Mão-de-obra tailandesa salva morangos do litoral
Portugueses recusam trabalhar. Dos 100 mandados pelo Centro de
Emprego, só um aceitou
00h30m ZULAY COSTA
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1576868Não falta quem deseje provar os morangos cultivados junto ao mar desde
Mira à Vagueira, mas colhê-los da terra é outra história. Não fossem
tailandeses e toneladas ficavam por apanhar. Dos 100 portugueses
mandados pelo Centro de Emprego, só um aceitou.
foto fernando timóteo/global imagens
Mão-de-obra tailandesa salva morangos do litoral
Tailandeses ganham, no mínimo, 550 euros líquidos por mês na plantação
de morangos de Praia de Mira
Vítor Rodrigues, que há oito anos explora 20 hectares em Videira
Norte, na freguesia de Praia de Mira, apenas conseguiu suprir as
dificuldades em conseguir mão-de-obra para a colheita dos morangos,
que decorre por esta altura, recorrendo a trabalhadores vindos da
Tailândia, a quem paga, no mínimo, 550 euros líquidos por mês por 40
horas de trabalho semanais. Há dois anos, chegou a perder 70 toneladas
por não ter quem retirasse o fruto da terra. No ano passado, contactou
uma empresa de trabalho temporário e adicionou uma dezena de
tailandeses à equipa de funcionários fixos. Os braços extra
revelaram-se essenciais para salvar as 550 toneladas de produção.
Este ano, são 20 os homens tailandeses que aceitaram meter mãos na
terra e por isso ficaram alojados em instalações pré-fabricadas.Irão
reforçar a equipa composta por 20 portuguesas que, durante todo o ano,
asseguram a plantação e colheita da Fragarte.
Metade com atestado médico
"Produzimos morango o ano inteiro, ainda que dê prejuízo, para
tentarmos assegurar trabalho menos sazonal para as pessoas. Se fosse
só na época alta, seria complicado arranjar tantos trabalhadores. Para
a época alta conto com os tailandeses, senão seria complicado",
justifica Vítor.
"Todos os anos temos dificuldades em arranjar trabalhadores para a
época alta. Pedimos e o Centro de Emprego reencaminha cerca de 100. Só
que, depois, metade não aparece e o resto vem com atestado médico a
dizer que não pode ou tem um impedimento qualquer. Eu preferia ter só
trabalhadores portugueses, porque há tanto desemprego no país mas
penso que será uma questão de mentalidade, as pessoas preferem ficar
em casa a receber do Estado em vez de meterem as mãos na terra",
critica Vitor Rodrigues. Da centena de trabalhadores encaminhados pelo
centro de emprego, ficou apenas uma mulher.
Mas os trabalhadores tailandeses, a quem elogia a capacidade de
trabalho, trato e perspicácia, apesar de terem de comunicar por gestos
uma vez que eles não falam português, trouxeram outra vantagem. "Desde
que eles chegaram, o absentismo dos portugueses diminuiu", diz.
Prayat Chamnanprai, um tailandês de 43 anos (ver caixa) ladeia nos
campos com os restantes colegas e mal se distingue. As portuguesas não
os estranham. Celeste Carinha, 30 anos, da Barra de Mira, não teve
dificuldade em aprender a comunicar por gestos. Celeste já vai na
oitava campanha. Há muito que se dobra sobre os morangueiros, colhendo
frutos e transportando caixas. Não tem medo do trabalho,"gosto do
contacto com a terra".
Dez tailandeses na Vagueira
Também Paulo Pereira, co-proprietário de uma exploração na praia da
Vagueira, Vagos, tinha habitualmente dificuldade em conseguir
mão-de-obra para a colheita dos produtos no período de maior azáfama.
"São necessárias pessoas com alguma dedicação e sensibilidade porque
os frutos são delicados, não podem ser pessoas enviadas a contragosto,
como muitas vezes acontecia com as pessoas que me apareciam aqui
vindas do Centro de Emprego", refere.
Por isso, resolveu combater a sazonalidade do emprego, plantando
diversas culturas nos 30 hectares de terreno que possui, entre a ria e
o mar. "Apenas cinco hectares têm morangos, nos restantes temos outras
culturas e, assim, não saem os produtos agrícolas todos ao mesmo tempo
e temos trabalho para as pessoas sensivelmente o ano inteiro". Desta
forma, consegue trabalho diário para uma equipa fixa de 15
trabalhadores, residentes na freguesia da Gafanha da Boa Hora. A
auxiliar, nas épocas em que o trabalho é demais para os trabalhadores
fixos, empregamos "perto de dez tailandeses".