# Numa manhã de sábado..
«...da minha cama olhava para fora, pela grande janela aberta. 
 E era como se a vida com todos os seus segredos estivesse de novo junto a mim, a ponto de a poder tocar. Tinha a sensação de repousar sobre o seu peito nu, de sentir o bater regular e ligeiro do seu coração. Estava entre os braços vazios da vida e sentia-me tão segura e protegida. Pensava: como tudo é estranho. Existe a guerra. 
 Existem campos de concentração. 
 Pequenas barbáries acumulam-se de dia para dia...
 Conheço a grande dor humana...sei que todas estas coisas existem, e ainda assim insisto em olhar nos olhos cada fragmento de realidade inimiga.
 E num momento de abandono, encontro-me sobre o peito nu da vida e os seus braços vazios envolvem-me, tão doces e protectores, e o bater do seu coração que não sei sequer descrever».
 
 Diário de Etty Hillesum 1941-43
