# Números sobre o islamismo radical para o melhor conhecer
A ressaca
Rui Tato Lima
14/11/2015, 22:5857
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Escolas, museus e grande parte do comércio parisiense estão hoje
fechados. Passam mensagens nas rádios e nos painéis eletrónicos a
aconselharem a não sair de casa. Refugiados? Refugiados somos nós.
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ATENTADOS DE PARIS
PARIS
TERRORISMO
O senhor que me vende o pão parece carregar o mundo às costas: ombros
contraídos, dorso vergado. Olhar perdido, como quem não sabe o que lhe
aconteceu. A tabacaria da esquina, essa, a da velha senhora Leonie,
nem sequer abriu. Talvez a tenham assaltado durante a noite memórias
de criança, que ainda guarda num qualquer lugar escuro, há muito
julgado perdido.
As ruas estão vazias, cheias de medo. Os poucos que as cruzam vão a
passo acelerado, não com pressa de chegar a lado algum, apenas com
urgência em sair dali. Percorro melancólico a paisagem da vila
francesa que há anos me acolhe, às portas de Genebra, e tento
descortinar o temor que a preenche. Afinal de contas, estive quanto
tempo a dormir?
A Europa acordou hoje de ressaca, após uma longa noite de loucuras em
que a virgindade foi perdida algures, abruptamente. Adormeceu na Terra
do Nunca e deu por si a despertar atrás das linhas do inimigo, em
território subitamente desconhecido e ameaçador. Aos poucos e a custo,
vai-se livrando do torpor matinal, tomando consciência de onde está e
acendendo luzes que a ajudem a interpretar e compreender a nova
realidade.
Se dúvidas houvesse, é agora evidente que o atentado aoCharlie Hebdo
não foi um caso isolado, mas o episódio piloto de uma série que está
apenas a começar. A consciência, confirmada, da vulnerabilidade
europeia, é neste momento clara, incontestável e arrasadora. Nada será
como dantes. É preciso começar do zero, sobre um novo chão.
Torna-se cada vez mais incontornável levar a cabo uma intervenção
militar concertada e em grande escala contra o ISIS. Mas este é apenas
o passo evidente. A parte da equação mais difícil de resolver, mas que
não pode mais ser protelada, é a de como controlar os membros do grupo
que já se encontram na Europa, aqueles que levam a cabo os atentados,
e evitar que estes se multipliquem. E aqui esbarramos com a delicada
questão dos refugiados. Sabe-se agora que um dos terroristas entrou na
Europa como refugiado, em outubro passado, pela Grécia. Como este,
quantos mais não irão ainda entrar? E quantos atentados não teremos já
viabilizado?
Para quem ainda vive no mito de que o Islão é uma religião homogénea,
advogando simplesmente a paz e o amor entre os homens, é necessário
esclarecer de uma vez por todas o quão falacioso isso é. De um
universo de 1.6 mil milhões de muçulmanos, estima-se que aquilo a que
se chama de "islamismo radical" represente entre 15% a 25% do total.
Estamos a falar de 240 a 400 milhões de pessoas.
A título de exemplo, segundo dados do insuspeitável Pew Forum, 29% dos
muçulmanos no Egipto e 15% na Turquia (cujo de processo de adesão à UE
está a ser acelerado) acham justificável ataques de bombistas
suicidas. Na questão do apedrejamento em caso de adultério feminino,
por exemplo, peguemos aleatoriamente em três países de maioria
muçulmana, Malásia, Paquistão e Jordânia. Em todos estes países, a
percentagem de muçulmanos que quer ver a Sharia como a lei oficial do
país é superior a 70%. Destes, 60% na Malásia, 89% no Paquistão e 67%
na Jordânia concordam que quando uma mulher é acusada de adultério, a
pena seja o apedrejamento. Para o bem e para o mal, goste-se ou não,
isto é o Islão. Pode-nos chocar que 27% da população de Marrocos
apoiasse o Bin Laden, mas contra factos não há argumentos.
Não se trata de pôr toda a gente no mesmo saco nem de negar que a
maioria dos muçulmanos sejam pessoas pacíficas e de bem. Não, o ponto
aqui é apenas o de mostrar que a expressão "extremismo islâmico" não
se refere a meia dúzia de barbudos recalcados a conspirar numa caverna
perdida no Afeganistão. Pelo contrário, é uma realidade transversal a
todos os países onde existem muçulmanos e tem dimensão na ordem das
centenas de milhões.
O primeiro passo para vencer o extremismo é conhecê-lo. A Europa tem
de largar os lugares comuns e o politicamente correto quando
confrontada com a realidade do Islão, e isto passa desde já pelo modo
como lida com a questão dos refugiados. Talvez na ânsia de mitigar um
sentimento de culpa por um passado imperialista, a Europa parece
ter-se entregue de corpo e a alma à tarefa de acolher tudo e todos.
Neste frenesim, com tanto de admirável como de ingénuo, ignorou a
distinção entre auxiliar e acolher, entre estender a mão e abrir a
porta de casa. Tal como está a ser feito, o acolhimento de refugiados
arrisca-se a tornar-se num gigantesco cavalo de Tróia e a fatura, a
médio e longo prazo, pode custar centenas de vidas inocentes como as
de ontem.
As escolas, os museus e grande parte do comércio parisiense estão hoje
fechados. Passam mensagens nas rádios e nos painéis eletrónicos da
cidade a aconselharem as pessoas a não saírem de casa. Refugiados?
Refugiados somos nós.
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