# Nem a crise económica trava corrida internacional ao armamento
27.03.2010 - 12:28 Por João Manuel Rocha
Há uma corrida às armas na Ásia e na América do Sul, e, ainda que em
menor escala, no Médio Oriente. Em África moram também importantes
clientes de armamento convencional, uma indústria em que os
compradores até podem ir variando, mas os grandes vendedores são quase
sempre os mesmos.
É isso, e mais, que diz o último relatório do Instituto Internacional
de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). O estudo confirma que no
período 2005-2009 as vendas aumentaram 22 por cento face aos cinco
anos anteriores, apesar da crise, e que a distribuição regional se
manteve relativamente estável, com a região Ásia-Oceânia como
principal compradora, seguida por Europa, Médio Oriente, Américas e
África. Os aviões de combate representam 27 por cento do volume de
transacções, refere o estudo do Sipri, que desde 1966 faz o
levantamento dos movimentos de armas convencionais, caso de aviões,
blindados, artilharia, sensores, mísseis, navios ou submarinos. As
armas ligeiras e munições não estão incluídas.
"Estados com recursos compraram quantidades consideráveis de aviões de
combate a preços elevados. Os países vizinhos reagiram a essas
aquisições com as suas próprias en- comendas", observa Paul Holtom,
responsável pelo programa de acompanhamento da transferência de armas
do Sipri. "As encomendas e entregas dessas armas potencialmente
desestabilizadoras levaram a uma corrida ao armamento em regiões onde
reina a tensão: Médio Oriente, Norte de África, América do Sul, Ásia
do Sul e Sudeste asiático", assinala o relatório.
O trabalho do instituto não regista os fluxos financeiros reais das
operações. Para elaborar as suas tabelas, o Sipri compara períodos de
cinco anos e calcula o valor dos equipamentos tendo em conta o seu
"poder militar". "É uma forma de comparar a uma escala global, uma vez
que algumas armas são vendidas a "preço de saldo" em alguns países e
como "bens de luxo" noutros", explicou ao PÚBLICO a directora de
comunicação do Sipri, Stephanie Blenckner. O instituto fez até 2007
estimativas de custos, mas abandonou essa prática, até porque
informação rigorosa é coisa que muitos governos não fornecem. As
tendências e variações percentuais registadas permitem, no entanto,
identificar fluxos de armamento e pólos de tensão no globo.
A China e a Índia abrandaram as compras, em 20 por cento e sete por
cento, respectivamente, mas continuam a ser os dois grandes
compradores mundiais. Mas outros países seguiram a tendência inversa.
Foi o caso de Singapura, Estados Unidos, Paquistão ou Malásia, que nos
últimos anos reforçaram os investimentos em equipamento militar. O
grupo dos cinco principais compradores - em que à China e Índia se
juntam Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul e Grécia - foi
responsável por 32 por cento do total das aquisições, uma quota
ligeiramente menor do que os 38 por cento do quinquénio anterior.
Riscos de desestabilização
Os países agrupados na categoria Ásia-Oceânia importaram 41 por cento
das armas convencionais, o que representa uma subida de 11 por cento
face a 2000-2004. Para o Nordeste asiático foram vendidas 46 por cento
do total de armas compradas na região, contra 27 por cento da Ásia do
Sul e 20 por cento do Sudeste asiático.
Entre os dez principais importadores mundiais cinco são asiáticos: à
China e Índia somam-se a Coreia do Sul, na terceira posição,
Singapura, na sétima, e Paquistão, na décima. No Sudeste asiático as
compras quase duplicaram, com alguns países a registarem crescimentos
astronómicos: 722 por cento a Malásia, 146 Singapura, 84 a Indonésia.
Singapura tornou-se no primeiro estado da Associação de Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN) a integrar a lista de maiores compradores de
armas desde o fim da guerra do Vietname, nos anos 1970, destaca o
Sipri.
A "vaga de aquisições pode desestabilizar a região, pondo em causa
décadas de paz", afirma o especialista do instituto em Ásia, Siemon
Wezeman. Analistas citados pelo Financial Times e pela BBC vêem o
crescimento das compras de armamento na região como uma resposta ao
poderio da China e associam-no a receios de que as disputas
territoriais possam assumir um carácter bélico.
A Europa recebeu 24 por cento das armas transaccionadas, uma ligeira
quebra percentual face aos 25 por cento do período anterior, mas
mantém-se como segundo grande blo- co importador. E nela é a Grécia o
principal receptor, ainda que tenha descido da terceira para a quinta
posição mundial. A transferência de 26 aviões de combate
norte-americanos F-16C e de 25 Mirage-2000-9 franceses representou por
si só 38 por cento das importações de Atenas, tradicional grande
comprador devido à histórica tensão com a vizinha Turquia.
Os países das Américas ficaram com 11 por cento das importações
globais, percentagem equivalente à dos cinco anos anteriores. Os
Estados Unidos são o maior cliente do continente, oitavo na tabela
global, o que não é uma surpresa. Mas foi na América do Sul que, com
um crescimento de 150 por cento sobre o período anterior, se registou
o salto mais significativo. O Chile, com aquisições recentes de
tanques alemães e aviões de combate brasileiros, surge como o
principal comprador da região, décimo terceiro na tabela global. Mas a
Venezuela, o Brasil e o Peru têm também estado muito activos. "Há
sinais de com- petição na compra de armas na América do Sul. Isto
mostra que precisamos de mais transparência e medidas de confiança
para reduzir a tensão na região", comentou Mark Bromley, investigador
do Sipri e especialista em América Latina.
O Médio Oriente, destino de 17 por cento das armas transaccionadas,
registou um aumento de 22 por cento nas importações. Uma análise mais
fina mostra que o principal cliente na região, quarto a nível mundial,
foram os Emirados Árabes Unidos, com 33 por cento, seguidos de Israel,
com 20, e Egipto, com 13. O Irão surge num discreto vigésimo nono
lugar, mas foi o segundo maior cliente da China, tendo-lhe comprado,
segundo dados complementares divulgados pela agência AP, mais de mil
mísseis terra-ar e terra-mar e meia centena de veículos de combate.
http://www.publico.pt/Mundo/nem-a-crise-economica-trava-corrida-internacional-ao-armamento_1429727
Nem a crise económica trava corrida internacional ao armamento
África representa uma fatia de sete por cento no negócio de armas
convencionais, um por cento a mais do que nos cinco anos precedentes.
A Argélia, com 43 por cento das compras do continente e presença no
top ten mundial, e a África do Sul, com 28 por cento, são os grandes
importadores. O terceiro cliente de armas convencionais é o Sudão, com
cinco por cento do total. Os fluxos de armas para zonas instáveis
mantêm-se: Chade e Quénia são, além do Sudão, destinos referenciados
pelo Sipri, que faz eco de rumores de que parte do equipamento enviado
para este último país teria como destino final o Governo do Sul do
Sudão.
Os conflitos locais levaram a que sete dos 12 embargos a vendas de
armas aprovados no ano passado pelas Nações Unidas, muitos com uma
eficácia duvidosa e frequentemente violados, visassem países
africanos. "Em diversos casos, volumes relativamente pequenos de armas
fornecidas a países da África subsariana tiveram um forte impacto nas
dinâmicas dos conflitos regionais", lembra o instituto.
To unsubscribe from this group, send email to pensantes1+unsubscribegooglegroups.com or reply to this email with the words "REMOVE ME" as the subject.