# A arte dos pequenos passos
«Não te peço milagres ou visões, mas a força para enfrentar o
quotidiano. Preserva-me do temor de poder perder alguma coisa da vida.
Não me dês o que desejo, mas o que preciso. Ensina-me a arte dos
pequenos passos.»
Esta é uma oração aparente mínima, quase sussurrada por um escritor
conhecido sobretudo pelo sucesso constante de um seu romance, "O
principezinho".
Antoine de Saint-Exupéry, que era também aviador e que morreu em voo
em 1914, aos 44 anos, pede a Deus um dom raramente evocado, o da
simplicidade e da fidelidade pacata e serena nas pequenas opções de
cada dia.
É a mesma atitude orante do salmista na deliciosa cena materno-filial
do Salmo 131: «Não vou à procura de coisas grandes, superiores às
minhas forças. Estou tranquilo e sereno como criança desmamada, nos
braços da sua mãe».
Estamos nos antípodas do estilo do nosso tempo que prefere o excesso,
o grito, a exasperação. Uma atitude que se infiltra também na
espiritualidade, com a procura de visões e milagres, com a predileção
pelas expressões exteriores e o abandono da paciente e constante
formação interior.
O desejo vai muito além das necessidades reais e, portanto, queremos
ter sempre cada vez mais, tanto no bem-estar quanto no sucesso, e
também na religião. Eis, então, a sugestiva expressão do escritor
francês: «a arte dos pequenos passos».
Em vez de fazer saltos clamorosos e, muitas vezes, ruinosos, é preciso
optar por um caminho lento e progressivo. Um passo após outro em
direção ao objetivo é muito mais eficaz do que uma corrida desenfreada
e extenuante que, no fim, nos deixa à beira do caminho.
Gianfranco Ravasi
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