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PENSANTES

Outros pensamentos, ideias e palavras que nos fazem pensar...

segunda-feira, abril 30, 2018

# Pensamento do dia

Alterar o significado de "espiritualidade" reduzindo-a a puro
bem-estar físico e psíquico é hoje muito frequente. O objetivo final
da espiritualidade não é simplesmente a paz interior, mas sobretudo o
amor para os outros. E isto deve ser sempre muito claro para gerar,
entre nós, não uma espécie de aristocracia do espírito, mas sobretudo
um maior sentido de humanidade.

Pablo d'Ors 26.04.2018

http://www.snpcultura.org/uma_pergunta_para_viver_amas_me.html

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# Alfie Evans: Quando a lei não sabe nada do amor

http://o-povo.blogspot.pt/2018/04/alfie-evans-quando-lei-nao-sabe-nada-do.html

- terça-feira, abril 24, 2018
Mariolina Ceriotti Migliarese AVENNIRE 18.04.2018


Os acontecimentos extremamente dolorosos de Alfie Evans e dos seus
pais são um convite a alargar a nossa reflexão para além da resposta
emotiva mais imediata. Com efeito, é um caso que abre interrogações a
diversos níveis, todos muito complexos. Menciono apenas alguns: a
legitimidade da interferência "pública" na relação entre pais e
filhos; a relação entre os pais e um filho gravemente doente; o
escândalo do sofrimento inocente.
O que está por trás de todos estes questionamentos, unindo este caso
ao de Charlie Gard, bem como a outros anteriores, é a disponibilidade
ou indisponibilidade da vida humana e o direito de estabelecer-lhe o
valor com parâmetros denominados de "objetivos". No desafio que esta
história representa, quero no entanto centrar-me brevemente na
reflexão sobre a ligação misteriosa que intercorre entre os pais e um
filho doente ou deficiente, realidade que encontrei muitas vezes na
minha profissão.
[Antes de prosseguir, o contexto: Alfie Evans tem 23 meses e está em
estado semi-vegetativo num hospital britânico, em Liverpool, desde
dezembro de 2016, devido a uma doença neurológica degenerativa que os
médicos parecem desconhecer. Na passada quarta-feira um tribunal
decretou que o hospital pode desligar o suporte que garante a vida do
bebé. A sentença foi suspensa depois de um pedido de "habeas corpus",
indeferido na segunda-feira. Resta o recurso ao Supremo Tribunal, mas
as esperanças de sucesso são muito baixas. Entretanto, mais de 250 mil
pessoas assinaram uma petição para salvar a criança. Vários hospitais
na Alemanha e Itália - nomeadamente o Bambino Gésu, em Roma, ligado ao
Vaticano -, ofereceram-se para acolher Alfie. O papa Francisco, que no
início do mês se referiu, no Twitter, à situação, recebeu hoje o pai
do bebé, antes da audiência geral, durante a qual afirmou: «Quero
sublinhar e confirmar com firmeza que o único dono da vida, do início
ao fim natural, é Deus. E o nosso dever, o nosso dever é fazer tudo
para proteger a vida».]

Encontrei muitos pais de crianças com deficiência ou doença grave:
nenhum deles alguma vez me expressou o desejo de se libertarem delas,
e nenhum, ainda que sofredor e desafiado, me expressou arrependimento
por tê-las posto no mundo.


Quem se ocupa de crianças que nascem com graves dificuldades é
inevitavelmente atingido por uma inegável evidência: uma vez entrada
no mundo, a vida concreta do filho - ainda que profundamente ferida -
assume para os seus pais um valor indiscutível, antes imprevisto e por
vezes até imprevisível.
Uma consideração hipotética, abstrata da perspetiva de uma criança que
vai nascer com uma grave doença ou uma deficiência só pode ser uma
ideia que assusta. Todas as mulheres grávidas vivem como um pesadelo
essa possibilidade, e a multiplicação das perguntas e exames médicos
na gestação responde a esse profundo medo. Mas quando nasce um bebé
doente, a dor indizível e a revolta que a acompanha unem-se quase
sempre a outros sentimentos de sinal diferente: contraditórios,
difíceis de descodificar com clareza até para os próprios
protagonistas, estes sentimentos exprimem todavia a ligação
indissolúvel que os pais - sobretudo a mãe - têm como o seu filho.
Quando dá à luz, a mulher passa sempre através de uma luta de alto
valor simbólico: reter e deixar ir são os dois movimentos opostos do
parto, e são os mesmos que caracterizam toda a sua vida de mãe, sempre
combatida entre o manter o filho perto de si e o impeli-lo a tornar-se
protagonista da própria vida. Se o filho que nasce é demasiado frágil,
a luta entre o manter e o distanciar-se assume conotações dramáticas
que servirão de cenário de toda a relação futura. A mãe, que
perceciona o filho em continuidade consigo, torna-se como uma leoa que
defende a sua cria: lutará por ela, multiplicará os esforços quer para
a proteger quer para a apoiar. A mãe terá de testemunhar ao mundo o
valor daquela vida que não sabe testemunhá-la por si própria. A
necessidade do filho, a sua absoluta vulnerabilidade, comportam a
intensificação da ligação e a tendência a excluir qualquer outro da
relação entre ambos.

Aquilo que talvez nos deve fazer refletir é o facto de que quem duvida
do valor destas vidas "difíceis" não são quase nunca as pessoas
afetivamente mais próximas: são sobretudo os estranhos, pessoas que
raciocinam em abstrato


O filho gravemente doente é um desafio absolutamente particular para o
pai. Menos implicado diretamente na ligação que a criança tem com a
mãe, menos envolvido nas necessidades primárias de cuidado,
encontra-se perante a tarefa de o legitimar e reconhecer como dom da
própria mulher, que teme, por seu lado, tê-lo gravemente desiludido:
só assim poderá ajudá-la a tratar a ferida profundíssima de ter dado à
luz um filho "imperfeito" e apoiar a coragem de que precisa para tomar
conta dele e defendê-lo. Reconhecer e legitimar um filho com uma
doença grave ou deficiência é uma assunção de paternidade "alta", a
que nem todos sabem responder.
Mas quanto isso acontece, quando o pai apoia a mãe e a mãe aceita
partilhar com ele a ferida e a tarefa, a relação reforça-se de modo
particular, e ambos aumentam a capacidade de amor: amor recíproco e
amor pelo filho. Encontrei muitos pais de crianças com deficiência ou
doença grave: nenhum deles alguma vez me expressou o desejo de se
libertarem delas, e nenhum, ainda que sofredor e desafiado, me
expressou arrependimento por tê-las posto no mundo. Todos,
indistintamente, lutam: estão no presente, no aqui e agora de uma
realidade por vezes muito difícil, mobilizados junto à vida frágil dos
filhos sem nunca duvidarem de que aquela vida tem valor.
Quando encontram o médico pedem-lhe acompanhamento, suporte,
solidariedade; pedem que faça o que pode ser feito para aliviar o
sofrimento do filho e para promover-lhe as competências remanescentes,
por pequenas que sejam. Não pedem milagres. A força deste laço pode
fazer medo a quem o observa de fora, pode parecer irrazoável,
irracional. Contrasta com a ideia tão comum e falsa de que o ser
humano é capaz de amar só quem que lhe pode dar gratificação: um filho
são, inteligente, se possível belo. Tornou-se hoje muito difícil
compreender a ideia de que a vida se justifica só com a vida, que pode
justificar-se por si mesma, sem condições. Aquilo que talvez nos deve
fazer refletir é o facto de que quem duvida do valor destas vidas
"difíceis" não são quase nunca as pessoas afetivamente mais próximas:
são sobretudo os estranhos, pessoas que raciocinam em abstrato.
A forte solidariedade que a vida de Alfie está a suscitar diz-nos algo
de muito importante: esta não é uma batalha abstrata, não é um batalha
de princípios. É, antes, a expressão da solidariedade concreta por uma
vida concreta, é a proximidade real de um uma dor real. Às
considerações abstratas e hipotéticas da lei respondem espontaneamente
todas as pessoas que se identificam com a vivência real e as
exigências concretas de uma mãe e de um pai. Exigências que se
exprimem, hoje, numa só: o respeito "sem se e sem mas" pela vida
frágil e real do seu filho, ao qual querem poder permanecer até quando
parar espontaneamente de lutar.


Mariolina Ceriotti Migliarese
Neuropsiquiatra infantil In Avvenire Trad./edição: SNPC
Publicado em 18.04.2018

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terça-feira, abril 17, 2018

# Testemunho de médica portuguesa na Bélgica | Quero ser médica e não homicida

https://observador.pt/opiniao/quero-ser-medica-e-nao-homicida/

Como médica portuguesa, formada na Bélgica e na Suíça a trabalhar em
Bruxelas, não poderia deixar de enviar o meu testemunho do que se
passa em dois países onde a morte assistida já foi despenalizada.

As discussões sobre o fim de vida, a eutanásia e o suicídio assistido
em Portugal nos últimos dois anos, levaram três partidos da Assembleia
da República a apresentarem anteprojetos de lei a favor da
despenalização da morte provocada (estes anteprojetos falam de morte
provocada e portanto não natural; o termo de morte assistida leva a
incompreensões pois uma morte natural, com acompanhamento médico como
no caso dos cuidados paliativos, é uma morte assistida) e tem
contribuído para que sejam publicados diversos artigos de opinião
sobre a matéria. Como médica portuguesa, formada na Bélgica e na
Suíça, e atualmente a trabalhar em Bruxelas, não poderia deixar de
enviar o meu testemunho do que é se formar e trabalhar em dois países
europeus onde a despenalização da morte provocada por vontade do
doente, já existe. Querendo com este texto mostrar um pouco da
realidade da medicina e da sociedade nestes países, exporei alguns
casos vividos em primeira pessoa durante a minha prática clínica. Na
minha trajetória profissional, muitas foram as situações em que
pacientes me pediram para pôr fim às suas vidas, quase sempre sem se
encontrarem nas condições previstas por lei para o fazerem; também fui
confrontada com famílias que sofriam pela doença dos seus familiares,
e que me pediram a eutanásia destes.

A primeira lei permitindo a despenalização da eutanásia na Bélgica,
data de 2002 e permitia que a eutanásia pudesse ser realizada sob
certas condições: doente adulto, com doença incurável ou condição
clínica acidental irreversível, em sofrimento físico e/ou psíquico
constante, insuportável e incontrolável. Em 2014, no que se chama
atualmente em bioética a "rampa deslizante" belga, a lei foi alargada
aos menores de acederem à eutanásia se fizerem um pedido de eutanásia
reiterado, que se encontrem numa situação de sofrimento insuportável
devido a uma patologia incurável, e com o acordo dos pais.

Como interna e depois como médica, tive pedidos de eutanásias de
diversos pacientes e também de algumas famílias. Durante a minha
especialização, segui um paciente que se encontrava em estado muito
avançado da sua patologia oncológica. Muito rapidamente, esse senhor
acabou por entrar num coma irreversível, e a sua agonia (em medicina,
define o período que precede a morte, que na grande maioria dos casos
é sem dor) durou pelo menos 3 dias, questionando-me a mim como a toda
a equipa quanto ao sentido daquela situação. Quero ressalvar que não
houve nenhuma obstinação terapêutica nem nenhuma dor que não fosse
corretamente tratada. Todavia, e visto que o paciente já não se
encontrava consciente, mas que a sua agonia era considerada por alguns
colegas como longa demais, houve quem dissesse que era necessário
ajudar aquele paciente a falecer. Sabendo muito bem o que acontece em
tantos hospitais belgas, não fiquei espantada com a proposta. A
intenção existia, mas acabou por não ser posta em prática, porque o
paciente acabaria por falecer de morte natural, em presença das
enfermeiras que cuidavam dele.

Poucos anos mais tarde, tratei de um paciente que tinha feito um
pedido de eutanásia por sofrimento insuportável e que tinha sido
avaliado por dois colegas médicos. No dia em que aquele senhor ia
escolher a data para a sua eutanásia, ele começou por ficar
desorientado e confuso, não podendo dar a conhecer a data que tinha
escolhido. Eu chego durante esse período naquele serviço hospitalar e
torno-me a sua médica responsável. Passados poucos dias, o doente
deixa de estar confuso e a pouco e pouco retomo a discussão com ele,
para saber se o processo de eutanásia devia continuar. Ao
perguntar-lhe se queria manter o pedido de eutanásia, aquele doente
confessou-me não querer morrer, mas que as muitas dores que sentia lhe
eram insuportáveis e por isso pedia a morte. Tenho que admitir que não
esperava esta resposta, sobretudo porque partia do principio que tudo
tinha sido feito anteriormente para atenuar as dores. Acabei por me
aperceber que o seu tratamento não estava ajustado à intensidade dos
sintomas, e depois da adaptação terapêutica, o paciente acabou por
retirar o seu pedido de eutanásia e voltar para casa com cuidados
paliativos a domicílio.

Estes episódios que agora relato, entre tantos, demonstram claramente
o quanto é perigoso despenalizar práticas que provocam a morte dos
cidadãos, e quanto é utópico querer controlar estas mesmas práticas,
seja pelas autoridades seja por comissões externas. As recentes
polémicas da Comissão de Controlo da eutanásia na Bélgica são disso
prova[1]. A justificação segundo a qual a despenalização da morte
provocada impedirá eutanásias clandestinas e ilegais é falsa. Sabemos
na Bélgica, na Holanda e na Suíça, que não é assim. Os promotores da
eutanásia na Bélgica dizem em alto e bom som que o número de
eutanásias não pedidas (e, portanto, fora do quadro da lei) ultrapassa
as 1000 mortes por ano. No artigo que escreveu a um jornal generalista
belga em 2014, um professor de cuidados intensivos e antigo presidente
da Sociedade belga de cuidados intensivos defendia a possibilidade de
se realizarem eutanásias sem pedido do paciente, com a justificação da
medíocre "qualidade de vida" de tantos pacientes nos cuidados
intensivos, pedindo mais poder para o médico definir quem merece viver
e quem merece morrer, coisa que ele admite já acontecer nos hospitais
belgas[2].

Quem conhece bem o tema da eutanásia e do suicídio assistido, não se
espanta com estas derivas. Elas provêm de uma conceção puramente
utilitarista do fim de vida, que se esconde por detrás da noção de
"qualidade de vida", que é completamente indefinível porque é
subjetiva e própria a cada pessoa. Para além de que estas leis, mesmo
que excessivamente restritivas, fazem crer à sociedade e aos médicos,
a pouco e pouco, que a morte provocada é um direito do cidadão, não
vai contra os fundamentos da nossa sociedade e é simplesmente mais uma
proposta terapêutica como qualquer outra.

Não obstante estas situações graves às quais fui confrontada durante a
minha carreira até hoje, pude trabalhar com equipas de cuidados
paliativos. Pude aprender com elas como enfrentar o fim de vida de uma
pessoa, como cuidar médica- e humanamente destes doentes e das suas
famílias. O seu aparecimento na medicina vem em grande parte da
interdição de matar, que é constitutiva da medicina. Isso levou tantos
profissionais de saúde a investigar, a procurar o melhor que a
medicina pode fazer para atenuar a dor física e o sofrimento moral de
tantos doentes. Todavia, numa visão utilitária do paciente e da
medicina, querem nos fazer crer que a resposta mais humana que podemos
dar a um outro ser humano que sofre, é a morte, sobretudo se ele a
pedir. Parece-me por isso muito fácil e certamente menos caro para o
governante, inscrever uma lei no Diário da República a permitir a
morte provocada dos seus cidadãos, do que a refletir, instituir e
pagar por uma rede eficaz de cuidados paliativos à disposição dos
cidadãos e dos profissionais de saúde. Esta quase ausência no panorama
do SNS é inadmissível, quando os cuidados paliativos foram
desenvolvidos há décadas e são propostos pela Organização Mundial da
Saúde como a única forma de cuidar e de acompanhar os doentes em fim
de vida. Justificar por isso a eutanásia e o suicídio assistido com o
"morrer mal", quando pouco foi feito para permitir um acompanhamento
adequado em fim da vida, é simplesmente insultuoso para os portugueses
e para os profissionais de saúde. Eu não quero ser homicida; eu quero
ser médica.

Pensar por isso que Portugal não cairá nas mesmas derivas que já
existem nos países onde a eutanásia e o suicídio assistido foram
despenalizados, é pura inconsciência da parte dos nossos governantes.
Abrir a porta a estas práticas em Portugal, mesmo nas condições mais
restritivas que sejam, já será o início da rampa deslizante que
obrigará mais tarde a mesma porta a ser escancarada em nome de um
"direito a morrer" para todos o que o pedirem. Os promotores da morte
"assistida" sabem-no muito bem.
Só existem por isso duas soluções para combater a má morte e ambas
estão ao alcance do Estado e da sociedade: obrigar o Estado a investir
num sistema nacional de cuidados paliativos eficaz assim como na
formação de todos os profissionais de saúde para a sua prática; e
incentivar social- e economicamente o fortalecimento dos laços
familiares e de proximidade, de maneira a que as famílias em conjunto
com as equipas médicas de cuidados paliativos, possam acompanhar os
seus doentes, educando assim as gerações seguintes ao cuidado de quem
está doente e que sofre. Isto para que ninguém possa, um dia, pedir a
morte e aceder a ela por estar só, por sofrer sem ter os cuidados
médicos justos ou ainda por se sentir um fardo para a sua família e
para a sociedade, que ela própria ajudou a manter com o seu trabalho e
com a sua participação enquanto cidadã.

Bruxelas, 12 de Abril de 2018
Médica especialista em Clínica Geral e Familiar

[1]« Malaise au sein de la commission de contrôle de l'euthanasie: un
médecin a mis fin aux jours d'une patiente sans respecter la procédure
légale » – RTL Info du 6Janvier 2018.
[2] Jean-Louis Vincent : « Maintenons la santé mais pas la vie à tout
prix »; Journal LeSoir de 25 de Fevereiro de 2014.

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quarta-feira, abril 11, 2018

# How capitalism without growth could build a more stable economy

https://theconversation.com/how-capitalism-without-growth-could-build-a-more-stable-economy-91779

February 26, 2018 2.54pm GMT

On a finite planet, endless economic growth is impossible. There is
also plenty of evidence that in the developed world, a continued
increase of GDP does not increase happiness.

Back in 1930 the economist John Maynard Keynes predicted that growth
would end within a century – but he was unclear whether a post-growth
capitalism was really possible. Today, mainstream economic thinking
still considers growth to be a vital policy objective – essential to
the health of a capitalist economy. There remains a concern that
ultimately, a capitalist economy will collapse without growth.

I recently published new research that suggests a different view –
that a post-growth economy could actually be more stable and even
bring higher wages. It begins with an acceptance that capitalism is
unstable and prone to crisis even during a period of strong and stable
growth – as the great financial crash of 2007-08 demonstrated.

Previous studies on "post-growth economics" have tended to search for
an elusive sweet spot where the economy would be steady and robust
enough to cope with all shocks. But theorising along those lines fails
to address the question of whether an end to growth would, in general,
make an economy more or less stable.

For this study, I developed a novel mathematical macroeconomic model,
making use of American economist Hyman Minsky's theory of financial
instability. He argued that financial crises are to be expected in
capitalist systems because periods of economic prosperity encourage
borrowers and lenders to be progressively more reckless. Minsky's work
was rather overlooked prior to the 2008 crash, but has received
increased attention since.

The model included a banking sector that charges businesses interest
on loans. That way, it could address the concern that this key feature
of capitalism might in itself create a need for growth. (While other
aspects of finance could be reformed for a post-growth economy, it is
hard to imagine a capitalism without debt and interest.) The model
also included a basic labour market, with dynamic wages.

The analysis was based on a "complex systems dynamics" approach.
Simple assumptions combine to create a "non-linear" model of an
economy whose behaviour is diverse and unpredictable. This approach is
essential for a full understanding of the fluctuations, cycles – and
occasional crises – that real economies go through.

In looking at results, I was interested in whether or not there was
"runaway explosive behaviour". In a stable scenario, growth of output
(GDP) fluctuated around the growth in productivity. But in an unstable
scenario, the fluctuations would get bigger and bigger, until a
collapse occurred.

I ran some scenarios in which productivity is forever growing (at 2%
per year), and some in which productivity stops growing. The results
showed that, if anything, zero growth scenarios are more likely to
remain stable.

Far more important for stability was debt behaviour. In line with
Minsky's theory, the more rapidly businesses try to change their level
of debt in response to fluctuations, the more likely there is to be a
crisis.

The results showed that businesses should not take on extra debt when
there is an economic upswing, nor should they engage in any
panic-induced debt payoff during a temporary downswing. The results
even suggested that low debt volatility was more important for
stability than the overall level of debt.

Crisis, what crisis?

From looking at gradual and sudden transitions to a post-growth
economy, I found that neither would trigger a crisis. The results also
showed that an end to growth would not cause rising inequality.
Instead, the share of profit going to workers would actually increase.

Digging a hole in the Earth's resources. Shutterstock

Ultimately, my experiment suggests that a move to a stable post-growth
economy could be achieved without dismantling our entire banking
system, and while maintaining a positive interest rate on loans.

________________________________

Read more: Why our obsession with GDP ignores harm done to welfare and the world

________________________________

There are of course reforms that would have to be made to the global
financial system. I found that an end to growth reduces profits for
business owners. Therefore, if it remains relatively easy for money to
flow across borders, then investors might abandon a post-growth
country for a fast-growing developing country. Also, businesses are
beholden to shareholders keen on growth as a means to rapid profit
accumulation.

It may be that environmentalists trying to protect the Earth's
resources do not have the power themselves to curb the excesses of
capitalism. However, growth has slowed in advanced countries, and some
mainstream commentators and economists are now predicting a transition
to a post-growth era, whatever our environmental policy – which means
the study of post-growth economics is a field which itself will grow.

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quinta-feira, abril 05, 2018

# Será que já é tarde? Casais no limite da fertilidade

[Ver gráficos online]

https://observador.pt/especiais/sera-que-ja-e-tarde-casais-no-limite-da-fertilidade/

24 Fevereiro 2018 Cláudia Pinto

O adiamento da maternidade até ao limite nem sempre é uma opção, mas
tem influência no número de filhos, nas relações conjugais e na saúde
da mulher. E, por vezes, é mesmo tarde demais.

Sempre quis ser mãe mas não queria fazê-lo sozinha. A idade foi
passando e acabou por conhecer o companheiro aos 38 anos. "Queria
muito ter um filho mas sempre disse que, primeiro, tinha de encontrar
um pai", explica Ana Teresa Costa, hoje com 43.

O adiamento da maternidade foi sendo imposto pela ausência de uma
pessoa que a fizesse concretizar o sonho. Não foi fácil, mas
conseguiu. A Maria, filha de Ana Teresa e de Nuno Madeira [também com
43 anos] nasceu em setembro passado.

O caminho, porém, foi penoso. Se engravidar era até relativamente
fácil e rápido, ter uma gravidez de termo passou a ser um enorme
desafio. Maria nasceu da terceira gravidez de Ana Teresa. As duas
primeiras não evoluíram. "Nunca estive muito assustada com a questão
da idade, mas como as primeiras vezes não correram bem, comecei a
convencer-me dessa ideia, que o problema era meu e que a idade poderia
estar a condicionar o processo", explica. Nuno vai mais longe. A vida
não fazia qualquer sentido se não fosse pai. "Sempre foi um objetivo.
Acho que é uma experiência quase obrigatória", confessa.

Foi precisamente a vida que o fez adiar o desejo da paternidade: entre
a aposta na vida profissional, o facto de ter trabalhado em Angola e
de não ter encontrado alguém que considerasse ter o perfil indicado
para ser a mãe de um filho seu, a idade foi passando, e o desejo,
adiado. Apesar de a pressão ser menor nos homens do que nas mulheres,
a demora já pesava. "Acho que, de qualquer forma, quereria ter filhos
independentemente da idade. Mas quanto mais tarde, menos 'costas'
vamos ter para os segurar e para os ter no colo… Tudo isso conta",
partilha.

Nascida às 41 semanas, a filha de ambos deixava para trás emoções
negativas associadas a tentativas falhadas. Pelo meio, Ana Teresa teve
de interromper a gravidez, mas também de se submeter a uma cirurgia ao
ser detetada uma massa no útero, que o procedimento viria a descobrir
serem restos de embrião [não se sabendo se seriam da primeira ou da
segunda gravidez não evolutiva]. Em todo o percurso, houve a
necessidade de mudança de médico ginecologista e de dar espaço a novas
sensações.

Estávamos em dezembro de 2016, quando Ana Teresa se começou a sentir
muito mais fraca. Para a professora de dança, este era o mês de
trabalho acrescido devido à Festa de Natal, e acabou por coincidir
também com um internamento da mãe no hospital. Tudo apontava para
cansaço. Afinal, o que sentia era natural e resultava da terceira
gravidez.

Após escolher nova médica, decidiu começar tudo de novo. "Gostei muito
de falar com ela, e ao passar para a ecografia, pela primeira vez,
deitei-me numa marquesa e ouvi bater um coração. Foi uma emoção
única", relembra. A médica disse ao casal que ia correr tudo bem, e
acabou por ser mesmo assim. Ana Teresa continuou a sua atividade
profissional até aos sete meses, e após um trabalho de parto por
indução, que demorou dois dias e culminou numa cesariana, o obstetra
disse-lhe: "Correu lindamente, está pronta para outra". Ter outro é
uma vontade e não é uma hipótese descartada. "Vamos ver", diz a recém
mãe.

Também Sara [nome fictício] adiou o sonho da maternidade até aos 38
anos. Tal como Ana Teresa, foi essa a idade que lhe levaria a conhecer
o atual companheiro. "Tive sempre a expectativa de um dia estar com
alguém com quem sentisse que fazia sentido avançar para esse projeto",
explica. Conforme os anos passavam, acentuava-se a ansiedade. Foi
assim desde os 25 anos. "Quando cheguei aos 30, pensava: 'ok, eu tenho
mesmo de resolver isto até aos 35'. Sentia imenso a pressão do tempo e
dos anos a passarem", confessa.

Hoje tem 40 e está a iniciar o seu segundo tratamento de Procriação
Medicamente Assistida (PMA) no Serviço Nacional de Saúde (SNS), no
Porto [por se tratar de uma inseminação artificial, tratamento de
primeira linha, pode fazer no SNS até aos 41 anos +364 dias, ao
contrário da FIV, tratamento de segunda linha, possível até aos 39
anos + 364 dias]. Depois de começar a tentar, passou também por uma
gravidez não evolutiva, às seis semanas, e uma gravidez bioquímica [no
último caso, houve fecundação e um aumento das hormonas da gravidez,
nomeadamente da beta-hcg, originando um teste de gravidez positivo.
Depois, por diversas razões, a gravidez não evolui. Muitas mulheres
acabam por menstruar e nem se apercebem que passaram por uma gravidez
bioquímica].

Da primeira inseminação artificial que fez, em novembro passado,
percebeu que a idade pode ter tido peso no que correu mal. "Nunca
saberei se aos 20 anos teria sido diferente, mas tudo indica, no nosso
caso, que o fator de infertilidade está ligado à idade", explica.

Curiosamente, foi o avançar da idade que a fez mudar um pouco a sua
postura perante a possibilidade de vir a ser mãe. "Sinto que a
maturidade me fez olhar para as coisas de outra forma. Decidi que vou
ser feliz na mesma, com as circunstâncias que a vida me proporcionar,
quer tenha filhos, quer não tenha. Já não quero ser mãe a todo o
custo. Estou a aproveitar a oportunidade que o SNS me está a dar de
tentar através de recurso à ciência, mas se com as hipóteses previstas
na lei, não conseguir, tudo bem. Sigo em frente", diz, determinada. O
companheiro apoia e tem sido fundamental nesta nova forma de pensar.
"Foi também ele que me motivou a tentar mais uma vez. Quando nos
ligaram do hospital, ele disse-me 'vamos lá, vamos ver'".

Relativamente à pressão social, Sara não a sente a nível familiar, nem
no grupo de amigos. Não esconde o problema, e tem uma opinião muito
própria sobre "o apelo à maternidade de forma errada". "As redes
sociais vieram agudizar de tal forma essa pressão que chego ao ponto
de afirmar que há pessoas que querem ter filhos porque se sentem
pressionadas pelo Facebook ou Instagram dos outros, é a maternidade
das redes sociais."

O adiamento até ao limite da fertilidade é uma característica dos
tempos. Seja por motivos pessoais ou profissionais, seja porque não se
encontrou a pessoal ideal para concretizar um projeto que,
habitualmente [mas não necessariamente, como se perceberá ao longo
deste artigo] é vivido a dois, os motivos são variados e conhecidos
dos médicos ginecologistas ou ligados à área da reprodução.

Em Portugal adiam-se os nascimentos duas vezes

De acordo com dados da Pordata, em 1960 a taxa bruta de natalidade
situava-se nos 24,1% por cada 1000 habitantes, e em 2016, nos 8.4%.
Esta percentagem colocou Portugal, em 2016, como o país que registou a
segunda taxa de natalidade mais baixa, entre os restantes países da
União Europeia, segundo estimativas do Eurostat.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) faz notar que a evolução da
idade média à fecundidade — a idade em que, em média, as mulheres
residentes em Portugal tiveram filhos (independentemente de serem
primeiros, segundos, terceiros, …) — tem vindo a alterar-se nos
últimos anos. E se em 1980, a idade média com que as mulheres tinham o
primeiro filho se situava nos 24 anos, os dados relativos a 2016
apontam para os 29,6 anos. "Se a idade em que, em média, se tem o
primeiro é aos 29,6 anos e a idade em que, em média, se têm todos os
filhos é igual a 31,1 anos, podemos depreender que uma grande parte
das mulheres tem apenas um filho, logo, que a maioria dos nascimentos
são primeiros filhos", explica Maria Filomena Mendes, coordenadora do
Laboratório de Demografia do Centro Interdisciplinar de História,
Culturas e Sociedades (CIDEHUS), professora associada da Universidade
de Évora e presidente da direção da Associação Portuguesa de
Demografia (APD).

A responsável lidera o projeto "Determinantes da Fecundidade em
Portugal", que conta com financiamento da Fundação Francisco Manuel
dos Santos, e integra ainda o estudo "Duplo Adiamento: as intenções
reprodutivas de homens e mulheres depois dos 35 anos", financiado pela
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, coordenado por Vanessa Costa.
Ambos os estudos permitem caracterizar a evolução da fecundidade no
nosso país e o seu impacto naquilo a que os investigadores intitulam
de duplo adiamento. "Frequentemente, as mulheres adiam novamente o
nascimento do segundo filho, após terem tido o primeiro,
verificando-se um grande espaçamento entre ambos os nascimentos",
explica Maria Filomena Mendes.

No primeiro estudo, chegou-se à conclusão de que o adiamento
condiciona o número de filhos tidos, a intenção de vir a ter mais
bebés no futuro, e a dimensão familiar que se espera vir a ter no
final da vida reprodutiva. Por outro lado, o impacto nas taxas de
natalidade é facilmente correlacionado. "Muitas vezes, os nascimentos
adiados transformam-se em nascimentos 'renunciados', por razões
várias, entre elas, devido ao facto da infertilidade poder impedir a
concretização da intenção de ter mais filhos. Existe uma 'janela de
oportunidade', pelo menos, para a mulher, tendo em consideração a
limitação dos seus anos férteis. A decisão de ter mais um filho, se
for sendo sucessivamente adiada, pode terminar por ser abandonada…Esta
situação é, de certa forma, semelhante no caso dos homens, uma vez
que, na sua maioria, são casados ou coabitam com uma mulher com uma
idade próxima da sua", adianta a professora.

A realidade portuguesa acaba por ser semelhante à tendência
generalizada no espaço europeu, explica Maria Filomena Mendes. "Em
Portugal, para além das dificuldades de inserção dos jovens no mercado
de trabalho, os baixos salários, a precariedade laboral, a dificuldade
em conjugar estudo e trabalho, também as dificuldades de arrendamento,
contrariam as possibilidades de sair de casa dos pais mais cedo, viver
de forma autónoma, constituir família e ter filhos na 'casa' dos 20
anos. Neste caso particular, as medidas de política devem tender a
apoiar os jovens e não a 'família' dos pais", defende.

"Existe uma 'janela de oportunidade', pelo menos, para a mulher, tendo
em consideração a limitação dos seus anos férteis. A decisão de ter
mais um filho, se for sendo sucessivamente adiada, pode terminar por
ser abandonada... Esta situação é, de certa forma, semelhante no caso
dos homens, uma vez que, na sua maioria, são casados ou coabitam com
uma mulher com uma idade próxima da sua"
Maria Filomena Mendes, coordenadora do Laboratório de Demografia do
Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades

É que esta realidade nem sempre se coaduna com o que os portugueses
desejam. "Com o nosso estudo, concluímos que os portugueses têm, em
média, um filho, mas desejam ter dois a três, tencionando a vir a ter,
até ao final da sua vida fértil, em média, 1.8 filhos."

Daniel Pereira da Silva é médico ginecologista e presidente da
Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia
(FSPOG), e lida com esta realidade na sua prática clínica. "Noutras
gerações, a gravidez era, muitas vezes, uma fuga para um desejo de
maior liberdade. Neste sentido, o país fez uma evolução absolutamente
fantástica, porque coloca nas mãos da mulher a sua autonomia no que
respeita aos direitos fundamentais, o que, até então, estava
condicionado, até porque nem tinham acesso ao planeamento familiar,
incorrendo noutro tipo de riscos", defende.

O estudo "International Research of Western European Womens's
well-being", realizado pela Kantar, em que foram inquiridas 7000
mulheres dos 16 aos 59 anos, em sete países europeus [Alemanha,
Suécia, Espanha, Reino Unido, Portugal e Itália], revela que as
mulheres portuguesas são as que, juntamente com as espanholas, se
mostram mais satisfeitas com os seus estilos de vida, em comparação
com as restantes, não se notando uma grande diferença nas várias
faixas etárias. "Existem muito mais mulheres portuguesas a trabalhar
comparativamente à média europeia, sendo que o número de trabalhadoras
em part-time ou domésticas é muito menor." O estudo revela ainda que
as portuguesas têm "um caráter mais individualista, e levam a saúde
muito a sério, quando comparadas com as inquiridas de outros países.

Por cada ano que passa, as possibilidades de um indivíduo se manter
sem filhos aumentam 24%, indica o estudo "Determinantes de Fecundidade
e Infecundidade Tardia em Portugal e nos países do Sul da Europa",
publicado em 2014.

Quanto ao que mais privilegiam nas suas vidas, as escolhas recaem na
segurança financeira, estilos de vida saudáveis, bem como o equilíbrio
entre a vida familiar e privada.

Daniel Pereira da Silva comenta estas conclusões e considera que "o
contexto social atual leva a que o mundo do trabalho e a carreira
ocupem as mulheres, em termos de tempo e de prioridades, relativamente
a outros aspetos que também são importantes para si, mas que tem de
secundarizar. Não é menos verdade que, num certo estrato social,
algumas necessidades se sobreponham ao projeto familiar, como por
exemplo, fazer viagens de sonho antes de se ser mãe ou pai".

A medicina não resolve sempre

Maternidade, paternidade, fecundidade, natalidade, fertilidade,
infertilidade. Todos estes termos têm em comum o facto de terminarem
em "idade". E é precisamente com o passar da mesma, que as taxas de
nascimentos ficam comprometidas, e que os casais se tornam menos
férteis.

Por cada ano que passa, as possibilidades de um indivíduo se manter
sem filhos aumentam 24%, indica o estudo "Determinantes de Fecundidade
e Infecundidade Tardia em Portugal e nos países do Sul da Europa",
publicado em 2014. "Estes valores, realmente, são quase dramáticos, ou
seja, as implicações do adiamento e da não recuperação do adiamento
são devastadoras, em termos não só da natalidade – traduzida no número
de nascimentos que iremos ter – mas também da fecundidade final das
diferentes gerações", defende a professora da Universidade de Évora.

Segundo o Inquérito Português de Fecundidade, de 2013, concluiu-se que
"para os indivíduos com 30 ou mais anos, também a idade em que tiveram
o primeiro filho é determinante para que se tenha apenas um único
filho. Quanto mais velhos, maior a tendência para permanecerem com
este primeiro filho, e quanto mais tempo adiarem o primeiro
nascimento, menor a probabilidade de terem conseguido ter um segundo
ou terceiro filhos", sublinha a presidente da APD.

Como forma de alertar para a questão da idade como uma das causas da
infertilidade, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR)
lançou a campanha "Cuida da tua fertilidade" no início do ano passado,
para chamar à atenção para a importância da idade, bem como de outros
fatores de risco, como o tabagismo, o álcool e o excesso de peso. "A
ideia surgiu como resposta a uma lacuna que tínhamos identificado
previamente no respeitante à informação das pessoas em idade
reprodutiva, em Portugal, relativamente à prevalência e ao risco da
infertilidade no nosso país", explica Teresa Almeida Santos,
presidente da direção da SPMR e professora auxiliar da Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra.

O estudo porta a porta contou com a resposta de 2400 indivíduos entre
18 e os 40 anos e concluiu que se sabia muito pouco sobre "a
fisiologia da reprodução". Por outro lado, percebeu-se que os próprios
médicos não abordam espontaneamente este assunto, fazendo-o apenas em
18% dos casos. "Quando as pessoas respondiam que tinham informação por
parte dos médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) ou ginecologistas
era porque o solicitavam, e não por iniciativa dos mesmos", sublinha.

Face a estes resultados e à constatação de que as pessoas estão a
engravidar cada vez mais tarde, e não têm conhecimento de que a
fertilidade da mulher é muito influenciada pela idade, a SPMR entendeu
que tinha de dar uma resposta. "Tínhamos os meios e entendemos que era
responsabilidade da SPMR divulgar esta mensagem."

A campanha está disponível online, mas foi divulgada em prime-time,na
RTP e na RTP3, bem como noutros meios de comunicação e nas redes
sociais. Foram ainda realizadas ações de rua, sessões em algumas
escolas e na Universidade de Coimbra, em festivais de verão, bem como
iniciativas que consistiram no envio de postais de correio com
mensagens da campanha para os médicos de MGF.

Daniel Pereira da Silva corrobora a ideia da campanha. "A mulher, de
uma maneira geral, tem uma noção que a idade e o tempo não jogam a seu
favor, mas não tem a perceção do impacto real dessa realidade. Muitas
vezes, ela julga que os meios tecnológicos atuais são capazes de
suprir com relativa facilidade esse desejo e essa realidade biológica,
mas não é bem assim."

É cada vez mais recorrente surgirem mulheres na consulta de Daniela
Sobral, "desesperadas porque nunca lhes foi transmitida a ideia de que
a idade é uma grande condicionante da fertilidade, e quando se
apercebem disso, é tarde demais". E o desconhecimento sobre os riscos
do avançar da idade também é notório. "A população em geral não tem
noção das dificuldades em engravidar e como há cada vez mais mulheres
famosas a fazerem-no mais tarde, a realidade ainda fica mais
distorcida. Por vezes, nem mesmo os profissionais de saúde dão a
devida importância a este problema."

Às mulheres próximas dos 35 anos de idade que surgem na consulta,
Daniel Pereira da Silva alerta para a questão da idade, ainda que
sinta que não lhe cabe o direito de fazer qualquer pressão. "Como
costumo afirmar, uma gravidez não se receita nem prescreve. O que lhes
explico é que é legítimo ter outras prioridades, até porque a
maternidade pode nem sequer fazer parte do seu projeto de vida. Mas
não deixo de alertar para os riscos."

Apesar de aproveitar a oportunidade da consulta para chamar à atenção
para a passagem do tempo, tenta fazê-lo sempre com cuidado. "A pressão
da própria mulher pôr-se em causa a si própria pelo facto de
eventualmente querer ser mãe e não ter muito tempo, pelas suas
condições biológicas, já é um sofrimento e uma agressão, de alguma
forma", afirma.

A divulgação de casos de sucesso por parte de alguns meios de
comunicação social é algo que preocupa a presidente da SPMR. "Há
alguma responsabilidade de alguns órgãos de comunicação, porque ao
transmitirem a mensagem de que a gravidez é possível aos 47, 48 anos,
está a transmitir-se esperança, mas esta é infundada ou não é
completamente explicada. Os pressupostos para que isto aconteça não
são suficientemente explanados", defende.

Quando o relógio biológico começa a funcionar mal

Com o passar da idade, não é apenas a pele que envelhece. Também a
qualidade de ovócitos diminui progressivamente com o passar dos anos.
"A mulher nasce com um número finito de ovócitos que vai sendo
consumido ao longo da sua vida sem haver reposição. A diminuição dessa
reserva ovárica dá-se, tanto a nível qualitativo, como quantitativo",
esclarece a médica dos Lusíadas.

Daniel Pereira da Silva explica-nos também o impacto da passagem do
tempo na capacidade de reprodução. "A mulher, na adolescência, tem
aquilo que se chama capital folicular (células não se reproduzem), e
todos os meses, em cada ciclo, vai consumir um determinado número de
folículos. Logo, a capacidade que tinha quando começou a menstruar,
vai diminuindo progressivamente. Claro que este ritmo não é igual para
todas as mulheres." E neste retrocesso, os homens ganham a luta contra
o tempo. "Em cada ciclo reprodutivo feminino, temos um ovócito
reprodutivo. De 18, que são escolhidos biologicamente, apenas um vai
ter potencial de ser fertilizado. Nos homens, são milhões de
espermatozoides. O processo de andropausa é bastante mais lento do que
a menopausa nas mulheres, daí que os homens tenham capacidade de
procriar em idades mais avançadas", explica.

Por outro lado, o adiamento da maternidade pode ter consequências
específicas na saúde, dando espaço ao aparecimento de algumas doenças
ginecológicas que podem também vir a comprometer a fertilidade. "O
útero perde capacidade com a idade, mas de uma forma indireta, pois
passa a ser mais sede de doenças que podem afetar a capacidade de vir
a gerar uma gravidez ou uma gestação a termo, como por exemplo, as
infeções pelo papiloma vírus humano e o aparecimento dos miomas. É
relativamente frequente encontrar miomas em mulheres com 40 anos que
querem engravidar e a quem vamos fazer exames e um check up para saber
se estão em condições para tal. Alguns não têm potencial de interferir
na fertilidade, mas outros sim, e alguns deles são completamente
assintomáticos. É uma condição inerente da idade e uma causa de
infertilidade", alerta Daniel Pereira da Silva.

Outra consequência da gravidez tardia é a diferença de idades entre os
pais e os filhos, o que leva ao "aumento do risco do 'generation gap',
comprometendo a possibilidade de convívio com os avós e aumentando a
tendência para o envelhecimento da população", acrescenta.

Ainda que não existam estudos portugueses que correlacionem
diretamente o adiamento da decisão de engravidar com as taxas de
infertilidade, a ligação entre ambas as situações é visível nos
consultórios e facilmente percebida pelos médicos ginecologistas e
especialistas em reprodução. "O fator isolado que mais diminui a
probabilidade de ocorrer uma gravidez, quer espontaneamente, quer
através de tratamento, é sem dúvida, a idade da mulher", assegura
Daniela Sobral.

Preconceito, insensibilidade e pressão social

Clara [nome fictício] tem 42 anos e o marido 41. O adiamento da
maternidade deveu-se ao facto de terem casado tarde e de ambos
considerarem que era preciso criar rotinas de casal para que os filhos
viessem para dar "um acréscimo à felicidade, e não constituírem um
motivo de rutura, como tantas vezes se vê".

Quando decidiram ter filhos, após três anos de casados, tentaram pelo
método natural. "A médica de família, que nos acompanhava desde
sempre, desvalorizou os meses a passarem atribuindo culpas à ansiedade
própria do momento. Com o passar do tempo começámos a ficar
desconfortáveis com esta situação, e decidimos procurar outras
alternativas no privado, e mudámos de ginecologista obstetra mas já
com uma vertente de infertilidade para prever o futuro", explica.

Foram diagnosticados alguns miomas a Clara, sendo a mesma submetida a
uma miomectomia [cirurgia que consiste em extrair o(s) mioma(s)],
tendo procurado nova ajuda numa clínica especializada em
infertilidade, em Lisboa. "O nosso sonho começou a construir-se a
partir daí. Encontrámos um médico que respeitava a nossa fé, as nossas
dúvidas, que as esclarecia como ninguém e que tinha as palavras de
esperança que precisávamos de ouvir. Já não o largámos. Fizemos os
exames para saber se estava tudo bem. Havia uns pequeninos problemas,
mas que não deveriam ser impeditivos de uma gravidez, mas havia uma
coisa que jogava contra nós — o tempo", conta. Acabou por ser o tempo
a precipitar a decisão: esperar que a natureza fizesse o seu trabalho
ou avançar para um tratamento mais "agressivo"? O casal optou pela
segunda hipótese.

Após a realização de duas Fertilizações In Vitro (FIV), a gravidez
desejada aconteceu. "Entre o início do primeiro tratamento, que correu
menos bem, e a nossa gravidez passaram cerca de 3/4 meses. Em todo
este processo, a componente financeira não foi uma limitação para nós,
o que facilitou sempre as nossas opções."

Foram anos a lidar com "a inevitável tristeza e ansiedade e um medo
atroz de que fosse tarde demais", confessa Clara. Mas não foi. O casal
acabou por ter gémeos e os seus "milagres", como lhes chamam, têm sete
meses. "A fé, no nosso caso, foi importante pois na nossa peregrinação
a pé a Fátima, eu pedia que me fosse possível aceitar sem rancor e sem
mágoa, o que estivesse guardado para mim, para nós", confessa.

Para trás, ficou um processo duro e composto por algumas provações,
como a consulta com a psicóloga da clínica privada que confrontou o
casal com questões nunca antes colocadas. "Foram perguntas feitas com
uma delicadeza que nunca esqueceremos, mas que nos provocaram reações
que até ali nunca tínhamos vivido. E se um de nós tivesse esse
objetivo, e o outro, não? Conseguiríamos ser felizes sem cobranças nem
rancores depois de tomarmos uma decisão? Foi de facto uma consulta
marcante para ambos, mas que apenas veio confirmar o que ambos
desejávamos: iríamos tentar até que fosse clinicamente impossível ou
inviável", partilha.

Aos outros casais que estejam a passar pelo mesmo, a recém mãe sugere
que se afastem os tabus ou as palavras escolhidas entre os casais.
"Não falar pode criar uma fronteira entre os dois. Depois, sem dúvida,
ter uma equipa médica em quem se confie. Para nós, foi absolutamente
determinante quando nos sentimos protegidos por médicos que nos
acolheram, nos esclareceram, e acima de tudo, nos aceitaram com todas
as nossas dúvidas", explica Clara.

O casal confessa que sentiu alguma discriminação, sendo que o que mais
lhes custou veio em forma de comentários: "Cheguei a ouvir perguntas
como: 'então, não chega de boa vida?', 'Não chega desse egoísmo?'.
Eram perguntas que se deixavam escapar com maldade e escárnio, mas
ditas em tom de brincadeira. Apesar de terem sido episódios pontuais,
deixaram a sua mágoa", conta Clara. A resposta, no entanto, não
tardava. "Respondíamos que o problema era dos dois, que ambos
queríamos ter filhos e não estávamos a conseguir."

Sara sente também esta pressão social e o tabu ao redor. Responde às
perguntas sobre a maternidade consoante o estado de espírito. "Embora
ache que as pessoas não têm consciência disso, muitas vezes, gostava
que tivessem noção que podem estar a fazer perguntas indiscretas.
Apesar de achar que não o fazem por mal, considero que a sociedade
está pouco sensibilizada para o facto de existirem muitos casais a
passar por este problema. Ainda há muita vergonha, ainda se esconde,
não se fala muito sobre isso",defende.

E é porque ainda existe esse tabu que a maioria dos testemunhos para
este artigo está devidamente resguardada com nomes fictícios, a pedido
dos entrevistados. Ana Teresa Costa e Nuno Madeira foram os únicos a
aceitar assumir a sua identidade verdadeira.

Apesar da pressão social e das consequências do panorama atual, a
decisão pode não estar nas mãos dos casais. "O adiar a gravidez, por
vezes, não é uma opção. Acho que é injusto dizer-se que as mulheres
estão a ter filhos mais tarde porque querem viajar ou porque querem
progredir na carreira. É na fase da maior fertilidade que as mulheres
têm de apostar na sua profissão porque tem mesmo de ser assim, e
porque estão a lutar para terem alguma estabilidade de vida, pois caso
contrário, podem perder boas oportunidades. A realidade social do país
é esta", defende Ana Oliveira Pereira, psicóloga clínica da Ava
Clinic, com mestrado em Psicologia da Saúde.

Sara concorda, e tem uma opinião muito própria relativamente às vozes
críticas da maternidade. "Quando oiço que as mulheres não devem adiar,
não acho que seja essa a questão. Às vezes, não há hipótese! O meu
caso é um exemplo disso, em que não tinha uma relação estável que me
desse um sentimento de segurança para um projeto destes. Nos casos em
que as pessoas adiam por não terem condições económicas, talvez seja
um pouco mais criticável, no sentido em que nunca existem condições
económicas e laborais perfeitas para ter filhos. Vai ser sempre
difícil, mas é sempre possível dar a volta", afirma.

Nas consultas de psicoterapia, Ana Oliveira Pereira tenta trabalhar as
questões da culpabilização com as mulheres. "O desconhecimento também
ajuda um pouco a perceber o adiamento da gravidez. Nem sempre foram
alertadas pelos seus médicos ginecologistas para a questão do tempo."

Não esperar mais e ter filhos sozinha

Quando o problema de encontrar o pai ideal se perpetua, há quem não
adie mais o sonho. "Companheiros há muitos, mas filhos não", diz-nos
Sónia [nome fictício], de 43 anos. O apelo da maternidade
intensificou-se aos 36, a mesma idade com que terminou um
relacionamento e começou a pesquisar como poderia ter filhos, sozinha.

Aos 39 anos, começou a tratar dos tratamentos de fertilidade que lhe
permitissem recorrer a dador de esperma, em Espanha, uma vez que a lei
que dá esta possibilidade em Portugal só foi aprovada em 2017. "Acho
ótima a mudança da lei e a oportunidade de fazermos tratamento no
nosso país. Os tratamentos faziam-se à mesma, lá fora, pelo que a lei
veio melhorar essa possibilidade", conta.

Absolutamente decidida, não mais se desviou do caminho. "Não quis
adiar mais este projeto por ninguém. A idade começava a pesar",
partilha. Depois de oito tentativas, apenas o último tratamento foi
realizado em Portugal, numa clínica privada de fertilidade, em Lisboa,
e conseguiu engravidar. Já tinha conseguido uma gravidez numa das
tentativas mas sofreu um aborto espontâneo. "Foi o que me custou mais
em todo este processo: ter conseguido e ter perdido." Não quis, no
entanto, que o sonho esmorecesse, e voltou a tentar.

À data de fecho deste artigo, a gravidez de Sónia tinha acabado de
chegar às 18 semanas. O Diogo está previsto nascer em julho deste ano,
e esta gestação resultou de doação de esperma mas também de doação de
óvulos. "Percebi que a possibilidade de ter sucesso era maior com esta
hipótese."

Até ao momento, Sónia gastou perto de 30 mil euros, e confessa que não
tem sido um processo fácil. "Como estes são processos complicados e de
sucessivas tentativas, senti sempre um grande apoio das pessoas ao
redor, desde a família e amigos, aos médicos que me acompanham. Os
familiares ajudaram muito, até a nível financeiro, porque é ainda mais
complicado gerir isto, estando sozinha", diz. E os mais próximos sabem
que a decisão de ser mãe solteira é inabalável.

Desvaloriza os sintomas de gravidez e não antecipa muito o futuro. "É
como se o Diogo estivesse a dizer-me: 'olá, estou aqui'. De resto, vou
vivendo cada dia e cada conquista, a gravidez é ultrapassada passo a
passo". E quando lhe perguntamos se está preparada para as perguntas e
para o desafio de assumir uma maternidade sozinha, confessa que não é
algo que lhe traga ansiedade. A minha única preocupação é ir
explicando a verdade ao meu filho, adaptada à idade. Toda a gente sabe
a minha verdade, pelo que não há que esconder. Quem não aceitar,
paciência. O que acho fundamental é passar-lhe os princípios e os
valores que defendo. Quero educar o meu filho no sentido de lidar bem
com aquilo que a sociedade considera tabu", defende.

Não se assusta com o facto de não ter uma pessoa ao lado para ajudar
com os desafios da maternidade. Contará com o apoio da mãe. E também
não lhe faz confusão ter recorrido a uma dadora de óvulos. "Se me
perguntar se gostava que fosse parecido comigo, claro que gostava, mas
não é essencial. A idade é um fator muito importante, pelo que
recorrendo a dadora, acho que estou a dar mais hipóteses de qualidade
de vida ao meu filho, do que se tentasse com os meus óvulos."

De forma a preparar o corpo e a mente para os tratamentos e uma
possível gravidez, Sónia teve sempre cuidado com o peso, a atividade
física e a alimentação, tendo encontrado na acupuntura a tranquilidade
que precisava para estar à altura das exigências. "Prefiro preparar-me
do caminho para a frente do que ficar a alimentar-me do que ficou para
trás. Na verdade, quem se mete nestes processos tem de se mentalizar
que não é chegar e vencer, e que isto é uma sucessão de várias etapas,
em que algumas falham, e outras não", defende.

Ainda lhe restou um embrião que está criopreservado para o caso de
voltar a querer ter filhos. "Não sei se vou tentar novamente. Para já,
estou muito focada nesta gravidez", conclui.

Fertilidade para sempre?

Daniel Pereira da Silva assume que é cada vez mais frequente na
prática clínica a gravidez obtida por doação de óvulos. Por outro
lado, o médico ginecologista defende a possibilidade que as mulheres
têm, em idade jovem, de recolher ovócitos para utilizarem mais tarde.
"É algo que tem muitas implicações éticas, sobretudo no que respeita
ao investimento público, mas é uma situação relativamente nova, à
semelhança do que já se faz em doentes oncológicos." Teresa Almeida
Santos concorda que o tema é polémico, e que a possibilidade só existe
no privado, mas que esta é uma técnica que permite "preservar a
fertilidade por razões ditas sociais, e não por motivos de doença".

Por outro lado, para a líder da SPMR, existe escassez de dadoras.
"Mesmo os centros privados são limitados na sua capacidade de
resposta, e apenas acessíveis a quem tem muito dinheiro".

Ana Oliveira Pereira já entrevistou cerca de 2500 dadoras de óvulos e
desde o ano 2000 que lida com mulheres que querem ser mães mesmo sem
companheiro. A psicóloga define a infertilidade "como uma crise",
considerando que a psicoterapia pode ajudar os casais ou mulheres
solteiras que lidam mal com esta situação. "É duro e penoso lidar com
esta realidade. No entanto, um casal que sobrevive à doença de um
filho, a uma doença crónica grave, ao desemprego, e não se separa,
também não o faz devido à infertilidade", defende.

A Associação Portuguesa de Fertilidade (APF) recebe casais com
diagnóstico de fertilidade ou pessoas que já estão a tentar engravidar
há algum tempo, sem sucesso. "Temos cerca de 9000 associados e nestes
12 anos de existência, calculamos que já tenhamos ajudado mais de 30
mil casais", explica a vice presidente, Filomena Gonçalves.

Há quem procure saber mais sobre o seu problema, quem precise de apoio
jurídico, mas também quem sinta necessidade de conhecer e falar com
outros casais a passar pela mesma situação.

A associação aposta no alerta para o adiamento da maternidade,
sobretudo por receber casos variados de quem está a tentar há muitos
anos e não consegue. "Julgo que as pessoas estão cada vez mais
conscientes de que a fertilidade tem um prazo de validade, sobretudo
na mulher. Cada vez mais se fala nisso. Mas, por outro lado, as
pessoas estão muito convencidas de que a Medicina é milagrosa. Com
toda a campanha que existe para a congelação de óvulos, é frequente
achar-se que tudo vai correr bem e que a Medicina vai resolver,
acabando por colocar a carreira e outros aspetos à frente. Às vezes,
não é bem assim, porque os métodos têm os seus riscos e podem não
funcionar", explica a representante da APF.

O ano de 2017 foi marcante para quem trabalha diariamente com o tema
da infertilidade. "Foi finalmente aprovada a gestação de substituição,
algo que temos vindo a debater deste a nossa existência, e foi um
avanço brutal que era necessário. Por outro lado, consideramos que a
legislação se tornou mais inclusiva e permite que as mulheres
solteiras e casais homossexuais possam recorrer a técnicas de PMA, que
até então, estavam apenas destinadas a casais heterossexuais. Faço um
balanço muito positivo do ano que passou, muito devido a esta
legislação, mas também no que se refere ao apoio que demos aos casais
que acompanhamos", diz.

Apesar das boas notícias e de o facto de a legislação ter sido
pioneira no que a estes temas diz respeito, a associação tem divulgado
o desagrado relativamente ao chumbo no Parlamento, do projeto que
visava o alargamento no SNS, do número de ciclos por casal, de três
para cinco. "A proposta estava bastante equilibrada nesse sentido, e
sentimos que este chumbo é um retrocesso. Temos vindo a reivindicar o
aumento do número de ciclos porque, muitos destes casais, não
conseguem engravidar ao fim de três ciclos, e não têm forma de ir para
o privado", explica Filomena Gonçalves.

Outra das reivindicações da APF faz diz respeito aos seguros de saúde
que "recusam considerar a infertilidade como uma doença. Seria muito
importante que houvesse vontade política para mudar os seguros de
saúde, obrigando-os a incluir a PMA", sugere.

Um dos projetos da APF para este ano é a sensibilização de
profissionais de saúde e doentes para a criopreservação da fertilidade
em doentes oncológicos, que é algo que nem todos fazem. "Conhecemos
casos de homens e mulheres que são enviados para tratamentos
oncológicos sem ser preservada a sua fertilidade. Continua a ser um
assunto que nos preocupa muito", conclui.

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quarta-feira, abril 04, 2018

# Frase do dia

"Ser livre é ter o coração preso"

G. K. Chesterton

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terça-feira, abril 03, 2018

# Produção renovável foi superior ao consumo de eletricidade em março. É inédito em 40 anos

https://observador.pt/2018/04/03/producao-renovavel-foi-superior-ao-consumo-de-eletricidade-em-marco-e-inedito-em-40-anos/

3/4/2018, 7:01 Ana Suspiro

Produção a partir de fontes renováveis ultrapassou todo o consumo de
eletricidade em Portugal continental em março. Resultados são
"inéditos" em pelo menos 40 anos. Energia verde chegou para 70 horas.

A produção de eletricidade a partir de fontes renováveis em março
excedeu o consumo de energia elétrica em Portugal continental para o
mesmo mês. A conclusão é da APREN – Associação Portuguesa de Energias
Renováveis e da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, a
partir dos dados divulgados esta segunda-feira pela REN (Redes
Energéticas Nacionais).

Esses dados indicam que a eletricidade de origem renovável — sobretudo
hídrica e eólica — produzida em março atingiu os 4.812 GWh
(Gigawatt/hora), ultrapassando o consumo de Portugal Continental que
foi de 4.647 GWh. A produção renovável correspondeu assim a 103,6% da
procura, "algo inédito pelo menos nos últimos 40 anos." O anterior
máximo tinha-se verificado em fevereiro de 2014 com 99,2 %.

Mas isto não quer dizer que a procura no Continente tenha sido
totalmente abastecida por energias renováveis. "Houve alguns períodos
em que centrais térmicas fósseis e/ou a importação foram chamadas a
completar o abastecimento das necessidades elétricas em Portugal,
facto que foi plenamente contrabalançado por períodos de muito maior
produção renovável".

Estes resultados foram possíveis graças a um mês de março que foi um
dos mais chuvosos dos últimos anos e que permitiu ultrapassar a
situação de seca meteorológica em todo o território. A hídrica foi
responsável por fornecer 55% das necessidades de consumo, enquanto o
contributo da eólica foi de 42%. Estas marcas contrastam com o balanço
energético do ano passado, em que a produção renovável recuou para
menos de 50% da procura de eletricidade.

Mais exportação e preços mais baixos, no mercado grossista

O peso das renováveis no consumo variou entre o mínimo de 86%, que
ocorreu no dia 7 de março, e um máximo de 143% no dia 11 de março. As
duas associações destacam"um período de 70 horas, com início no dia 9,
em que o consumo foi totalmente assegurado por fontes renováveis e
outro período de 69 horas, no início no dia 12 de março".

A ZERO e a APREN assinalam um "marco histórico do setor elétrico
português", mas também defendem que estes números "mostram a
viabilidade técnica, a segurança e a fiabilidade do funcionamento do
sistema elétrico nacional, com muita eletricidade renovável." Segundo
as duas associações, a produção mensal das renováveis permitiu evitar
a emissão de 1,8 milhões de toneladas de CO2.

Outros pontos destacados foi a obtenção de um elevado saldo exportador
que foi de 19 % do consumo elétrico de Portugal Continental (878 GWh)
e um preço médio diário (no mercado grossista entre produtores e
comercializadores), de 39,75 euros por MWh, abaixo dos dos 43,94 euros
por MWh) do mesmo período do ano passado.

As duas associações acreditam que este cenário vai acontecer mais
vezes, ainda que salvaguardem a necessidade de manter o recurso
pontual às centrais térmicas, o apoio das interligações e o papel
crescente do armazenamento.

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