# Halterofilista Laurel Hubbard será a primeira atleta transgénero nos Jogos Olímpicos | Jogos Olímpicos | PÚBLICO
A neozelandesa classificou-se na categoria acima de 87kg (super
pesadas) do levantamento de peso. Laurel Hubbard já tinha competido em
provas de levantamento de peso masculino antes da transição em 2013,
com 35 anos.
21 de Junho de 2021, 12:54
A halterofilista Laurel Hubbard vai ser a primeira mulher transgénero
a competir nos Jogos Olímpicos, depois de ter sido convocada esta
segunda-feira pela Nova Zelândia para os Jogos de Tóquio 2020, adiados
para este Verão.
Hubbard, de 43 anos, será também a halterofilista mais velha em prova,
chegando ao ponto mais alto de uma carreira que inclui uma medalha de
prata nos Mundiais de 2017 e o ouro nos Jogos do Pacífico de 2019.
A neozelandesa classificou-se na categoria acima de 87kg feminina
(super pesadas) do levantamento de peso. Hubbard já tinha competido em
provas de levantamento de peso antes da transição em 2013, com 35
anos, mas nas provas masculinas.
"Estou agradecida e sensibilizada pela generosidade e apoio que recebi
de tantos neozelandeses. Quando parti o braço há três anos,
aconselharam-me a parar a carreira desportiva. (...) Os últimos 18
meses mostraram-nos a todos que há força na irmandade, na comunidade,
e em trabalhar em conjunto para um objectivo comum", declarou a
atleta, citada em comunicado oficial do Comité Olímpico da Nova
Zelândia (NZOC), esta segunda-feira.
A líder do NZOC, Kereyn Smith, considerou a presença de Hubbard como
"um momento histórico" para o desporto e para a selecção neozelandesa.
"É a nossa primeira atleta olímpica que fez a transição de homem para
mulher", disse aos jornalistas.
"Reconhecemos que a identidade de género no desporto é uma questão
altamente sensível e complexa e que requer um equilíbrio entre os
direitos humanos e a justiça no jogo", expressou, salientando que a
atleta preenche os requisitos necessários para participar na prova.
Hubbard tornou-se elegível para competir nos Jogos Olímpicos desde
2015, quando o Comité Olímpico Internacional (COI) emitiu directrizes
que permitem a qualquer atleta transgénero competir como mulher, desde
que os seus níveis de testosterona estejam abaixo de dez nanomoles por
litro por pelo menos um ano antes da primeira competição.
Também o governo neozelandês se pronunciou, expressando o apoio à
atleta. "A Laurel é um membro da equipa olímpica da Nova Zelândia.
Estamos orgulhosos dela, como estamos de todos os nossos atletas",
disse o ministro do Desporto, Grant Robertson, em comunicado.
Justiça desportiva no centro de debate
O levantamento do peso fica assim centro do debate sobre a
participação de atletas transgénero nos Jogos, nomeadamente nas
competições de mulheres, e a presença de Hubbard em Tóquio pode gerar
divisões.
Alguns cientistas defendem que as directrizes do Comité pouco fazem
para mitigar as vantagens biológicas das pessoas trans que passaram
pela puberdade como homens. Por outro lado, os activistas transgénero
argumentam que o processo de transição diminui essa vantagem
consideravelmente e que as diferenças físicas entre atletas significam
que nunca existe uma competição verdadeiramente nivelada.
O grupo de pressão Save Women's Sports Australasia argumenta que a
selecção da atleta só é possível devido a "uma política falhada do
COI". "Os homens têm uma vantagem de desempenho baseada no sexo
biológico", sustentou a co-fundadora do grupo, Katherine Deves, em
declarações à Reuters. "Eles superam-nos em todas as métricas —
velocidade, resistência, força. Escolher testosterona é uma pista
falsa... Estamos a esquecer a anatomia, o músculo rápido e rico, os
órgãos maiores."
O COI tem afirmado consistentemente que está comprometido com a
inclusão. Porém, a organização está também a rever as directrizes de
forma a ter em consideração a "tensão percebida entre
justiça/segurança e inclusão/não discriminação".
A medalha de ouro de Hubbard nos Jogos do Pacífico 2019 em Samoa
(Oceânia), onde liderou o pódio à frente da campeã dos Jogos da
Commonwealth em Samoa, Feagaiga Stowers, fez crescer a indignação no
país anfitrião.
Já a halterofilista belga Anna Vanbellinghen disse no mês passado que
permitir que Hubbard competisse em Tóquio era injusto para as mulheres
e "como que uma piada de mau gosto".
A ex-halterofilista neozelandesa Tracey Lambrechs disse que teve de
dar o lugar na categoria de super pesadas nos Jogos da Commonwealth a
Hubbard. "Quando me disseram para abandonar a categoria porque a
Laurel obviamente seria a super número um, foi de partir o coração",
disse a atleta olímpica à TVNZ.
"É uma pena que alguma mulher, em algum lugar, diga: 'Bem, vou perder
a oportunidade de ir aos Jogos Olímpicos, de realizar meu sonho, de
representar meu país porque uma atleta transgénero pode competir."
Outra atleta transgénero, Chelsea Wolfe, na modalidade BMX, irá até
Tóquio na equipa dos Estados Unidos, mas está como suplente e poderá
não chegar a competir.
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