não por Deus. Porque Deus
não quer a dor e o sofrimento, mas a alegria. Deus não precisa de
sacrifícios nem de vítimas. Jesus foi vítima, porque Deus não quer
vítimas. Entregou a sua vida por amor e foi crucificado, porque Deus
não quer crucificados. "Deus é amor incondicional": este é o
verdadeiro letreiro que encima a Cruz de Cristo.

Aparentemente, no horror daquela Sexta-Feira Santa, foi o fim. Mas,
lentamente, reflectindo sobre a experiência que Jesus fez de Deus,
sobre o modo como viveu, como agiu, como morreu, os discípulos fizeram
a experiência avassaladora de que o Deus-amor, a quem Jesus se dirigia
como Abbá, Pai--Mãe querido, não o abandonou nem sequer na morte.
Jesus não morreu para o nada, mas para Deus. Na morte, não encontrou o
nada, mas a plenitude da vida de Deus.

Esta é a mensagem de Páscoa, que os discípulos, outra vez reunidos,
foram anunciar pelo mundo, e por ela deram a vida. E chegou até nós,
cuja vida se passa em Sábado, entre a dor de Sexta--Feira Santa e a
esperança do Domingo de Páscoa.

2. Sobre este tema, escreveu G. Steiner um texto poderosíssimo, que já
uma vez aqui citei: "Sabemos que a Sexta-Feira Santa do cristianismo é
a da Cruz. Mas o não cristão, o ateu, também a conhece. Significa que
ele conhece a injustiça, o sofrimento interminável, a devastação, o
brutal enigma do fim, que em grande medida constituem não só a
dimensão histórica da condição humana, mas também o tecido quotidiano
das nossas vidas provadas. Conhecemos, inevitavelmente, a dor, a
falência do amor e a solidão que são a nossa história e o nosso
destino pessoal. Também conhecemos o Domingo. Para o cristão, esse dia
é o sinal, simultaneamente garantido e precário, de uma justiça e de
um amor que venceram a morte. Se não somos cristãos ou se somos
descrentes, conhecemos esse Domingo precisamente nos mesmos termos.
Para nós, é o dia da libertação da inumanidade e servidão. Esperamos
soluções, sejam elas terapêuticas ou políticas, sociais ou
messiânicas. Os contornos desse Domingo carregam o nome da esperança
(não há palavra menos susceptível de desconstrução). Mas a nossa longa
jornada é a de Sábado. Entre o sofrimento, a solidão e o indizível
desperdício, por um lado, e o sonho da libertação e do renascimento,
por outro. Em face da tortura de uma criança ou da morte do amor que é
Sexta-Feira, até a arte e a poesia mais sublimes se revelam vãs." Sim.
É no Sábado Santo que os cristãos e, de certo modo, todos os seres
humanos vivemos.

Boas Festas!

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4492653&page=-1

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quinta-feira, abril 02, 2015

# Sweden’s feminist foreign minister tells the truth about Saudi Arabia women and is fully pressured

http://www.spectator.co.uk/features/9481542/swedens-feminist-foreign-minister-has-dared-to-tell-the-truth-about-saudi-arabia-what-happens-now-concerns-us-all/

Sweden's feminist foreign minister has dared to tell the truth about
Saudi Arabia. What happens now concerns us all

Margot Wallström's principled stand deserves wide support. Betrayal
seems more likely
28 March 2015Nick Cohen

If the cries of 'Je suis Charlie' were sincere, the western world
would be convulsed with worry and anger about the Wallström affair. It
has all the ingredients for a clash-of-civilisations confrontation.

A few weeks ago Margot Wallström, the Swedish foreign minister,
denounced the subjugation of women in Saudi Arabia. As the theocratic
kingdom prevents women from travelling, conducting official business
or marrying without the permission of male guardians, and as girls can
be forced into child marriages where they are effectively raped by old
men, she was telling no more than the truth. Wallström went on to
condemn the Saudi courts for ordering that Raif Badawi receive ten
years in prison and 1,000 lashes for setting up a website that
championed secularism and free speech. These were 'mediaeval methods',
she said, and a 'cruel attempt to silence modern forms of expression'.
And once again, who can argue with that?

The backlash followed the pattern set by Rushdie, the Danish cartoons
andHebdo. Saudi Arabia withdrew its ambassador and stopped issuing
visas to Swedish businessmen. The United Arab Emirates joined it. The
Organisation of Islamic Co-operation, which represents 56
Muslim-majority states, accused Sweden of failing to respect the
world's 'rich and varied ethical standards' — standards so rich and
varied, apparently, they include the flogging of bloggers and
encouragement of paedophiles. Meanwhile, the Gulf Co-operation Council
condemned her 'unaccept-able interference in the internal affairs of
the Kingdom of Saudi Arabia', and I wouldn't bet against anti-Swedish
riots following soon.

Yet there is no 'Wallström affair'. Outside Sweden, the western media
has barely covered the story, and Sweden's EU allies have shown no
inclination whatsoever to support her. A small Scandinavian nation
faces sanctions, accusations of Islamophobia and maybe worse to come,
and everyone stays silent. As so often, the scandal is that there
isn't a scandal.


It is a sign of how upside-down modern politics has become that one
assumes that a politician who defends freedom of speech and women's
rights in the Arab world must be some kind of muscular liberal, or
neocon, or perhaps a supporter of one of Scandinavia's new populist
right-wing parties whose commitment to human rights is merely a cover
for anti-Muslim hatred. But Margot Wallström is that modern rarity: a
left-wing politician who goes where her principles take her.

She is foreign minister in Sweden's weak coalition of Social Democrats
and Greens, and took office promising a feminist foreign policy. She
recognised Palestine in October last year — and, no, the Arab League
and Organisation of Islamic Co-operation and Gulf Co-operation Council
did not condemn her 'unacceptable interference in the internal affairs
of Israel'. I confess that her gesture struck me as counterproductive
at the time. But after Benjamin Netanyahu ruled out a Palestinian
state as he used every dirty trick he could think of to secure his
re-election, she can claim with justice that history has vindicated
her.

She moved on to the Saudi version of sharia law. Her criticism was not
just rhetorical. She said that it was unethical for Sweden to continue
with its military co-operation agreement with Saudi Arabia. In other
words, she threatened Swedish arms companies' ability to make money.
Saudi Arabia's denial of business visas to Swedes threatened to hurt
other companies' profits too. You might think of Swedes as upright
social democrats, who have never let worries of appearing tedious
stand in the way of their righteousness. But that has never been
wholly true, and is certainly not true when there is money at stake.

Sweden is the world's 12th largest arms exporter — quite an
achievement for a country of just nine million people. Its exports to
Saudi Arabia total $1.3 billion. Business leaders and civil servants
are also aware that other Muslim-majority countries may follow Saudi
Arabia's lead. During the 'cartoon crisis' — a phrase I still can't
write without snorting with incredulity — Danish companies faced
global attacks and the French supermarket chain Carrefour took Danish
goods off the shelves to appease Muslim customers. A co-ordinated
campaign by Muslim nations against Sweden is not a fanciful notion.
There is talk that Sweden may lose its chance to gain a seat on the UN
Security Council in 2017 because of Wallström.

To put it as mildly as I can, the Swedish establishment has gone wild.
Thirty chief executives signed a letter saying that breaking the arms
trade agreement 'would jeopardise Sweden's reputation as a trade and
co-operation partner'. No less a figure than His Majesty King Carl XVI
Gustaf himself hauled Wallström in at the weekend to tell her that he
wanted a compromise. Saudi Arabia has successfully turned criticism of
its brutal version of Islam into an attack on all Muslims, regardless
of whether they are Wahhabis or not, and Wallström and her colleagues
are clearly unnerved by accusations of Islamophobia. The signs are
that she will fold under the pressure, particularly when the rest of
liberal Europe shows no interest in supporting her.

Sins of omission are as telling as sins of commission. The Wallström
non-affair tells us three things. It is easier to instruct small
countries such as Sweden and Israel on what they can and cannot do
than America, China or a Saudi Arabia that can call on global Muslim
support when criticised. Second, a Europe that is getting older and
poorer is starting to find that moral stands in foreign policy are
luxuries it can no longer afford. Saudi Arabia has been confident
throughout that Sweden needs its money more than it needs Swedish
imports.

Finally, and most revealingly in my opinion, the non-affair shows us
that the rights of women always come last. To be sure, there are
Twitter storms about sexist men and media feeding frenzies whenever a
public figure uses 'inappropriate language'. But when a politician
tries to campaign for the rights of women suffering under a brutally
misogynistic clerical culture she isn't cheered on but met with an
embarrassed and hugely revealing silence.

This article first appeared in the print edition of The Spectator
magazine, dated 28 March 2015

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quarta-feira, abril 01, 2015

# Carta em que Maomé protege os cristãos

http://www.publico.pt/mundo/noticia/a-licao-de-uma-folha-escrita-no-deserto-ou-como-maome-protege-os-cristaos-1690664?page=-1

O mundo dos eremitas sempre fascinou muito o nosso imaginário cultural
cristão de purificação, de ascese, de encontro com o divino, ou não
assentasse o início da vida pública do próprio Jesus nas célebres
tentações que ao longo de 40 dias sofreu exactamente nesse inóspito
mundo, no deserto.

Hoje, depois de se ter tornado assente que a vida de retiro no
deserto, a génese do monaquismo, nasceu muito antes do Cristianismo, e
sabe-se também que a chegada desse movimento de fuga mundi à fé dos
seguidores de Cristo se deve ter dado nas regiões do delta do Nilo e
nas vertentes do Sinai, zonas de grande efervescência mística desde,
pelo menos, o caldo cultural criado pelas invasões de Alexandre, no
séc. IV a.C.

Entre os vários mosteiros que se terão formado no Sinai, mais ou menos
organizados, ou mesmo verdadeiramente informais, com grupos de
discípulos em torno de um mestre carismático, encontra-se o de Santa
Catarina. Com uma vida complicada, no meio de rotas caravaneiras,
sujeito a ataques frequentes, Justiniano terá decidido fortificar
alguns desses dois mosteiros do Sinai.

O significado deste lugar e mesmo do próprio topónimo é imenso, e nele
se conta toda a história religiosa do Mediterrâneo nos últimos três
milénios. O Mosteiro de Santa Catarina estará supostamente junto ao
local da sarça-ardente, o centro da hierofania a que Moisés assistiu e
da qual resulta uma unidade ética mediterrânica em torno dos Dez
Mandamentos.

Nessa simbólica da luz, que não se pode ver mas que traz a plena
sabedoria e protecção, e que, seguindo um apócrifo cristão, Maria na
fuga para o Egipto, terá colocado Jesus nessa mesma chama, como que
revivificando a Aliança anterior feita com o seu povo através de
Moisés.

Mais tarde, quando nascem os mosteiros, o nome usado será o de uma
mártir com pendor filosófico, com uma vida repleta de episódios que
lembram Hipátia de Alexandria, a mulher filósofa há pouco anos
recordada na tela do cinema. Catarina é a junção entre a Sabedoria e a
Ascese, o martírio, o centro da vida monástica. Ironia dos tempos
cartesianos, já no século XX o seu nome foi retirado dos calendários
litúrgicos romanos por falta de provas da sua real existência, como se
o real no coração dos crentes se manifestasse por provas
historiográficas.

Neste contexto, o Mosteiro de Santa Catarina é o exemplo perfeito de
uma convivência religiosa, cultural e mental. A uma altitude de 1570m,
na cidadela que compõe o complexo, hoje podemos encontrar dentro dos
mesmos muros uma basílica, várias capelas, e uma mesquita, tudo em
torno de um lugar de memória judaica.

No interior da mesquita encontra-se, segundo a tradição, um manuscrito
do Profeta Maomé, que, ao ter sido ali bem acolhido pelos monges, pede
o bom tratamento dos cristãos por parte de todos os muçulmanos.

Num momento em que é tão importante encontrar aquilo a que hoje
chamamos de "boas práticas", olhemos para essas palavras atribuídas a
Maomé. Trata-se de uma carta que ostenta a sua legitimidade, através
da impressão da mão do Profeta fundador do Islão.

"Esta é uma mensagem de Muhammad ibn Abdullah, um pacto para quem
adoptar o cristianismo, perto e longe, estamos com eles.

Em verdade, os servos, ajudantes e os meus seguidores devem
defendê-los, porque os cristãos são meus cidadãos, e por Deus! Eu
serei contra qualquer coisa que os desagrade. Nenhuma compulsão sobre
eles. Nem os seus juízes são removidos de seus cargos, nem os monges
dos seus mosteiros. Ninguém destruirá a casa de sua religião, para a
danificar, ou para tomar qualquer coisa, para casa de muçulmanos. Se
alguém procedesse desta forma, ele iria estragar a aliança de Deus e
desobedecer ao Seu Profeta.

Na verdade, eles são meus aliados e são protegidos pela minha carta de
protecção contra tudo o que odeiam. Ninguém os forçará a viajar ou
obrigará a lutar. Os muçulmanos devem lutar por eles. Se uma mulher
cristã casa com um muçulmano, o casamento não pode ter lugar sem a sua
aprovação. Ela não deve ser impedida de visitar sua igreja para orar.

Suas igrejas são para ser respeitadas. Eles não devem ser impedidos de
repará-las, nem de exercer a santidade de seus convénios. Ninguém da
nação (muçulmanos) desobedeça a aliança até ao final dos tempos."

Demonstrando os novos tempos tecnológicos, mas essencialmente tempos
de possibilidades de diálogo, neste cantinho da Europa, recebi uma
tradução em inglês deste texto através de um imã, Rachid Ismael,
director do Colégio Islâmico de Palmela. Já tinha ouvido falar do
texto mas não o conhecia. Posto a circular entre investigadores de
Ciência das Religiões, um católico, Rui Oliveira, indicou-me esta
tradução para português, feita por um padre ortodoxo, protopresbítero
Alexandre Bonito, uma das pessoas neste país mais implicadas nas
questões do diálogo inter-religioso. Nesta rede de homens de Boa
Vontade, tive o prazer de redigir este texto para que mais pessoas
dele tenham conhecimento.

Historicamente, pouco se pode afirmar de certo sobre este texto. Sendo
uma importante relíquia, o original foi levado em 1517 para
Constantinopla pelo sultão Selim I, e estará no Topkapi, em Istambul.
Em Santa Catarina encontra-se uma cópia oferecida pelo sultão.

De resto, é impossível saber se a dita carta foi escrita pelo Profeta
dos Muçulmanos, ou não. A ciência talvez pudesse fazer aqui algum
milagre. Mas, tal como em relação à existência de Santa Catarina, o
mais importante, hoje, é que existe o mosteiro com o seu nome, tenha
ela existido, ou não. As palavras são mais importantes do que a
materialidade do seu suporte ou a fluência da língua lá vertida.
Perante um texto desta natureza, a sua simples verosimilhança é de uma
força tremenda. A factualidade escondida nos gestos que produziram
estas linhas é o menos importante, tanto mais que, independentemente
da autoria, o conteúdo vai de acordo com os ensinamentos de Maomé, o
Profeta do Islão, e podem-se colher em vários trechos do próprio
Corão.

De resto, as palavras são claras e lançam-nos de um passado de quase
milhar e meio de anos para um futuro que é o imediato, o ainda nem
amanhã, mas o agora. A urgência da nossa existência pede-nos que
olhemos para este texto, onde as tradições religiosas, cristã e
muçulmana, se consensualizaram num gesto de Paz, com o desejo de
frutificação dos tempos.

Num local sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, que mais podemos
procurar e desejar para fomentar o diálogo que uma carta de Maomé a
proteger os cristãos?


Paulo Mendes Pinto

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